Cap 1- La Muerte

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Meu ego sempre foi grande. Me achava muito pela minha altura, pela majestosa capa preta e pela foice que era temida em histórias sobre mim.
Apesar de eu ser perf...quero dizer..., lindo, tinham me apelidado de "estagiário"..., bando de anjos sem criatividade. Só porque tirei algumas almas por engano, não significa que eu seja estagiário...

Meu trabalho era simples, tirar almas e ajudá-las na travessia. Também tinha meu colega de trabalho, o nome dele é Nike, um gato azul com olhos de fogo que tinha o dom da calamidade. Querendo ou não, tragédias fazem parte do equilíbrio da vida.

Até que formamos uma boa dupla, tirando as discussões de todo dia...

O legal de coletar vidas, é que eu sempre podia ver como essas pessoas viveram suas vidas. Era lindo como umas eram bondosas, que conquistaram seu sonho, que se sacrificaram para salvar alguém.
Mas tinha um lado ruim também, ver como viveu pessoas maldosas e sua morte  lamentável...

Em uma noite de inverno, fui designado para uma mulher que estava dando a luz. Teria que levar sua alma assim que seu bebê nascesse. E enquanto Nike ficava vagando pelo hospital, fiquei na sala de parto,  observando como a mulher jovem de 25 anos, ruiva e de olhos azuis, respirava pesado pelas contrações. Ela tinha olhos gentis e pequenas sardas espalhadas pelo rosto.

Percebi só de olhar, o quanto parecia ser feliz e de como era boa pelas suas façanhas.
O homem no qual era seu marido, que lhe acompanhava, ficava parado do lado dela falando doces palavras de consolo. Sua estatura era de uma pessoa baixa, mas muito respeitável. Tinha cabelos pretos e olhos castanhos, e um tanto barrigudo. Olhava com muito carinho para sua esposa. Era aqueles tipos de casal feliz que não se via todo dia.

- Vamos! Respire fundo e faça força! - Gritava a parteira. - 1, 2. 1,2. - Parecia que estava fazendo exercício físicos invés de dar a luz.
- Mais um pouco, Ayla. - O homem segurou sua cara de dor quando a jovem apertou sua mão.
- Está quase...- E finalmente...
...E finalmente...finalmente... ué. A sala não se encheu de berro como achei que seria.
Todos ficaram tensos, e por um mísero momento, achei que acabei retirando a vida da criança por acidente. Mas foi só chamarem o pai para cortar o cordão umbilical que...a pequena... começou a chorar.

- Acordou, gracinha? - Pensei. Olhei direito para o bebê, cabelinhos pretinhos e olhinhos cor do mar. Uma bela combinação. Fiquei minutos olhando para o bebê nos braços do pai que a mostrava emocionado para a esposa, exausta. Logo me dei conta que meu trabalho era com a mãe da recém nascida.

Ao posar minha vista na ruiva, fiquei paralisado. Ela estava olhando direto para mim. Me observava com medo, seus neurônios pareciam estourar e foi então, que ela sorriu. Um sorriso grande, gentil que mostrava empatia.

Ainda absorto naquela visão, balancei minha foice e sua alma deitou em meus braços como um suspiro. Meu relógio de bolso soou, assim como o aparelho que mostrava uma linha reta.
- Parada cardíaca! Parada cardíaca!
- Aperta o alarme de emergência! 
Todos começaram a trabalhar rápido, o homem que presenciou a morte da esposa, quase sufoca a criança em seus braços. Então ela foi tirada com rapidez de seus braços e levada para outra sala.

Sem pressa, andei até a sala onde estava a bebê. A olhei deitada, estava com um olhar perdido, como se estivesse pensando em algo complicado, podia imaginar que ela estava absorvendo a informação de onde se encontrava.
De repente, mãos transparentes tocaram o berço. Olhei para baixo e onde a alma da mulher deveria estar, já não estava mais, estava na minha frente, olhando para o bebê extasiada.
Ela posou suas mãos nos cabelos da menina e logo me olhou. Novamente, aquele lindo sorriso apareceu, e com uma reverência de... gratidão? Ela simplesmente sumiu. Meu trabalho tinha terminado, nem precisei acompanhá-la para a travessia...
Esse momento foi único e perfeito, algo que nunca tinha acontecido em todos os meus anos e décadas como " La Muerte".

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Cinco anos se passaram. Nunca me esqueci o quanto a cena daquela ruiva me cativou... Alguma coisa no meu crânio soava, pedia para que eu fosse ver aquela bebê e verificar seu estado...

- É...estou eu aqui... - Disse em voz alta. Foi difícil deixar o Nike para trás. Mas consegui finalmente vir até a... mansão...da...menina...
- Misericórdia...- Olhei espantado. - Famílias ricas são outro nível.

Entrei sem esperar mais, estava ansioso para ver como era por dentro da casa.
Eram enormes corredores, cada porta que via, era do tamanho do gigante Golias. Tinha uma decoração meio antiquada pelo ano em que estamos, mas ainda assim, era cativante cada detalhe daquele lugar.

Meio perdido, andei e andei até chegar num lugar com bastante verde. Parecia uma praça, tranquila e vazia. Nem tinha percebido que parei bem do lado de um cara com várias pessoas atrás de si.

  - A quanto tempo ela está lá? - Perguntou o homem esfregando os olhos com impaciência.
- Duas horas, senhor Loan. - Respondeu uma mulher. - Ainda não falou nada com ninguém.
- Tsk. - Estrala a língua. - Garota problemática. - Ele olha para frente e sigo o olhar. Ao longe, vejo uma garotinha. Seus cabelos curtos e pretos voavam com o gentil vento. Ela estava sentada, com os olhos fechados e um livro pousado em seu colo. - Fiquem de olho nela. Que saco, não fala nem com o próprio pai, EU!

- Opa...pera pera, aquela nanico com um olhar gentil e roupa brega que era o pai da bebê...virou esse gorila? Caramba, ele cresceu...! Cadê o olhar de tonto que ele tinha? - Meus neurônios estavam fazendo muito esforço para pensar.

Saindo bufando, deixando apenas duas criadas observando a garota. Me aproximei e pensei:
- O que há de errado? Ele virou esse brutamonte pela esposa?

Deixando a confusão de lado, me abaixei a sua altura e observei sua faceta. Serena... Foi a primeira coisa que me veio... não tinha nada haver com a aura alegre que transbordava a mãe.

*Vushh*~
O vento ficando mais forte, acaba levando o livro da menina.
Ele cai no chão e finalmente vejo aqueles olhos azuis, claros como o mar, e serenos como uma tarde de verão. Eles olhavam para o livro com um grande desinteresse, mas ela se levanta o pegando de volta, dando algumas batidinhas para tirar a sujeira.
A criança anda até às empregadas e o entrega.
- Devo guardá-lo para a senhorita? - a pequena assenta positivamente com a cabeça e logo indo embora...

- Que... interessante...

A vilã merece um final felizWhere stories live. Discover now