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E L O R A.

Ter que esperar até de manhã para poder ter um comboio não é nada confortável. Consegui dormir cerca de meia hora apenas durante a noite, na estação. Não tinha nada a ver com o frio, nem com o facto do barulho da chuva me incomodar, mas sim com o facto de que eu estava com demasiado medo. Tinha tanto medo que o Louis ou o Zayn aparecessem aqui e se rissem na minha cara da minha tentativa falhada de querer escapar e não conseguir, de pensar sequer que tinha uma hipótese de mostrar aos meus queridos pais a merda de pessoa que eu era hoje.

Mas para minha felicidade, eles não apareceram e eu fiquei basicamente toda a noite acordada para nada. Mas tinha medo também que alguém se lembrasse de que era um bom dia para assaltos e decidissem roubar a "minha" querida mala que por si já era roubada.

O meu segundo azar para além de ter passado a noite em branco, foi o de que só havia um comboio às duas e vinte e nove da tarde, o que para mim era quase uma morte certa porque nunca saberia se eles iriam ou não aparecer e só chegaria ao meu destino por volta das cinco horas da tarde. Mas, mais uma vez, para a minha felicidade, correu tudo bem e a manhã foi sossegada, acabei com a comida que trazia e aproveitei para beber um café, o que não acontecia já há quatro anos. Quase chorei de felicidade ao sentir aquele sabor característico, ao sentir o quente da bebida a queimar-me da língua até ao estômago e agradeci tanto a quem quer que fosse a dona da mala por ter deixado o raio do dinheiro dentro dela. Depois disso, quase chorei quando fui comprar o bilhete do comboio por ter que deixar quase 87 libras por uma viagem de uma hora e quarenta e cinco minutos.


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O comboio para finalmente anunciando que chegámos ao destino pretendido. Sorrio para mim mesma com a surpresa que espera aos meus pais. Abandono o comboio logo após de agarrar na minha mala e apercebo-me que estou mesmo ao lado do aeroporto, o que me dá uma grande ajuda para me recordar onde fica a minha casa.

Decido ir a pé, em vez de apanhar um táxi, pois queria poupar o resto do dinheiro que me tinha sobrado. Não sei bem com que propósito, talvez como desculpa por ter levado a mala da rapariga mesmo que ela já não a fosse ver alguma vez no futuro. Não me serve de nada ficar com o dinheiro quando o meu objectivo é terminar com a minha vida assim que deixar os meus pais bem magoados, de lhes mostrar como é que foi o sofrimento quando eles me deixaram do pé para a mão.

Respiro o ar fresco de uma tarde inglesa, sentindo o cheiro a terra molhada - devido à chuva que cairá anteriormente - e fecho os olhos quando o faço. Uma certa nostalgia cai sobre mim e eu desejo ter sido livre durante estes últimos quatro anos. O que é que eu poderia estar a fazer agora? Podia ter um namorado lindo e jeitoso, carinhoso e que se importasse muito comigo. Poderia talvez estar a viver na minha própria casa, a pagar a minha faculdade enquanto trabalhava em part-time num sítio acolhedor. Mas mais um vez, tudo isto não passa de apenas um desejo, um sonho que nunca se irá realizar.

Preparo os meus pés para a caminhada de oito quilómetros que se segue até a Bordesley Green, a localidade onde eu morei toda a minha vida - menos os últimos quatro anos, óbvio. Os meus pés estão já bastante doridos e eu só quero chorar por a dona desta roupa calçar um número a baixo do meu, já tenho mais que uma bolha nos calcanhares e isso já me está a dificultar a vida. Porém, a caminhada é longa e eu não sou capaz de parar, apenas para beber a água que trouxe comigo.

Nem dez minutos depois, um carro para ao pé de mim e o vidro do lado do pendura é aberto. Uma voz chama-me e percebo que é uma mulher, fico minimamente descansada, mas não o suficiente para olhar para ela. Só quando ela insiste em chamar-me de 'menina' novamente.


