O segundo dia de trabalho

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Ele é novo e já mostra astúcia - ponderou a mulher quando seu marido lamentou a esperteza do Pedro. - Mas, se começou assim, acho melhor mandar esse rapaz embora!
— Deixe disso, mulher! Ele é simplório metido a esperto, mas comigo ele não brinca.
— Olhe, estou avisando! O que você fez com os outros, com ele não vai fazer.
— Amanhã mesmo tiro minha tira de couro das costas desse idiota. Espere para ver o que vou aprontar para esse moleque! É de pequeno que se torce o pepino.
No outro dia, chamou o Pedro e ordenou:
— Hoje você vai lenhar. Mas quero lenha sem nó. E só volte para casa quando o carro de boi estiver bem cheio.
Por um instante, Pedro ficou preocupado. Mas logo ajuntou os bois, atrelou-os à vara do carro e tocou em frente. Rumou para trás da serra, onde ficava o bananal da fazenda. Lá chegando, cortou várias bananeiras, encheu com elas o carro de boi e retornou para casa, assobiando uma velha canção que aprendera quando era menino.
Do alto da varanda de sua casa, ao avistar o Pedro já na curva de volta com o carro lotado até o topo de troncos de bananeiras, o maldoso fazendeiro suou frio e empalideceu. Avaliando o estrago em seu bananal, desesperado, levou as mãos à cabeça. O Pedro aproximou-se e perguntou:
— Está zangado comigo, patrão?
— Não — disfarçou o homem.
— Fiz tudo como o senhor mandou. Tronco de bananeira não tem nó, e o carro, de tão carregado, está até matando os bois com o peso.
— É verdade — admitiu o fazendeiro, com um sorrisinho amarelo no canto da boca.
— Agora que já cumpri minha tarefa, como o patrão mandou, vou me sentar e esperar o almoço, porque ainda não deram onze horas. Depois do almoço me deito e descanso, enquanto aguardo a janta, para ir dormir de novo até chegar o meu terceiro dia de trabalho aqui na fazenda do patrão.

Aventuras de Pedro MalasartesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora