Capítulo 3 Valentin

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Capítulo 3  

“Então você gosta de provocar. Me aguarde Lizzy”.

Eu estava furioso com o tamanho da audácia daquela menina, mas tenho que confessar que fez um excelente trabalho.

Me surpreendeu não só com seu jeito e cuidado com Tormenta, mas também e talvez principalmente, pela sua personalidade fortíssima. Me encarou de frente, coisa que ninguém fazia. Não teve medo da minha cara de mau, muito menos se sentiu acuada com meu tom autoritário, e isso me agradou tanto quanto me deixou irritado.

Uma forte chuva caia lá fora acompanhada de raios e trovões. Acho que chovia desde que Theodoro e Lizzy tinham chegado e não parou mais desde então.

Entrei no meu carro correndo para não me molhar muito e fui para casa onde estava acontecendo a festa ali mesmo no haras.

A casa já estava cheia e a festa rolava animada. Vi ali funcionários de anos e alguns mais novos. Eles estavam se divertindo no salão de festas com bebida e comida a vontade. Uma música baixa tocava apenas como som ambiente. Eles sabiam que eu odiava festas, música alta e toda aquela bagunça, então já acostumados com meu jeito eles curtiam da maneira que eu permitia.

Cumprimentei algumas pessoas que eu ainda não tinha visto e fui para meu canto com meu copo de Whisky importado e meu cigarro.

Reparei nas pessoas, que mesmo não estando num ambiente que gostariam de estar, estavam se divertindo.

Era incrível como para algumas pessoas era fácil se divertir e ser feliz.

Eu não era assim. Nunca fui e acho que nunca vou ser.

Nasci e fui criado na Espanha. Minha família sempre teve muito dinheiro e eu e meu irmão sempre fomos rodeados de luxo e tínhamos tudo o que queríamos.

Meu pai trabalhava feito louco e nunca estava em casa. Minha mãe era completamente dedicada às obras sociais e também vivia fora. Nunca saiamos em família e não tínhamos uma relação próxima.

Eu e meu irmão estudávamos e quando chegávamos da escola fazíamos o que nos desse na telha.

Eu era o mais velho e Alejandro o caçula sendo cinco anos mais novo que eu. Desde muito pequeno nunca gostei de muvuca e odiava quando minha mãe me arrastava para aquelas festas beneficentes insuportáveis que ela organizava.

Alejandro sempre foi mais atirado e descolado do que eu. Adorava bagunça e vivia rodeado de amigos. Eu nunca fui assim. O único amigo que eu tive durante toda a minha vida foi Theodoro.

Nos conhecemos ainda no ensino fundamental e mesmo eu sendo o cara mais chato da escola ele se aproximou de mim naturalmente e iniciamos um longa e verdadeira amizade.

Éramos o oposto um do outro. Eu completamente fechado e mal humorado e Theodoro completamente extrovertido e divertido. Mas acho que era essa diferença que nos fez nos dar tão bem.

Eu amava meu irmão e minha família, mas tinha uma ligação muito forte com Theodoro e entre muitos trancos e barrancos nossa amizade permanecia firme e forte a mais de quinze anos e eu desejava que fosse assim sempre.

Nossa vida na Espanha, mais precisamente na cidade de Corunha, era perfeita. Meu pai trabalhava muito para nos dar a vida luxuosa e tranquila que tínhamos.

Nunca nos deixou faltar nada e vivíamos muito bem, porém vivíamos uma mentira. Uma vida na base da enganação e da sujeira.

Quando eu tinha dezessete anos, sem querer, descobri o que meu pai fazia para ganhar dinheiro. A minha primeira reação foi de medo. Depois senti uma revolta e por fim nojo e desespero.

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