Deus também estava lá.

12 - Eu sararei a sua infidelidade, voluntariamente os amarei.

Claudia recebera alta pela manhã, e apesar das dores ainda incomoda-la, ela estava realmente bem; passar duas noites em um hospital era mais do que demais para ela. O difícil foi convencer os pais de que ela estava bem, e que poderia ficar em seu apartamento apenas com Marcelo e Luciana; Marcelo teve que prometer que qualquer coisa em qualquer hora ele ligaria imediatamente para os tios.

Victória tornou a ligar à noite e na manhã seguinte, e combinaram de se encontrarem quando a psicóloga saísse do trabalho à tarde. E quando ela chegou Claudia ficou feliz em ver a colega, pela primeira vez ela estava recebendo uma visita, e se alegrou por isso.

As duas ficaram horas conversando, e para surpresa de Claudia elas tinham muitas coisas em comum, as duas sonhavam com um país igualitário, ambos tinham pavor ao preconceito, gostavam dos mesmos filmes, mesmos tipos de livros; Claudia se permitiu sonhar, que talvez estivesse conquistando uma amiga.

Algum tempo depois que Victória já havia ido embora, Claudia permanecia sentada na varanda vendo o movimento lá embaixo e pensando, se Victória continuaria tão simpática com ela depois que descobrisse a podridão que havia nela, em seu coração ela desejava que sim.

- Por que toda essa tristeza? Pensei que você tivesse gostado da visita da sua colega! - Instigou Marcelo.

- E eu gostei! Só não sei se ela ainda vai gostar de mim quando me conhecer melhor. - Disse pesarosa.

- E por que ela não gostaria de você? Você é uma ótima pessoa! E, além disso, gostar de alguém não é simplesmente apertar um botão e dizer: 'eu gosto', tornar a apertar: 'não, agora eu não gosto mais'. - Disse sorrindo.

- Espero que sim. - Ela respondeu com um sorriso triste. - Marcelo eu sei que você acha mesmo que Deus cuida de mim, me ama essas coisas; mas como eu vou saber que isso é real? Eu estive pensando em Jonas, eu acho que ele só disse para jogarem ele ao mar, porque ele sabia que Deus iria ajuda-lo; afinal se Ele estava disposto a perdoar uma cidade má, por que não o perdoaria? Ele conversou com Deus do ventre do grande peixe, ele o conhecia, tinha intimidade com Ele, e eu? Me desculpa, mas eu nunca quis conhecê-lo, eu não sei o que está acontecendo comigo agora, eu acho que estou ficando louca e falando coisa com coisa.

Ela passou a mão direita na cabeça, tinha dificuldade de movimentar a esquerda por causa do ferimento. Ela estava muito confusa, alguma coisa estava mudando dentro dela, mas ela não conseguia entender o que era. Olhou de cara feia para o primo que ria.

- Me desculpa! Não estou rindo de você, estou rindo porque estou feliz por você. E não! Você não está ficando louca. E você tem razão, não se pode ter intimidade com alguém que você não conhece, por isso, você precisa conhecer a Deus para ter intimidade com Ele, e como você mesma acabou de me falar, Deus é justiça, e também amor, e Ele se importa com você, mesmo quando você ainda não o conhece, e quando vir a conhecê-lo vai continuar a se importar, Ele vai ficar triste quando você o magoar, mais vai ficar de braços abertos esperando por você e se alegrará outra vez quando você se aconchegar nos braços dEle outra vez. Você nunca vai encontrá-lo de braços cruzados, não importa o que você faça.

- Se Ele é o todo Poderoso, e Ele sabe que as pessoas continuarão pecando, por que Ele continua se importando com as pessoas? - Perguntou intrigada.

- Porque ele nos ama incondicionalmente. O pecado nos afasta dEle, e quando estamos afastados de Deus somos pessoas pela metade, somos tristes, nosso semblante se abate, e o amor se esfria, e sofremos. E Deus se importa com a nossa dor, com o nosso sofrimento e Ele sabe que longe dEle a nossa dor será ampliada.

Ela pensou em todas as dores, físicas e emocionais que ela já sentira, será mesmo que se ela cresse nesse Deus será que elas seriam apaziguadas? Será mesmo que ela seria diferente? Será que ela teria esse sorriso radiante que o primo tem, olhava-o enquanto pensava, que raramente via Marcelo triste ou zangado.