A Luz de Khiva

By SpotplayGaming

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Assim como muitos antes e depois dela, Khiva foi revivida pelo seu Fantasma. Agora sua missão era ajudar o pr... More

O Renascer
A Cidade
Restauração
A Escuridão Interior
A Mente Bélica
O Covil dos Demônios
A Última Matriz
A Escuridão Além
Terras Ferrugíneas
O Túmulo do Mundo
A Espada de Crota
Precipício da Convocação
Câmara da Noite
O Chamado de Uma Estranha
Os Despertos
Cooperativa Ishtar
O Arquivo
O Nexo
Sofrimento Invernal
Caminho Invernal
Olho de um Senhor do Portal
Zona de Exclusão
A Cidade Enterrada
A Espira do Jardim
Uma Maré Ascendente
Cerberus Vae III
Palácio das Areias

O Jardim Sombrio

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By SpotplayGaming

Às vezes minha curiosidade e anseios parecem corroer a minha mente. Lá do alto da Torre eu olhava para a cidade, para o Viajante, e questionava meu propósito. Fantasma, que estava sempre comigo é claro, ficava em silêncio ao meu lado. Ele sabia que esse era o meu momento de reflexão, e sabia que se eu tivesse alguma pergunta a fazer, com certeza o faria.

— Então é hoje.

— Sim — ele respondeu — Daqui a pouco na verdade.

— Sim. Acha que temos chance?

— Não acho que vamos ter uma segunda chance nisso. Se conseguirmos, podemos salvar o Viajante. Se não, os Vex tomarão nossos mundos. Aconteça o que for, se não voltarmos pra casa, não terei arrependimentos. — disse ele.

— Você é tão otimista.

— Isso é ser realista.

— Claro. Gosto assim também.

Se não voltarmos pra casa.

Então esse poderia ser o fim da minha jornada? Nosso maior desafio desde então, com tanta coisa em jogo dependendo da nossa vitória. Não seria mais fácil juntar um esquadrão imenso e ir todos juntos? Ah sim, e se der errado, todos morrerão juntos. Alguém deve ficar para lutar, sempre.

— Pronta para morrer? — Ashra surgiu atrás de mim.

— Definitivamente?... — ela olhou sem resposta — Não sei. É uma sensação estranha, e não é boa.

— Nunca é. Mas quanto mais cedo aceitar o que pode acontecer, melhor lutará, pois sua mente estará aberta apenas para o combate. — ela sentou, e olhou para o Viajante. — Será que ele nos observa? Será que ele vê o que todos fazemos e sentimos?

— Não sou a pessoa certa para responder isso. Quanto ao Viajante, não quero ofendê-lo dizendo em voz alta que questiono sua existência e objetivos, ou se valoriza aqueles que morrem pela sua causa.

— A causa não é só dele. — disse Tyler, caminhou até meu lado, mas permaneceu de pé. — Nós lutamos para não perder a única coisa que temos — seus olhos foram de encontro à Cidade, e logo em seguida aos meus — Independente do Viajante. Ele está aqui para nos dar uma chance de vencermos. Sem ele, não haveriam Guardiões, e sem Guardiões, tudo estaria perdido. — nada disso foi dito com humor. Ele já teria aceitado sua provável morte final?

— Sim, você tem razão. — ele quase fez com que eu me sentisse envergonhada comigo mesma.

— Parou pra pensar que essa luta já pode estar perdida e estamos perdendo tempo? — Ashra pelo visto estava aberta a debates — Acha que se vencermos hoje a paz reinará eternamente? E se morrermos virão outros e mais outros tentando mudar um destino inevitável. — sua voz estava cada vez mais frustrada. — Isso cansa, e sinceramente, não pedi pra ser uma Guardiã. O Viajante só gosta de juntar soldadinhos e brincar de Deus.

— Pelo o que você luta? — Tyler havia feito sua pergunta definitiva, e não obteve resposta.

— Então, vamos? — mudei de assunto, o clima estava pesando.

— Vamos. — responderam, e seguimos para o Hangar.

O Deserto permanecia o mesmo, um nada. E era triste pensar que aquele lugar poderia ser a última coisa que eu veria em vida. Eu precisava lembrar a mim mesma que tudo era por um bem maior. E claro, eu estava curiosa para conhecer o tal Jardim Sombrio.

— Ok. O Olho do Senhor do Portal ainda está carregado. Vamos para o Portal.

— Certo, pessoal, peguem seus Pardais e vamos atravessar essas areias marcianas malditas.

Atravessamos a Fortaleza Proibida e a Passagem dos Gigantes até o Vale dos Reis, onde avistamos uma frota se formando.

— Os Vex estão se reerguendo rapidamente. Vamos fazer tudo o que puderem para nos manter fora do Jardim Sombrio.

Hobgoblins, Minotauros e uma Hidra... enviaram a elite para nos deter. Nós chegamos sorrateiramente, divididos entre flancos e meio, sempre escondidos do campo de visão pelas ruínas em frente em portal. Fazíamos sinal para sincronizar os ataques. Decidimos que se todos atacassem rapidamente o mesmo inimigo, eliminaríamos todos mais rápido sem maiores danos contra nós.

Ao destruirmos todos, nos aproximamos do Portal, e esse se fez ainda mais ativo. Agora era a hora.

— Espero que funcione. — disse Fantasma.

— Entrar correndo!!! — gritou Tyler, disparando a nossa frente. Isso devia ser uma técnica contra si mesmo para que não mudasse de ideia. Confesso que por um milésimo de segundo isso passou pela minha cabeça. Eu e Ashra nos olhamos, concordamos, e fizemos o mesmo.

Um clarão tomou conta dos meus olhos, e de repente eu estava em um lugar mais escuro, úmido, gelado, com ruínas, ramos nas paredes, parecendo até uma caverna de Vênus. Um ar pesado e isolado, como se tivéssemos ido parar ali por engano.

— Onde estamos? Nada está entrando. Nada está saindo. Se este for o Jardim Sombrio, não está em nenhum mapa do espaço e do tempo. — disse Fantasma, surpreso.

— Como isso é possível? Nenhum tipo de informação? Estamos isolados?— perguntei.

— Parece que os Vex tem facilidade em fazer o impossível. — resmungou Ashra, sacou a arma de repente para um Goblin, mas quando olhamos direito, ele parecia estar... desativado?

— Estão em algum tipo de estase. — disse Fantasma.

Haviam vários deles, por todo canto, começamos a correr pelos corredores largos do local, não tínhamos tempo para perguntas, muito menos para procurar respostas. Impossível ou não, aquilo devia ser destruído. O som de um tiro ecoou pelas paredes, e outro som era de um grito esganiçado. Tyler havia atirado em um Goblin "morto". Ele olhou de rabo de olho, se recompôs e limpou a garganta.

— Essas coisas estão me dando arrepios! — disse ele, com os ombros rígidos. Ele mirava em todos eles, procurando seus olhos vermelhos. — Vai saber.

Um corredor mantinha duas filas deles, uma de cada lado. Eu sempre tinha um pé atrás para tudo, então já esperava uma emboscada.

— Gente... atenção aos olhos. — alertei, e no mesmo instante eu vi dois deles, de cabeça baixa, e uma luz fraca em suas cabeças, e mais dois atrás deles. — Passem devagar...

Nós caminhamos encarando cada um deles. Por costume eles já teriam atacado, mas isso era diferente.

— Ali! — gritou Tyler, abrindo fogo. Quatro deles acordaram e tentaram fechar passagem. Mais a frente duas Harpias se posicionaram, acompanhadas de um Minotauro.

— Granadas lá na frente, rápido! — indiquei. Temos que usar tudo o que tivermos, menos nossas habilidades especiais.

O que parecia quieto agora se tornara uma verdadeira guerra. E não estávamos nem na metade do caminho. Tyler atirava para todo lado de escopeta, e depois partiu para a pancadaria. No meio daquele furacão, não sei como não nos acertamos.

Adentramos no Jardim, que realmente era Sombrio. Não que eu esperasse flores ou algo do tipo. Mas não tive como imaginar como seria. As nuvens negras de novos Vex se aproximando tornou as coisas um pouco mais familiares. Harpias rodopiavam e corriam ao nosso redor. Outros saíam de buracos nas paredes. O som de máquinas das trevas ecoava das ruínas, anunciando seus reforços. Nós andamos lado a lado fechando caminho e lavando tudo o que havia na frente.

