Amor Maluco

alicejfsilva

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Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... Еще

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 121

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alicejfsilva

Meus amores, o Wattpad estava bugado e cortou metade do capítulo para vocês, estão vejam como está agora e me digam aonde parou.

Eu nunca mais vou beber na minha vida, sério. Puta que pariu.

Mesmo a mais fraca claridade parece fazer minha cabeça latejar e olha que eu nem me levantei ainda. Estou quase em estado vegetativo morrendo de ressaca em cima do sofá, porque nem no meu quarto eu consegui chegar. Apenas sei que apaguei aqui mesmo, nem lembro de ter visto às garotas irem embora.

Arrasto meu corpo até o banheiro mais próximo, usando às paredes de apoio para ajudar no trabalho das minhas pernas enfraquecidas.

Escovo meus dentes depressa, em seguida tento dar um jeito no meu cabelo desgrenhado com água e um coque firme. Pelo menos não estava usando maquiagem, o que me polpa de perder longos minutos tirando todos os borrados.

Busco por muita água e algum analgésico para dor de cabeça, sabendo que vou passar grande parte do dia com esse mal estar desgraçado. Sabia que devia ter me controlado mais. Ainda bem que não tenho compromissos hoje, eu acho, além de uma reunião com o Roger. Já se passa das onze horas, daqui a pouco Mike deve me ligar. Tenho quase certeza que conversei com ele por mensagem, mas não lembro com clareza nada que falei.

Estou faminta também, mas acima de tudo preciso muito de um banho; estou grudenta e suada. Acho que dá tempo, Mike me liga apenas depois do meio-dia antes de ir ficar com dona Lourdes no quarto. Inclusive, ontem eu comprei o presentinho que prometi para ela, acho que vai adorar. Me senti realmente péssima por ter vindo sem falar com Lourdes antes, estava tão acostumada em simplesmente viajar sem falar com ninguém que acabei esquecendo. Por sorte, não vou demorar tanto aqui e logo estarei de volta para me desculpar pessoalmente e dar uma força para o Mike quando ele for lhe contar que é seu neto.

- Cara, é disso que eu tava precisando... - murmuro após ter ficado esperando a banheira encher e finalmente ter entrado na água quente. Com todo o frio que está fazendo poderia passar horas aqui no quentinho.

Relaxo minha cabeça apoiada na borda da banheira, cobrindo meu corpo com a espuma de banho. Ok, eu senti falta da minha cobertura. Quero tanto trazer Mike para cá durante suas férias, ele vai amar. Eu vou amar estar com ele. Só tenho certo receio do risco que vamos correr ao ficarmos morando juntos, sozinhos, por quase um mês. O que será que ele está fazendo agora? Preciso me apressar antes que receba sua ligação e não escute. A propósito, preciso encontrar meu celular no meio da bagunça que fizemos ontem.

Deixo a banheira com certo desgosto, mas não posso passar mais tempo do que já gastei ali. Daqui a pouco tenho reunião com o Roger e aquele cara não suporta atrasos.

Penteio meus cabelos depressa, jogando-os para um lado. Não passo muita maquiagem, apenas o básico para disfarçar minha noitada e o suficiente para não parecer acabada, tratando de colorir meus lábios pálidos pelo frio com um batom escuro. Pareço até ótima, nem parece que estou com uma puta ressaca.

Visto uma calça jeans preta e uma camiseta de mangas gola alta da mesma cor que a peça inferior, equilibrando a escuridão das cores com um casaco sobretudo cor de vinho. Enrolo uma echarpe de seda preta no pescoço e finalizo com uma botinha de couro, cano curto e salto baixo. Acho que estou pronta e agasalhada o suficiente para sair de casa. Agora só preciso correr para comer algo e ainda falar com o Mike.

A refeição mais rápida e prática que encontro é cereal, meus armários estão praticamente vazios. Esquento o leite e derramo por cima, dentro da tigela. Preciso do meu celular agora, inclusive, o problema é achar ele agora. Segurando à tigela com uma mão, deixo a colher na boca enquanto me dirijo de volta para a sala. Afasto inúmeras almofadas, cobertas, copos, embalagens de comida e garrafas de bebida. Preciso dar um jeito nisso se quiser encontrar algo. Esqueço meu cereal na mesa de centro e começo a recolher tudo que vai para o lixo, partindo para organizar às almofadas e cobertas.

- Cacete, finalmente... - penso alto ao encontrar meu smartphone largado embaixo de um conjunto de cobertores.

Por sorte está carregado, o que é bem incomum, mas não é isso que faz meu coração acelerar e meu corpo entrar em estado de alerta. Existem muitas ligações perdidas dos meus amigos e até dos meus pais, mas, principalmente, muitas ligações do Mike em um horário atípico, por volta de quatro horas da manhã.

A primeira coisa que me ocorre é checar as mensagens que recebi. Johnny, Melanie, Alex, Carlos, Peter, mamãe e papai, dona Haydee, Travis, Maya e Mike. Porra, que merda aconteceu?

Com os dedos trêmulos, acabo apertando na conversa errada e me atrapalho mais ainda ao receber outra mensagem na mesma hora, é apenas uma das garotas do time. Não tenho tempo pra isso agora.

Deslizo novamente meu dedo pela tela, encontrando a conversa com Mike de novo. Minhas pálpebras tremem conforme vou descendo pelas suas mensagens, recebi elas durante a madrugada até de manhã, além das inúmeras ligações. Meu dedo congela antes de tocar para descer mais no segundo em que meus olhos captam seu texto.

- O que...?

Levo uma das minhas mãos à boca, sem saber como reagir. Forço meus olhos focarem novamente na mensagem, dessa vez lendo todas.

Mike
Malu?

Atende, por favor

Malu.
Cacete, atende.

Eu preciso de você agora.

Me liga assim que ver isso, ok?

Malu?

Ela se foi, Malu. E eu não lhe disse a verdade, não pude... Agora é tarde. Dona Lourdes faleceu sem saber quem eu era de verdade por causa da minha estupidez.

Preciso de alguns segundos para digerir a informação. Agarrando meus cabelos ao sentir à perda em meu coração. Não tive muito tempo com ela, mas o suficiente para me apegar e me apaixonar pela pessoa que era Lourdes. Me custa acreditar. Estávamos conversando ontem, fazendo planos para o meu retorno e simplesmente...?

Sem saber muito bem o que estou fazendo, ligo para o Mike automaticamente. Meu desespero começa surgir quando ele não atende, nem recebe às chamadas. Minhas mãos tremem tanto que o celular escapa delas e caí no sofá, quase caindo no chão. Não estou conseguindo controlar meu corpo direito e, depois de tanto tempo, sinto a familiar sensação de sufocamento que costuma anteceder uma crise de ansiedade.

Meus joelhos fraquejam, me fazendo oscilar e cair sobre eles. Afundo minhas mãos contra o lado esquerdo do meu peito, buscando ritmar minha respiração. O essencial oxigênio parece não estar entrando em meus pulmões.

Coloco minhas mãos no chão, me impedindo de cair por completo. Porra, Malu, agora não, agora não. Por favor. Não acredito que estou passando por isso sozinha novamente. Agarro minhas vestes com uma única mão puxando no lado que abriga meu coração descompensado.

Mike.

Ele disse que precisava de mim e eu não estava presente. Mike insistiu e mesmo assim eu não apareci quando mais precisou. Meu Deus, como ele não deve estar agora? Ele precisa de mim, precisa de mim, precisa de mim, porra. Eu tenho que ser forte por ele agora, preciso me reerguer e correr de volta para Hills.

Agarro a parte da frente da minha camiseta, fechando o punho na região do coração, como se assim eu pudesse suprir a dor que estou sentindo.

