Capítulo 6: Preparativos e Velhos Inimigos.

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O bairro Santo Antônio, em Vix, possui uma história secular: colonizado por imigrantes diversos, em pouco tempo o comércio foi estabelecido como a atividade econômica dominante, perdurando até os dias atuais; durante a revolução, com o controle da cidade sob as rédeas das Corporações Globais, a região foi deixada de fora dos planos arquitetônicos que transformaram o cenário urbano em um complexo labirinto de metal e vidro, além disso, a vista grossa das autoridades, principalmente a UNI-Tron, estimularam o desenvolvimento do crime organizado, que se consolidou sob as rédeas de centenárias famílias locais.

Com suas construções de baixa estatura para os padrões vigentes, o bairro abriga uma grande diversidade étnica e cultural, que pode ser apreciada nas agitadas ruas do Mercado Popular Allegra, um imenso shopping center a céu-aberto, bem ao lado das docas do recente porto Guizzo, de propriedade da família de mesmo nome. Nas galerias do mercado, nipônicos, árabes, africanos, latinos e a população local se misturam entre vendedores de rua e lojas de diversos tipos e tamanhos; nos céus, vários flymobs de carga decolam das docas próximas, enquanto outros mais chegam trazendo mercadorias para abastecer o varejo.

No centro do shopping, na área conhecida como "A Esfera", uma grande estrutura de vidro e ferro com vários andares, dezenas de pessoas e principalmente muitos jovens adultos e adolescentes se encontram nos cafés e lanchonetes para curtir, conversar e realizar pequenas trocas envolvendo os bio-programas mais quentes do momento, especialmente os ilegais. No meio deles, um rapaz que aparenta ter uns vinte e poucos anos se senta em uma mesa do café "Vapor Trails" e pede um cappuccino. Ele possui os cabelos longos tingidos de prateado e óculos escuros de um modelo clássico escondem seus olhos. Com um comando mental em seu CND, o jovem se conecta a um canal de audio protegido, do outro lado da conexão, Thiago Klein recebe a chamada e ativa sua interface de comunicação.

- Grande Osias! E então? Que mandas, matador?

O jovem de cabelos prateados esboça um pequeno sorriso.

- Matador?! Tá doido! Eu só quebrei uns goozes que tentaram me derrubar do servidor da Matsudana, porra, um bando de lesados!

- Cê tá me zoando, cara? Você mandou os trouxas direto para a oficina!

Osias ri alto dessa vez, se lembrou do pânico dos oponentes quando ele invadiu seus sistemas, sentia-se de fato poderoso por ter colocado os quatro no hospital, poderia, inclusive, tê-los matado, mas aí a coisa ficaria séria, então achou melhor não abusar da sorte naquele dia.

- Fiz tudo isso dá casa da minha gata, usando só o console podrão do velha dela, e que agora virou metal reciclado! Tronca a parada, né não? Imagina se eu tivesse aí, detonando com o seu PowerDesk! Boy, seria épico!

- Certamente, maluco, certamente... Mas, enfim, chega de babar seu ovo, imagino que a galera deve tá te idolatrando que nem astro de Glitchcore, é a glória, né? Então, bora falar de negócios - Thiago muda o tom da voz, como aprendera com Maestro - Conseguiu ou não clonar a parada?

Osias, ainda empolgado, aproveita para beber um gole do cappuccino e então abre outra tela virtual, visualizando um diretório em três dimensões, ele rapidamente navega entre os dados e localiza um arquivo entre muitos.

- Tá tranquilo, boy. Deu um trabalhinho, mas eu consegui chegar lá roteando um CND daqueles otários, o cara tinha mesmo ligação com a ProtoLogics, a informação de vocês vingou!

- Beleza, Osias, passa prá cá que já tô fazendo a transferência para a sua conta. E se liga maluco, pega parte da grana e some por uns tempos, entendeu?

- Claro, claro, fechou! É sempre animal trabalhar para você!

Os créditos em bitcoins aparecem de imediato na tela virtual de Ozias, antes mesmo do arquivo terminar de ser copiado para o sistema de Thiago. O rapaz termina seu café, passa a mão nos cabelos prateados e se prepara para sair do estabelecimento.

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