Capítulo XXV

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- O Josh.
A afirmação saiu-me automaticamente, sem pensar.
- O Josh?
- Mais ninguém pode ser, Michael. Ele... ele acabou de matar cinco pessoas a sangue frio - ainda tremia só de pensar nisso. - Não há outra hipótese: ele tem de ser o assassino.
- Mas, Lyra, pensa bem.
- Eu penso bem, sim.
- Se ele fosse mesmo o assassino, porque é que não nos matou logo a todos?
- Eu... eu sei lá, Michael!! - Explodi. Aquela tensão, aquele ambiente de constante ameaça e terror, mais a sede e a dor de cabeça estrondosa estavam a dar cabo de mim. - Porque é que não nos mataram logo a todos no gás, sendo assim?
- Talvez o assassino queira algo de nós.
- Ele não podia prever as pessoas que iam sobreviver, podia?
Sentei-me na cama, seca, cansada, furiosa, e tão, mas tão assustada. Estava a tremer.
- Mas então quem é? - Perguntou o Michael, após um longo silêncio.
Ao ver que eu não respondia, ele insistiu:
- Vamos por eliminações?
- Acho que não vamos chegar a lado nenhum.
- Se não tentarmos, de certeza que não.
Bufei.
- OK, vá lá. Podemos já eliminar três pessoas.
- Quem?
- Eu. Tu. O Alex.
O Michael pareceu um pouco hesitante de repente.
- Acho que não devíamos excluir ninguém sem provas certas. - Disse ele.
- Eu tenho provas certas. Estive com o Alex todos os dias da minha vida até hoje. Quem quer que organizou isto tem dinheiro e dedicou muito, muito tempo à sua preparação. O Alex não tem nem uma coisa nem outra. Além disso, somos gémeos, Michael. Estamos em sintonia. Sei do que estou a falar.
A simples ideia de o Michael poder suspeitar do meu irmão fazia-me tremer ainda mais do que o Josh fazia. O Alex é a pessoa mais inofensiva que alguma vez conheci, e queria deixar isso bem claro. Além disso, sempre tivemos uma ligação especial, como, suponho, a maioria dos gémeos tem.
Não. O Alex não era o assassino.
E eu também não era.
- Pronto, pronto - disse o Michael, levantando as mãos. - Convenceste-me. - Ele fez aquele seu sorriso rasgado durante uns instantes e depois acrescentou: - Porque é que me excluíste?
Embatuquei.
- Ora... porque... não és tu - disse por fim.
- Não podes saber. Acho piada à maneira como estás cegamente a confiar em mim. Sabes lá tu se não sou eu o psicopata homicida?
Ele tinha razão. Eu não podia saber.
E no entanto, recusava-me a desconfiar dele.
Como não conseguia encontrar uma resposta aos seus argumentos, disse:
- E tu, Michael? Como podes saber que não sou eu o assassino? Neste caso, a assassina?
- Porque quem quer que esteja por detrás disto tudo tem um estilo de ataque bem distinto. Esconde-se nas sombras, confunde-nos, varia muito os seus métodos, e está a tentar semear a discórdia. E esse não é o teu género.
- Ai não? E qual é?
- Tu és bem mais direta. Não fazes as coisas pelos costas, dizes na cara. E se fosses armar um campo de matança como este, não terias feito assim. Tenho a certeza a 100% que não és tu.
Como é que, em tão pouco tempo, o Michael podia saber tanto sobre mim?
E era verdade. Não faço as coisas pela surdina. Nunca fiz. Já esta entidade misteriosa trabalha de noite e nunca mostrou a cara.
- OK. Tens razão. E se eu disser que também tenho a certeza a 100% que não és tu? - Contrapus, após um curto silêncio.
- Como é que sabes?
- Porque sei. Não podes ser tu. Sei que não és tu.
O Michael sorriu.
- Confias demasiado nas pessoas, Olhos Verdes. Que seja. Três pessoas eliminadas. Sobram nove possíveis culpados.
Engoli em seco.
Seria mesmo? Era mesmo possível que ou a Summer, ou o Kay, ou o Alfie, ou o Josh, ou o Julian, ou a Rose, ou a Maya, ou a Mel, ou o Tom, fossem o assassino?
Mas nestas últimas semanas aprendi a acreditar em tudo. Comparado ao facto de estarmos presos num recinto a ser mortos um a um das formas mais inimagináveis, até nem era uma realidade demasiado avassaladora.
- Vamos um por um. Josh. - Comecei.
- Achas que é ele?
- Se tiver de apostar em alguém, sem dúvida. Michael, ele sabe usar armas, não tem problemas em matar. Ele é que estava a guardar a espingarda no dia em que foi roubada, lembras-te? E se ele estiver a mentir e a tiver escondida?
- De novo, a psicologia do Josh não encaixa... Ele faz tudo à bruta, sem remorsos nem consciência.
- Mas porque é que o estás a defender? - Começava a ficar irritada.
- Não estou a defender ninguém. São factos.
- Isto não tem nada a ver com psicologia. Tem a ver com loucura. O assassino não pode ser são de mente, Michael. Só um total psicopata arma um esquema destes. E o Josh é um psicopata.
- Estás enganada, Lyra. Isto tem sem dúvida a ver com psicologia. Isto é tudo um jogo, onde o assassino é o jogadores e nós somos as peças no tabuleiro de xadrez, que ele pode movimentar como quiser... mas tudo bem, deixemos o Josh de lado, então. Próximo: Tom.
- Outro forte candidato. Não me admirava nada.
O Tom é inteligente, calculista, desafiador e gosta de ter poder. Além disso, se há aqui alguém que trabalha nas sombras é ele.
- Concordo contigo nesse ponto. Ele é esperto, e não é muito de dizer o que pensa. Mas... consegues mesmo imaginá-lo a matar alguém, com as suas próprias mãos?
- Ele está a ajudar o Josh. Nem pestanejou quando o viu esfaquear os outros.
- Mas não foi mesmo ele, pessoalmente, que o fez. Ele é mais do género de deixar o trabalho sujo para os outros.
- Pois. Tenho as minhas dúvidas. Não gosto nada do Tom e se queres a verdade, se ele for o assassino não vou ficar surpreendida.
Por uma fração de segundo, considerei contar-lhe esta coisa toda entre o Tom, a Maya, a Rose e eu. Não queria mentir mais do que o necessário, muito menos ao Michael. Já lhe estava a omitir demasiada coisa, como a tinta e o M escrito na parede
Mas o Michael já passara à frente.
- OK, próximo. Kay. - Disse ele.
- Não é o Kay.
- Estás a defendê-lo só porque ele é giro, Lyra.
- O quê?! - Rebati, indignada. - Michael, isto é a sério. Não o estou a defender pelo seu aspeto!! Ele podia usar aparelho e ter a cara cheia de borbulhas que a minha opinião se mantinha a mesma.
- Não concordo nada contigo. Há algo no Kay que não me inspira confiança nenhuma. Acho que é aquela sua maneira de fugir ao assunto, de se esquivar as coisas com sorrisos e salamaleques. Não, não gosto nada do Kay, desde o primeiro momento que o vi.
- Como queiras. Eu gosto do Kay, acho-o sincero e sei que ele não é o assassino. Não pode ser.
- Já sei que não vais mudar de opinião. - Abanou a cabeça, irritado. - Vamos para o próximo antes que me chateie: Alfie.
- Objeção!! Não é o Alfie - quase gritei.
- Lyra!! Não podes pôr as pessoas assim de lado só porque gostas delas!!
- Não é questão disso, Michael. O Alfie é um irmão para mim. Conheço-o desde que usava fraldas. As minhas primeiras memórias de vida são com ele. O Alfie jamais faria algo para nos magoar a mim ou ao Alex.
- Mas tu não passaste todos os dias da tua vida com ele. Ele pode ter armado esta coisa toda, sem tu veres ou saberes.
- Pode, mas... Michael, não acredito que seja o Alfie.
- Bem, OK, talvez não seja. Parece-me um tipo simpático, e gosto da maneira como ele fala com as pessoas olhando-as nos olhos.
- Não é ele. - Repeti, decidida.
- Próximo: Summer. Vou-te já dizer, Lyra: tenho a mesma sensação com a Summer que tenho com o Kay.
- Também desconfias dela?
- Não exatamente... mas sinto que gira tudo à sua volta. Acaba sempre tudo nela. E aquela história do hospital do pai, que trocou as folhas... mesmo em pequena ela quase matou dezenas de pessoas.
- Foi um acidente, Michael. Não a podes culpabilizar por isso.
- Não é só por isso. Sinto que ela está a esconder alguma coisa.
Não respondi. A Summer agia de forma um pouco misteriosa, é verdade, mas era simpática e amigável e não a conseguia imaginar a matar alguém. Por outro lado, ela tem acesso aos produtos tipo o sonífero dos lobos e sabe bastante de hospitais e essas coisas.
Por mais que gostasse da Summer, a verdade é que não a podíamos pôr de fora.
- Mel.
- A Mel é tão simpática! Está sempre a sorrir, e a animar as pessoas.
- Talvez seja uma tática para não desconfiarmos dela. Finge-se muito santinha, e quando menos esperarmos... ataca.
- Espero bem que não seja esse o caso... Ela e o Alex, ao que parece, estão juntos. Não gostava de ver o meu irmão a namorar com uma assassina em série.
- Estão juntos? Desde quando?
- Ontem à noite. Vi-os a beijar.
- Ah... engraçado. Também vi duas pessoas a beijarem-se.
- Hum, quem? - Quase que apostava que era o Tom e a Rose.
- A Summer e o Kay.
Arregalei os olhos.
- Desculpa? - Perguntei, após um longo silêncio.
- A Summer e o Kay. - Repetiu ele. - Foi à noite e estava escuro, mas tenho a certeza que eram eles.
- Oh... uau. Não... estava à espera disso.
- Pareces chateada. - Disse o Michael, observando-me atentamente.
- Não, não estou. Estou apenas... atordoada.
Era verdade. Não estava chateada.
Agora que pensava nisso, era um bocadinho óbvio. Desde que eles começaram as vigias juntos tenho-os visto cada vez mais a conversar. E o ar ciumento da Summer quando nos vira a conversar no quarto, a maneira como o Kay a apoiara na roda dos desabafos... De facto, não devia estar tão admirada.
E não é que eles até ficavam bem juntos? Sorri ao perceber de repente que, ao contrário de qualquer expectativa, eu não me importava minimamente que o Kay estivesse com outra.
Aparentemente, não gostava assim tanto dele. Assim que pudesse, ia falar com ele. E dar-lhe os parabéns. Mas sinceros, mesmo. Eles faziam um belo par...
- Alô. Terra chama Lyra - disse o Michael, chamando-me de volta à realidade. - Ainda estás aí?
- S-sim, estou. Fiquei surpreendida com a notícia, mas estou feliz por eles.
- Achava que gostavas do Kay.
- Talvez, se me tivesses contado isto há uma semana, eu teria ficado mesmo abalada, mas agora não.
- Não?
- Nem um bocadinho. Também estou surpresa. Mas é verdade.
- Oh... bem. - A cara do Michael abriu-se num sorriso. - Fico feliz.
- Feliz pelo quê?
- Por eles os dois.
Ficámos em silêncio. De repente senti-me um pouco desconfortável.
O Alex e a Mel.
O Kay e a Summer.
Já estava tudo claro entre mim e o Alfie.
Mas então...
Olhei para o Michael.
Pisquei os olhos e abanei a cabeça. Mas em que é que eu estava a pensar? Apressei-me a continuar a lista, antes que me viessem mais ideias disparatadas.
- Próxima: Maya.
- Pff. Essa aí é uma mosca morta. Achas mesmo que ela tinha a força e a mínima inteligência para montar algo do género?
- Não a subestimes, Michael, só porque é tímida...
- Esquece, Lyra. Podes pô-la no caixote do lixo. A Maya não é o assassino de certeza.
- Como queiras, então. - Mas eu não estava assim tão segura. - Rose...
- Ela é inteligente - disse o Michael, após uns instantes.
- Muito mesmo. Quando a vi pela primeira vez, aos guinchos com a Tessa e a Christina, achei que era uma miúda obcecada pela moda que não sabe nada, mas as aparências enganam.
- Enganam mesmo. Ela foi a única esperta o suficiente para perceber que o Josh ia perder o controlo e mais valia ficar do lado dele.
