27/11/2018

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O local realmente parecia perfeito por fora, e seria se o andar térreo não estivesse cheio de zumbis.

Ontem quando paramos usamos a caminhonete como calço para alcançar a varanda do primeiro andar e ter acesso ao prédio. Assim que entramos vasculhamos o primeiro andar que aparentava um bom estado, mas não parecia que alguém vivesse ali. Estávamos satisfeitos com o lugar e já tínhamos começado a tirar um pouco da poeira das camas e sofá enquanto Barbara foi conferir o térreo e pra nossa surpresa ela voltou para nos avisar que lá embaixo estava cheios de zumbis.

Pensamos em sair do apartamento e voltar a estrada mas a noite não demoraria muito a chegar e pensamos mais uma vez nos homens que estão nos perseguindo e lá fora pareceu ser mais perigoso que aqui. Barbara disse que não havia tantos zumbis assim lá embaixo mas pelas janelas e portas estarem fechadas não há luz nenhuma e seria arriscado de mais descer lá para matá-los.

A solução foi escorar bem a porta que dá acesso ao primeiro andar e tratar de fazer o mínimo de barulho possível. Já que não vamos passar tanto tempo aqui, esta parece ser uma solução que veio a calhar.

Depois que já estava certo que ficaríamos aqui mesmo eu sentei no sofá para descansar e na medida em que a adrenalina foi deixando meu sangue a dor do meu ferimento voltou a atacar. Avisei Barbara sobre a dor e ele me deu uns comprimidos que me fizeram adormecer e acordei apenas hoje.

Assim que acordei senti um cheiro diferente, fazia tempo que eu não senti algo assim. Era um cheiro bom, parecia que algo estava sendo assado.

- Tem alguém aí? Que cheiro é esse?

- Olá dorminhoco. – Natalia disse enquanto vinha da varanda junto com Edinho.

– É uma surpresa que Barbara está fazendo pra nós. – Edinho continuou.

- E o que é?

- Pão. – Barbara falou enquanto saía da cozinha.

Alguns segundos depois estávamos todos reunidos na sala.

- Como você fez pão? – Perguntei.

- Com um pouco de trigo, água, sal...

Ela saiu detalhando os ingredientes e modo de preparo como se eu fosse uma dona de casa que tivesse perguntado sobre alguma receita, todos riram de mim.

- Incrível. – Respondi sarcástico.

- Relaxa nervosinho. Daqui a pouco vai estar pronto. – Barbara terminou a brincadeira e eu voltei a me deitar.

Edinho e Natalia continuaram um pouco por ali e depois eu não os vi mais. Não sei se dormi ou apenas me distrai um pouco mas quando me dei conta estava sendo cutucado por Barbara.

- Acorda. O pão está pronto.

Ela saiu na frente e um pouco depois eu a segui até a cozinha onde Edinho e Natalia já estavam, e eles comiam uma massa estranha, meio branca meio dourada que eu torci pra não ser o pão que Barbara havia anunciado.

Fiz uma cara de nojo para o pão quando percebi que Barbara me olhou, fiz apenas para provocá-la porque na verdade eu estava morrendo de fome.

- O que foi? – Ela disse.

-- Não sei. Só estou procurando o pão que você falou que tinha feito. – Dei uma leve pausa na fala e apontei pra mesa. – Porque aquilo não é um pão, ou é?

Mesmo com a boca cheia, Edinho e Natalia não conseguiram conter a risada. E eu também não fiz questão de esconder a graça que achei da minha própria brincadeira. Já Barbara esboçou um sorriso frio e forçado e me olhou como se quisesse me matar.

- Ela vai matar você. – Natalia disse corroborando minhas suspeitas.

Levantei as duas mãos em sinal de rendição e me sentei à mesa.

- Ela sabe que é só brincadeira. O pão deve estar ótimo. – Conclui.

Continuamos a brincadeira na cozinha por mais alguns minutos. E sabe? A comida, as risadas e aquele pequeno tempo ali juntos foi revigorante.

Depois que terminei de comer fui até a varanda ver como as coisas estavam lá fora e não demorou muito pra Edinho me acompanhar.

- As garotas são legais, mas temos que seguir nosso caminho. – Edinho disse assim que chegou.

- É eu sei. Mas estava pensando nos caras que nos atacaram.

- Você roubou um dos carros deles, nós também atacaríamos.

- É, mas e se eles realmente voltaram lá a nossa procura?

Edinho apenas concordou com a cabeça e não parecia querer prosseguir a conversar naquela direção. Mas eu insisti.

- Enfim, não é sobre isso que eu quero falar, é que... – Dei uma pequena pausa e continuei. – Eu vi um deles. Na hora que roubamos o carro tinha um deles lá.

- E o que tem?

- As roupas do desgraçado estavam mais limpas do que as minhas eram antes do apocalipse.

Mesmo eu falando isto sério Edinho riu da situação, então apenas ignorei e continuei.

- O cabelo dele estava bem cortado, barba feita e dentro da droga desse carro não tinha uma mochila sequer, nem algum galão de gasolina ou ao menos suprimentos.

Ao perceber onde eu queria chegar Edinho mudou a feição e passou a falar sério.

- Não são nômades. – Ele concluiu minha linha de raciocínio. – Acha que estão fixados por aqui?

- Apenas fixados? Não. Não é como se tivessem um acampamento, eles devem ter alguma instalação, e funcional.

- Um prédio ou algo do tipo?

- Não sei, mas é algo grande e com muita gente.

- Acha que são militares?

- Não. Não parecem tão organizados assim, mas são perigosos.

- Você precisa tirar esse carro da rua. – Edinho disse se desencostando da sacada e voltando pra sala.

- Pensei que você quisesse ir embora.

- Eu quero, mas preciso pensar. Guarde o carro.

Não foi difícil pensar num jeito de esconder o carro e ainda por cima conseguir resolver outro problema nosso, eu só precisaria da chave daquelas portas metálicas lá de baixo. Pedi a ajuda de Barbara e Natalia para vasculhar o apartamento em busca das chaves enquanto Edinho se isolou em um dos quartos. Depois de alguns minutos de procura nós a encontramos e eu contei meu plano a elas.

Nós três desceríamos de volta pra rua e Natalia abriria uma das portas e correria pro carro, onde eu estaria em cima da caçamba esperando os zumbis com o arco e flecha na mão, e Barbara pronta no volante para caso precisássemos nos afastar um pouco dali. Assim que os zumbis saíssem eu os acertaria com as flechas e depois era só conferir se não ficou mais nenhum lá por baixo e enfim por o carro pra dentro.

As meninas concordaram com tudo e não tivemos dificuldade em executar. Só havia sete zumbis na lojinha do térreo e ainda bem que eram poucos, pois depois da quinta flechada meu ferimento no peito já estava minando sangue.

Depois que guardamos o carro a única coisa que eu queria fazer era subir e deitar. Barbara refez meus curativos e me deu mais algumas pílulas. As garotas queriam vasculhar as coisas lá embaixo mas eu não tive animo, pra mim acabou por hoje.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now