05/12/2018

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Passamos os últimos dias na estrada parando basicamente apenas para abastecer e dormir. Cobrimos o máximo de área possível procurando por qualquer sinal da nossa família mas até agora não encontramos absolutamente nada.

Não sabemos qual caminho seguir e por um tempo dirigimos quase que em círculos rezando para que eles tivessem parado por aquela região próxima ao porto, mas infelizmente não tivemos sorte.

Foi difícil decidir o que fazer mas depois de percorrer o litoral por dois dias, decidimos rumar em direção ao interior novamente. Edinho e eu chegamos num consenso baseados no que conhecemos de Igor e o mais provável é que ele tenha decidido trilhar este caminho, ainda mais pelo fato dos perigos no interior aparentarem ser bem menores do que nas grandes cidades litorâneas.

Barbara e Natalia mantiveram firmes suas palavras e continuam junto conosco mesmo sendo arriscado e com os avisos de que só iremos descansar quando reencontramos quem procuramos. Admiro a coragem das duas de estarem nessa conosco, encontramos aliadas poderosas por causa desse contratempo. Seria ótimo tê-las na equipe, imagino a alegria dos outros em conhecê-las e espero que isto não demore muito a acontecer.

A noite do terceiro dia de viagem já está a cair e estamos voltando em direção ao interior. Os dias de vantagem que nossa família tem a nossa frente estão difíceis de serem compensados, mesmo alternando o volante entre os quatro e passando a maior parte do dia dirigindo. O pior de tudo é a incerteza de se estamos ou não seguindo a direção correta.

Nos últimos dias nem sequer procuramos um local para dormir e acabamos passando as noites dentro do próprio carro. Eu já havia esquecido como é bem desconfortável dormir assim, ainda mais com tantas pessoas. Apesar do carro ser grande, o conforto durante a noite nem de longe é boa. Sem contar a nítida falta de privacidade para todos.

As garotas provavelmente nunca passaram tanto tempo assim dentro de um carro, ao contrário de mim e Edinho. Eu e ele sabemos os problemas de convivência que começam a surgir depois de algum tempo viajando desse jeito e queremos a todo custo evitar que isso aconteça aqui. Por conta disso decidimos parar e escolher um local abrigado para passarmos a noite e continuaremos rumo ao interior pela manhã.

Estávamos passando pelas margens de uma pequena cidade quando Edinho, que dirigia o carro, avistou um local que ele julgou ser bom para descansarmos.

- Ali. – Edinho disse. – Podemos dormir naquela casa hoje.

- Aquela coisa? – Natalia falou de uma forma descontraída. – Desculpa Edinho, mas eu não vou dormir com você na casa do Drácula.

Eu e Barbara nos entreolhamos no banco de trás e deixamos o sorriso correr em nossos rostos. Rimos não só pelo comentário de Natalia sobre a casa, mas sim também, pelo vacilo que ela deu deixando escapar a frase de que dormiria com Edinho. Os dois até agora pareciam estar tentando esconder de nós o que quer que fosse que estivesse acontecendo entre eles e Natalia acabou de destruir todo o teatrinho que tentaram manter para nos enganar.

Depois de alguns instantes conseguimos controlar a risada e eu saí em defesa da garota.

- Concordo com ela, cara. Eu não entraria naquilo nem sequer antes dessa maluquice de zumbis começar, quem dirá depois. - Disse ainda esboçando um sorriso.

- Aquilo não é a casa do Drácula, tá bom? – Edinho disse respondendo nossa zoação. – É só uma casa. Tem coisa muito pior aqui fora.

- Nisso ele tem razão. – Barbara emendou corroborando Edinho.

- Dois contra dois. – Natalia respondeu.

- Então estamos num impasse, querida. – Edinho que ironizou dessa vez.

- Ao nosso favor. – Falei chamando atenção para mim. – Defendo a tese de não entrar, e muito menos dormir, numa casa mal assombrada.

Arranquei a risada de todos com a brincadeira e Barbara me respondeu: - Eu protesto. Você sabe que não existem fantasmas.

- E até uns meses atrás nós sabíamos que não existiam zumbis – Rebati cinicamente.

- Toma essa. – Natalia caçoou de Barbara e depois batemos as palmas da mão.

Em meio a nossa brincadeira nos distraímos e não percebemos a chegada de um zumbi até o nosso carro e fomos surpreendidos com uma pancada que facilmente quebrou o frágil vidro já danificado pelos tiros. Quando nos demos por si as mãos do mordedor já entravam pela janela do passageiro, onde Natalia estava.

Nos assustamos com aquilo, principalmente Natalia que deu um grito e se jogou para o lado onde Edinho estava. As mãos do zumbi passavam pela perna de Natalia quase conseguindo agarrá-la e aos gritos de todos, pedindo para que saíssemos logo dali, Edinho acelerou com tudo. Rapidamente nos distanciamos e saímos do alcance do zumbi, mas essa foi por pouco.

Passado o susto inicial Edinho não tardou para reclamar conosco.

- Viram por que precisamos entrar na casa? Espero que todos tenham entendido agora.

Ficamos todos calados. Claro que foi uma brincadeira inofensiva, estávamos apenas nos distraindo, só que por um momento nos esquecemos que distração nesse mundo significa perigo de vida e aquele zumbi, junto com a bronca de Edinho, só vieram para reforçar isso.

Agora sem mais delongas seguimos na direção da casa. O lugar era tão antigo que nem sequer havia portão com passagem para o carro e tivemos que deixar a caminhonete na rua. Descemos juntos e passamos pelo portão velho que dava acesso ao terreno.

Tudo estava muito velho e acabado só que ao menos não avistamos nenhum sinal de zumbis. Algumas janelas estavam com os vidros quebrados mas todos estavam fechadas, assim como as portas. O local apesar de mal conservado parecia estar intocado, a nãos ser pela ação do tempo, e livre de zumbis.

Edinho deu uma volta na casa e arrombou uma janela lateral por onde iluminamos com a lanterna antes que ele entrasse para destrancar a porta. Já dentro da casa deu pra ver que o mal estado de conservação não era apenas no exterior. O piso era de madeira e rangia sobre nossos pés a cada passo. Paredes desbotadas e em alguns lugares o gesso havia caído. Tinha muita madeira podre, não só no piso, como também no teto e as próprias portas, além do incrível cheiro de coisa velha.

Tirando isso o lugar era legal. Vários móveis que aparentavam serem caros, um lustre gigantesco na sala, vários quadros e uns castiçais bem elegantes. A casa toda era muito grande e espaçosa, com muitos cômodos e um estilo bem diferente, eu nunca tinha visto algo assim.

E o melhor de tudo é que essa coisa pelo jeito foi construída antes da energia elétrica ser algo muito acessível então por todos os cantos havia velas, que após acesas, iluminavam muito bem o local. Fazia tempo que eu não via mais que um palmo a frente do meu nariz à noite, foi muito legal conseguir enxergar algo depois que a noite caiu.

Passamos o resto da noite vasculhando cada local da casa e entretidos com cada objeto diferente que achávamos. O guarda roupas então foi um achado a parte. Após unas duas horas rodando pela casa enfim decidimos dormir, afinal tínhamos que descansar para continuar viagem, foi pra isso que entramos aqui.

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