C11: Os mortos também falam

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Uma multidão curiosa formou-se ao redor do depósito destruído, ansiosa por ver os vestígios do incêndio.
No entanto, Hallon exerceu sua autoridade e com sua poderosa oratória dispersou os cidadãos mais próximos.

Com a multidão afastada, Jack aproximou-se do clérigo, seus olhos cheios de inquietação e ansiedade. Percebendo a aflição em seu rosto, Hallon começou a compartilhar as visões que teve após comungar com Haradon.

— Meu jovem, as visões que me foram concedidas, infelizmente, não foram audíveis, mas pude testemunhar vividamente os eventos que ocorreram no depósito — começou Hallon, com sua voz serena.

— Por favor, conte-me o que viu. — Jack estava ansioso para ouvir cada revelação.

— Joseph lutava bravamente contra um homem que você descreveu anteriormente, de acordo com as informações fornecidas pelo mendigo — continuou Hallon, prendendo a atenção de Jack.

Jack ergueu as sobrancelhas, recordando as palavras precisas do mendigo que levaram a essa conexão crucial. A mente de Jack ansiava por mais respostas, e Hallon prosseguiu com suas revelações.

— Seu amigo estava em sérios apuros e parecia estar se entregando à morte enquanto segurava um pomo singular — revelou Hallon, pausando para permitir que Jack assimilasse a informação.

— Joseph entregando-se à morte? Impossível! Ele é tão teimoso que teimaria até mesmo em morrer — exclamou Jack, incrédulo diante da ideia.

— Olhando por esse lado, talvez ele estivesse convicto de seu destino ou de que algo maior estava prestes a acontecer — ponderou Hallon, oferecendo uma perspectiva alternativa.

— E que pomo é esse? — indagou Jack

— É o que eu quero saber sobre isso — respondeu Hallon, sua expressão aparentava temor ao citar o pomo.

— E o que aconteceu depois? — continou Jack, sedento por mais informações.

— A visão se dissipou, e em outro fragmento vislumbrei o homem que você descreveu observando o início do incêndio, suas feições ocultas em sombras que me deixaram em dúvida sobre sua verdadeira identidade — explicou Hallon, sua expressão séria e pensativa. — Precisamos encontrar a outra pessoa que estava aqui.

Entre os destroços, Jack e Hallon encontraram um corpo irreconhecível, carbonizado pelo fogo. Os olhos de Jack se arregalaram de horror, lágrimas de desespero ameaçando brotar.

— Senhor... eu sei que clérigos podem falar com os mortos, poderia fazer isso?

Hallon balançou a cabeça com pesar.

— Infelizmente, meu jovem, em corpos carbonizados como este, a invocação dos mortos é fadada ao fracasso. O fogo cria uma barreira invisível que impede que a alma retorne ao corpo, tornando a invocação inútil — explicou Hallon, compartilhando o conhecimento que possuía. — Além disso, tal tipo de invocação é proibida em público, pois pode perturbar a mente daqueles que presenciam, especialmente se forem pessoas próximas ao falecido.

— Você tentou com meu pai?

— Sim... — respondeu Hallon.

Após um breve silêncio reflexivo, o clérigo continuou.

— Por algum motivo que desconheço, a invocação não teve efeito.

— Talvez Haradon tenha falha... — disse Jack, antes de ser interrompido por Hallon.

— Quieto! — disse rispidamente. — Não ouse concluir a frase. — Hallon concluiu efusivamente.

Enquanto a tristeza envolvia Jack, um brilho metálico chamou sua atenção entre os escombros. Entre as ruínas, ele descobriu uma adaga, e seu coração apertou ao reconhecê-la como a arma de Joseph. A constatação mergulhou Jack em uma mistura sufocante de desespero e dor, tornando quase insuportável a ideia de que aquele corpo carbonizado poderia ser o de seu amigo.

AS CRÔNICAS DE GALITOR - Livro 1: A cripta do reiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora