Capítulo XII

25.9K 2.1K 450
                                    

QUARTA

Acordei com um grito.
Este foi o meu despertador. Um grito histérico, lancinante, que me fez abrir os olhos de repente e acordar como se me tivessem despejado um balde água gelada na cara.
Era a Gabby. Ela estava ali, de pé, com os olhos arregalados e a apontar para a parede.
Eu e a Maisie olhámos ao mesmo tempo.
Escrito na parede branca, com um líquido vermelho, estava escrito:

MORTE

Mas o mais inquietante não foi isso.
O pior, foi perceber de repente que aquilo não era tinta. Era sangue.
Mas sangue de quem?

***

Tornou-se óbvio quando, ao reunirmo-nos todos no pátio, vimos a Olivia com a marca de uma faca espetada no estômago.
A Daiana vomitou. A Gabby cobriu a boca com as mãos e os restantes ficámos imóveis, a olhar, demasiado chocados para falar.
Eu, que não suporto sangue, não conseguia tirar os olhos dela. Estava com uma expressão pacífica, como se estivesse a dormir (o que provavelmente estava a fazer quando foi esfaqueada) e de repente o medo de ontem à noite voltou e eu não aguentei mais.
- Todos para o refeitório - ordenou de repente o Michael. Tinha os punhos cerrados e uma expressão que eu nunca antes lhe vira. - JÁ.

- Em TODOS os dormitórios está escrito Morte com sangue?
Acenámos que sim.
- Mas.... Oh meu Deus como é que isto aconteceu? - Soluçou de repente a Miranda. - Eu... Nós trancámos TUDO! C-como é que o assassino entrou?! Porque é que eles nos está a fazer isto, o que é que nós fizemos...
A última palavra já não se ouviu porque a Miranda estava a chorar convulsivamente. A Eleanor e o Leonard tentaram confortá-la, mas eles próprios estavam com ar de quem precisa ser confortado.
- Como é que o assassino entrou? - Perguntei eu, assustada. - E porque é que matou a Olivia?
- Acho que tanto podia ser a Olivia como podia ser um de nós - disse o Kay, muito sério. - Não deve fazer diferença.
- O assassino passou-nos a perna, desta vez - disse o Josh - mas NÃO VAI voltar a acontecer.
- Como é que sabes?! Disseram isso da outra vez!! - Acusou o William, que estava tão branco quanto a parede.
Era isto que éramos: 27 jovens aterrorizados, a tremer, encolhidos uns contra aos outros e a lançar olhares de esguelha à porta, como se de repente alguém entrasse e nos matasse, como se de repente ela se fechasse e o gás tóxico voltasse a sufocar-nos.
- O mais importante, agora, é descobrir como ele entrou - interrompi eu - para termos a certeza que amanhã ele não entra.
- Quem estava no dormitório da Olivia?
Só a Daiana levantou a mão trémula, que estava a tremer tanto que mal se mantinha direita.
- Só tu? - Disse incrédulo o Alfie.
- A Berenice e a Tianna morreram no gás. Agora só sobro eu... - E recomeçou a chorar. - Por favor, não me façam ficar sozinha de novo, e-eu não aguento!! Quero ir para casa!!
- Óbvio que não te vamos deixar sozinha - disse eu, acalmando-a. - A cama da Nikki não tem ninguém: podes vir para o meu dormitório, da Gabby e da Maisie.
- Mas, Daiana... Não ouviste nada? O assassino a entrar, e a matar a Olivia? - Disse a Mel, boquiaberta.
- N-não... Eu tenho sono muito pesado e... Quando acordei hoje de manhã a Olivia não estava lá e só vi sangue na parede e... - A Daiana estava a chorar tanto que tapou a cara e começou a estremecer violentamente. Eu estava cheia de pena dela e não sabia o que dizer nem fazer. Sentia que estava a ver um filme na TV, tipo O Senhor das Moscas, mas com uma diferença: eu era atriz no filme.
- Li nos livros que morte por esfaqueamento é silenciosa - disse eu. - A Olivia deve ter acordado com uma dor aguda, visto de repente a cara do assassino e depois ele deve ter-lhe tapado a boca para ela não gritar ou assim. Pensando bem, não deve ter feito barulho nenhum.
- Continuo sem perceber por onde ele entrou - disse o Julian, frustrado. - Quer dizer... Pode haver uma passagem secreta, e nesse caso o assassino pode entrar a qualquer momento e matar-nos a todos!
- Então, que sugeres? Dormirmos noutro sítio, fora dos dormitórios?
- Tenho uma ideia melhor - disse de repente a Maisie. - Acho que, a partir de agora, devíamos dormir todos juntos. Talvez em grupos de 10 ou assim. Há mais probabilidades de alguém acordar, caso o assassino entre e tente matar alguém.
Fazia sentido. Olhei para o Michael, à espera que ele contestasse, mas ele parecia de acordo.
- OK. - Disse ele. - Mas cada dormitório só tem quatro camas. Como cabem 10 pessoas?
- Talvez duas raparigas ou dois rapazes possam partilhar uma cama de baixo. Depois, há o sofá onde cabem outros dois, e podemos pôr os cobertores e lençóis no chão e improvisar um ou dois sacos cama.
- Quê?! Ter de partilhar o quarto com os rapazes? - Guinchou de repente a Rose.
Suspirei. Já cá só faltavam os seus dramas.
- Sim, Rose - disse o Alex, que também parecia um bocadinho farto dela. - Não me parece o momento certo para esquisitices.
- Se preferires dormir sozinha num dormitório é contigo - a Anne revirou os olhos.
A Rose resmungou umas quantas palavras mas não disse mais nada.
- Então pronto. Mais ideias para reforçar a segurança?
- Talvez o assassino tenha usado um arame para substituir a chave da porta - sugeriu o Alfie de repente.
- Isso não faz barulho? - Perguntou o Rapaz das Sardas, que eu ainda não percebera o nome.
- Por via das dúvidas, podíamos pôr um móvel pesado, tipo o sofá, a bloquear as portas - acabou o Alfie.
- Boa ideia - disse o Michael. - Acho que é tudo o que podemos fazer.
Um silêncio pesado caiu sobre nós.
Parecia tudo bem, mas ontem também nos tínhamos recheado de medidas de segurança, e no entanto a Olivia estava com uma faca espetada na barriga.
Quem era aquela pessoa? Porque é que nos estava a fazer isto? Que raio de jogo era este? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Por mais que pensasse não encontrava uma única teoria, e isso estava-me a deixar louca.
- Bem... Que fazemos agora? - Disse por fim o Tom. Os seus lindos olhos azuis pareciam quase apagados, e a sua beleza parecia que esmorecera, tipo uma flor murcha.
- Pequeno - almoço. Depois levamos o corpo da Olivia para o bosque, onde ficou o da Christina - Sugeri. - E depois...
E depois o quê? Um dia inteiro a olhar uns para os outros?
- Depois tentamos relaxar um pouco - disse o Alex, a tentar animar as coisas. - Hey, temos uma piscina e campo de ténis!
Eu não me conseguia imaginar a dar raquetadas numa bola com 34 pessoas mortas na cave e no bosque, mas talvez o Alex tivesse razão. Ficar em choque a olhar para as paredes não ia ajudar nada, pois não?
- Boa ideia, Alex - congratulou a Maisie. - Não nos podemos esquecer de estar sempre em grupo, mas tirando isso... É melhor espairecermos um pouco.
Não sabia se ia conseguir.
- E não se esqueçam que temos uma vantagem - acrescentou o Alex, alegre por a Maisie o ter apoiado, enquanto nos levantávamos e saíamos do refeitório.
- Uma vantagem? Qual? - Inquiriu a Gabby, curiosa.
- A espingarda do Josh.
O Josh pigarreou nesse momento. Virámo-mos para ele e eu soube, mesmo antes de ele falar, que não ia ser nada de bom.
- Ia-vos dizer, mas com esta confusão toda da Olivia acabei por me esquecer. A espingarda desapareceu. Hoje de manhã acordei e ela já não estava na minha mesinha de cabeceira.

Campo de FériasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora