Um olhar para o amor

Capítulo 16 - Rock

Sempre considerei que as tardes de domingo fossem o melhor momento para descansar, desde pequeno. Lembro muito bem do quanto Roger ficava desanimado depois de tentar me tirar da cama cedo e acabava sendo expulso do quarto. Ele sempre tinha algum comentário sarcástico envolvendo a ação da noite anterior ou, na maioria das vezes, a falta dela. E eu sempre o empurrava para fora do quarto e gritava algo idiota antes de trancar a porta e voltar a dormir. Foi assim até três anos atrás, quando ele deixou de aparecer à porta e eu perdi a vontade de desperdiçar as manhãs dormindo. E com todos os treinos e jogos ficou cada vez mais fácil me ocupar.

Como em todos os finais de semana, após passar a maior parte da manhã na academia, eu estava retornando para o dormitório quando avistei Chuck conversando com Nicky no jardim em frente ao dormitório e achei melhor não incomodar. Talvez meu amigo deixasse a teimosia de lado em algum momento e percebesse que ela era muito mais do que a melhor amiga de sua irmã. Depois da noite de sexta, eu espero que ele chegue logo a essa conclusão. Brad foi o único com quem eu falei depois da festa e ele concorda que Chuck corre o sério risco de se apaixonar ainda mais por Nicky. De qualquer forma, cabe a ele descobrir e não a mim, por isso passei direto por eles ao entrar no prédio.

Sozinho no quarto eu me concentro nos livros e trabalhos que tenho para fazer. O silêncio que deveria me acalmar está me incomodando como nunca e eu imagino que até mesmo ter de suportar outra noite de festa seria melhor. Jogo os livros sobre a cama e me levanto, orgulhoso demais para ligar o computador depois de ter passado toda a tarde de sábado jogando e acabando perdendo metade das minhas conquistas. Talvez meus amigos estejam certos e eu devesse parar de jogar com garotos de treze anos que são mil vezes melhores que eu.

Alguém bate à porta do quarto, como se soubesse que eu pretendia parar de estudar. Ao abri-la me surpreendo por encontrar Ivy.

— Eu venho em paz, — ela anuncia antes que eu possa falar qualquer coisa. — Trouxe para você.

Ela estende uma sacola em minha direção e no mesmo instante eu sei que irei encontrar ali dentro uma porção de batatas doce fritas e um hambúrguer da Maggie's. Ivy me lança um sorriso vacilante enquanto aguarda por minha reação. Nossa discussão na sexta feira foi diferente das outras e depois de evitá-la na festa, minha amiga não me procurou mais. Apesar de eu ter me irritado com o que ela disse, não posso ficar realmente enfurecido. Não com Ivy.

— Eu estava me perguntando quando eu teria que ir até o seu dormitório pedir desculpas... — apanho a sacola e me sento na cama.

— Eu que deveria me desculpar, mas nós dois sabemos que eu não faço isso.

Ela me lança um sorriso cúmplice e se encaminha para a cama de Abby. Observo-a se deitar calçando as botas sujas de terra e antes que eu pense me levanto. Depois de ter escutado o quanto Abby ficou incomodada comigo e meus amigos na semana passada eu decidi que o melhor a se fazer é evitar futuros problemas. E considerando que ela vá me odiar se descobrir a mentira que eu inventei para Genevieve, eu prefiro não arriscar com problemas menores.

— Você vai sujar a colcha. Tire os pés daí.

— Não se preocupe, ela vai limpar quando voltar. Aliás, onde a senhorita Abigail está? — Ivy ergue uma de suas sobrancelhas loiras para mim, esperando por uma explicação.

— Ivy... Será que você pode pegar mais leve com a Abby?

— Ai, meu Deus! — Ela interrompe. — Você não está gostando dela, certo?

— Claro que não! De onde saiu isso?

— Não sei... é que você acabou de surtar por causa dos meus sapatos na colcha branca dela e pediu para eu ser mais legal com a garota. O que está acontecendo com você? Ela nem faz seu tipo!