25/11/2018

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Acordei com o peito muito dolorido e com ataduras que passavam por cima do ombro e davam a volta pelo meu torso. Passei a mão por cima do ferimento para senti-lo e a faca já não estava mais lá, apenas um curativo sobre a atadura que estancava o sangue.

Vasculhei a sala com os olhos a procura de alguém na sala mas não avistei nada, então recostei a cabeça novamente no travesseiro e respirei mais uma vez antes de tentar levantar-me.

Senti dor e tive um pouco de dificuldade mas me pus em pé. Caminhei lentamente pela sala me apoiando nos moveis pelo caminho e com dificuldade cheguei até a saída do apartamento. Estava observando pela janela os zumbis a frente do prédio quando Natalia me abordou.

- O que você está fazendo? – Ela disse surpresa e com certo ar de desaprovação. – Você deveria estar deitado.

Eu não pude deixar de reparar em seu rosto, os olhos inchados davam o sinal de que ela passou a noite toda chorando. Natalia não parece ser uma daquelas pessoas que chora por qualquer coisa então vi que precisava saber o que mais havia ocorrido desde que desmaiei.

- O que houve? Onde estão os outros?

- Você precisa se deitar. – Ela disse ignorando minhas perguntas enquanto enxugava o resto das lágrimas nos olhos.

- O que aconteceu?

- Volte pro quarto e te digo.

Caminhei lentamente de volta pra sala e me sentei sobre a mesa. Expliquei a Natalia que meu leito era sobre a mesa mesmo e ela entendeu, continuamos a conversa ali.

- O que aconteceu? – Perguntei.

- Você se lembra da confusão de ontem, não é?

- Que deu na morte do desgraçado do Adônis? Claro que sim.

- Não foi só ele que morreu...

- O quê?! – A interrompi. – Quem mais morreu? – Falei descendo da mesa.

- Não desça daí! – Ela disse tentando me segurar. – Clayton! Foi Clayton quem morreu!

- O quê? Como?

- Ele foi baleado. Durante aquela sua briga com Adônis, dois tiros daqueles acertaram as costas de Clayton enquanto ele tentava socorrer Barbara. Tentamos salvá-lo mas ele não resistiu aos ferimentos e morreu de madrugada.

- Droga. Eu sinto muito.

Natalia apenas assentiu com a cabeça e eu continuei.

- E Barbara? Edinho? Como eles estão? Os homens que estavam nos carros que Adônis viu, quem eram?

Natalia estava muito abalada ainda por conta de tudo que aconteceu ontem e não parecia pronta pra ser bombardeada com todas aquelas perguntas assim. Eu devia ter notado e respeitado isto, mas ignorei. A dúvida sobre o que tinha acontecido era inquietante de mais para mim. E enquanto eu ainda estava lá esperando as respostas de Natalia, Barbara apareceu.

Ela entrou no apartamento como se viesse conferir meu estado e pelo jeito não esperava que eu já estivesse acordado e de pé.

- Como você está? – Ela perguntou com um tom um tanto surpreso por já me ver de pé.

- Meu peito está doendo mas estou bem. Onde Edinho está?

- Ele está no outro apartamento e está bem. Ele me ajudou a cuidar de você e resolver as coisas aqui.

- Os homens nos carros, apareceram?

Barbara deu uma leve olhada pra Natalia antes de responder.

- Parecia que eles estavam perseguindo alguém ou indo atrás de algo. Foi apenas coincidência terem passado por perto.

- E os sons dos tiros aqui ontem, não os atraíram?

- pelo jeito não.

- É arriscado continuar aqui. Eles devem ter ouvido os disparos e só não pararam porque realmente deviam estar perseguindo alguém. Não podemos continuar aqui.

- E vamos pra onde? – Natalia perguntou.

- E iremos sair daqui de que jeito? – Barbara continuou a indagação de Natalia. – Jotah, eles não vão nos achar. Olha quantos prédios têm ao nosso redor, mesmo que voltem nunca nos acharão.

- É verdade, tem muitos prédios a nossa volta. – Falei parecendo concordar com Barbara que assentiu com a cabeça, mas continuei – Só que o nosso é o único que tá cheio de zumbis na porta da frente.

As duas me olharam com um olhar assustado, mas pareciam concordar comigo ao eu expor algo que elas não tinham considerado.

- Não vamos conseguir sair daqui desse jeito. – Barbara falou e Natalia concordou com a cabeça.

- Nós precisamos. – Frisei.

- Você ainda está fraco. Seu tio mal pode andar e nem sequer temos um carro, como vamos sair?

- Precisamos pensar em algo então, e logo.

- Você precisa descansar. – Barbara disse num tom um pouco autoritário, típico dela. – Deixe que eu resolva dessa vez.

Não é do meu costume aceitar ordens assim, ainda mais com esse tom de voz mas por uma razão que nem eu mesmo sei explicar acatei.

- Tudo bem. Pense hoje e amanhã botamos em prática. – Conclui.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now