- E se for ela o assassino? Ela tem mesmo o perfil para isso. Impiedosa, massa cinzenta, perspicaz... e pelo que me pareceu, os pais dela são bastante ricos. Já viste as roupas dela?
- Não sei nada de moda - riu-se o Michael. - Mas tendo em conta que a tia é dona de um estúdio de moda e tudo, sim, dinheiro não lhe deve faltar.
- E por fim, Julian.
- Não sei o que pensar dele. Um momento parece super amigável e de confiança, o outro está a acatar as ordens do Josh e mete-se contra nós. Enquanto que já percebi como é que a maioria das pessoas por aqui funciona, ainda não entendi se ele é desconfiado ou não, se diz a verdade ou é mentiroso, se está do lado do Josh ou se só o faz para garantir a sobrevivência, como a Rose.
- Não me parece o tipo de pessoa capaz de matar, mas é possível.
- OK. Cobrimos toda a gente. Em que ficamos?
Em nada.
Não ficávamos em nada, porque não tínhamos chegado a lado nenhum.
De uma maneira ou outra, a verdade é que todos podiam ser o assassino. Havia mais prováveis, como o Tom, e mais improváveis, como a Maya, mas eu sentia que nunca mais ia ser capaz de olhar para eles como até agora, sabendo que um deles nos está a matar.
- Mas, Michael. Há aqui muita coisa que não faz sentido nenhum...!! Quer dizer, temos todos 15 e 16 anos! Que adolescente é que tem o dinheiro e as coisas necessárias para fazer um verdadeiro campo de férias, com piscina, dormitórios e publicidade?
- Pois. Não sei. Só se algum adulto o estiver a ajudar. Alguém que se quer vingar de nós?
- E há outro problema. Quem quer que seja o assassino, também se está a submeter aos mesmos perigos que nós. Imagina que é o Tom: quem garante que ele não teria morrido no gás, ou não teria sido devorado pelos lobos? E está a morrer desidratado, como nós?!
- Também já pensei nisso. Se o culpado é mesmo um de nós, está a arriscar a vida.
Debatemos o assunto mais um pouco, mas sem chegar a lado nenhum. Tinha a garganta mais seca que nunca. Aquele golo de água servira para aliviar, mas continuávamos com níveis de água baixíssimos. Se não encontrássemos nada para beber nas próximas 24H, alguns de nós podiam começar a entrar em coma, ou até mesmo sucumbir de vez.
Ao sairmos do dormitório, sentia-me ainda mais assustada que antes.
Apesar de tudo, eu sentia mesmo que o assassino era um de nós. E eu não sabia se ia conseguir dormir sabendo que naquele dormitório poderia estar a pessoa que nos queria matar a todos.
- Se for mesmo um de nós, isso explica como é que entrava nos dormitórios de noite. Sempre esteve lá dentro. - Lembrei-me, enquanto atravessávamos a relva em direção ao dormitório onde estavam os outros.
- Mas e nos outros dormitórios trancados? Como entrou?
- Ah. Pois. Talvez haja uma passagem subterrânea que ligue todos os dormitórios...
- Isso é tão à James Bond - sorriu o Michael.
- Hum, Michael?
- Sim.
- O que é que me querias confessar? Antes, quando foste interrompido pelo grito da Miranda.
O Michael bloqueou de repente. Olhei para ele na expectativa, com o coração acelerado.
Ele olhou para mim nos olhos e por um momento, pareceu que ia dizer algo. Mas depois abanou a cabeça e disse:
- Nada. Não era nada.
E entrou no dormitório.

***

Tanta coisa mudara.
Era estranho, mas em apenas 11 dias, acontecera mais coisa do que na minha vida inteira. Eu sabia que, se alguma vez chegasse a sair daqui viva, jamais seria a mesma.
Era nisso que estava a pensar, sentada na relva, a ver o pôr - do - sol. Conseguia ver o reflexo da faca ensanguentada nos últimos raios do horizonte, e a cara assustada da Jayden não me saía da cabeça. Fechei os olhos com força para impedir as lágrimas.
Se um de nós era o assassino, quem era?
Quem era?
Era uma simples pergunta, e eu queria uma simples resposta.
Porque quando eu soubesse o nome da pessoa, eu ia matá-la.
Ouvi a porta a abrir-se e alguém a espreitar. Era o Kay.
- Lyra. Estás ai. Estava à tua procura. Preciso... de falar contigo.
Acenei que sim.
- Senta-te aí.
O Kay sentou-se na relva, ao meu lado.
- Está frio - comentou, ao sentir a brisa fresca.
- Sim, a esta hora arrefece sempre. É por isso que há sempre tanto orvalho de manhã.
- Bem, ouve, Lyra, eu... preciso de te confessar uma coisa.
Sorri. Já sabia o que era.
- Eu... eu gosto de ti, gosto mesmo, e sei que tinhas dito que ias pensar... - O Kay fez uma pausa desconfortável. - Mas desde que comecei as vigias com a Summer que... tipo, não era suposto, mas nós... eu não te quero magoar, Lyra, mas...
- Kay - interrompi-o, divertida com o seu desconforto - estás a complicar tudo. Não me importo nada com isso. Tu e a Summer ficam perfeitos juntos e tu mereces bem melhor que uma miúda indecisa como eu.
E o melhor é que eu estava a ser sincera.
O Kay pareceu mesmo admirado. Olhou para mim, confuso.
- Mas... como sabias? - Disse por fim.
- Notava-se tanto - ri-me.
- Oh... era assim tão óbvio?
- Sim, era.
- Só foi há uns dias, sabes... nunca tinha reparado nela antes. Mas depois, enquanto conversávamos à noite e assim, eu... acabei por perceber que ela era muito mais simpática do que parecia e...
- E acabaram aos beijos - sorri. - Kay, não estou chateada. Eu e tu tivemos assim um momento, mas não passou disso. Acho que não ficaríamos bem como namorados.
- Nem sabes como estou aliviado por... estares a reagir tão bem. Achei que ias ficar magoada, e dava-te razão.
- Kay, deixa-te disso. Tendo em conta que vamos provavelmente morrer à sede mais cedo ou mais tarde, fizeste bem em declarares-te. Pode muito bem ser a tua última oportunidade.
- É estranho seres tu a dizer isso, Lyra. - Sorriu ele de repente.
- Hã? O que queres dizer com isso?
- Como se não soubesses. Acho que tu e uma certa pessoa deviam engolir o orgulho e ficar juntos de uma vez, antes que seja tarde demais. E sabes que não estou a falar do Alfie.
- Não sei do que estás a falar - disse determinadamente.
- Porque é que vocês não admitem?! Eras tu que me estavas agora mesmo a falar de última oportunidade. Vamos morrer, Lyra. Aproveita enquanto podes.
Fechei os olhos. A dor de cabeça não parara ainda, e continuava a sentir-me mesmo enjoada devido à sede. Era como se tivesse secado por dentro.
- Vou lá para dentro. - Disse o Kay por fim, ao ver que eu não respondia. - Vens?
- Cinco minutos e já vou ter convosco. - Respondi.
O Kay abraçou-me com força, e eu abracei-o de volta. Era um abraço que dizia muito. Era como se estivéssemos a dar força um ao outro. O problema é que nenhum tinha forças nem para si mesmo, quanto mais para dar ao outro.
O sol pôs-se de vez, e de repente dei por mim no escuro da noite. Ouvi vozes dentro do dormitório, mas não queria entrar. As luzes do outro dormitório, da Maya, do Josh, do Julian, do Tom e da Rose, estavam ligadas, e vi a sombra de um deles através da cortina.
Um de nós era o assassino.
Restava saber quem.
Alguém inteligente, sem problemas financeiros, que por uma razão oculta nos reunira a todos aqui e estava a matar a um. Alguém que se estava a arriscar a morrer também. Alguém que agia nas sombras, e que nos estava a tentar exterminar de vezes, matando à sed...
Foi como nos desenhos animados.
Quando uma lâmpada luminosa se acende na nossa cabeça.
Fiquei ali, de boca aberta, durante o que pareceram horas.
Oh meu Deus.
Sou tão burra.
Podia funcionar.
Podia mesmo funcionar.
Tínhamos água debaixo do nosso nariz o tempo todo e não nos tínhamos apercebido.
Entrei de rompante no dormitório. Todos olharam para mim.
- Lyra? Demoraste imenso.
- O que se passa? Porque estás...
- Água - anunciei. - Já sei onde podemos arranjar água.

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