Ziguezagueamos pelo labirinto Vex, e por alguns trechos tudo estava quieto novamente, e ao ar ainda mais pesado. Uma inclinação do terreno subia até uma abertura das ruínas. Era uma saída? Ou essa era a legítima entrada do Jardim Sombrio?

— Está sentindo a Treva? — perguntou Fantasma.

— Sim, estamos no caminho certo então. — respondi. — Vamos logo.

Saltamos pelas escadas irregulares até o topo, e vimos algo extremamente imenso, obscuro, e lindo. O horizonte era tomado por um véu esverdeado, enquanto bem lá embaixo, as ruínas desenhavam corredores em um verdadeiro jardim, que tinha pontos laranjas concentrados em alguns cantos nos mostravam o que parecia ser as "flores". Elas cresciam das plantas que nasciam dentre as rochas. A única coisa natural e inocente que havia ali.

— Como ISSO nunca é encontrado? Parece um continente inteiro! — o Titã estava inconformado.

— Tem algo extremamente sombrio abaixo. Acho que encontramos o coração do Jardim Sombrio. — informou Fantasma.

Continuamos para o leste, pela beirada do precipício. Ainda era um caminho árduo até o coração. Reforços guardavam o perímetro, e o maior deles era um Ciclope bloqueando a entrada.

— Lança-foguetes neles, antes que atire em nós. — sugeri.

Ele ainda conseguiu atirar uma vez, e bem na minha direção. A área de explosão me machucou um pouco, mas consegui me recuperar sem muito trabalho.

Conforme entrávamos para dentro do labirinto, a vista do alto do Jardim Sombrio sumia a nossas costas. Avistamos uma Hidra diferente. Era maior obviamente mais forte.

— Os Vex aqui estão alimentando a barreira. Vamos acabar com eles. — disse Fantasma. — comece pela Hidra, é uma Mente Divisiva.

A Hidra era tão forte quanto o Ciclope, porém mais ágil, e com aquele escudo irritante que circulava ao seu redor. Isso me lembrou do Nexo.

— Vamos eliminar os lacaios...

— Nos espalhar...

— E cuidar da Hidra de todos os cantos!

Nosso esquadrão estava em perfeita sintonia, aquele momento me fez crer que éramos capazes de lutar contra qualquer coisa ou entidade que os Vex tenham. Enfim havia, esperança.

— A barreira caiu. — avisou Fantasma, prontamente.

— Ali, à esquerda. Vamos! — indiquei.

Seguimos para uma das beiradas que davam para a vasta visão do Jardim, e logo localizamos um caminho mais abaixo, e mais estreito que desceria até o nosso objetivo. As ruínas cinzas e destroçadas desenhavam uma paisagem bem característica dos Vex, como se tudo tivesse sido desenhado com réguas e esquadros, e apenas algumas plantinhas houvessem nascido aqui e ali. Era de fato algo único deles. Mais do que isso, uma fortaleza. Agora na altura do labirinto que vimos lá de cima, o perímetro se expandia novamente, e um esquadrão de Harpias chegava para nos receber.

Esse caminho ao Coração estava sendo maior do que eu imaginava. Descendo ainda mais, o silêncio se fez novamente, uma camada baixa de neblina esverdeada acompanhava o solo e ficava cada vez mais forte conforme olhávamos mais a frente. Outro pelotão nos cercou em uma espécie de câmara redonda, surgindo de suas nuvens negras. Mas ao abater todos, vimos ao norte o portal que seria nossa passagem — talvez só de ida — para o desafio final. Sem outros caminhos...

— Sem saída. O coração está logo além. — disse Fantasma. — Esse lugar é uma grande máquina. Preciso chegar mais perto daqueles conglomerados! —Eram dois deles. Um à direita, e outro à esquerda do portal.

— Fiquem juntos. — alertei — Vamos em um de cada vez.

— Pode ir na frente que te damos cobertura! — disse Ashra.

— Melhor ainda! — retrucou o Titã — Eu vou na frente te dando cobertura!

E saiu atropelando Hobgoblins até o outro lado. Na verdade, até topar com uma Hidra.

—Volte seu cabeção! — gritou a Caçadora, lá da retaguarda.

Tyler chegou a cambalear para voltar, chegando a ser atingido três vezes. Passou por mim e eu tomei a frente para atirar no inimigo, enquanto ele buscava abrigo na cobertura de Ashra.

— Se continuar assim pode ficar tranquilo que se não te matarem, eu mesma mato você! Aqui não é o Crisol! — Ashra aplicou seu sermão.

— Fica quieta e atira, "imitasov"!

Ouvindo Tyler zombar de sua aparência semelhante a da rainha, a qual ela não se orgulhava, Ashra virou a cabeça lentamente em direção, e sem dizer uma palavra o ar já se tornou ameaçador, e sem olhar atirou com seu Rifle, dando o último tiro necessário para matar a Hidra. Tyler gaguejou.

— Errr... foi mal.

— Certo! Avançando! — corri em direção ao primeiro conglomerado, que inclusive já estava sendo guardado por um Minotauro e várias Harpias. Ashra e Tyler logo chegaram para me ajudar, e eu consegui acionar Fantasma.

— Posso manipulá-los. Só preciso quebrar as suas codificações. — eu estava esperando que isso demorasse uma vida — Funcionou! Vamos no outro! — Pus-me a correr para o outro lado o quanto antes — Está funcionando! Uma Espira está se formando!

Um quebra cabeça Vex começou a ser montado no centro do lugar, bem de frente para o portal. O último conglomerado estava sendo vigiado por Goblins, o que tornou as coisas um pouco mais fáceis. Conseguimos acionar Fantasma rapidamente.

— Está tudo começando a fazer sentido. — ele comentava, analisando o sistema — Tudo bem. Vamos ver se funcionou!

O som da Espira sendo completa era de rochas se partindo, mas na verdade é como se estivesse sendo construída pela primeira vez. Era uma coisa curiosa de se ver. Se os Vex não fossem nossos inimigos, penso em quantas perguntas faria pra eles. O que Osíris, Arcano e mentor de Ikora Rey, saberia sobre eles depois de tantos estudos e dedicação a ponto de levá-lo ao exílio? Por onde será que ele anda?

— Ok! Deu certo, vamos ativar o confluxo! — apontei para a entrada do portal.

Varremos os últimos oponentes no caminho e paramos diante da fechadura do nosso destino. Quase que relutante, acionei Fantasma novamente.

— Tudo o que precisamos é de permissão para entrar, como um Senhor do Portal. — a coluna do confluxo sumiu e reapareceu como uma peça, que flutuou até a altura da Espira, se desmontou, e se conectou a ela. A paisagem se amarelou de uma forma pesada e medonha, e pudemos sentir a Treva que havia por trás daquelas portas, que se abriram revelando o que nos aguardava — O Coração do Jardim Sombrio. — um arco gigante ao longe levitava o coração negro, que pulsava e se remexia como algo nojento e repulsivo. Pude notar até mesmo Ashra congelada e pensativa, de olhos fixos naquela coisa, ou ser — Bom. É agora ou nunca. Ou nunca mesmo. — disse Fantasma.

— É agora. — corrigi. Olhei para o meu esquadrão — Estão prontos?

— Estar pronto não é uma opção. — respondeu Tyler recarregando seu Fuzil.

Esperei por mais uma resposta.

— Ashra?

Ela se mexeu lentamente como se tivesse aceitado uma possível derrota.

— Isso vai ser fácil — Tyler lhe deu um tapa no ombro e riu — Têm que ser. Vamos nessa!

Era possível ouvir o som pulsante do coração. Batia tão forte que se confundia com os nossos. Três grandes estátuas o reverenciavam de seus postos, e mais abaixo, formando um meio círculo, estavam vários Goblins ajoelhados em "oração". Um a um, eles saíram do transe e se viraram pra nós.

— Então... — disse Fantasma — Acha que pode matar um deus?

— Acho que não tenho escolha — respondi. E voltando ao meu esquadrão — procurem cobertura, e sejam cautelosos.

— Ouviu né, Tyler?

— O quê? — perguntou ele, rindo — Tô brincando...

— Vamos aniquilar todos esses que já conhecemos e ganhar terreno. Depois vemos o que acontece.

O plano seguiu perfeitamente, pois lidar com Goblins e Hobgoblins já estava em nossa rotina. Mas quando tudo acalmou e o silêncio reinou, o Coração pulsou. Uma energia da Treva saiu dele para uma das estátuas.

— Algo está acontecendo! Essas estátuas gigantes estão tomando vida! — relatou Fantasma. E assim rachaduras luminosas percorreram o corpo dela e em uma leve explosão de energia, ela estava viva, e andando em nossa direção como um Minotauro enorme novo em folha. — A Mente do Fim dos Tempos...

— Não tinha nome melhor pra colocar não? — retrucou Tyler.

Como isso não era esperado, acabamos por nos dispersar de repente para procurar cobertura. Seu olho era amarelo, a névoa da Treva dançava sobre sua cabeça e poucos passos ágeis de suas longas pernas o deixavam cara a cara com um de nós. E como se não bastasse, haviam Harpias como reforços.

— Pessoal! — gritei, sem saber onde estavam. — As Harpias primeiro!

A Mente reagia num piscar de olhos, atirando em qualquer um que surgisse em seu campo de visão. Mas mesmo com tanto poder, ainda havia um ponto fraco. Assim como os Minotauros, ela tinha um ponto central com aquele líquido branco estranho. E quanto maior o Vex, maior o ponto. Sempre que podíamos, concentrávamos nossas forças ali. E assim ele foi o primeiro a cair.

— O Coração está morrendo! Vamos continuar lutando! — Como próxima tentativa, o Coração ativou a segunda estátua. — Mente Iminente.

— Iminente vai ser a morte dela! — zombava Tyler, sacando sua pesada e descarregando tudo o que tinha.

Eram muitos inimigos, e os maiores eram bem mais fortes. Nossas munições começavam a se esgotar como água jorrando de uma fonte.

— Sem sniper! — avisou Ashra.

— Sem pesada! — continuou Tyler.

— Sem fuzil... — respondi.

A morte da Mente realmente foi iminente, mas teríamos que agir com muita clareza para que a próxima não fosse a nossa, pois havia uma última estátua. Seria ela ou a gente.

— A Progência Solana... Mente Primordial! — disse Fantasma, preocupado.

— Espero que isso não signifique nada. — comentei, enquanto assistia a estátua acordar — Preparem-se. Vamos tentar não desperdiçar munição.

Eles acenaram, e o combate começou. A névoa negra se fez e os reforços chegaram. Essa seria nossa prova final. Corremos dentre as ruínas estapeando os Goblins, jogando granadas nos pés dos Minotauros e gastando as últimas balas que tínhamos. Faziamos combinações cruzadas para distribuir os tiros e sempre nos mantínhamos perto. Até que todo esse fogo acabou.

— Não tenho mais nada. — disse Ashra.

— Acabou pra mim também — dizia Tyler, bufando — E agora?

Minhas armas também não tinham mais utilidade. Mas havia algo mais, e estava dentro de mim.

— Temos a nossa Luz. A hora é agora!

— Dividir para conquistar? — perguntou o Titã.

— Dividir para conquistar. — respondeu a Caçadora

Os dois se dividiram para os flancos e eu fiquei no meio. Escondidos, aguardaram o meu sinal. Eu respirei fundo. Agora, ou nunca.

— AGORA!

Um a um, saímos de trás dos pilares no maior salto que poderíamos dar. Ashra se apoderou de sua Arma Dourada e a descarregou, Tyler chamou seu Punho e caiu sobre seus pés. E eu invoquei o vácuo e lancei sobre o maldito Vex uma enorme Bomba Nova.

A estátua se desintegrou, e agora o Coração se contorcia cada vez mais rápido, até se autodestruir, causando uma grande explosão. De repente o clima frio e azul do Jardim voltara, junto com uma sensação de leveza.

— Conseguimos? — perguntou Tyler.

— Conseguimos! — eu me senti tirando um grande peso das costas.

— Acabei de pegar um sinal. Estamos de volta em Marte. — relatou Fantasma, aliviado — Estou recebendo comunicações de todo o sistema. São outros Fantasmas. Um manto da Treva foi erguido. Luz retornou ao Viajante. O Porta Voz está nos chamando de volta.

— Hora do discurso. — comentou Ashra em um tom... feliz.

Na volta para casa, descansávamos em nossas naves. Tyler tagarela no comunicador sobre os melhores e piores momentos, como uma criança movida a uma bateria que nunca acabava. Parecia que tudo havia voltado ao normal. E eu nem sabia exatamente que normal era esse. Era como se pela primeira vez, a paz realmente tivesse presente.

Na Praça da Torre, uma legião de Guardiões estava reunida, voltada para a parte mais alta, que ficava sobre as escadas que desciam para a sala dos mentores. Lá estava o Porta-Voz. Pude ver também Cayde, Zavala e Ikora, lado a lado a frente de todos os Guardiões. O entardecer era calmo e inspirador. Era de fato um grande momento.

— Por séculos, tememos que as forças da Treva se reunissem contra nós. Procuramos nos esconder e acovardar sob um deus quebrado. Agora, chega. Estes Guardiões nos mostram quem somos, o que sempre fomos, e o que seremos novamente. — o silêncio permanecia em seu respeito — Somos o que resta da Luz... — Tyler e Ashra estavam por aí no meio da multidão. Eu, depois de tanto tumulto, me afastei um pouco. Fantasma me disse então que a Exo Estranha me esperava no Hangar. — ... E não seremos pisoteados. — Ainda se podia ouvir sua voz mesmo de longe. Agora eu avistava a Estranha na beirada, onde as naves decolam, com uma das mãos em seu fuzil apoiado no chão, parada a observar o Viajante.

— É um dia para belos discursos e medalhas... — disse ela, ainda com o olhar no horizonte —... mas sabemos que a luta de verdade está lá fora.

Eu também olhava para o Viajante, e imaginava o que quer que "lá fora" significava. Os Vex sofreram uma derrota, mas não estão extintos, assim como Decaídos e Cabais também possuem seus líderes.

— Pegue isto. — ela estendeu as mãos com o Fuzil era para mim. Sem questionar, eu o peguei. Era amarelo com detalhes em azul. Sem Tempo Para Explicar era o seu nome — Tem muito mais, Guardiã. Vi coisas terríveis nascidas da Treva. E aproximam-se cada vez mais. — e de volta a encarar o limbo — Todos os fins são começos. A nossa luta ainda não acabou. — e sem mais, e nem menos, ela caminhou em direção ao precipício e desapareceu, como um Fantasma.

— Pelo menos temos mais uma vitória no placar. — disse Fantasma, procurando se animar.

— Sim, pelo menos.

Quando tudo acalmou lá na Praça, encontrei Tyler e Ashra novamente, e andamos por toda parte ouvindo agradecimentos e recebendo recompensas. Desde tonalizadores até mesmo outras armas e armaduras. Tiramos algumas horas para uma pequena "manutenção" e logo estávamos renovados. Até que...

— Khiva. — Fantasma me chamava. E parecia ser sério. — Zavala chama por vocês. É meio que... urgente.

— Urgente? — reclamou Tyler — Mas já? Eu não tive tempo de brincar com minhas armas novas no Crisol!

— Para de choramingar — rebateu Ashra — Já era de se esperar que não íamos ter sossego tão cedo. Estamos logo atrás de você, Khiva.

Zavala mantinha seu semblante tenso, suas mãos fechadas em punho sobre a mesa. Cayde caminhava de um lado pra o outro e Ikora com sua mesma postura, mas aparentemente infeliz.

— Sinto muito trazê-los aqui tão cedo.

— Tudo bem, chefia. — disse Tyler — A gente entende.

Ashra bufou.

— Lembram de Ishtar? — ele não esperou resposta — Recuperamos alguns dados com informações sobre a Câmara de Cristal. Devem ter ouvido falar — engoli em seco — Com os Vex enfraquecidos sem seu Coração no Jardim Sombrio, essa é a melhor hora para atacar antes que se fortaleçam novamente. — não era muito empolgante, mas eu tinha que concordar com a estratégia.

— E como faremos isso? — perguntou Ashra.

— Já preparamos tudo. — respondeu Ikora — Vocês irão em seis.

Porque eu não estou gostando disso?

— Quem são? — Ashra estava ficando hostil.

— Estou selecionando o restante da equipe. Peço que se preparem e aguardem as próximas instruções. Será em breve. — Zavala encerrou e se retirou.

Questionei Ikora.

— Senhora...

— Vocês enfrentaram um deus, e ele foi derrotado. — ela deu uma piscada não muito otimista. — Confie nos seus instintos e no seu esquadrão. Mesmo naqueles que não conhece muito bem. Vocês todos terão o mesmo objetivo. Faça isso, e tudo ficará bem.

— Assim espero. — confirmei.

A paz fora embora novamente, dando lugar a tensão e anseios. Deixamos a sala, carregando o denso silêncio em nossos ombros.

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