4 - Psycopatas sexy

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Passara outra semana e, em lugar da monotonia, parecia que, a cada segundo, caia um grão de emoção na montanha que Júlia estava construindo a partir de Jacques Serac. Depois da conversa – ou melhor – depois de Luísa ameaçá-la com uma pesquisa sobre aquele sujeito obscuro, Júlia se lançou ela mesma na procura desenfreada por informações sobre ele. O horário do culto estava ocioso, além dos pequenos intervalos: tinha tempo. E ela o desperdiçava com indignação, tentando uma nova palavra no aplicativo de busca, porque ainda sabia pouco sobre o homem que apimentava suas fantasias e ajudava a manter distantes, simultaneamente, a monotonia e suas lembranças de Júnior.

O que tinha conseguido reunir? Viu fotos de Jacques em eventos de empreendedorismo e inovação, então, talvez ele fosse um desses jovens empresários de sucesso. Encontrou, também, uma foto em que uns adolescentes se divertiam em uma praia do México, entre eles, um Serac bem mais novo. Isso era sinal de que vinha de uma família rica. Mas, além da aliança de casamento em seu dedo, era só isso que ela tinha de indício: o suficiente para várias idas ao paraíso, onde ficava apenas consigo, com seus dedos ágeis e com a imagem que tinha de Jacques. Mas, por que tanto fogo por alguém? Era o mistério, talvez! Sim: nada do que pensou como características estava mais certo do que o traço "misterioso". Jacques não tinha nenhuma rede social, na verdade, chegou a pensar que era mentira, que o paciente usara o nome por empréstimo.

O relógio no pulso apitou: quase fim de expediente. Diante da tela do computador, sua cabeça divagava, procurando entender como alguém podia ser tão invisível. Talvez seja um desses malucos bonitões de série, ela pensou. Ficou realmente receosa com a possibilidade, mas se pegou rindo ao pensar demais nisso. Com aquele corpo e jeito singulares, Serac era a fórmula perfeita para um personagem desses, tipo de Dexter ou de You, aqueles psicopatas sexy. Sabia que não era tão boa investigadora, para pegá-lo em carne e osso, por isso, precisava usar todos os recurso, qualquer ajuda.

– Amado – cutucou o ombro de Beto, que se virou, arqueando as sobrancelhas e tirando os fones do ouvido –, será que você consegue a ficha de um paciente pra mim?

Ele virou os olhos, aborrecido.

– Ai, amada, eu odeio ir no arquivo! Ele não tá cadastrado aí no sistema não?

– Não encontrei. Olhei aqui, mas não achei nada. Acho que ele só veio uma vez e não foi nada demais, aí ficou só no registro físico.

Se Beto não conseguisse resolver, estava bem decidida a abandonar a pesquisa e Jacques Serac, para ficar apenas com aquilo que ela imaginava sobre ele. Escreveu o nome em um bilhete e passou para o secretário.

– Como que lê esse caralho de nome?

– JA-que cê-RA-que, mas não precisa falar os "es" do final.

– Nojo! Vê com a Amanda, eu não vou naquele arquivo não procurar esse esquisito não!

Júlia fez uma birra qualquer, que se somou àquela carinha de cãozinho abandonado, típica do desejo. Roberto resistiu, xingou, mas cedeu, soltando um gemido implicante e fazendo o papel desaparecer em seu bolso. Já pela tarde seguinte, começou sua pesquisa, sempre pressionado por Júlia, e, apenas dois dias depois, ela estava terminando de tirar a pressão de uma garota, quando ele deu dois tapinhas na madeira da porta, chamando sua atenção.

– Flor minha do meu coração – exclamou –, presentinho pra você, okay? Você fica me devendo! Agora, larga do meu pé com esse Jacques "sei lá o quê"!

Ele colocou a pasta no suporte da porta e se retirou, mas Júlia só pôde ver o envelope quando terminou o expediente. Pediu uns minutos para Luísa, antes que fossem se ajeitar, se trancou dentro de uma das cabines, rompeu a etiqueta e tirou da pasta a ficha com os dados de Jacques.

Caindo em tentação: ObsessãoWhere stories live. Discover now