Capítulo 35: DeadLock.

694 50 7
                                    

Pouco a pouco, Thiago começa a recobrar sua consciência. As agulhas de metal parecem ainda estar enfiadas na carne, atravessadas no crânio e provocando uma dor terrível. Então ele abre os olhos. Escuridão sem fim. Está deitado de costas, perfeitamente reto em um chão frio. Apenas o som do coração, forte, disparado, como se o órgão desejasse escapar da caixa torácica. Em um impulso se coloca de pé, leva as mãos à cabeça tentando arrancar as agulhas diabólicas daquela máquina, "drone maldito", pensa. Mas não há nada, nem agulha, nem drone. Só a escuridão. 

-Davi? Marcela? Maestro? - Ele grita enquanto se move sem direção. Sua voz reverbera no chão e o eco desaparece lentamente, indicando que o lugar é muito, muito grande.

Mas, por fim, a verdade inevitável fica tão clara quanto água. Thiago se desespera, cai de joelhos e sente mais uma vez aquele chão gelado, como se suas roupas de nada adiantassem. "Fui hackeado", conclui tristemente.

- Quem é você? Quem são vocês? - Ele grita para a escuridão.   

Uma gargalhada ecoa nas trevas, vinda de todos os lados e envolvendo o jovem como se ele estivesse cercado por alto-falantes. Aquela voz enfadonha, aquele sotaque das ruas mais perigosas, Thiago imediatamente reconhece de quem ela é.

- Olá, frangote! Dessa vez te pegamos de jeito! - Diz a voz com escárnio.

Thiago estremesse. Então uma grande tela aparece do nada bem na frente dele, revelando a face cadavérica de Rat Bones. A imagem começa a se expandir e então o circula completamente, eliminando a escuridão.

- Tu tá morto, fedelho! Eu não disse que iria que te pagar? Eu não disse!? - Nova gargalhada.

- Sai daí, Rat, o otário já entendeu. - Diz Yuri, empurrando o mercenário magricela para o lado e tomando o lugar dele, Thiago se arrepia ao ver o Coveiro.

- Mas... Mas como vocês escaparam? 

- Não é da sua conta, seu bosta! E fique sabendo que vou pegar o que você me roubou, vou me divertir com ela e depois vou estripar aquele otário do seu chefe, aquele filho da puta do Maestro.

- Chega! - Uma voz feminina autoritária faz com que Yuri se cale e abaixe o olhar. Thiago estranha a atitude brusca e submissa do caçador, então a imagem de Amanda toma de assalto toda a tela.

- Rainha de Fogo! 

- Preste atenção, Thiago Klein: o drone injetou em seu sistema um vírus bioneural de última geração, o DeadLock. Ao meu comando, ele vai gerar um impulso sináptico que bloqueará um a um os seus órgãos vitais, cortando o fornecimento de sangue para eles. Não preciso dizer que será uma morte horrível. Se quiser viver, diga ao Maestro para se render imediatamente. Temos sua localização e já estamos a caminho. Se eu chegar aí e não encontrar a Bel Yagami, você morre. 

A imagem se desfaz rapidamente, e em um espasmo Thiago levanta o tronco, abrindo os olhos. A primeira coisa que nota são as algemas nos pulsos, então percebe os pés amarrados.  O lugar é bem apertado e ao seu lado uma pilha de caixas de plástico não permitem que ele se mova planamente.

- Socorro! Socorro!

Então vê a pequena câmera bem em cima do que parece ser uma escotilha grande o bastante para ser a porta. Olha para ela e continua a gritar. Em um instante a escotilha se abre, Maestro entra no compartimento seguido por Marcela, Thiago nota a pistola na mão do chefe.

- Ele está bem? Deixa eu ver! Deixa eu ver! - Diz Marcela aturdida.

- Fui grampeado. - Responde Thiago, melancólico.


Minutos depois, o grupo está reunido na sala de controle. Os outros dois veículos do comboio seguiram viagem, tomando rotas distintas, e o Lobo do Deserto está parado com os motores ligados e as armas preparadas.

- E agora, o que vamos fazer? - Questiona Karl.

Maestro está inquieto, andando de um lado para o outro e olhando para Thiago, que por sua vez está sentado no chão, abraçado por Marcela, mas com o olhar perdido.

- Não temos que fazer nada. Acabou. O melhor que pode acontecer é pegarmos uma pena branda, uns vinte anos na crioprisão, quem sabe. - Responde Davi, apático.

- Então, Bel, o que descobriu? - Pergunta Maestro.

Bel estava concentrada, sentada e de olhos fechados, esquadrinhando o CND de Thiago. Logo se levanta, se dirige para o melancólico hacker com passos curtos, olhando fixamente para ele.

- Thiago, eu sinto muito. - Então se volta para Maestro e os outros. - O vírus é totalmente reativo, qualquer tentativa de neutralizá-lo pode ativar o gatilho. 

- Mas ele ainda não está ativado? - Pergunta Marcela.

- Não. 

- E se formos embora? Como a Amanda vai ativar essa coisa à distância? - Pergunta Karl.

- Ele usa o próprio CND como uma antena, provavelmente está sendo rastreado via satélite. É tecnologia bem recente, eu diria até que é experimental. - Responde Bel.

- Tem uma solução, aliás, a única. - Diz Thiago, a voz baixa e monotônica

- Não! Nada disso! - Responde Marcela - A gente vai dar um jeito, vamos sair dessa, certo, Maestro?

Todos olham para Maestro, que, pensativo, encara cada um de volta. Então dá de ombros e se dirige para o corredor, mas antes olha de soslaio para Bel, piscando discretamente para ela antes de deixar o compartimento.

- Eu sabia! Estamos ferrados! Não dá mesmo para confiar nesse cara! - Esbraveja Davi.


Fora do Lobo, Bel encontra com Maestro, que está observando as estrelas.

- Então,  qual o seu plano?

- Acho que temos uma chance. Não quis falar lá dentro porque Amanda pode estar ouvindo.

- Acho difícil, não encontrei nada estranho no sistema do Thiago além daquele vírus sinistro.

- Não quero arriscar.

- É, tá certo. E o que eu terei que fazer dessa vez? Eu espero sinceramente que você tenha um bom plano...

- Não sei se é bom, mas no momento é nossa melhor opção, e, para variar, suspeito que você só terá uma chance.






Engenharia ReversaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora