C17: Fúria da guardiã

11 3 3
                                    

Total de palavras: 1251

Determinada, Kphira disparou na direção de seu machado de mão, preso à cabeça de um dos mercenários que ela já havia ceifado. Agilmente, ela desencaixou a arma, preparando-se para enfrentar o segundo oponente.

Embora a maioria dos humanos fosse notavelmente mais alta do que os anões, aquele mercenário em particular destacava-se com sua estatura imponente. O embate estava prestes a se tornar um duelo de proporções épicas, lembrando as lendas religiosas de Ravi contra Tobias, em que o Rei Ravi havia triunfado sobre o formidável Gigante Tobias em um confronto mano a mano.

Kphira era uma guardiã experiente, acostumada a enfrentar adversários de maior envergadura, pois muitos humanos desrespeitavam as florestas que ela havia jurado proteger. Investir diretamente contra um oponente daquela magnitude seria arriscado, e, naquele momento, as palavras de seu irmão ressoaram em sua mente: "Para enfrentar adversários maiores que os anões, um grande machado é a solução." No entanto, Kphira sempre desconfiara de que esse tipo de arma mais a atrapalharia do que a ajudaria.

O colossal mercenário empunhava uma espada longa de duas mãos, cobrindo uma grande parte de seu corpo com o escudo e a lâmina, incluindo áreas vitais no torso e na cabeça. Essa postura defensiva tornava desafiadores os ataques de Kphira com seus machados de mão. "Preciso ser estratégica e cirúrgica", refletiu com calma. A guardiã estava bem ciente do que precisava fazer: atacar os pontos fracos, visando as costas e pernas do adversário.

A guardiã avançou com uma agilidade surpreendente, considerando sua estatura modesta. Seu oponente esboçou um sorriso e preparou-se para desferir um golpe mortal com sua longa espada. Kphira estava preparada para isso. O movimento do mercenário criou uma abertura que a guardiã habilmente explorou, lançando um de seus machados em direção ao peito de seu adversário. Com sua imponente estatura e peso, ele tinha poucas opções além de tentar bloquear o ataque com sua espada.

Um som metálico ecoou pelo campo de batalha quando o machado ricocheteou na lâmina da espada. O mercenário, ao voltar sua atenção para a guardiã, sentiu uma dor aguda na perna esquerda. Kphira havia criado a distração perfeita para expor os pontos vulneráveis que ela visava atingir. Enquanto avançava implacavelmente em direção ao inimigo, desferiu dois golpes certeiros: um na parte posterior da coxa e outro na panturrilha.

Um grunhido de agonia ecoou no ar, fazendo o mercenário oscilar e apoiar o joelho da perna ferida no chão. Sua espada longa foi fincada no solo, servindo como suporte para sua mão direita, enquanto a esquerda se dirigia ao ferimento na coxa. Com frieza, Kphira aproveitou mais uma vez a situação favorável, subindo nas costas de seu inimigo para desferir o golpe final.

Instintivamente, o mercenário largou a espada e usou seu braço e mão para proteger a região vulnerável do pescoço e da cabeça. O machado que mirava o lado direito de seu pescoço foi bloqueado por seu gesto desesperado. Embora o corte fosse profundo e sangrasse profusamente, não era um ferimento mortal, e não incapacitaria totalmente um possível contra-ataque. A guardiã preparou-se para lançar um novo golpe, mas foi surpreendida pela resiliência de seu oponente. Ignorando a dor intensa, ele se ergueu e balançou o corpo na tentativa de desequilibrar a intrépida anã que estava nas suas costas.

Kphira permanecia firme, buscando a oportunidade crucial para desferir o golpe decisivo contra seu adversário. Entretanto, em um movimento súbito e impiedoso, o mercenário conseguiu desequilibrá-la e agarrando-a pelo traje lançou-a com selvageria em direção à floresta.

O impacto inicial com o solo fez com que a guardiã perdesse momentaneamente a consciência, seu corpo inerte rolou até repousar junto a arbustos e árvores. O mercenário, empunhando sua espada longa, avançou com passos pesados na direção da anã caída. Kphira, aos poucos, começou a recobrar a lucidez, tudo parecia girar ao seu redor, e o único som que conseguiu discernir era o inquietante avanço do inimigo, cada passo parecendo um ressoar de um ferreiro forjando o aço.

A guardiã, ainda deitada de bruços, conseguiu se virar, e mesmo com a visão turva, vislumbrou seu oponente erguendo a espada, pronta para empalá-la no peito. Nesse momento crítico, Joseph voltou sua atenção para intervir, mesmo que não fosse realmente de seu desejo. No entanto, ao avançar em direção da guardiã, ele foi abruptamente surpreendido por Benny, que lançou seu escudo com precisão, atingindo a perna de Joseph e fazendo-o tombar. Não muito distante dali, um grito agudo de Daelwyn perfurou o ar, chamando a atenção de todos, exceto o homem que se preparava para extinguir a vida de Kphira.

Encarando o olhar confuso da anã, o mercenário esboçou um sorriso de triunfo, mas sua confiança desmoronou quando o solo tremeu sob as pesadas patas de Cadu. O rugido do colosso ressoou como um trovão, estremecendo os tímpanos de todos e paralisando o mercenário no lugar. Aquela hesitação provou ser seu fim.

Seus olhos se dilataram em puro terror quando o imponente urso emergiu da folhagem dos arbustos, avançando com uma ferocidade implacável que o derrubou ao chão. O último vislumbre que aquele homem teve foi a visão aterradora das mandíbulas de Cadu e seus afiados dentes despedaçando sua garganta, ao som macabro de ossos se partindo, seguido por um plangor da morte e uma cascata de sangue.

Enquanto a guardiã se erguia com dificuldade, o urso se aproximava lentamente, ainda com vestígios de sangue entre os dentes e o focinho. Cadu farejou Kphira minuciosamente, como se estivesse garantindo que sua companheira estava bem, e recebeu um abraço caloroso em resposta.

— Obrigada, Cadu. Mais uma vez, sempre me salvando — disse a guardiã, afagando o focinho do animal.

Kphira se afastou do urso para recuperar seus equipamentos, espalhados após o embate com o mercenário. Ao observar o corpo inerte próximo, parou por alguns segundos e lançou um olhar de desdém, mas sabia que precisava acelerar; os outros podiam precisar da ajuda dela.

Enquanto Kphira recolhia suas setas e besta, notou que Joseph ainda estava engajado na luta contra Benny. Ao voltar sua atenção para o restante do grupo, deparou-se com Daelwyn olhando diretamente para ela, expressando alívio. Kphira assentiu com a cabeça e esboçou um leve sorriso, que rapidamente se transformou em uma expressão de surpresa e consternação. A barda colocou uma mão na boca e apontou incrédula na direção de Cadu. O que se seguiu foram sons de grunhidos de dor.

O imenso urso fora surpreendido por um atacante habilidoso, que saltou das copas das árvores para montá-lo. Desferindo golpes rápidos com uma adaga na região do pescoço do animal, o atacante não deu tempo para reação, e as patas de Cadu começaram a ceder, levando-o ao chão.

— Nenhum animal escapa duas vezes do grande Talek, o Caçador — proclamou, ao descer graciosamente do imenso animal, um sorriso de satisfação iluminando seu rosto.

Ao revelar o rosto por trás do capuz, Talek expôs uma idade avançada, mas seu físico robusto rivalizava com o vigor dos mais jovens guerreiros. Marcas de garras de criaturas colossais decoravam sua pele, testemunhos de confrontos passados que apenas reforçavam sua reputação como sobrevivente destemido. Seu olhar firme encontrou o da guardiã, enquanto ele limpava a adaga ensanguentada nas dobras de sua vestimenta.

Kphira, consternada, permanecia imóvel diante da cena. Ela deduziu que o homem diante dela, era aquele que havia ferido seu urso horas atrás. Seu leal companheiro agora jazia à beira da morte, respirando com dificuldade. A expressão compenetrada da guardiã transformou-se em fúria, e um grito de ira, dor e desespero ecoou pelo ambiente. Naquele momento, o único objetivo dela era vingar seu irmão das florestas.

AS CRÔNICAS DE GALITOR - Livro 1: A cripta do reiWhere stories live. Discover now