Capítulo 5

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Londres, 13 dias para o Natal

O fogo está crepitando na sala da Linda Casa, dando um maravilhoso ar aconchegante e doméstico ao ambiente. Para falar a verdade, não está frio o suficiente para acender a lareira, mas acho que meu coração precisa do conforto. Sentados a um canto da mesa, Eddie e Mick estão avaliando a logística de se assar a corça.

-A gente pode enfiar o pedaço de pau da boca ao cu do bicho.

-Tio Mick! – Linda e doce Emily dá uma linda e doce gargalhada, entre envergonhada e divertida.

-Foi mal, Em. Enfiamos um pedaço de pau da boca ao ânus do bicho.

Emily coloca as mãos sobre a boca e solta uma risada abafada e deliciosa. Tenho vontade de dar um rasante pela sala de jantar e apertá-la e enchê-la de beijos, mas no momento estou com um quebra-cabeça nas mãos. Minha Linda Casa tem cinco quartos. Contando com o sótão e o loft, sete, sendo que o último é grande o bastante para espremer um bocado de gente. Dormindo aqui na noite de Natal, teremos eu, Eddie, Victor e os dois filhos, Luca, provavelmente o Jake, se Kate e família voltarem a tempo, Emily, talvez eu consiga convencer Lily e Mateus, talvez também consiga convencer o Tommy e a Baby, a Angie e o Josh. Isso ocuparia todos os quartos e não deixaria espaço para o Tom e a Ella, mas, se o machista ridículo do Tom dormir aqui, ele não vai deixar Lily e Mateus dormirem juntos, vai enfiá-la em um quarto com Baby e Emily, e Tommy e Mateus vão acabar com Luca e Jake. E se eu os deixar treparem no sótão com os morcegos? Não, claro que minha Linda Casa não tem morcegos.

-Alex e Mick, vocês e Les Paul não querem dormir aqui na noite de Natal? – Pergunto, analisando a folha de papel A3 com a planta que rascunhei.

-Depende – Alex responde, do canto da mesa de onde também estuda a logística da corça, sem fazer nenhuma contribuição realmente relevante. – A cama tem colchão de pena de ganso? Só durmo em colchão de pena de ganso, o que é estranho, porque sempre fui incrivelmente pobre. Você comprou quantas garrafas d'água? Porque eu tenho problema de desidratação, não posso acordar no meio da noite com sede que meu cabelo quebra, minha pele descama, minhas unhas racham... E não é um daqueles convites bestas que a gente tem de arrumar a bagunça depois, né? Pois você sabe, Malu, que eu gosto de vir aqui para poder ir embora e deixar a zona toda para você, não sou uma pessoa doméstica, sempre quis ser aquelas mulheres antigas de avental e touca na cabeça que assam torta, mas só pelo avental e pela touca, nunca assei uma torta na vida, e Deus me livre lavar a forma da torta porque eu tenho problema de calos e mãos ásperas... Minhas mãos não são ásperas, Mick?

-Mas qual a distância que a gente tem de pendurar a corça? É um bicho de perna comprida – Mick parece não ter escutado uma sandice que saiu da boca da mulher dele. Acho que é uma habilidade que ele foi forçado a desenvolver com o tempo.

-Seguinte – Eddie desliga o celular. – Não tem um único açougue que venda uma corça inteira.

Todos nós olhamos para ele, com níveis diferentes de decepção e expressões desmaiadas, mas acho que nenhuma se compara à minha. Imediatamente começo a balbuciar, imaginando um Natal tosco com peru ou outro bicho sem graça, e Eddie se lembra do nosso acordo, ou seja, fazer todas as minhas vontades.

-Mas aposto que consigo achar uma se for direto ao abatedouro! Encontrei uma fazenda em Exeter que vende a corça viva por seiscentas e cinquenta libras, mas certeza que, se a gente der um a mais, eles matam para a gente.

Ai, merda, não contava com o bicho vivo. Viva, ela é fofa e tem cílios enormes. Esperava que ela estivesse morta e limpa, com aparência de frango gigantesco na prateleira do supermercado. Além disso, Exeter é longe para caramba.

Quando Dezembro ChegarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora