Capítulo 36: Em um Piscar de Olhos.

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O flymob negro voando a baixa altitude é quase imperceptível sob a luz das estrelas. Suas turbinas de última geração vibram levemente, produzindo um som inaudível aos ouvidos humanos. Seu codinome, "Fantasma", não foi escolhido por acaso.

Dentro do veículo, Amanda observa o contador numérico flutuando no ar, a cada metro percorrido pelo Fantasma ele fica menor.

- Tamo perto, chefe? - Questiona Rat Bones, olhando por trás do ombro de Amanda para os gráficos projetos pelo gerador holográfico. 

- Bem perto. É melhor checar sua arma. - Responde ela sem mover um músculo.

Yuri se aproxima mastigando um tablete de proteínas,  ele não exita em falar com a boca cheia.

- Só quero saber de uma coisa, nosso acordo tá de pé ou não?

Amanda não responde, permanecendo focada nas holo-imagens.

- É logico que tá, Yuri, ou você acha que a chefe não tem palavra? - Grita Jonas, sentado mais atrás e encarando um dos agentes da VNR. Rat Bones se cansa de olhar para os gráficos e vai para perto de Jonas, tomando o lugar vago ao lado do amigo.

- Reparou que esses caras nunca falam nada? E nunca tiram esses capacetes! As vezes me pergunto se são gente ou algum tipo de robozinho!

- São gente, Rat, é que eles não tem culhões! Só tiram o capacete se a Amanda deixar! - Responde Jonas, provocador.

- Como é que tu sabe? Porra, as vezes me dá vontade de meter uma bala neles. - Rat Bones ergue o rifle e faz mira contra um dos agentes, então, imediatamente, uma dor brota em sua cabeça provocando uma reação involuntária em seu exoesqueleto recém concertado, fazendo a máquina perder potência; ao mesmo tempo, um formigamento intenso atinge suas mãos, o rifle estatela no chão.

- Merda, essa coisa na minha cabeça... Merda!

Os agentes permanecem completamento imóveis e calados, como verdadeiros manequins. Yuri se aproxima, ainda com o tablete nas mãos.

- Você é mesmo muito burro, cara. É a enésima vez que faz isso e, de novo, deixa a porra da arma cair no chão, vai quebrar e esse troço custa caro! - Ele enfia o resto do tablete na boca de Rat Bones, então pega o rifle, checando se aconteceu algum dano. Satisfeito, coloca a arma sobre uma bancada de serviço. 

- Tu não sacou ainda, né? Estamos "grampeados", os putos colocaram um troço nos nossos CND's. 

O mercenário magricela cospe o resto da barra proteica na direção de um dos agentes mudos; em seguida tenta flexionar os dedos das mãos, mas a dormência ainda o impede.

- Ai! Porra, eu sei, eu sei da droga do bioprograma! Mas, chefe, eu não consigo me controlar! Olha só esses caras! Nunca abrem a boca, não comem, não xingam, não usam o banheiro, não tem reação nenhuma! Como é que vou confiar num cara desses para cuidar do meu rabo no campo de batalha?

- É, não usar o banheiro é estranho... Tô começando a concordar com você, Rat. - Responde Jonas, pensativo.

Yuri se volta para os agentes corporados, apontando o indicador para eles.

- Isso aí, rapazes, isso aí se chama disciplina! Algo que falta em vocês! - Ele olha para os dois com reprovação.

Jonas responde com um sorriso amarelo, mas Rat Bones se levanta aos trancos, com os lábios finos serrados e cólera nos olhos.

- Disciplina uma ova! Como você fala uma merdas dessas, Yuri? Nós que levamos chumbo desses caras te ajudando lá no ataque, e agora você defende eles? Que porra é essa? A Amanda cortou suas bolas, foi ?

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