Capítulo 7

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Dois dias para o Natal

É loucura parar agora. É irresponsável parar agora. Metade das luzinhas ainda faltando ser penduradas, ingredientes frescos ainda precisando ser comprados, guirlandas ainda tendo de ser customizadas, melhor tempero para a corça ainda a ser pesquisado na internet... Tenho a impressão de que não parei essas semanas, e ao mesmo tempo não fiz nada! NADA! Mas vontade de virar uma bolinha e me esconder até a véspera do Natal (que, para meu completo desespero, é amanhã) foi suplantada por necessidade de visitar a Angie. Ela quis aproveitar rara conjunção de toda a família imediata estar na cidade acrescida de folga do Josh para fazer um almoço no seu apartamento novo. Acho de bom tom ressaltar que, por apartamento novo, ela quer dizer o lugar onde Josh mora há seis anos e, ela, há dois, mas eles acabaram de se casar e vai que ela quer mostrar a decoração nova. Ou então, seu único objetivo é me enlouquecer às portas do meu grande dia.

Acho que a ideia era me levar às raias da insanidade mesmo. Josh e Angie abrem a porta para mim, Eddie e Luca com uma saudação de "bem-vindos" e, mal a Angie tira a travessa de assado das minhas mãos, começo a procurar alguma novidade no apartamento para elogiar.

-Nossa, adorei o abajur.

-Na verdade, ele é meio velho.

-Ah, é. Mas vocês fizeram alguma coisa com a iluminação, né?

-Eu troquei uma lâmpada hoje de manhã, mas só porque a outra queimou.

Até que, finalmente, o encontro. Sobre a lareira, em um elegante porta-retratos de prata, há uma foto de Angie e Josh, lindos de partir o coração (ainda que ele tenha sido a criança mais feia e insuportável que já vi) no dia do casamento. Eu o pego, emocionada, e faço o "oh" que a visão merece.

-Que coisa mais linda! E vocês acharam o porta-retratos perfeito para essa foto!

-Foi você que nos deu, mamãe.

Sério, chega uma hora em que já começa a ser perseguição.

Já que a casa continua rigorosamente a mesma, espero que a Angie tenha me tirado dos meus preparativos para pelo menos me dizer que está grávida, mas parece que a incrível fertilidade das mulheres Gonzaga anda hibernando por enquanto. Ouvindo assim, eu soo como aquelas velhas que querem casar todas as mulheres solteiras acima de quinze anos e que acham que, se um casal com mais de vinte ainda não procriou, então ele precisa de algum amuleto ou simpatia. Não é verdade. Não espero que meus filhos se espelhem em mim e tenham um bebê por ano, mas quero, sim, conhecer o maior número de netos possível. Além do mais, já tentei uma infinidade de combinações diferentes para visualizar um filho da Angie e do Josh, e todas resultaram em verdadeiras obras primas da natureza. Sem dúvida é um crime privar a humanidade de crianças tão bonitas, certo?

-Mamãe, venha aqui! – Escuto a voz da Lily me chamando do quarto e a sigo. Coloco a cabeça para dentro do aposento pequeno e encontro, sobre a cama, um milhão de guirlandas, bolinhas, estrelinhas, fitinhas... é a coisa mais linda e natalina que eu já vi. Ela explica: – Se não começarmos nesse minuto, nunca vai dar tempo de deixar tudo pronto. E todo mundo pode ajudar, até a Angie, com as duas mãos esquerdas dela.

-Sensacional! Vamos levar tudo para a sala!

Angie faz um ar um pouco desmaiado quando percebe que estamos atravancando sua sala com enfeites de Natal e, à medida que as pessoas chegam, nós rapidamente as colocamos na linha de montagem. De todos os meus filhos, Lily é, sem dúvida, a mais parecida comigo e a que melhor aprendeu a importância das tradições das Mulheres Gonzaga. Tenho certeza de que, quando eu me for, ela fará incríveis almoços de domingo e natais espetaculares e falará sobre como tudo nasceu com a matriarca da família, eu mesma. E, lá do céu, olharei tudo isso e a perdoarei por uma adolescência completamente insuportável.

Quando Dezembro ChegarWhere stories live. Discover now