6 - Pela súbita surpresa

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– Za, você tinha que ver – Júlia comentou, deixando vazar toda sua admiração, como se estivesse mais uma vez naquele lugar fantástico, apesar de abandonado.

– Falando assim, não ver o quarto do meio nem fez tanta diferença.

– Mas eu odeio isso! – Júlia esbravejou. – Não queria mais um mistério sobre ele...

– Simples, é só você voltar lá e arrombar a porta – Luísa impunha sua opinião mais uma vez. Logo depois, transpareceu sua vontade de conhecer a "tão incrível" casa de Jacques Serac, dizendo: – da próxima vez, você me leva!

– Não vai ter próxima vez. Você tá doida? – Júlia questionou. – A gente vai é ter uma casa assim, um dia – disse, depois, brincando e colocando a cadeira da recepção para girar com ela.

– Vamos! – a amiga confirmou, balançando a cabeça. Fez uma pausa e acrescentou, provocativa: – mas você não tá querendo... né?! Fazer medicina, lembra?! A mãe dele não é médica? Você vai precisar de dinheiro!

O comentário passou pelos ouvidos de Júlia como se fosse um mero zumbido. Lembrar de sua ida à casa de Serac ao mesmo tempo que dava aquela sensação de deslumbramento tirava dela a tranquilidade de uma tarde quieta na clínica. Era como se de repente estivesse em uma narrativa policial: estava guardando para si aquele segredo há uma semana, as chaves dele estavam muito bem escondidas em sua casa, ela tinha ido até lá apenas uma vez, mas sabia que tinha visto muito mais do que devia, ainda mais de uma pessoa que nem a conhecia. O que eu estava pensando? Se Júlia foi gravada pelas câmeras, era bem provável que viessem atrás dela: Serac, a esposa, a polícia.

Você precisaria destruir o filme.

– Acho que é perigoso – ela falou para si, quase murmurando.

Mas Luísa, que estava de fora daqueles devaneios, não sabia ao que Júlia estava se referindo.

– O quê, Ju? O quê que é perigoso?

– Voltar na casa do Jacques.

Ao ouvi-la, Luísa torceu o nariz.

– Você mesma disse – falou irritada –, capaz de o cara tá até morto!

– Ah, Za – Júlia ponderava, se lembrando do bilhete na geladeira –, não sei não... acho que ele só tá viajando mesmo.

– Às vezes você tenta falar com ele – Luísa pontuou, com seu dom de fazer parecer tudo tão fácil de se resolver. – E qual o problema de ele saber que você foi lá?! Ele não é nenhum psicopata. Ou é?!

Na verdade, Jacques Serac continuava sendo um enigma, mesmo depois de Júlia encontrar sua ficha, pesquisar sobre sua família e ir até sua casa. Quanto ousadia! Mas ele é impenetrável, o que será que ele ainda não esconde, além de tudo o que ela descobriu?!

 Quanto ousadia! Mas ele é impenetrável, o que será que ele ainda não esconde, além de tudo o que ela descobriu?!

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– Terminaram aí, minhas lindas? – Beto gritava, voltando pelo corredor com um copo de café em cada mão. Quando se aproximou, entregou um deles para cada uma das jovens enfermeiras em estágio.

– Já sim, Betão – Júlia confirmou.

– Então dá seu pulo! – ele sentenciou, enxotando ela da cadeira do computador. – Chegou um daqueles pacientes esquisitões pra avaliação. Ele é dos conhecidos seus. Às vezes é "você sabe quem" – ele disse, mexendo os dedos de forma engraçada.

Ouvindo isso, as duas se entreolharam e o coração de Júlia quase parou, antes de disparar.

– Não é possível! – Luísa exclamou, cheia de euforia.

Sim, era bastante possível: estava acontecendo. Talvez Jacques Serac tivesse descoberto pelas câmeras que Júlia tinha ido até a sua casa, reconheceu que era ela naquele dia da clínica, quando ele se masturbava, e voltou para encontrá-la.

– Ai, Deus – Beto exclamou, sem entender a euforia das colegas. – O quê que tá acontecendo agora?!

Luísa se levantou e dava sinais de que ia acompanhar a amiga.

– Não perco isso por nada!

Júlia bebeu o café de uma golada só, o que queimou feio a sua língua.

– Epa! – Beto se colocava outra vez, vendo a pressa e a careta que Júlia estava fazendo por conta do machucado na boca. – Quem chegou foi a Lady Gaga ou coisa assim, porque meu Deus do céu!... Ei, Júlia! Pega as fichas aqui!

Ela saiu apressada pelo corredor, acompanhada de Luísa, deixando o secretário falando sozinho. Não conseguia conter o sorriso, de alegria ou de aflição. Ele tinha voltado, talvez quisesse suas chaves de volta! Mas eu as deixei em casa. Seu coração misturava um mundo de sensações e ela não conseguia colocar as ideias no lugar. Talvez Serac estivesse furioso por ter sua casa invadida, ou pior, podia até estar com sua esposa!

Enquanto se aproximava, Júlia observou que a porta da sala de avaliação estava aberta. Hoje não vai acontecer o susto daquela vez. Ela avançava afoita, mas diminuía o passo enquanto a porta ia ficando mais perto, com Serac como uma realidade cada vez mais inevitável. Sentiu a mão de Luísa tocar seu ombro em simpatia. A excitação, já não se aguentava mais, quando ela cruzou o batente da porta.

Foi como se tivesse sido lançada no fundo de um lago congelado, para nunca mais sair

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Foi como se tivesse sido lançada no fundo de um lago congelado, para nunca mais sair. Primeiro, Júlia se sentiu desapontada, depois, apenas irritada, mas, finalmente, veio uma vergonha esmagadora tomar conta daquele coração. Júnior rodava as chaves do carro no dedo, apoiado na maca, olhando para ela, parada ali, feito boba. Ele estava com um traje conhecido: esse é para ocasiões especiais, Júlia lembrou. Ele deu um sorriso terno, olhando para Luísa, parada atrás de Júlia:

– Pode dar licença, Luísa? – ele disse, antes de convidar Júlia com a mão. – A gente precisa conversar, Ju. 

Caindo em tentação: ObsessãoDär berättelser lever. Upptäck nu