06/01/2019(Continuação)

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- Acha que era alguém do grupo de reconhecimento? – Falei enquanto caminhava na direção dos dois.

- Não. Não acho que seja.

Assim que cheguei ao lado de Frank e pude ver o corpo do atirador eu pude ter certeza de que não se tratava de um dos observadores do grupo de reconhecimento.

- Eu conheço esse cara.

- Se ele te conhece por que atirou em nós?

- Eu disse que o conhecia e não que era meu amigo.

- Pode me dizer quem ele era então? – Frank falou enquanto se abaixava para vasculhar o corpo.

- O nome dele era Felipe. Nos encontramos quando Barbara e meu tio ainda estavam comigo.

- Ele ferrou vocês?

- Mais ou menos. – Falei me aproximando da platibanda do terraço. – Quer dizer... Ele nos ferrou, depois nos ajudou e aí nos ferrou de novo.

- Como assim? Do que você ta falando? – Frank esboçou um sorriso de quem não fazia idéia do que eu estava dizendo.

- Caímos numa armadilha dele há um tempo. Ele guardou um monte de zumbis nuns becos e prédios e nos atraiu até lá, soltou todos em cima da gente. Estávamos ferrados, encurralados num beco quando ele apareceu e nos salvou.

- Ele salvou vocês da armadilha que ele mesmo fez? Não faz sentido.

- É, mas a armadilha não era pra nós. O grupo dele foi atacado pelos homens do tal comandante.

- Entendi.

- Eles moravam numa cidade, acho não é muito longe daqui. Eles meio que tomaram um bairro, sabe? Se organizavam, ficavam em casa para evitar os zumbis, eram uma comunidade tentando sobreviver. Até que os homens do grupo de buscas chegaram lá e tomaram tudo, mataram quem resistiu e queimaram o que ficou pra trás. Ele conseguiu se esconder e bolou um plano pra se vingar caso os desgraçados voltassem.

- Este cara era um sobrevivente então... Adaptado ao novo mundo. – Frank disse se apoiando no peito de Felipe para levantar-se. – Podia ser um bom aliado.

- É... Poderia. Só que ele era adaptado até de mais. – Me afastei da platibanda e voltei a me aproximar do corpo. – Ele aproveitou um momento tenso no nosso grupo para pegar nossas coisas e fugir levando nosso carro.

- Um traidor...

- Isso. Eu pensei mesmo em matá-lo quando o vi fugindo e nos largando pra trás, mas agora que fiz não era assim que pensei que iria me sentir.

- Eu entendo. Mas de qualquer maneira, vejamos... Você acabou de conseguir uma de suas vinganças, isso deveria lhe dar confiança para conseguir a outra.

- Verdade.

- Agora vamos pegar de volta o que ele levou de vocês. – Frank deu uns passos pro lado e pegou o rifle do chão. – Começando por isto.

- Não. Esta arma não era nossa.

- É, estou vendo aqui. Vê essas marcas? – Frank aproximou o rifle de mim. – São pra identificar as armas da Grande Cidade. Ajuda no controle de armas interno e também pra identificar alguém que tenha atacado e tomado elas de alguém de lá.

- Isso quer dizer que ele os reencontrou.

- Na verdade isso quer dizer que ele matou um deles. Parece que você não foi o único a conseguir parte da vingança.

- Vamos ver o que ele conseguiu mais e partiremos, os tiros podem atrair zumbis pra cá ou mais alguém.

- Tens razão.

Ao sair do terraço passamos a vasculhar tudo o que podíamos pelo prédio em busca de suprimentos, armas, munição ou qualquer coisa que pudesse nos ser útil.

Não tinha muita coisa no prédio em que estávamos e decidimos procurar em outros edifícios e lojas da rua. Eu sei que Felipe era bastante esperto de mais para esconder todas suas coisas num lugar só.

Olhamos em mais alguns lugares, gastamos um bom tempo com isso, mas foi proveitoso. Frank encontrou uma mochila com enlatados e eu uma com algumas mudas de roupa e uma lanterna. Além disso, consegui recuperar a arma que Felipe havia tomado de mim porém estava descarregada e eu não consegui encontrar munição em lugar algum, pelo visto ele deve ter gastado tudo lutando contra os mordedores ou com o cara de quem ele pegou o rifle.

Por um momento eu pensei em omitir a arma pra Frank, mas ao pensar bem decidi que era burrice. Ao sair da loja de departamentos onde encontrei as coisas eu e Frank dissemos o que cada um havia encontrado e eu citei da arma. Achei que ele iria reivindicá-la, mas não o fez. Inclusive ao me ouvir falar que a arma estava desmuniciada ele falou que poderíamos resolver isso mais pra frente.

Depois de tudo prontocaímos na estrada novamente. A ação de hoje ajudou a restabelecer os laços deconfiança entre mim e Frank e por mais que tenhamos passado perigo hoje, a situaçãono fim das contas acabou sendo proveitosa. E o fato de eu ter matado alguém nemchegou a pesar na minha cabeça, pelo jeito estou me tornando adaptado também parasobreviver nesse mundo.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now