Campo de Férias

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Capítulo I

Desde o primeiro momento aquilo não me convenceu.

Não sei explicar porquê nem como. Simplesmente, no exato momento que pousei a minha mala na relva e olhei para o edifício, senti um arrepio como se alguém me tivesse enfiado um cubo de gelo pelas costas abaixo.

Mas aparentemente fui a única a sentir-me assim.

- Meu!! Isto é bestial! - Exclamou o Alex, abrindo os braços como se fosse um Cristo Rei e largando toda a sua bagagem.

- Até tem piscina - comentou a Gabby.

- Nas fotos do site parecia menor.

- Onde estão as outras pessoas? - Perguntou o Alfie, olhando-se em volta. - Fomos os primeiros a chegar?

Alfie, Gabby, Alex e Lyra. Ou seja, eu. Um grupo de jovens adolescentes que vão alegremente passar duas semanas de Julho num Campo Aventura onde Judas perdeu as botas.

O Alex é o meu irmão gémeo, mas não somos nada parecidos. Ele é loiro, branco como uma parede de aula e uns olhos enormes e tão pretos que não se distingue a pupila. Eu tenho cabelos castanhos claros, que me descem pelas costas, olhos verdes e um tom de pele mais queimado pelo Sol (o que me salva dos inúmeros escaldões que assombram o Alex todos os Verões).

Além disso, o meu irmão é fantástico a desporto e eu sou péssima, excepto a natação e corrida. Eu sou uma aluna extraordinariamente brilhante que tira as melhores notas da escola sem estudar uma página do manual e ele quase chumbou o ano. Eu gosto de azul, ele gosta de verde. Tudo o que ele detesta eu gosto, tudo o que eu acho horrível ele venera.

Não podíamos ser mais diferentes, e acabamos sempre por discutir, mas, como todos os irmãos, o amor está lá no fundo, embora no nosso caso seja preciso um submarino de holofote potente para encontrar o amor.

A Gabby é a minha melhor amiga desde que me lembro e basicamente fazemos tudo juntas. Tem cabelos fortíssimos, pretos como os olhos do Alex, pele morena que parece de chocolate e uns grandes olhos estranhamente claros que contrastam com a escuridão do resto. Também não é muito boa aluna e sou normalmente eu que a safo da recuperação. Mas, em compensação, tem jeito para quase tudo e um talento nato para a dança.

Por fim, o Alfie. O melhor amigo do meu irmão, e aquele nosso amigo completamente passado que leva os nossos avós e pais a desconfiar que temos namorado. Cabelos castanhos despenteados para a direita, um bronze doirado, olhos quase tão verdes como os meus, sardas salpicadas no nariz, e um corpo bem constituído fruto das infindáveis horas a jogar futebol com o Alex e trancado no ginásio. Passa a vida em nossa casa e de férias connosco (chego a desconfiar que os meus pais gostam mais dele do que de nós os dois) porque o Alex o convida sempre, e como eu convido sempre a Gabby, nós os quatro acabamos por estar juntos a tudo.

Apresentações acabadas. Vamos continuar.

- Pode ter piscina e edifícios bonitos, mas não podia ser mais longe pois não? - Revirei os olhos com sarcasmo.

- A Lyra tem a sua razão - apoiou-me o Alfie, pegando no seu telemóvel e abanando-o no ar. - Nem sequer há rede.

- Ora! É esse o objetivo - disse o meu irmão. - Longe de tudo e todos, para respirar o ar puro do campo.

- DEMASIADO longe de tudo e todos. Quantos quilometros são até a civilização mais próxima, 100?

Normalmente não sou tão mal-humorada, mas a sério: as minhas férias de verão tinham sido arruinadas. Era suposto eu ir com uma minha amiga do curso de natação, a Trisha, passar duas semanas à casa de praia dela. Mas no último momento ela acordou com febre e ligou chorosa a dizer que afinal não podíamos ir.

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