Capítulo 31 - Abby

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A porta fecha atrás de mim com um estrondo, me deixando sozinha no corredor iluminado apenas por um feixe de luz vindo do lustre do primeiro andar. O apartamento de Brad e Chuck faz parte de uma mansão antiga, provavelmente do século passado, cujos três andares foram transformados em pequenas habitações para que pudessem ser alugadas. Construções como essa são bastante comuns em uma cidade universitária, a maioria dos habitantes são jovens com pouco dinheiro e dividir o aluguel com alguns amigos é a maneira ideal de ter um pouco mais de conforto do que vivendo nos dormitórios. Eu me pergunto o que levou Rock a permanecer nos alojamentos da universidade ao invés de viver em um desses apartamentos.

Imediatamente sinto meu coração acelerar e forço minhas pernas a me levarem para fora do prédio. Ainda posso escutar o sussurro rouco de Rock em meu ouvido enquanto corro para o meu carro. Sem lhe dar chance de me alcançar, ligo o motor do carro e dirijo sem rumo pelas ruas da cidade. Mal tenho tempo para pensar no que acabou de acontecer enquanto pego a saída para a autoestrada e decido para onde ir. Eu queria simplesmente correr para Barbara em busca de conforto porque ela saberia exatamente o que me dizer, mas essa é a última coisa que ela precisa no momento. Eu não sou tão egoísta a ponto de fingir que posso jogar os meus problemas em cima dela enquanto minha melhor amiga está lidando com o término mal explicado do próprio namoro.

Eu estou ciente de que se eu permitir que minha mente processe os acontecimentos dessa noite nada fará sentido e por isso, com muito esforço, eu tento manter minha mente em branco. Para ajudar, canto junto com a música que explode nos alto falantes do carro. Mesmo quando sinto minha garganta começa a arranhar continuo gritando, impedindo que meus pensamentos sigam por um caminho mais perigoso. Somente quando eu estaciono em frente à minha casa é que me permito pensar no que aconteceu.

Posso sentir os lábios firmes de Rock pressionados contra os meus e o toque sedutor de suas mãos percorrendo meu corpo, descobrindo cada curva por baixo do tecido da camisa que ele me emprestou. Se eu fechar meus olhos, eu poderei até mesmo sentir sua respiração acelerada contra meu rosto e o inebriante perfume amadeirado dele.

Ávida para ficar o mais distante possível de Rock, puxo a camisa pela cabeça com força e fico apenas com a camiseta que vestia por baixo. Com as suas palavras doces ecoando em minha cabeça não preciso de mais nenhuma memória do encontro. Ainda não posso acreditar no que eu fiz, mas o que realmente me assustou foram as palavras dele. Ele optou por usar "amor" para descrever o que aconteceu entre nós e, apesar de eu ter certeza de que foi um produto do momento, foi uma escolha intensa.

No último mês Rock provou o quanto ele é uma pessoa boa e confiável. Toda vez que estou ao seu lado eu tenho a impressão de que cada momento ao seu lado é precioso, como se ele não revelasse sua verdadeira personalidade para muitas pessoas e eu fui uma das poucas em quem ele decidiu confiar. Também não me passou despercebido o fato de ele ter me surpreendido por completo. Esta foi, provavelmente, a primeira vez em que eu formei uma impressão completamente errada de alguém. Ao invés de deixar minha opinião de lado mesmo sabendo o quanto eu o detestava, Rock se esforçou para provar o quanto eu estava errada. Na verdade, ele se tornou um grande amigo sem que eu percebesse, porém eu jamais imaginaria que sua motivação pudesse ser algo tão profundo. Claro que eu sabia que havia algum interesse, mas amor estava tão longe de realidade que nunca me ocorreu ser a explicação.

Considerando tudo o que aconteceu no último mês eu tenho certeza de que posso amá-lo de volta. Seria muito fácil. O único problema é que Rock merece estar com alguém tão determinado e confiante quanto ele. Estar com uma pessoa como eu só lhe cansaria e eventualmente Rock iria passar a odiar tudo o que acredita gostar em mim. Desde que nos conhecemos eu só lhe trouxe problemas. Eu o fiz passar pelo inferno durante as primeiras semanas de aula, tentei fazer com que ele saísse do dormitório e a culpa também foi minha pelo soco que ele recebeu hoje. Depois de ouvi-lo contar sobre seu passado com o irmão, eu percebi que Rock precisa de alguém que o ajude a cicatrizar as feridas e não de alguém que traga mais problemas para sua vida.

Um olhar para o amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora