Capítulo 12 - Abby

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Durante todo o trajeto da faculdade à nossa cidade eu permaneço calada. Não tenho vontade de falar sobre nada e Barbara parece compreender, pois se mantém quieta. Minha discussão com Rock e a conversa sobre Andrew me deixou emocionalmente esgotada e tudo o que eu desejo é uma boa noite de sono na minha própria cama. Nada de ouvir os ruídos atravessando as finas paredes do dormitório ou ser acordada pelos raios solares que atravessam a janela na primeira hora da manhã. Melhor ainda, nada de Rock.

─ Abby? ─ Barbara desvia os olhos da estrada e me analisa. Com a pouca luz e minha falta de interação eu me pergunto o que minha amiga pode estar procurando.

─ Que foi? ─ minha voz sai dura e eu torço para que Barbara não note que ainda estou incomodada.

─ Está tudo bem? Você está bufando a cada dois segundos ─ diz.

─ Estou ótima. ─ Forço um sorriso e me seguro para não dizer que o motivo do meu mau humor é o meu colega de quarto.

Aposto que ele está aproveitando minha ausência com a ruiva que eu vi conversando com ele no corredor. Eu não queria bisbilhotar nem nada, mas ouvi passos pesados ao lado de fora do quarto e como é noite de festa imaginei que não teria mais ninguém no prédio até bem tarde na madrugada. Além disso, também escutei uma voz melosa e outra, bem mais forte. Eu reconheci a segunda voz imediatamente e esperei cerca de trinta segundos antes de abrir a porta do quarto para saber o que estava acontecendo. Claro que eu só fiz aquilo para me certificar de que Rock não estava levando nenhuma garota para o nosso quarto. Seria bem chato ter que estudar com os dois no cômodo.

Agora eu não precisava me preocupar com nada disso. Ele tinha o quarto todo para ele e eu poderia estudar na minha própria casa, onde ninguém iria me interromper.  

─ Minha mãe teve uma consulta essa semana ─ ela comenta como quem não quer nada e eu sei que é a sua forma de tentar me distrair. Barbara me conhece melhor do que ninguém. ─ Sabia que o feijão já tem mãos e pés?

─ Eu não acredito que vocês estão mesmo chamando o feto assim! ─ acabo rindo, o que faz com que ela relaxe um pouco.

─ O apelido acabou colando e eu acho que vou chamar ele assim para sempre. É bonitinho. Falta pouco para descobrirmos o sexo dele e meus pais já estão discutindo por causa da escolha do nome. Minha mãe quer Brigite se for menina, mas meu pai disse que... ─ ela começa a narrar o que tem acontecido, fazendo questão de criticar os nomes que seus pais escolheram, mas eu acabo perdendo a atenção.

O modo como Barbara e seus pais estão curtindo a gestação de Morgana me fascina. Eu tinha sete anos quando minha mãe engravidou de Edward, entretanto eu me lembro perfeitamente do quanto meus pais discutiram no início e depois, à medida que a barriga crescia, eles se esforçavam para fingir que nossas vidas continuavam iguais. No entanto, eu sabia que a realidade não era aquela. Meu pai estava prestes a sair de casa quando minha mãe anunciou a gravidez e tudo mudou. Eu me trancava no meu quarto tarde da noite e ficava imaginando como seria quando o bebê finalmente nascesse. Secretamente eu acreditava que ele era um presente que estava sendo enviado a mim e, de certa forma, eu estava certa. Eddie foi o meu pequeno milagre. Ele me ensinou a amar e ser feliz; coisas que meus pais nunca se esforçaram em passar aos filhos.

Até conhecer Andrew, eu acreditava que jamais seria capaz de manter qualquer relacionamento. Eu tinha medo de que a má sorte dos meus pais tivesse sido passada através dos genes para mim e eu estava fadada a viver uma farsa tão grande quanto a deles.

─ Abby! ─ Barbara exclama. Rapidamente a encaro à procura de uma resposta apropriada, porém minha amiga revira os olhos e aponta para fora do carro. ─ Nós chegamos.

Um olhar para o amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora