Vinte

43.5K 3.1K 1.4K
                                    

    Achei que fosse ficar acordada a madrugada inteira pensando nos acontecimentos da noite anterior, mas acabei apagando.

   Quando acordo olho para Tathi um pouco abaixo de mim e  vejo que ela ainda está dormindo a sono solto na bicama. Me levanto devagar, na ponta dos pés e vou para a sala.

   Ainda no corredor ouço barulho de algo como um jogo de futebol. Para minha surpresa meu irmão Rafa está esparramado no sofá com o controle do seu vídeo game nas mãos.

   -O que é que você está fazendo aqui?-pergunto ainda esfregando os olhos.

   -Olha, não sei se você foi criada por lobos ou uma tribo perdida pré colombiana, mas na nossa sociedade a gente diz "Oi", "Bom dia", "Como vai, irmão?"

    Me jogo no sofá ao lado dele.

   -Oi. Bom dia. O que é que você está fazendo aqui?

   -Ei, essa é a minha casa também.

    Franzo a testa.

    -Conta outra, Rafa.

    -Certo. Faculdade entrou em greve. O governo fez uns cortes na educação e o bicho está pegando. Aí resolvi ficar uns dias aqui.

   -Até a próxima festa.

   -Obviamente. – ele ri. – Mas e aí? O que fez a senhorita não estar na casa do coronel?

   -Teve o aniversário do Lucas ontem.

   -E o pai deixou você ir? Nossa, a partir de agora tenho pena das pessoas de pouca fé que não acreditam em milagres.

     Eu iria dizer que tudo, na verdade, havia sido obra da mamãe se flashs da festa não tivessem começado a invadir minha mente.

      Fico inquieta ao relembrar o beijo misterioso. Será que Priscilinha já havia acordado?

   Deixo meu irmão com seu jogo na sala e vou para a cozinha tomar café. Lá vejo no relógio que se passam das onze.

   Entre uma mastigada e outra num sanduíche decido que se ela ainda não estiver acordada para me contar o que aconteceu de fato vou perguntar ao Lucas mesmo. Se bem que esse tem a mania de dormir até uma da tarde nos fins de semana...

    Já sem fome entro no banho e fico pensativa. Eu tenho a política de ser boa com todo mundo, mesmo quando as pessoas vacilam. Já dizia um profeta paulista que ficou famoso entre os cariocas "Gentileza gera gentileza".

   Mas então por que fui tão rude com o P.H? Ele merecia. Não tenho dúvidas. O problema é que isso nem teria se passado pela minha cabeça meses atrás.

   E o que há de diferente agora que pode explicar essa mudança? Bom, por mais que eu não queira admitir ela tem nome e sobrenome: Bernardo Chevrand.

   Significa que eu estou gostando dele de verdade? É isso? Não faz sentido se minha mente ainda pensa em outro cara.

   Um coração pode ser elástico a ponto de caber duas pessoas? E mesmo se eu estiver apaixonada pelos dois, isso significa que eu tenho que escolher um, certo?

   Saio do banho mais confusa do que entrei. Pego meu celular na esperança de que Priscilinha tenha dado sinal de vida, me desesperando quando vejo que ela já havia me mandado uma mensagem que datava ainda da noite anterior.

  

  Priscilinha: Eu filmei tudo!!!! Olha só o vídeo.

Mens@gensOnde as histórias ganham vida. Descobre agora