8 - Entre a água e o vinho

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Como livrar a cabeça de uma semana de provas finais, da desilusão com uma mansão fantástica e de uma conversa arrastada com o parceiro? Foi até simples: os pais de Luísa tinham viajado, criando a ocasião perfeita para uma vinhada sem limites. Eram só as duas naquela casa e Júlia não se lembrava de quando tinha bebido tanto. Já não sabia diferenciar o gosto de um vinho do outro, se era o seco ou era o tinto, ou... tanto faz. As bochechas estavam inchadas como maçãs, tinha uma completa falta de sensibilidade nos lábios, a visão ligeiramente retardada, mas sentia o duplo prazer, de não lembrar das mazelas e de não conseguir conter na boca as palavras, mesmo as mais duras.

– Ainda não acredito que vocês voltaram – Luísa balançou o líquido no copo, tropeçando na frase.

– Sim...

– Que merda! E eu tinha esperanças de que finalmente a gente ia poder ficar junto.

Caíram em gargalhadas. Júlia tentou se levantar e derramou um pouco de vinho no carpete. Sacudiu a mão, fazendo as gotas vermelhas pingarem no chão, sentindo seu dedo formigando onde o compromisso feito em prata o apertava.

– A gente ainda pode, gatinha! – falou, dando corda à brincadeira. – Eu voltei com ele só pra me vingar.

– Glorifica, Senhor! Você tem que se vingar daquele desgraçado! Trair, igual ele traiu!

O fio da língua cortou a diversão e o semblante de Júlia rapidamente foi de alegre para sério, e, em seguida, para algo entre triste e irritado. Fez uma pausa e pensou no que tinha conversado com Júnior no dia anterior. Concordei em voltar – disse, numa confissão mais para si que para a outra. Mas não tinha certeza, ainda – quer dizer, a gente voltou a namorar, mas por enquanto tá incerto... não quis nada muito definitivo.

– Se ganhar um anel de namoro não é "nada definitivo", eu juro que não sei o que é.

– Vai se fuder, Za!

– Nossa, Ju! É sério. Você tá com uma aliança e... – nem chegou a terminar a frase, pegou o celular e se perdeu na tela, dando o assunto como encerrado, porque a graça tinha passado. Júlia fez o mesmo, desbloqueando seu aparelho e abrindo a mensagem que tinha enviado mais cedo para Júnior. Agora, ela já tinha uma resposta: tenho certeza de que ainda te amo, e eu sei que pisei na bola. Pisou na bola não, tinha explodido o estádio e acabado com o campeonato inteiro, mas ela estava bêbada demais para entrar em outra discussão. Mesmo assim, sentiu o coração amolecido: causava saudades, era amada e desejada, mesmo depois que terminaram. 

– Chega de beber! – Luísa pontuou de repente

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– Chega de beber! – Luísa pontuou de repente. A outra disfarçou bem sua insatisfação com a imposição injusta; fechou o aplicativo e olhou para a colega, de taça vazia e celular na mão. Eu não quero parar, mas...

– Tá bom – concordou, pensativa. Se levantou e disse: – vou pegar uma água, Za. Você quer?

– Quero sim! Não demora não, eu tenho uma surpresa boa pra daqui a pouco.

Caindo em tentação: ObsessãoWhere stories live. Discover now