"Precisa de alguma?" Pergunto rude, olhando para ela.

"Só queria saber se a menina quer boleia, a sua cara parece-me bastante familiar." Ela diz com um sorriso e eu só me apetece vomitar com tanta simpatia.

"Pois, duvido muito, agora se não se importa tenho muito que andar." Revirei os olhos e continuei a seguir caminho.

"A menina quer boleia?" Ela continua com a sua doce, embora irritante, voz.


Paro e olho para ela. A verdade é que se ela for para perto, poupo muito tempo e também a carne dos meus pés, mas por outro lado vou ter que levar com o raio da velha e a sua voz doce a chamar-me de menina.

Não digo mais nada e limito-me a entrar no carro.


"Bordesley Green." Disse indiferente como se ela fosse minha motorista.

"Oh, também estou a ir para lá." Ela sorriu e finalmente acelerou.

"Olhe que bom," Eu dei-lhe um sorriso falso. "Mas ninguém lhe perguntou nada."


Ela apenas olhou para mim escandalizada, deveria pensar que eu era mais simpática - e eu realmente deveria sê-lo depois de ela me ter oferecido boleia, mas a verdade é que eu nunca lhe pedi por nada, por isso, ou ela leva com a minha pessoa ou eu posso muito bem ir a pé.

Nem dez minutos depois, o carro para na rua principal de Bordesley Green. Agradeço quase inaudivelmente à mulher que me continua a dar sorrisinhos estúpidos, e despacho-me a afastar o mais possível do carro. Cá para mim se pudesse ela ter-me-ia raptado, apenas não lhe deu jeito.

Procuro pelo início ou pelo fim da rua para poder encontrar o nome da rua, quando olho para o lado e vejo que uma das ruas que vem dar a esta é a Charles Road e preciso de andar cerca de quatrocentos metros até chegar à minha rua, Third Avenue.

O caminho fez-se bem uma vez que era sempre a direito e só tinha que virar à direita assim que encontrasse aquela rua e andar mais um pouco até encontrar a minha casa. Se não tiver mudado muita coisa, a minha mãe ainda conduz o mesmo carro, um Citroen c4, assim como o meu pai ainda conduz o seu BWM Grand Coupé. A casa, para além de igual a todas as outras, tem na porta um autocolante que eu colei quando devia ter uns onze anos, a bandeira inglesa. Ainda que eu ache que depois de tantos anos, tanta chuva e tanta neve, o autocolante seja apenas um rectângulo branco.

Avisto o carro do meu pai e uma vontade de rir apodera-se de mim, porém, controlo-me e apenas dirijo-me à porta como se nada fosse. As minhas suspeitas confirmam-se ao ver metade do autocolante branco ainda perto da maçaneta da porta. Toco uma vez a campainha e nenhum som é ouvido, por isso toco uma segunda vez e ouço os passos de alguém praticamente a correr até à porta. Vejo a minha mãe a abri-la e se não soubesse que era eu quem tinha tocado à campainha diria que ela tinha visto um fantasma.


"Surpresa, mãezinha querida." Dei-lhe um sorriso cínico e logo me apressei a entrar em casa.



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E ela chegou a casa :o Parece que no meio de muito azar ela encontra sempre um pedacinho de sorte não é? Esta Elora parece-me que ainda há de se meter em algumas coisas... E não se esqueçam da velhinha que lhe deu boleia porque ela vai aparecer mais vezes xp


Desculpem a demora a postar mas esta semana estive ocupada a tentar encontrar um emprego e a ir e entrevistas e então não consegui escrever muitos capítulos novos nem tive um tempinho para aqui vir postar um novo cap. Btw, houve algumas meninas que deixaram de ler a fic :( Algum problema até agora? Estão a gostar., não estão a gostar? xD




Psychiatrist // L.P. {terminada}Where stories live. Discover now