O terceiro dia de trabalho

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Enquanto Pedro Malasartes dormia tranquilamente, o fazendeiro passou o resto daquele dia coçando a cabeça em busca de um serviço que o ladino não conseguisse fazer. À noite, a esposa viu-o rolando na cama sem conseguir pegar no sono. Sabia sobre o acontecido e o que afligia o marido. Mas não falou nada, pois o teimoso não lhe daria ouvido.
No dia seguinte, o fazendeiro chamou o Pedro e comunicou-lhe sua intenção de ir com a esposa até a cidade. E, enquanto fosse e voltasse, queria que ele mudasse os móveis da sala para o quarto e os do quarto para a sala. Pedro acatou a ordem, como sempre fazia:
— Sim, patrão! Se é de seu mando, eu faço.
Julgando que assim o Pedro não conseguisse cumprir sua ordem, ao sair de casa, o fazendeiro trancou as portas da sala e do quarto.
Ao perceber a malvadeza do patrão, Pedro não teve dúvida. Disse a si mesmo: "Se os móveis não passam pela porta, vão pela janela." Desse modo, foi até o celeiro, pegou um machado, cortou os móveis da sala e jogou todos os pedaços para dentro do quarto. O mesmo fez com as camas, cômodas e guarda-roupas.
Ao voltarem, a patroa ficou furiosa:
— O que você fez com os meus móveis, seu imbecil?
— Desculpe, patroa! Mas só obedeci à ordem do patrão. — E, virando-se para o fazendeiro, perguntou-lhe: — O patrão está aborrecido comigo?
— Estou nada — respondeu, mordendo a língua para que não berrasse toda a raiva que estava sentindo.
Enfurecida, a mulher disse mil desaforos ao marido. Ao fim da discussão, ainda explodiu:
— Não quero saber de nada! Quero móveis novos, custem o que custarem. Já lhe disse que esse moleque é mais esperto do que você, seu pamonha.
Diante disso, o Pedro começou a rir.
— Está rindo de quê? — perguntou-lhe o fazendeiro.
— Da sua cara, meu patrão.
— Da minha cara?
— É! Está zangado comigo?
— Não estou, não.
— Então está bem. Vou deixar vocês discutindo à vontade, que em briga de marido e mulher ninguém deve pôr a colher.
O marido ainda tentou convencê-la de que não tinha dinheiro para novas mobílias. Mas ela rejeitou a argumentação e, aos gritos, mandou-o vender os porcos do chiqueiro e comprar-lhe móveis novos.

Aventuras de Pedro MalasartesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora