Dez

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   Priscilinha: E aí? Cadê tu?

           Cléo: Tô só terminando de estudar. E minha mãe tá     

            chegando.

  

Priscilinha: Tá, mas não se atrasa hein. É as 18h em ponto.

  

           Cléo: Jamais.

   Tiro os olhos da tela do celular e suspiro. Claro que não vou me atrasar para o ensaio. Desde terça, quando recebi a mensagem da Pris o marcando, não consigo pensar em outra coisa.

    Se, por um lado é um suplício ter que ficar indo pra lá e pra cá tentando dançar a maldita valsa, por outro a presença do P.H. com certeza vai fazer tudo valer a pena. Mesmo que o papel dele não seja o de meu par (ele tinha sido escalado como príncipe pela prima meses atrás, antes mesmo de ir para o intercâmbio) só de poder vê-lo mais uma vez já fico de bom humor. Afinal, com ele estudando à tarde e eu evitando ir à praia fica difícil nos esbarramos por aí.

   A expectativa do encontro cresce tanto em mim que estudar agora parece algo totalmente incompatível com o momento. Então junto os cadernos e o livro de química que estão sobre a mesinha de centro da sala e os levo para o quarto.

   Devem ter se passado dois minutos desde a última vez em que olhei a hora no celular, mas mesmo assim confiro o relógio que fica em cima da escrivaninha.

   Há tempo de sobra até as seis. O problema é que para um coração apaixonado os minutos sempre estão em atraso.

  Volto à sala me sentindo mais agitada que o normal. Penso em ligar para minha mãe, mas basta que eu digite os primeiros números para um barulho de chave tilintar do outro lado da porta do apartamento.

   Ao me virar, vejo mamãe surgindo com uma sacola de compras na mão... e logo atrás dela o Bernardo. Hein?

   -Claro que a gente pode te dar uma carona, imagina.- é o que ela está dizendo, antes de se dar conta de mim na sala.

   A estranheza de ver meu vizinho, no entanto, não é maior do que aquelas palavras. Independente do que ela tinha dito para o garoto a gente não vai deixá-lo em lugar algum. Nós temos um evento inadiável e não vou me atrasar por ninguém. Nem morta!

   -Carona pra onde?- é a pergunta que faço em substituição ao velho e bom "Oi, tudo bem?".

   -Ah, você está aí, filha.- diz ela indo em direção a cozinha. -Pensei que tivesse estudando no quarto.

   -Eu estava, desde as duas. Parei agora a pouco por causa do nosso compromisso.

   Compromisso... Que palavra! Mas também é a única forma educada de explicitar a frase nem um pouco amigável que está na minha cabeça: "Alô, mãe. Não vai rolar ficar de motorista pro vizinho, não! A gente tem hora".

   O problema é que no instante seguinte já estou arrependida por ter pensado aquilo. Nunca fui mesquinha e o Bernardo com certeza não merece que eu comece agora. Ainda mais depois de termos tido uma conversa tão legal na sorveteria depois das aulas de segunda.

   -Era sobre isso mesmo que eu estava falando com o Júnior.- Mamãe afirma, apontando para o Bernardo. Pelo visto ainda não tinha sido alertada para o fato de que o garoto odiava ser chamado pelo último nome da certidão. -Ele quer fazer aula de natação e me perguntou se eu conhecia alguma academia por aqui. Indiquei a que vocês estão ensaiando. Pelo menos tem piscina que eu vi. -afirma mamãe colocando as coisas na geladeira.

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