Durante todo o trajeto da faculdade à nossa cidade eu permaneço calada. Não tenho vontade de falar sobre nada e Barbara parece compreender, pois se mantém quieta. Minha discussão com Rock e a conversa sobre Andrew me deixou emocionalmente esgotada e tudo o que eu desejo é uma boa noite de sono na minha própria cama. Nada de ouvir os ruídos atravessando as finas paredes do dormitório ou ser acordada pelos raios solares que atravessam a janela na primeira hora da manhã. Melhor ainda, nada de Rock.
─ Abby? ─ Barbara desvia os olhos da estrada e me analisa. Com a pouca luz e minha falta de interação eu me pergunto o que minha amiga pode estar procurando.
─ Que foi? ─ minha voz sai dura e eu torço para que Barbara não note que ainda estou incomodada.
─ Está tudo bem? Você está bufando a cada dois segundos ─ diz.
─ Estou ótima. ─ Forço um sorriso e me seguro para não dizer que o motivo do meu mau humor é o meu colega de quarto.
Aposto que ele está aproveitando minha ausência com a ruiva que eu vi conversando com ele no corredor. Eu não queria bisbilhotar nem nada, mas ouvi passos pesados ao lado de fora do quarto e como é noite de festa imaginei que não teria mais ninguém no prédio até bem tarde na madrugada. Além disso, também escutei uma voz melosa e outra, bem mais forte. Eu reconheci a segunda voz imediatamente e esperei cerca de trinta segundos antes de abrir a porta do quarto para saber o que estava acontecendo. Claro que eu só fiz aquilo para me certificar de que Rock não estava levando nenhuma garota para o nosso quarto. Seria bem chato ter que estudar com os dois no cômodo.
Agora eu não precisava me preocupar com nada disso. Ele tinha o quarto todo para ele e eu poderia estudar na minha própria casa, onde ninguém iria me interromper.
─ Minha mãe teve uma consulta essa semana ─ ela comenta como quem não quer nada e eu sei que é a sua forma de tentar me distrair. Barbara me conhece melhor do que ninguém. ─ Sabia que o feijão já tem mãos e pés?
─ Eu não acredito que vocês estão mesmo chamando o feto assim! ─ acabo rindo, o que faz com que ela relaxe um pouco.
─ O apelido acabou colando e eu acho que vou chamar ele assim para sempre. É bonitinho. Falta pouco para descobrirmos o sexo dele e meus pais já estão discutindo por causa da escolha do nome. Minha mãe quer Brigite se for menina, mas meu pai disse que... ─ ela começa a narrar o que tem acontecido, fazendo questão de criticar os nomes que seus pais escolheram, mas eu acabo perdendo a atenção.
O modo como Barbara e seus pais estão curtindo a gestação de Morgana me fascina. Eu tinha sete anos quando minha mãe engravidou de Edward, entretanto eu me lembro perfeitamente do quanto meus pais discutiram no início e depois, à medida que a barriga crescia, eles se esforçavam para fingir que nossas vidas continuavam iguais. No entanto, eu sabia que a realidade não era aquela. Meu pai estava prestes a sair de casa quando minha mãe anunciou a gravidez e tudo mudou. Eu me trancava no meu quarto tarde da noite e ficava imaginando como seria quando o bebê finalmente nascesse. Secretamente eu acreditava que ele era um presente que estava sendo enviado a mim e, de certa forma, eu estava certa. Eddie foi o meu pequeno milagre. Ele me ensinou a amar e ser feliz; coisas que meus pais nunca se esforçaram em passar aos filhos.
Até conhecer Andrew, eu acreditava que jamais seria capaz de manter qualquer relacionamento. Eu tinha medo de que a má sorte dos meus pais tivesse sido passada através dos genes para mim e eu estava fadada a viver uma farsa tão grande quanto a deles.
─ Abby! ─ Barbara exclama. Rapidamente a encaro à procura de uma resposta apropriada, porém minha amiga revira os olhos e aponta para fora do carro. ─ Nós chegamos.
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Um olhar para o amor
RomanceA vida de Abby foi minuciosamente planejada anos atrás. Hoje ela está noiva de um homem que possui todas as características que ela poderia desejar em um marido, seu curso de graduação é melhor do que ela poderia esperar e ela recebe a oportunidade...