Vinte e sete

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A reunião foi marcada para sexta, logo depois do ensaio de dança da Priscilinha para que não atrapalhasse o estudo de quem ainda tivesse provas na outra semana.

P.H. não veio dessa vez e a professora acabou intensificando o ensaio da valsa com seu Antônio, o pai da Pri.

Bernardo, como sempre, aparece depois de sua aula natação e fica nos esperando enquanto ensaiamos. Decidimos que vamos em grupo para casa do Lucas, ou como ele mesmo disse "em bonde".

Durante o caminho ninguém se lembra mais do suplício que foram as provas de hoje. É uma alegria e gargalhadas sem tamanho que as pessoas na rua param pra ver o que está acontecendo e nos reprender com o olhar pela bagunça que estamos fazendo.

No apartamento de Lucas quase todo mundo das outras séries já está nos esperando, inclusive as Caramelo. Raiva! Pelo visto as frangas são algumas das representantes da turma do primeiro ano A.

E por que a Clara Melo está acenando toda animada para o Bernardo? Não, espera, por que ela está falando toda derretida com ele? O que está acontecendo?

Acabo não sabendo o desfecho da conversa dos dois pois Tathi me puxa para ir ao banheiro para lavarmos as mãos antes de comermos (só Tathi mesmo!).

Os pais de Lucas não estão em casa, mas Francine, a empregada deles preparou uns lanches bem gostosos pra gente, o que fez todo mundo avançar na mesa posta como gafanhotos sedentos e só depois começarmos a reunião.

Já cheio Lucas vira seu boné pra trás e pede a palavra, como se fosse de fato o líder da coisa toda. Seu cabelo está saindo em tufos e ondas revoltadas pelos lados da cabeça pedindo um corte urgente. Alguém precisa guiar este menino, tadinho.

-Bom, vocês já sabem que as Olimpíadas estão chegando e que não é nada fácil bolar a coisa toda a tempo. Ainda mais se a gente quiser vencer mesmo. Por isso eu acho melhor nós começarmos logo a nos organizar. Ver quem vai jogar, quem vai ficar responsável pelo dinheiro. Enfim, quem vai fazer o que.

-Eu quero jogar. Mas só no time de futebol. – João Víctor da nossa turma se pronuncia.

-Eu também. – um garoto do Primeiro A diz e mais alguns se juntam ao coro.

-Tá. Já entendi. Mas vamos definir as questões práticas primeiro. Depois a gente monta os times.- afirma Lucas- O que temos que decidir agora é com o que cada um vai ficar responsável. Amorzinho, tome nota, por favor. – ele cutuca Bru ao seu lado.

-Querido, me chame de amorzinho de novo e eu quebro a sua cara.- é o que ela rebate.

-Ok. Alguém menos violento poderia escrever, por favor? – pergunta Lucas sem se abalar.

Olho para Bernardo no outro sofá esperando que esteja sorrindo por causa da discussão boba, mas ele parece aéreo agora, como se só seu corpo estivesse presente.

Sentada no tapete perto de meu vizinho Clara levanta a mão e tira uma caneta com um pom pom rosa de sua bolsa...sim, caramelo. Acho que vou vomitar...

-Certo. Quem pode ficar responsável pela arrecadação e administração do dinheiro?

-Eu fico. – Bru se voluntaria. – Mas a gente não tinha que pensar antes em como arrecadar o dinheiro?

-Podíamos fazer rifas. – uma das Caramelo sugere e todo mundo acha uma boa ideia.

-Ano passado pedimos patrocínio para as lojas que tem em volta do colégio. Podíamos fazer isso de novo. –aconselha Tathi.

-Ótimo. Vamos criar uma comissão pra isso. Quem se voluntaria?

Ergo a mão, mas me arrependo logo em seguida quando vejo o braço cheio de pulseiras de Clara Melo se erguendo também.

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