Capítulo 15: Tensão no Subterrâneo.

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As galerias de esgoto embaixo da superfície de Vix foram construídas para ajudar a eliminar os resíduos industriais das novas fábricas, porém, muitas delas terminaram sendo pouco utilizadas ou desativadas. Agora, o subterrâneo é um imenso labirinto de túneis, um verdeiro reino habitado por criminosos, miseráveis e seguidores de estranhos cultos.

Já nos limites de Alta Santa Maria, em um túnel abandonado, Thiago, Marcela e Davi tentam avançar o mais rápido que podem em meio a água viscosa e poluída que os impede de ver o chão. Atrás deles, os três homens que se auto intitulam os "Filhos de Alfa Um" não dão trégua, apressando os dois rapazes e a garota sem se importar com a exaustão que eles aparentam.

Marcela olha para as paredes, que são feitas de pedras retangulares e musgosas, ela não consegue visualizar o teto do túnel, pois a escuridão é densa, quebrada apenas pelas fracas luzes que emanam dos leds instalados entre as pedras. "Meu Deus, como eu vim parar nesse lugar?", indaga. Tenta ligar os fatos, pensa no que vivenciou nas últimas horas e uma enxurrada de dúvidas invade sua mente. Será que realmente tudo aquilo era uma punição pelas crueldades que havia cometido? E para onde eles estavam sendo levados? E Jorge? Onde estaria ele? Havia sim um encadeamento de eventos, e a mente calculista da engenheira voltou a funcionar. "Se eu não tivesse me apaixonado por um mau-caráter eu não estaria aqui hoje", ponderou. Ela tenta esvaziar a cabeça, tenta diminuir o estresse; enquanto anda, começa a olhar para os lados e percebe que, em determinados pontos, existem bifurcações no túnel, as vezes duas, as vezes mais, algumas também são iluminadas por leds, mas a maioria é dominada pelo breu. Contudo, mesmo contra sua vontade, uma última verdade emerge em seus pensamentos: agora ela era uma criminosa, e sua vida como cidadã de Vix estava encerrada; sem CND, sem contatos, sem recursos. Seus antigos amigos, sua casa, sua família, tudo perdido. Independente dos próximos acontecimentos, ela sabe que precisa decidir o que irá fazer pelo resto de seus dias.

Davi está enojado. A água viscosa, imunda, talvez até radioativa, atravessando o tecido de sua calça jeans só não é pior do que aqueles malucos que os haviam capturado. Ele se sente totalmente impotente sem seu poderoso CND, e teria que praticar seu ofício de bio-hacker à moda antiga, ou seja, seria esmagado pelos concorrentes. "O que vai ser de mim?", pensa preocupado. A raiva, que estava em seu espírito desde a conversa que teve com Maestro horas atrás não para de crescer e de se acumular, dominando seus pensamentos. "Maestro me enganou! O contratante me enganou! Estão apenas me usando como uma marionete." Então Bel ocupa seus pensamentos, a namorada não humana, a bio-computador! Poderia ele amar um ser artificial? A medida que avança naquelas águas pútridas, a chocante realidade sobre ela se torna mais sólida, e dúvidas começam a brotar em sua mente.

Muito ansioso porém não tão enojado quanto Davi, mas com um medo crescente do que pode acontecer, Thiago acessa seu CND e tenta mais uma vez se comunicar com Maestro, sem sucesso. Então entra na Hypernet, mas fica surpreso ao descobrir que seu equipamento está off line, alguma coisa está bloqueando todos os sinais. Impedido de se comunicar com o mundo exterior e com o mundo virtual, ele sente a incômoda sensação de estar isolado, preso em uma solitária.

De repente, uma luminosidade fantasmagórica surge por atrás dos três, projetando as sombras dos captores nas águas inquietas, formando imagens distorcidas e grotescas, que tornam o lugar ainda mais assustador. Eles olham de relance para trás e, surpresos, vêem que as arcaicas placas de circuitos fixadas nas roupas dos homens estão agora acesas, brilhando como néons bruxuleantes. Os três são logo repreendidos pelo líder do grupo, que os obriga a voltar a olhar para frente e seguirem rápido pelo túnel.

Cansado de lutar contra a água e revoltado ao extremo, Davi não aguenta mais, ele para de andar e se volta para os captores. Com as sobrancelhas franzidas e as pálpebras levantadas, cerra os olhos e vocifera contra os homens:

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