Na segunda-feira quando o celular despertou, Claudia já estava desperta e olhava para o teto. Pensando em que momento, ela havia bagunçado a sua vidinha tão metodicamente planejada daquela maneira. Suspirou saindo da cama, sentiu um leve mal-estar, ignorou-o e foi ao banheiro.
No sábado ao chegar em casa, mandou a mensagem ao Artur conforme o combinado, tomou banho, e deitou, mas não conseguiu dormir, quando cochilava, sonhava ou com os pais biológicos, ou ela sendo criada por outra família, ou com o olhar gélido de Michael para ela, desistiu de tentar dormir, e tentou ler a bíblia, procurou pelo tal Jonas, mas não fazia ideia de onde encontra-lo, então foi assistir filmes na TV, acabou adormecendo no sofá da sala, e pela manhã o primo a levou para a cama, ela estava febril, ele deu a ela uma dipirina e ela voltou a dormir, e só acordou no meio do dia exausta.
Marcelo havia feito o almoço, e havia inúmeras ligações perdidas, dos pais, do Artur e de Victória. Antes de almoçar retornou a ligação dos pais. E depois do almoço, retornou a do Artur, e combinaram saírem juntos à noite.
E depois de muita enrolação resolveu retornar a ligação de Victória, esta por sua vez estava preocupada com a saída repentina de Claudia, e perguntara se alguém havia ofendido-a de alguma maneira. Claudia a tranquilizou, e ela a convidou para voltar ao karaokê qualquer dia com ela.
Saiu do quarto já arrumada para sair. Não havia ninguém na cozinha, sentou à mesa, e se serviu de um copo de leite com café. Marcelo passara a tarde do sábado com ela, e quando Artur foi buscá-la para saírem, ele saiu para buscar Luciana, e ela não o vira mais depois disso. Pegou o celular e mandou uma mensagem para ele.
Cadê você?
Estou no supermercado com a Luciana. Não viu o recado na geladeira? - Ele respondeu.
Ela levantou curiosa e foi até a geladeira, estava lá o recado com a letra de Luciana. Ela devolveu o recado e voltou à mesa, tomou o leite de uma vez e voltou para o quarto.
Quer alguma coisa em especial? - Ele perguntou. Ela pensou um pouco.
Não. Obrigada! Estou saindo pra escola. Tenham um bom dia. Beijos! - Ela respondeu.
Escovou os dentes, passou protetor solar, e olhou de cara feia para o seu reflexo, estava com olheiras, e com um aspecto cansado, e avermelhada, tomou uma dipirona, fazendo cara feia.
- "Cadê aquela mulher deslumbrante que me sorria pela manhã nas últimas semanas?" - Pensou triste. E saiu para o trabalho.
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Michael acordou mal-humorado pela segunda manhã consecutiva, e estava furioso. Há anos não se sentia assim tão vítima dos próprios sentimentos.
Sentia-se péssimo por Claudia ter ido embora daquele jeito do karaokê no sábado, ela não tinha culpa, se cada célula do seu corpo ansiava por ela. Ajoelhou aos pés da cama.
- "Senhor meu Deus, eu sou um homem livre, não sou mais escravo do pecado, pois o Senhor me libertou, e estou aqui Senhor prostrado aos seus pés, porque estou perdendo o controle, como o homem falho, e desprezível que sou, e preciso da sua ajuda; me ajude Senhor a superar esses sentimentos, e me ajude a ser honesto com meu irmão. O coração é enganador e eu não quero ser enganado pelo meu, e nem quero enganar ninguém. Me perdoe, pois estou sendo egoísta, e orgulhoso, e estou magoando a ela sem necessidade. Acalme a minha alma aflita! Seja o Senhor a estar comigo esta semana para que eu não faça nada que venha a Te envergonhar. Use-me segundo a Tua Vontade no meu local de trabalho, e por onde eu passar. Obrigado, por mais está semana que se inicia, obrigado pela vida da minha filha, pois o Senhor a tem guardado do mal. Em nome de Jesus, amém." - Orou.
Encontrou Katherine à mesa com dona Neuza, beijou o alto da cabeça da filha.
- Bom dia dona Neuza. Tudo em paz? - Perguntou sentando de frente para as duas.
- Bom dia meu filho, tudo em paz. - Respondeu sorrindo.
Ele se serviu de um copo de leite com chocolate. Observando a filha que falava animadamente sobre o fim de semana na fazenda. Ele tomou seu leite pausadamente.
- Esta na nossa hora mocinha. Vá escovar os dentes. - Disse terminando o leite.
- O senhor não comeu nada! - Disse ela perspicaz.
- Não estou com fome. - Disse levantando, a filha o acompanhou.
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Naquele dia, e nem nos dias seguintes Michael e Claudia se encontraram.
Ele não faltou a nenhum compromisso na igreja, fez jejum, e ouviu Artur falar no quanto a Claudia era maravilhosa.
Ela começou a acordar mais cedo, e ler a bíblia com a Luciana e o Marcelo, antes de Luciana preparar o café da manhã e Marcelo ir para a corrida matinal, agora sabia aonde encontrar a história de Jonas. E estava estudando o livro de João, mas continuava a sentir febre, e tomava dipirona sem dizer nada ao Marcelo, ou aos pais, todos sabiam que essas febres não eram nada.
Na quarta-feira Victória estavam na sala de Claudia, quando Artur chegou com novidades; o cunhado de Michael havia confirmado, o padrasto de Guilherme, era mesmo o pedofilo procurado e perigoso, que todos imaginavam.
- E cadê o Mike? Por que ele não está aqui? - Perguntou Victória preocupada.
- Ele está ocupado! E me mandou falar com vocês duas, o que faremos agora?
- Vamos ter que falar com a dona Benta. - Lembrou Victória. Claudia sentada à sua mesa, tinha dificuldade para respirar. O telefone de Artur vibrou.
- A Valéria. - Disse olhando a tela do celular.
- Põe no viva-voz. - Pediu Victória.
- Oi Artur! - Disse uma mulher nervosa.
- Oi, Val! Você parece nervosa. - Disse tenso.
- Eu estou nervosa! Só agora meu colega conseguiu informações, havia outro cara na interpol procurando a mesma coisa que ele, imaginei que fosse a pedido do Patrick, e se eu estive certa, então vocês já sabem o que eu sei, agora Artur, espero que o Mike e a Vick, estejam ouvindo isso, 'eu quero vocês três longe desse cara', vocês estão me entendendo? - Perguntou estressada.
- Val, o Mike não está aqui. E nós entendemos sim o que você disse, mas não podemos deixar aquele garoto sozinho! - Disse Victória pesarosa.
- Acho que vocês não entenderam, se ele descobri que vocês andaram investigando ele, todos vocês estão em perigo, principalmente a mãe e a criança. A polícia vai assumir daqui.
- A polícia nunca fez nada, o que faz você acreditar que fará alguma coisa dessa vez? - Perguntou Claudia, falando pela primeira vez, desde que Artur entrara na sala.
- E você quem é? - Perguntou Valéria confusa.
- Sou Claudia, colega de trabalho deles.
- Deus meu! Quem mais sabe dessa história Artur? - Perguntou furiosa.
- Apenas nós quatro, e você não respondeu a minha pergunta. - Respondeu Claudia no mesmo tom furioso.
- Porque dessa vez sabemos onde ele está, todas as outras vezes, a polícia chegou atrasado. É a primeira vez que a polícia tem essa vantagem. Mas vocês precisam ter cuidado.
- Tivemos cuidado até agora, e vamos continuar a ter cuidado. Não se preocupe! - Disse Artur desolado.
- Por favor! Artur tenha cuidado. Vick, não deixa eles dois fazerem bobagem, por favor! - Pediu temerosa.
- Vou ficar de olho nos dois, vai dar tudo certo Val, temos fé. - Disse Victória acalmando a outra.
- Assim espero, é o que está me mantendo de pé, não me perdoarei se acontecer alguma coisa com você Artur! - Disse emocionada.
- Não vai me acontecer nada, e já não sou mais nada seu para você se preocupar comigo. - Disse duro. - Tchau Valéria.
Artur desligou o telefone antes que ela pudesse falar alguma coisa. E os três ficaram em silêncio olhando sabe Deus pra onde.
- Preciso falar com a dona Benta. E você sabe que foi um babaca falando com ela daquele jeito. - Disse Victória saindo da sala.
- Posso te fazer uma pergunta pessoal? - Perguntou Claudia, Artur assentiu. - Qual o seu problema com a policial?
- Ela era noiva do meu irmão, e no último ano da faculdade ela engravidou de outro. - Disse ressentido. - Preciso voltar para o ginásio.
Dona Benta não está na escola, ela só estará aqui na sexta-feira. E então eu falarei com ela. - Victória mandou mensagem.
Claudia massageou a têmpora, sentia uma leve dor de cabeça, mas algo mais a estava deixando inquieta, só que ela não conseguia imaginar o que era, o que a estava deixando febril, e com aquele constante mal-estar.
Na sexta-feira Claudia chegara atrasada, e antes de entrar em sua sala, recebeu uma mensagem de Andréa dizendo para ela comparecer imediatamente na sala da dona Benta. Suspirou imaginando que Victória já teria dito à diretora sobre o padrasto de Guilherme.
Mas qual não foi sua surpresa ao encontrar não apenas os colegas na sala da diretora, como também várias outras pessoas estranhas.
- Essa é a Claudia, a coordenadora pedagógica. - Apresentou dona Benta, a ninguém em especial, em um tom de poucos amigos.
- Eu sou Valéria, nos falamos pelo telefone. Polícia Federal. - Apresentou-se apertando a mão de Claudia que apenas deu um sorriso amarelo.
- Eu sou Patrick, FBI. - Um homem sorridente com mais de dois metros de altura apertou forte a mão dela, deixando-a ainda mais nervosa.
- Eu sou Pietro, Interpol. - Disse um homem baixinho, com um bigode que o deixava muito estranho, com um sotaque carregado que ela não fazia ideia de onde poderia ser, ele não apertou a mão estendida dela, e também não sorriu.
- Ignore-o! Ele não conhece bons modos. Eu sou Ashley, Interpol. - Disse sorrindo, apertou a mão de Claudia, ao contrário do homem baixinho, ela era alta e tinha um sotaque agradável. - Essa é equipe, que trabalhará nesse caso. E ficará perto de vocês o tempo todo.
Apresentou cada uma das outras pessoas na sala, mas Claudia não ouvira mais os nomes, nem as funções ou de qual departamento eram, ela só pensava, no motivo para ela ter uma pessoa estranha perto dela, vigiando-a.
- Só um instante. - Interrompeu o baixinho em alguma coisa, e ele olhou feio pra ela resmungando, mas ela ignorou-o. - Por que seremos vigiados? O que foi que fizemos?
- Vocês não estarão sendo vigiados, vocês não fizeram nada de errado, mas se ele desconfiar que vocês sabem de alguma coisa sobre ele, vocês correm perigo. - Explicou Ashley.
- Mas se ele vir aqui trazer ou buscar a criança e ver algum desses armários atrás de nós ele pode desconfiar, pra alguém que já fugiu tanto da polícia não deve ser difícil pra ele farejar um policial. - Ponderou Claudia.
- Merda! Eu odeio admitir, mais ela tem razão. - Disse Pietro olhando pra ela surpreso, como se só agora estivesse de fato vendo-a.
- Então o que faremos? Não podemos deixá-los desamparados. - Argumentou Valéria ansiosa.
- Não creio que ele desconfie de nenhum deles, ele já enganou pessoas muito mais poderosas e importantes; na cabeça narcisista dele, todos vocês não passam de caipiras ignorantes. - Disse um senhor de cabelos brancos, que Claudia não fazia ideia de quem era.
- Eu sou o psiquiatra, o doutor Alfred, você estava bem distraída no momento das apresentações. - Disse sorrindo.
- Então o senhor acha que eles não correm perigo? - Perguntou Patrick.
- Creio que não! A não ser é claro que algum deles resolva enfrenta-lo. - Disse olhando diretamente para o Michael que manteve o olhar.
- De qualquer modo, quero o telefone dos quatro com escutas. - Disse Pietro. - E se a senhora não se importa gostaria de começar meu interrogatório agora pode ser? - Perguntou à dona Benta.
- Sim, claro! Eu preciso sair? - Perguntou constrangida.
- Não! Afinal eu creio que a senhora também quer saber o que os seus subordinados andaram escondendo da senhora. - Disse com um sorriso cruel.
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Dona Benta liberou os quatro, depois de passarem a manhã repetindo a mesma coisa para os agentes. Mas não sem antes de ela reclamar porque eles haviam escondido algo tão grave dela.
Artur saiu na frente com Claudia, e Victória esperou por Michael.
- Você está bem? - Perguntou ela preocupada.
- Não sei Vick, não estou gostando do desenrolar dessa história. - Respondeu tenso. Patrick o esperava do lado de fora da porta.
- Pensei que Artur fosse almoçar com a gente. - Comentou distraído.
- Acho que ele tem coisa melhor para fazer. - Disse Michael mal-humorado. Patrick olhou surpreso para Victória, que apenas deu de ombros.
Os três seguiram em silêncio até o estacionamento.
- Tio Pat! - Gritou Katherine, que esperava pelo pai no carro.
- Minha princesa! - Disse abrindo os braços, e a menina correu para os braços do tio.
Katherine falou sem parar até em casa. O pai pediu que ela fosse tomar banho para almoçar, e foi para o escritório com o cunhado.
- Patrick, tem como você ficar de olho na Claudia? - Perguntou abrindo a porta.
- Você ouviu o doutor, não há motivo para nos preocuparmos! - Respondeu suavemente. - Ou vocês estão nos escondendo alguma coisa? - Perguntou cauteloso.
- Ele ficou interessado nela...
- Essa não! - Exclamou Patrick interrompendo-o, abrindo o próprio notebook. - Vocês deveriam ter nos dito isso. Ele falou alguma coisa sobre os olhos dela? - Perguntou angustiado.
- Não sei exatamente! Mas sei que ele demonstrou muito interesse nela. - Disse intrigado. - Mas qual o problema com os olhos dela?
- Veja isso! - Disse virando o computador pra ele. Michael sentou ao ver as fotos, a mulher da foto apesar de loura assim como Claudia não parecia exatamente com ela, mas a cor dos olhos, eram idênticos. Cor de esmeralda.
- Quem é ela? - Perguntou em pânico.
- A mãe dele! Em todas as família por onde ele passou ele deixou uma foto dessas.
- Mas como vocês podem ter certeza de ela é a mãe dele? Eles não se parecem em nada. - Patrick mostrou outra pasta para ele, vários rostos, vários nomes, mas aparentemente o mesmo homem.
- Eu vou falar com a Valéria e a Ashley, e veremos o que nós podemos fazer.
- Não confio naquele Pietro. - Disse Michael.
- Ele é dos melhores investigadores, você só está chateado porque ele foi grosseiro com a sua Claudia.
- Ela não é minha! - Disse saindo.
- Eu acho que isso é só uma questão de tempo! - Gritou para que o outro ouvisse. Michael o ignorou. - A propósito seu pai vem pra cá a semana que vem! - Disse fazendo-o parar.
- Como assim? Pensei que não fosse para ele sair do país, por sei lá quanto tempo! - Patrick passou por ele.
- Sim, mas ele tem colaborado em todas as investigações, e a justiça autorizou uma visita ao filho, ele e a esposa.
Michael ficou parado, não via o pai há dois anos, quando ele procurou o próprio genro, e disse que queria se entregar, pelos seus crimes. Ele e a irmã, tiveram com o pai na prisão, e mesmo que os dois, fossem os primeiros a querer que o pai pagasse por seus crimes, eles não permitiriam que maltratassem o pai.
E no dia em que os filhos foram visita-lo, ele estava todo quebrado, e como o pai não disse quem fizera aquilo com ele, os filhos entraram com uma ação contra o Estado, a integridade física dele, era de responsabilidade do Estado, assim o pai ficou apenas noventa dias presos, e passou para uma prisão domiciliar, não podendo deixar nem mesmo a própria casa, imagine então o país!
No almoço não conseguira comer, preocupado com a Claudia, sem saber se falava ou não para os amigos, ou para a própria, a descoberta sobre a mãe de Giuseppe.
- Você não vai falar nada com ninguém. - Disse Patrick, como se adivinhando o que se passava pela cabeça do cunhado.
Michael apenas fungou, e continuou a mexer a comida no prato, ora pensava em Claudia, ora em Guilherme, ora no pai, sua cabeça estava a mil por hora. Depois do almoço, Patrick falou com Valéria e Ashley, e ambas concordaram em ficar de olho em Claudia.
O resto do dia foi desgastante para Michael, passara tanto tempo sendo antipático com Claudia que agora não tinha como se aproximar dela, teria que confiar nos agentes para protegê-la. Dera sua palavra que não contaria pra ninguém sobre as fotos da mãe do senhor Giuseppe, pois isso poderia criar pânico.
Naquela noite foi para o culto com Patrick e Katherine, e mais uma vez ele se derramou aos pés do Senhor pedindo proteção para Claudia, pois era o Único que ele tinha certeza que poderia protegê-la verdadeiramente.
Continua..