Capítulo 18 - Rock

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Sinto meus olhos arderem e espasmos nas costas, mas me recuso a sair deste sofá. Estou sentado aqui desde o final da tarde, quando terminei o treino e vi Abby voltando para o dormitório. Ela parecia feliz caminhando para o quarto e eu achei melhor não aparecer e forçá-la a me encarar. Sei que ela precisa de tempo para se acostumar com minha presença e me manter afastado enquanto ela lida com isso e com o noivado é o melhor que posso fazer.

Depois de ouvir as preocupações de Barbara eu não consegui deixar de pensar no que poderia ser feito para ajudar Abby. Ela jamais aceitaria qualquer coisa se eu simplesmente oferecesse, então tenho que ser mais sutil e esperto do que ela. Ouvi dizer que as pessoas demoram a aceitar os problemas que têm e Abby parece ser o tipo de garota que nunca vai admitir qualquer coisa para um desconhecido. Eu preciso me aproximar devagar e ganhar a confiança dela aos poucos. Ivy me contou que Abby ficou emocionada ao encontrar o livro que deixei para ela, então acho que estou no caminho certo. Tudo bem, as palavras que Ivy usou para descrever a reação de Abby foram "sentimental", "esquisita" e, a minha preferida, "parecia que ela tinha visto um fantasma de verdade". Minha amiga ainda me acusou de estar gostando de Abby e eu deixei que ela acreditasse nisso, porque se eu contar a verdade é provável que Ivy tome as dores da minha colega de quarto e vá atrás do noivo idiota. Esse é o tipo de coisa que Ivy não consegue tolerar e eu sei que para ela é uma questão pessoal.

— Rock.

Escuto alguém chamar por mim e me levanto. Os residentes que estavam na área comum subiram para os quartos há algumas horas, me deixando sozinho com as televisões sem som e as luzes apagadas. Fizeram o mesmo na noite anterior, depois de conversarmos sobre futebol americano e jogos. Eles me deixaram sentado no sofá em frente à janela frontal do prédio, onde eu fiquei por algum tempo antes de cair no sono.

— Que bom que não vou ter que te acordar hoje, — a pessoa diz e eu reconheço a mesma voz do cara que me encontrou na noite anterior.

— Christian, — eu o cumprimento e volto a me sentar.

— Eu deveria me preocupar por você preferir dormir em um sofá do que no seu quarto? — Apesar de estar brincando, sei que ele está curioso com o motivo de ter me encontrado duas noites seguidas ali.

— Eu estou bem, cara.

— Você sabe que se tiver algum problema pode me contar. Eu sou o orientador do seu andar.

— Esse não é o tipo de problema que você pode resolver, — rindo, eu me despeço dele e vou para o quarto.

Está mais cedo do que ontem, mas sei que Abby já está dormindo. Ou fingindo, como sempre. Eu queria saber se fez alguma diferença eu ter consertado a maldita estante ou dado o livro para ela. Não consigo acreditar que ela ache que eu sou o culpado pelos problemas dela com o noivo e isso está me matando. Ela está me evitando desde a nossa discussão e acho que já está na hora de parar.

Tento fazer o mínimo de barulho ao entrar no quarto e apanhar meu pijama. Corro para mudar de roupa e ligo para minha mãe antes que ela me telefone. Ontem Abby não ouviu meu celular por pouco. Depois de me certificar que está tudo bem com meus pais volto para o quarto pronto para enfrentá-la.

Abby parece estar dormindo, mas reparo que está na mesma posição em que a encontro todas as noites e quase solto uma risada. Não é possível que alguém acredite que ela está dormindo se a encontrar assim.

— Eu sei que você está acordada.

Acendo na luz ao mesmo tempo em que Abby se senta na cama. Ela puxa o lençol para o peito, se cobrindo, e eu me sinto um pouco envergonhado. Seria melhor esperar até o dia seguinte e confrontá-la como uma pessoa normal faria.

Um olhar para o amorWhere stories live. Discover now