Capítulo 9

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Noite Feliz, Noite de Paz... Na maior parte do tempo

19.00

Tudo correndo bem. Meus filhos e maridos/namorados já chegaram todos (com exceção, claro, do Victor), bebidas estão geladas, comidas estão em vias de ficarem quentes, consegui convencer a maioria das pessoas a usar as coroas de guirlanda. Na verdade, quem conseguiu foi o Tommy, que está esplendoroso, parecendo um príncipe pagão de alguma floresta da idade da pedra, correndo entre as árvores e fecundando a terra. Não, ele não está correndo e nem fecundando nada, mas poderia. Me lembrou As Brumas de Avalon, a cerimônia antes do Rei Arthur se tornar, sem querer ser repetitiva, rei, em que ele se lambuzava de sangue e transava com a própria irmã. Ai, credo. Mudei de ideia, não quero lembrar nada disso.

Acho que vou pegar a seringa e injetar mais molho no javali. Será a ceia mais memorável com o javali mais molhadinho que já se teve notícias.

19.10

Merda. Ao invés do javali, injetei o meu vestido com molho. Apesar de estar definitivamente com uma aparência pagã e selvagem, não era exatamente isso o que eu tinha em mente. Opa, campainha!

19.15

Atendo a porta toda feliz e natalina e dou de cara com Tom. E Ella. Ainda que tenha idade para ser pai dela (e tem mesmo. Victor deve ser pelo menos uns cinco anos mais velho que ela, mesmo que eu e Tom fôssemos duas crianças quando ele nasceu), eles não têm a aparência de casal homem de meia idade ridículo pegando garotinha, e sim de casal bonito de doer as retinas saído diretamente da capa da Hello! Os dois morenos, os dois incrivelmente altos, os dois de olhos azuis, os dois com um rosto onde é impossível encontrar qualquer defeito, a girafona da Ella com aqueles cambitos de bebê Bambi e peitos enormes e cabelos brilhantes até a cintura e, como se já não fosse ruim o suficiente, ridiculamente simpática:

-Feliz Natal, Malu! – Ela abre um sorriso de dentes brancos e bem enfileirados. – Obrigada pelo convite!

Hã? Já passei da fase da vida de ter alucinações, e tenho certeza absoluta de que o convite não partiu de mim. O canto da boca do Tom se retorce com toda a ironia de ele, sim, ter dito para a Ella que eu a havia chamado para o Natal e agora eu estar boquiaberta e com uma guirlanda na cabeça em frente à porta.

-Você ainda está parecendo um pouco malpassada, Maria, mas o cheiro está bom – Ele me fareja como o cachorro que sei que, no fundo, ele é mesmo.

Meus olhos abaixam para a mancha de molho no meu vestido e eu volto a reagir. No automático, mas reajo. Pego uma guirlanda do aparador ao lado da porta e a enfio na cabeça da Ella (obviamente, tenho de ficar na ponta dos pés para isso).

-Somos pagãos esse ano – Digo, à guisa de esclarecimento. – Aqui está a sua, Tom.

-Mas nem fodendo – Ele coloca as mãos nos ombros da Ella para ajudá-la a tirar o casaco e eu decido que vou esperar o Tom ficar bem bêbado (o que ele sempre fica), colocar uma coroa nele e tirar uma foto e enviá-la anonimamente para todos os tabloides.

Ok, melhor trocar de roupa.

19.45

Esbarro com a Lily a caminho do quarto. A princípio, ela estava no seu quarto antigo catando os brinquedos do cachorro dela, que é um dos convidados da festa e está salivando perto do javali girando no quintal. Como tudo que a Lily procura, ela não encontra e seu próximo passo é perguntar para mim.

-Todas as coisas de cachorro estão na garagem.

-Lá só tem as coisas do cachorro do Luca.

-Então devo ter colocado no sótão.

Quando Dezembro ChegarWhere stories live. Discover now