Caindo em tentação: Obsessão

By EllaGabye

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No dia em que termina com o namorado, Júlia vê sua vida transformada de ponta a cabeça após um estranho encon... More

Avisos.
1 - Manter a pose
2 - Você e o Júnior
3 - De casado e tarado
4 - Psycopatas sexy
5 - De cordeiro a loba
6 - Pela súbita surpresa
7 - A outra face
9 - Cúmplices
10 - Flechada no escuro
11 - Vestir o coração como palhaço
12 - Novo batismo
13 - O diabo vem nos buscar
PARTE 2

8 - Entre a água e o vinho

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By EllaGabye

Como livrar a cabeça de uma semana de provas finais, da desilusão com uma mansão fantástica e de uma conversa arrastada com o parceiro? Foi até simples: os pais de Luísa tinham viajado, criando a ocasião perfeita para uma vinhada sem limites. Eram só as duas naquela casa e Júlia não se lembrava de quando tinha bebido tanto. Já não sabia diferenciar o gosto de um vinho do outro, se era o seco ou era o tinto, ou... tanto faz. As bochechas estavam inchadas como maçãs, tinha uma completa falta de sensibilidade nos lábios, a visão ligeiramente retardada, mas sentia o duplo prazer, de não lembrar das mazelas e de não conseguir conter na boca as palavras, mesmo as mais duras.

– Ainda não acredito que vocês voltaram – Luísa balançou o líquido no copo, tropeçando na frase.

– Sim...

– Que merda! E eu tinha esperanças de que finalmente a gente ia poder ficar junto.

Caíram em gargalhadas. Júlia tentou se levantar e derramou um pouco de vinho no carpete. Sacudiu a mão, fazendo as gotas vermelhas pingarem no chão, sentindo seu dedo formigando onde o compromisso feito em prata o apertava.

– A gente ainda pode, gatinha! – falou, dando corda à brincadeira. – Eu voltei com ele só pra me vingar.

– Glorifica, Senhor! Você tem que se vingar daquele desgraçado! Trair, igual ele traiu!

O fio da língua cortou a diversão e o semblante de Júlia rapidamente foi de alegre para sério, e, em seguida, para algo entre triste e irritado. Fez uma pausa e pensou no que tinha conversado com Júnior no dia anterior. Concordei em voltar – disse, numa confissão mais para si que para a outra. Mas não tinha certeza, ainda – quer dizer, a gente voltou a namorar, mas por enquanto tá incerto... não quis nada muito definitivo.

– Se ganhar um anel de namoro não é "nada definitivo", eu juro que não sei o que é.

– Vai se fuder, Za!

– Nossa, Ju! É sério. Você tá com uma aliança e... – nem chegou a terminar a frase, pegou o celular e se perdeu na tela, dando o assunto como encerrado, porque a graça tinha passado. Júlia fez o mesmo, desbloqueando seu aparelho e abrindo a mensagem que tinha enviado mais cedo para Júnior. Agora, ela já tinha uma resposta: tenho certeza de que ainda te amo, e eu sei que pisei na bola. Pisou na bola não, tinha explodido o estádio e acabado com o campeonato inteiro, mas ela estava bêbada demais para entrar em outra discussão. Mesmo assim, sentiu o coração amolecido: causava saudades, era amada e desejada, mesmo depois que terminaram. 

– Chega de beber! – Luísa pontuou de repente. A outra disfarçou bem sua insatisfação com a imposição injusta; fechou o aplicativo e olhou para a colega, de taça vazia e celular na mão. Eu não quero parar, mas...

– Tá bom – concordou, pensativa. Se levantou e disse: – vou pegar uma água, Za. Você quer?

– Quero sim! Não demora não, eu tenho uma surpresa boa pra daqui a pouco.

Passou a mão na garrafa quase vazia e nos dois copos secos. Pode deixar. Não iria cessar a bebedeira, com ou sem surpresa. Júnior estava no centro de seus pensamentos, como um mosquito girando ao redor de uma lâmpada. Preciso espantar esse inseto. Pelo menos naquela primeira noite depois de reatar o namoro, queria não pensar nele, como se fosse um tipo de despedida de solteira.

Seguiu até a cozinha, levando as coisas, e colocou tudo sobre o balcão, parando diante da pia, com a mão esquerda sob os olhos. Seu dedo já estava até formigando. É cada vez mais insuportável. Tentou tirar, mas não conseguiu de primeira. Pegou o detergente e esfregou em cima do anel que estrangulava seu anelar, fez força e massageou, até que conseguiu tirá-lo, soltando-o sobre o balcão. Ele errou o número. Encheu um copo d'água, observando devagar sua paralisia. Os olhos logo foram até a garrafa, quase vazia, depois voltaram para admirar a beleza cristalina. Queria transformá-la em vinho! Mas nem sempre a gente tem tudo que quer. Deixou que apenas um pouco do líquido entrasse por sua boca. A língua já estava bem melhor do que no dia anterior. Por que não esperei o café esfriar?

– Sempre que a gente se distrai, corre o risco de se machucar – se pegou falando sozinha. – É isso que ganho por querer que fosse outra pessoa e não... o Júnior.

Quem não bebe vinho, se contenta com água? Encheu sua taça com o resto da garrafa – a bebida quase beijou a borda. Estamos juntos outra vez, mas eu preciso esquecê-lo agora. A primeira linha de sangue foi rapidamente parar na garganta dela, colocando em seu rosto uma careta. Sacudiu a cabeça, desbloqueou o celular, abriu os contatos recentes e viu: "Jacques Serac". Mais vinho! Por que não tinha apenas ido embora e esquecido tudo naquele dia? Precisava salvar o número como contato? Online pela última vez há doze minutos atrás. Prometeu para si que não pensaria mais sobre o homem invisível, sobre o fantasma que apareceu para distraí-la, apenas uma grande tentação, um diabo. Nem tinha voltado para a igreja ainda... e a distância entre eles parecia um abismo depois de retomar com Júnior. Ele não pode saber!

– Faz apenas um dia! – ensaiava consigo. – Como você quer que eu esqueça um cara tão... gostoso, misterioso, sei lá!? E daí se eu vi ele só uma vez? Ele tava tão...

– Mas nós agora somos namorados de novo, amor! – Júnior respondia, na imaginação dela, levando a uma nova golada, mais longa, na água do outro copo.

– Ele é só um plano B, seu bobo!

E entre A e B estava ela, dividida – entre um homem feito de desejos e o outro feito de carne, osso e músculos. Entre a água e o vinho. Mas era como se não pudesse beber nenhum dos dois, ou como se não pudesse ter nenhum deles para si. Como escolher? De repente, estava olhando para a foto de contato de Serac, que deixava ver apenas um dos lados do rosto, porque o outro estava coberto por um caderno, uma cruz na capa de couro, que segurava com uma das mãos. Vestia um blazer e a boca estava levemente aberta: sabe ser bem sedutor. Júlia fechou aquela foto e abriu a de seu namorado: os olhos grandes e aqueles lábios que tantas vezes ela beijou eram o destaque, o rosto à sombra do boné. A mão passeava, tentando escolher qual dos copos... Qual?

A esse tempo, sentindo a demora da amiga, Luísa logo apareceu no arco da cozinha, transendo junto de si uma rajada de espanto. Júlia tentou disfarçar sua bebedeira e sua letargia: virou rapidamente a última linha de vinho na boca. Desceu queimando pela garganta, como uma espécie de advertência, que ela teve de disfarçar.

– Meu Deus, eu não sabia que você ia buscar água na fonte – a amiga disse. Os olhos a analisaram minuciosamente, e, vendo a garrafa vazia, Luísa logo a censurou:

– Era pra gente parar de beber, Ju!

– Mas ainda tinha muito e... eu tô... sei lá... eu preciso, véi.

– Precisa nada! – Luísa exclamou. Depois, completou, como se pudesse ler os pensamentos de Júlia: – hoje é nosso dia! Você não tem que ficar pensando em homem. Manda o Júnior, o Jacques ou qualquer outro à puta que pariu.

ouvindo aquilo, acendeu uma chama no peito de Júlia.

– É... você tá certa. Eu não preciso de nada deles.

– Isso mesmo! – a amiga reforçou. – Na real, eu sei do que a gente precisa.

Luísa avançou cozinha adentro, bebeu sua água e pegou a caixa de fósforos perto do fogão. Puxou Júlia pelo braço até a sala outra vez, colocou a amiga sentadinha na cadeira, junto com o acendedor. Então, Júlia viu Luísa indo até o quarto, dizendo que ia buscar a "surpresa". O que pode ser? Quando a outra voltou, o espanto não podia ser maior.

– Onde você arrumou isso, véi? Meu Deus do céu... você tá louca? Quem te deu? Você comprou?

– Tenta adivinhar, linda! Vai ser bem fácil, na real.

Tinha pensado que seria alguma sacanagem, algum brinquedo ou coisa assim, algum filme trash que pudessem assistir juntas, mas nunca esperaria ver aquele cigarro de maconha nas mãos de sua colega.

– Vai – Luísa insistia, acendendo um dos fósforos e colocando o fumo na boca –, tenta adivinhar quem me arrumou!

– É conhecido meu?

– Sim! Com certeza, é!

Sem perceber, elas começaram aquele jogo de adivinhas. Até que Luísa desse a terceira tragada, Júlia resistiu, espantando a fumaça, tossindo, reclamando do fedor, com tentativas inúteis de dissuadir a colega. Pensou outra vez na situação toda: uma forma de esquecer. Passa para cá! E logo elas retomaram o jogo enquanto fumavam, pela primeira vez, um tímido cigarro de maconha.

– É alguém alto? – Júlia mudou a estratégia. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, a garganta queimando ainda mais do que antes. – Tipo, mais alto que a gente.

– Mesma altura – Luísa balançou a mão.

As duas desceram das cadeiras para o carpete e se apoiaram no sofá, onde continuaram fumando. O vinho envolveu a cabeça de Júlia como um véu e ela se esqueceu até que tinha um corpo, e continuaram fumando. Tudo se misturava com o sabor que inundava seu pulmão pouco a pouco, e, fumando, o cigarro acabava. Curtiam o silêncio uma da outra, deixando os pensamentos flutuarem, sem pousar em canto qualquer. De vez em quando, o jogo voltava:

– Então, não é mulher?!

– Não.

– É o Carlos? O Cris?

– Nem um, nem outro.

Devia ter parado de beber, como a amiga sugeriu, porque a bebida estava bagunçando tudo e o mundo parecia uma daquelas câmeras instantâneas, só que metade do filme estava queimado. O tempo estava em marcha ré. Talvez seja o cigarro agindo, eu não sei como isso acontece. No fundo, por baixo do álcool e da cannabis, restava uma pontada de consciência, falando como um demônio em seus ouvidos: – o que diabos você está fazendo? Usando maconha, sua retardada? Que desgraça é você, Júlia! Mas ela dava menos importância a isso do que àquela sensação de leveza, de tranquilidade, e ao jogo que tinha começado.

– É a Lud? – indagou.

– Não, né!? Se não é mulher... – Luísa devolveu. – E você imagina a Lud me dando isso?

É realmente impensável. E elas começaram a rir, apoiando a cabeça uma na outra e deixando o corpo escorregar e se estender pelo chão. As lágrimas em seus olhos eram de alegria e farra.

– É lá da faculdade?

– Não.

Fizeram uma pausa breve. Uma pena ter acabado tão rápido.

– É, a festa já é semana que vem... – Luísa deixou escapar.

– Sim... ontem, o Júnior me disse que não vai, Za.

– Mas você vai, né?! Nem que eu te arraste! – a amiga reclamou, em resposta às entrelinhas do comentário. Mais uma pausa surgiu, um pouco mais longa, e se colocou entre as duas. Retomaram seu silêncio, com as ervas queimadas incendiando bem devagar os miolos e as preocupações que Júlia tinha em relação ao namorado. A pausa mesmo só foi vencida quando recuperou o jogo de adivinhas:

– É o Betão? – a voz saiu como um espanto da boca dela, porque Roberto podia ser muita coisa, mas não daria um cigarro de maconha para ninguém. – Não acredito que o Betão te deu isso!

– Lógico que não!

– Ai... que se dane, então! – Júlia estava rindo, de raiva e de diversão. – Fodas quem te deu essa merda! Tomara que morra.

Deitada no carpete, não sentia o mundo girando ao seu redor: era ela quem girava ao redor do mundo, como uma lua que não consegue se desprender do astro principal. Sua mão segurou a da amiga, sentindo os calos ganhos durante os treinos: eram mãos confiáveis. As duas guardariam aquele segredo para sempre: ninguém podia saber, além delas. O que sua mãe pensaria se a visse ali, naquele estado? Júlia, jamais será perdoada! Perdão? Ela mesma foi capaz de perdoar aquele crime duvidoso de Júnior, mas tinha certeza de que com a mãe seria muito diferente: era algo do qual nunca, mas nunca mesmo, ela poderia ficar sabendo. Uma filha drogada? Era inadmissível.

Nesse momento, sua garganta secou e ela sentiu todas as extremidades formigarem de uma vez só, as entranhas se embolarem e o pulmão queimar. Não podia ser! Se virou devagar e olhou fundo nos olhos de Luísa, que sorria estirada no chão, em um mundo completamente alternativo ao seu. Beijou a mão que segurava, e o sorriso desapareceu do rosto da amiga. Só então perguntou em palavras quase mudas:

– Foi o Tales, Za? – e aquilo devolveu o sorriso para o rosto de Luísa, que confirmou de forma singela:

– Sim, Ju. Foi o Tales.

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ELE:supremo ELA:omega ELE:respeitado ELA:maltratada ELE:galinha Ela:Não tem ninguém 🏆🏆Vencedor dos premios watts 2021🏆🏆