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E L O R A.

Fecho os olhos enquanto aproveito para "saborear" o momento e apreciar o prazer da água quente a cair pelos meus cabelos e pelo meu corpo. Acho que, para além do Liam, não há nada que eu goste tanto como tomar um banho com a água realmente quente, tão quente que em menos de cinco minutos todos os espelhos estão embaciados e se nota aquele "nevoeiro" que sai da água.

O Liam foi para o escritório, disse que não podia estar a adiar mais trabalho e que realmente ele tinha que ir ver os seus pacientes, pois ele via-os regularmente e nos últimos dois meses ele tinha muitas vezes desmarcado consultas e as situações deles eram tão ou piores que a minha. Obviamente que eu não me opus a ele, eu não tenho medo de ficar em casa sozinha, tenho um pouco de medo de sair à rua sim, mas eu sei que por esta altura eles já desistiram de me procurar. Eles provavelmente perceberam que eu não faria queixa à polícia - uma coisa que eu ainda estou a averiguar - e por isso esqueceram a minha existência - algo que eu realmente agradeço.

Passo o champô no cabelo e depois pego na esponja onde deito um pouco de gel de banho e passo pelo corpo. Despacho-me depois a passar o corpo por água e a repetir o processo outra vez e mais uma vez apenas com o amaciador. Quando termino, seco o corpo e visto-me logo na casa de banho. Deixo o meu cabelo enrolado na toalha e saio, indo para a cozinha para tomar o pequeno-almoço.


Enquanto estava a preparar a minha comida habitual - torradas e leite com café - a campainha tocou, fazendo-me ficar um pouco assustada. Liam tinha saído há cerca de duas horas (eram para ai nove horas quando ele saiu), impossível ele estar de volta.

Se fosse alguém para ele, de certeza que não viriam a uma hora em que soubessem que ele estaria no trabalho, certo?

Sem fazer muito barulho, tirei as pantufas dos meus pés e caminhei muito calmamente até à porta enquanto alguém continuava a tocar freneticamente à campainha. Aproximei-me e prendi a respiração enquanto passei a minha mão pelo olho mágico, para ter a certeza que não havia ninguém com intenções de me fazer mal. Assim se reparassem que estava alguém a "espreitar" no olho mágico, se fossem para disparar, fariam-no contra a minha mão. Mas nada aconteceu apenas a campainha tocou novamente e eu respirei fundo, deixando o ar sair e apressei-me a espreitar, tendo uma grande surpresa logo a seguir. Eram os meus pais. Mas o que é que eles estavam aqui a fazer?! Abri a porta e eles olharam para mim. [Admitam que pensaram que era outra pessoa kkkk]


"Sabem que só precisam de tocar à campainha uma vez que ela funciona não é?" Perguntei retoricamente.

"Elora, tome." A minha mãe disse dando-me para a mão o ovo onde estava o meu suposto irmão.

"E para que é que eu quero isto?" Ri sem humor.

"Precisamos que tome conta do seu irmão."

"E eu preciso que vocês vaiam para o caralho, vá toca a andar."


Respondi-lhe e tentei fechar a porta, mas o meu pai impediu-me. E sendo que ele tem mais força que eu apesar de ser um gordo sem vida, a porta abriu-se novamente. Mais nenhuma palavra foi dita embora a raiva estivesse a ferver dentro de mim.

A minha mãe deu um passo e colocou o ovo no chão, olhando-me como quem diz "desemerda-te" e colocou igualmente no chão uma mala que eu presumi ter as coisas que o bebé precisava em caso de alguma coisa acontecer, como ele ter fome ou precisar de mudar a fralda.

Depois de dizerem um obrigado mais irónico do que o Natal ser no verão, viraram costas e foram-se embora deixando-me pasmada a olhar para o bebé e para eles.

Psychiatrist // L.P. {terminada}Where stories live. Discover now