C9: Noirah

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Total de palavras: 1785

A noite caía lentamente sobre a densa floresta, envolvendo tudo em uma penumbra misteriosa.
Três devotos avançavam com cautela pelo emaranhado de árvores antigas, guiados apenas pela fraca luz do luar.

A casa de caça abandonada emergia diante deles, uma estrutura solitária e esquecida pela passagem implacável do tempo. Seu exterior exibia sinais evidentes de desgaste, com tábuas soltas e janelas quebradas, permitindo que a natureza selvagem reivindicasse seu espaço. Videiras se contorciam ao redor das paredes, tecendo uma teia de tentáculos verdejantes.

Com passos silenciosos, os três devotos adentraram o interior sombrio da casa. A escuridão abraçava cada canto, sendo interrompida apenas por feixes de luz tênue que penetravam pelas frestas das tábuas envelhecidas. O cheiro de mofo e abandono impregnava o ar.

Uma única vela tremulava sobre uma mesa de madeira carcomida, espalhando um brilho frágil e dourado ao seu redor. Então, em meio à penumbra, uma figura surgia. O Mestre, envolto em sua túnica preta, emanava uma aura de sabedoria e poder. Os fiéis se ajoelharam perante ele, reverenciando-o com devoção.

— Levantem-se, meus servos — disse o Mestre, e eles se ergueram. — Hoje, de fato, iremos começar a retomada do nosso lugar nesse mundo de ilusões — acrescentou ele, revelando uma animação perversa.

Os servos assentiram com a cabeça e vibraram. Há três anos eles esperavam pelo retorno do mestre. Toda a escatologia que os guiara até aquele momento, diante de seus olhos, começava a tomar forma.

— Vocês eram quatro — disse o Mestre, observando os três à sua frente. — Vejo que o Portador seguiu o seu destino.

— Sim, Mestre. Ele fez a vontade da Profana — disse Pedri, baixando a cabeça em sinal de respeito.

— Hum, muito bom — o mestre concluiu com um ar de satisfação.

Voltando-se para a mesa de madeira, o Mestre pegou um antigo grimório. Sua capa revelava sua verdadeira natureza sombria e perigosa. Feita de couro envelhecido e gasto pelo tempo, a capa exibia uma textura áspera e enrugada, como se fosse a própria pele de uma criatura profana. Símbolos arcanos estavam gravados em relevo, brilhando fracamente em tons púrpura, como chamas dançantes em um mundo além do alcance humano.

As bordas da capa eram adornadas por entalhes intricados em forma de água, terra e fogo, representando os Anciões. Sua forma enrugada dava a sensação de ganhar vida ao ser tocada pelo Mestre, parecendo se mover e sussurrar segredos proibidos aos olhos atentos. Esse toque na capa despertava uma sensação de arrepio, como se algo escondido dentro dela ansiasse por liberdade e poder.

No centro da capa, um símbolo enigmático de um olho entalhado acompanhava e capturava o olhar do mestre, transmitindo uma sensação de alerta e vigilância. Era como se tivesse uma consciência sombria, espiando os segredos mais profundos daquele que se atrevia a tocá-lo.

O antigo grimório possuía uma fechadura que impedia seus conhecimentos ocultos fossem revelados. Feita de um metal antigo, provavelmente uma liga desconhecida, a fechadura era ornada com um emaranhado de símbolos arcanos. Os contornos da fechadura eram ásperos e desgastados pelo tempo, contando a história de muitas mãos que tentaram desvendar seus segredos.

Imerso em seus pensamentos, o Mestre mergulhava na magia ancestral e profana que aquele grimório poderia conter. No entanto, seus devaneios foram abruptamente interrompidos quando um dos servos avançou em sua direção dizendo:

— Mestre, o Portador não seguiu o seu destino.

— Prossiga — disse o Mestre voltando o olhar para aquele indivíduo.

AS CRÔNICAS DE GALITOR - Livro 1: A cripta do reiWhere stories live. Discover now