Plantar dinheiro

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Dizia minha bisa que sobre a infância de Pedro Malasartes nem era bom falar. Matreiro, maroto e travesso, pintou o sete mais do que a maioria dos garotos. Mas, para eu ser um menino bonzinho e não ser influenciado pelo Pedro Malasartes, sempre fazia questão de afirmar que ele nunca respondeu a seu pai nem à mãe.
Nasceu e morou em casa pobre, num sítio de terra cansada e tão estorricada pela seca, que nem mato nascia. Ali, junto do pai, mais a mãe e o irmão, chamado João, cresceu como pôde e Deus quis. Chegou a comer raiz de mato ensopada para ter alguma coisa no estômago.
Da mãe, de quem minha bisa dizia ter o Pedro Malasartes herdado o jeito e a personalidade, sei que fumava como uma chaminé. Vivia com o cachimbo na boca, mesmo apagado, mas raramente tinha dinheiro para comprar fumo. Sem seu tabaco e sem dinheiro para comprá-lo, aplicava o golpe em um dos filhos:
- Meu filho!
- Senhora, minha mãe!
- Venha cá!
- O que deseja a senhora?
- Cadê aquelas moedas que sua madrinha lhe deu para comprar um caramelo?
- Guardei, minha mãe.
- Deixa de ser tonto, meu filho! Dinheiro não nasceu para ficar guardado.
- Nasceu para quê, minha mãe?
- Para ser plantado, menino de Deus! Vá logo cultivar esse dinheiro, para não me fazer passar vergonha. Onde já se viu eu ser mãe de menino que não quer multiplicar dinheiro?
E lá ia a inocente criança plantar a moedinha que havia ganho de presente de sua madrinha.
Mal o menino virava as costas, a safada da mulher punha-se a arrancar o dinheiro da terra para comprar um pedaço de fumo e dar suas baforadas.
E, como o dinheiro não dava sinal de nascer, o filho reclamava:
- Mãe, o dinheiro não nasce!
- Deixa de ser lerdo, meu filho! Não nasce porque você não rega. Onde já se viu planta de coisa boa nascer sem água?
E o menino regava, regava de manhã e no fim da tarde. Mas o pé de dinheiro nunca nascia.
Por essa velhacaria o João, irmão do Pedro, deixou-se enganar muitas vezes. Mas o Pedro mesmo só caiu uma vez. Logo ficou desconfiado dessa história de plantar dinheiro. Por isso, quando a situação se repetiu, respondeu educadamente:
- Mãe, não vou plantar o dinheiro porque não tenho mão boa para esse tipo de planta. Vou à venda para comprar meu caramelo, que foi para isso que minha madrinha me deu a moeda. - E ainda arrematava: - A senhora sempre me ensinou a obedecer ao mando de minha madrinha.

Aventuras de Pedro MalasartesWhere stories live. Discover now