Capítulo 4 - Ele Estava Lá.

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Senti minha nuca formigar, e ao abrir os olhos, pude encarar uma noite estrelada, que era pouco perceptível, em consequência da quantidade acentuada de galhos e folhas que impediam a visão do céu. Mas do mesmo jeito não deixava de ser lindo. As duas partes da natureza se completavam como se fizessem parte de uma mesma pintura.

Pisquei várias vezes antes de conseguir enxergar de forma nítida novamente, e quando o fiz, pude perceber que estava deitada por cima de troncos de árvore, e minhas pernas estavam cobertas por um casaco de lã, que não me lembrava de ter visto antes.

- Bem vinda de volta, Hayley. - escutei alguém dizer, bem perto de mim e levei um susto, me virando rapidamente para olhar quem dissera tais palavras, o que não foi uma boa ideia. Minha cabeça rodou e eu tive que fechar os olhos para a tonteira passar. - calma guerreira. - percebi que era Ravi que falava comigo. - não force demais essa cabeça de vento. - ele se levantou rapidamente de onde estava sentado e me ajudou a levantar e a me sentar, apoiando minhas costas no tronco da árvore. Ainda me senti um pouco tonta, mas quando estabilizei meu corpo em cima de minhas pernas fiquei melhor.

- O que aconteceu? - perguntei, olhando ao redor. Estávamos debaixo de uma grande árvore, e ao redor dela, havia mais árvores. Deduzi então, que estávamos em uma floresta.

Levei minha mão a minha cabeça e senti algo macio envolver minha nuca.

- Hayley! - Ravi me repreendeu, puxando minha mão para longe de minha cabeça. - demorei horas para conseguir fazer essa obra de arte, não ouse arruiná-la! - senti que ri da reação do príncipe, esperava tudo dele, menos senso de humor.

- Ok, você faz piadas agora? - perguntei, ironizando e tocando mais uma vez na "obra de arte" de Ravi, que por sua vez, fez cara feia.

Percebi que se tratava de um curativo improvisado, que já estava molhado, provavelmente de sangue. Senti gratidão por ele ter feito tudo aquilo para mim, mesmo nem nos conhecendo, e mesmo eu tendo visto aquela maldita pintura. Pensar nela me dava uma sensação estranha, por isso tentei o mais rápido possível esquecê-la, pelo menos por enquanto.

- Obrigada por isso. - disse, tirando as mãos do curativo e encarando a mancha vermelha que havia ficado nos meus dedos.

- Você está bem? - perguntou, tentando não demonstrar muita preocupação, mas pude ver que no fundo, ele se importava. Aquilo me deu um alívio e tanto. Mais uma vez a "ameaça disfarçada de indignação" parecia ser mentira. Mas não me apegarei a nenhuma certeza, pois nada em Scaban fazia sentido mesmo.

- Vou sobreviver. - disse, limpando a mão no meu vestido. Ele não disse nada, pelo contrário, deu um sorriso torto, foi se sentar em uma pedra há poucos metros de mim, e começou a afiar a ponta da espada com uma pedra.

Ravi fazia movimentos precisos e rápidos. Percebi que seu cabelo liso e escuro caia em seus olhos, mas ele não ligava, concentrando-se inteiramente no que fazia, que era afiar a sua espada.

- O que aconteceu afinal, príncipe? - perguntei, desembaraçando meu cabelo com as mãos e o encarando.

- Um esquentado te nocauteou e você desmaiou. - ele não parou o que estava fazendo enquanto me respondia.

- E como viemos parar aqui? - perguntei, ainda o encarando, e esperando que ele fizesse o mesmo.

Ravi jogou a pedra que usava para afiar sua espada longe e guardou o objeto afiado na cintura, finalmente olhando para mim.

Seus olhos estavam compenetrados nos meus e o suor escorria pelo seu rosto. A roupa que ele usava não combinava com a forma que ele estava agora, todo suado, sujo, e com o rosto vermelho de calor. Porém, vale a pena ressaltar que nem dessa forma sua beleza era ofuscada. Malditos príncipes.

Scaban [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora