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E L O R A.

Olho para o relógio, este marca cinco e meia da tarde. Daqui a meia hora, todas as raparigas estarão reunidas na sala comum, todas menos eu como é de esperar, uma vez que hoje é sábado e apenas está cá o Harry.

Não sei como é que os outros três foram tão descuidados e deixaram-no aqui ficar, ele está aqui há um mês e por isso é óbvio que ele não vai dar pela minha falta. Sei que agora o Harry encontra-se sozinho na sala de reuniões deles e por isso, despacho-me a ir, silenciosamente até a uma divisão que é um género de arrecadação onde aqueles desgraçados deixam as roupas que nós trazíamos connosco quando viemos para cá. Descobri que isto existia apenas há uma semana, quando mais cinco raparigas chegaram. Sabia que a porta estaria fechada, mas descobri igualmente que eles foram burros o suficiente para deixar a chave na fechadura.

Destranquei a porta quando lá cheguei e rapidamente dei meia volta, sabendo que já tinha gasto quinze minutos e o caminho de volta para o levaria mais quinze minutos e rapidamente teria que pôr todo meu plano em prática. Para não perder todo o tempo que me restava, escondi-me numa outra arrecadação e apenas esperei até não ouvir mais ninguém porque o Harry tinha acabado de dar o sinal para toda a gente estar na sala.

Esperei cerca de dois minutos mais e sai da arrecadação, correndo até à porta e peguei num dos sacos que me lembrei ser da rapariga que se parecia mais comigo, fisicamente. Depois caminhei em passo rápido até chegar à porta da sala de reuniões deles, tentando ser o mais silenciosa possível levei a minha mão à maçaneta e olhei para os lados, certificando-me de que não havia ninguém. Para meu azar, a porta não abriu. Harry tinha-a trancado e eu não fazia ideia de onde estava o raio da chave.


"Procuras algo?" A sua voz suou ao fundo do corredor, a chave baloiçando na sua mão.

"Hm, eu..." Olhei-o e logo comecei a ficar nervosa. Que merda, era a segunda vez que isto acontecia e tenho a certeza de que não iria ficar viva para tentar uma terceira.

"Pois, bem me parecia que... tu, hm, tu..." Ele imitou a minha voz e deu um passo em frente.


Encarei a porta e respirei fundo, tentando controlar as lágrimas quando percebi que nem com o parvalhão do novato eu iria conseguir escapar. Mas do nada, um grito meio abafado foi ouvido e logo olhei na direcção do Harry, o seu corpo estava no chão e atrás dele estava a Isla com um grande vaso na mão. Ela deixou o vaso cair e agachou-se pegando na chave e logo correu para mim.


"Foge, foge o mais rápido que conseguires." Ela chorou. "Vai para o sitio mais longe que conseguires e faças o que fizeres, nunca te esqueças de mim. Nunca olhes para trás enquanto estiveres a fugir, mas por favor, volta mais tarde para nos salvares." Ela continuou a falar enquanto chorava.

"Não te posso prometer, mas irei tentar Isla." Abracei-a rapidamente e peguei na chave.

"Toma, leva isto contigo, consegui de uma sala qualquer." Ela voltou a correr para ao pé do Harry e pegou num saco, correu de novo para mim e entregou-me. "Comida e água, agora vai e despacha-te."

"Obrigada Isla."


Ela apenas me empurrou contra a porta e eu rapidamente a abri, caminhei até à janela e abri-a sentido o ar fresco de Londres. Olhei para o chão e percebi que a distância entre a janela e o chão era quase nenhuma. Mandei o saco da roupa depois de ter metido o saco da comida lá dentro, e saltei logo depois. A coisa que mais gostava deste orfanato era que o portão da frente estava sempre aberto, porque bem, nunca ninguém tinha conseguido sair daqui, pelo menos não com vida.

Apresso-me a pegar na mala e começo a correr desajeitadamente para fora daquele recinto que tinha sido nada mais que o meu pior pesadelo durante quatro anos. Assim que passei pelo portão, esforcei-me um pouco para me lembrar qual dos lugares é que ia dar à zona comercial e decidi seguir pela esquerda. Continuei a correr pelo caminho que tinha escolhido durante cerca de dez minutos até começar a avistar casas e lojas, mentalmente festejei por ter acertado no lugar a seguir e dirigi-me ao centro comercial mais próximo para poder mudar de roupa.

Entrei na casa de banho, abri o saco e reparei em todas as peças de roupa que lá estavam e também sapatos. Fiquei contente ao ver que maior parte das coisas era o meu número, incluindo até a roupa interior. Troquei-me e quando saí do cubículo onde estava, deixei os trapos no lixo e pousei a mala para lavar as mãos. Assim que a pousei no lavatório, reparei nas bolsas de fora que estavam cheias, abri-as e reparei que numa havia uma certa quantidade de produtos de maquilhagem e noutra encontrei uma carteira, que quando abri, estava com demasiado dinheiro lá dentro. Se os pais sabiam para onde é que a rapariga vinham para que é que a deixaram trazer maquilhagem? Que coisa inútil. E dinheiro? Para quê mesmo? Não faz muito sentido estas coisas na mala dela, mas ainda assim fico agradecida por isso, vai ajudar-me a disfarçar um pouco e a passar menos fome do que aquela que eu pensei.

Agarrei numa escova de cabelo que lá tinha dentro e penteei a porcaria que o meu cabelo estava, decidi atá-lo para parecer menos sujo e depois passei o eyeliner embora não tivesse minimamente jeito nenhum. Quando achei que estava pronta, saí e parei numa loja à saída do centro comercial e comprei um mapa. Iria dar-me muito jeito para decidir que caminho seguiria, mas quando estava prestes a sair de lá dentro, avistei Niall a entrar no centro. O pânico tomou conta de mim imediatamente e eu fiquei um pouco atrapalhada sem saber o que fazer, ainda assim decidi ficar na loja e peguei numa revista qualquer, pagando-a logo de seguida.

Deixei-me ficar com a revista na mão e fingi ler as letras gordas da capa, para quando passasse por ele, ele não reparasse em mim. Mas para meu azar, distraí-me à grande e embati contra o seu corpo.


"Tem mais cuidado." Ele falou mais carinhoso que o normal.

"Hm, desculpe senhor." Eu falei tentando não o encarar.

"Não faz mal, mas se fosse outra pessoa talvez tivesse acabado mal." Ele riu sem humor, claro que se referia a si próprio e os seus amiguinhos.

"Vou tomar mais cuidado." Murmurei.


O Niall não disse mais nada, apenas se afastou e eu ajeitei a alça da mala no meu ombro, enrolei a revista e rapidamente virei costas e saí do centro comercial caminhando um pouco para estar o mais longe possível. Quando dei por mim já tinha andado desde Halloway até Wembley, decidi sentar-me no chão perto do Wembley Stadium e descansar.

Já era de noite e tinha feito cerca de treze quilómetros quase sem pausas, tirei a carteira da mala verificando que ainda lá estavam quase duzentas e cinquenta libras e ainda tinha umas moedas. No mapa indicava uma estação de comboio bem perto e eu sabia que estava ali a minha salvação, embora soubesse que estava já longe o suficiente daqueles quatro trastes.



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Ela conseguiu, woooo hoooo! Mas por duas vezes quase não ia conseguir! O que acharam do capítulo? :) O que acham que vai acontecer daqui para a frente? ;)



Psychiatrist // L.P. {terminada}Where stories live. Discover now