Apalpo o sofá em busca do meu celular, fazendo muito esforço para conseguir ligar para o Roger. Ele não demora para atender, nem espero por sua resposta:

- Roger... - tento disfarçar minha respiração ofegante e o pavor em meu tom de voz, acho que não consigo. - Cancela... cancela tudo o que eu tinha para hoje e amanhã. Cacete... estou voltando para Hills, preciso que fale com o piloto urgentemente e o mande para o aeroporto agora. E um uber no meu endereço... o mais rápido possível.

Pela primeira vez, em todos esses que ano que ele trabalha comigo, Roger não questiona.

- Ok, vou ligar imediatamente.

- O-obrigada.

- Malu, tá tudo bem?

- Vai ficar.

Desligo quando perco minha voz para um soluço, me sufocando ainda mais com o choro bloqueando mais minha garganta. Coloco minhas mãos no sofá e empurro meu corpo para cima com muito custo, lutando contra minha fraqueza. Sinto a visão oscilar pela falta de oxigênio, só preciso colocar na minha cabeça que é psicológico. Fui pega de surpresa, merda.

Me sento brevemente no sofá, buscando controlar minha respiração e os tremores pelo corpo, preciso superar isso e correr para Hills. Esfrego às têmporas que latejam quando me esforço para ficar de pé sobre minhas pernas. Eu consigo.

Mike deve estar arrasado, não acredito que não estive presente quando tanto precisou de mim. Não posso vacilar outra vez com ele. Estou indo para Hills de novo.

Ando o mais rápido possível para fora do aeroporto, o rosto coberto pelo echarpe e óculos escuro, uma tentativa de esconder quem sou e evitar que os fãs me prendam aqui por horas.

Estico meu braço para o primeiro táxi que encontro, suspirando de alívio ao conseguir entrar no carro. Passo o endereço da casa dos meus pais para ele, ignorando seu olhar questionador para meu estilo pouco comum, devo parecer uma maluca.

Às ruas de Hills nunca pareceram mais lentas e longas, parece que quando estamos com pressa tudo está contra nós. O taxista parece quase aborrecido com minha insistência por velocidade, não consigo evitar meu inquietude.

- Obrigada - digo quando ele finalmente para diante da residência Willians. Entrego para ele algumas notas aleatórias, sem conferir o valor.

Salto para fora do carro, meus olhos se voltam para a casa dos Collins e não vejo o carro de Mike daqui. Preciso saber aonde ele está.

Meus pais devem saber de alguma coisa, mas não estão em casa nesse horário. Nem mesmo o Peter saiu da escola ainda.

Não me resta muita escolha, acho que vou precisar ir até o hospital. Se eu não encontrar o Mike lá, sei que sua mãe ou doutor Carter estarão lá.

Puxo a capa do meu carro, sabendo que senti falta dele comigo lá em Manchester. Dá próxima vez ele vai comigo, já que eu não volto mais para cá.

No momento em que tiro ele da garagem, pelo canto dos olhos eu consigo ver duas pessoas saindo da casa ao lado. Com curiosidade, quase choro de alívio ao ver Haydee e Carter.

- Ei, dona Haydee! - digo em voz alta, sem sair do carro.

- Malu?! O que faz aqui?

- Fiquei sabendo sobre dona Lourdes e vim o mais rápido que pude. Sabe me dizer aonde posso encontrar o Mike?

- Bem, nós estamos indo para lá agora. Ele está no velório da vó, em Boltson na residência dos Stewart. - Minhas mãos escorregam do volante, piorando meu nervosismo.

Mike na casa dos Stewart? Cacete, sozinho? Espero que ele tenha ligado para o meu irmão ir com ele, seu melhor amigo.

- Vocês estão indo para lá? - Olho de relance para o carro do Carter.

- Sim.

- Tá legal, vou seguir vocês.

Batuco meus dedos impacientemente contra o volante branco do carro, mordiscando meu lábio ao observar os dois parecerem extremamente calmos. Acho que estou muito ansiosa, os remédios que tomei parabéns controlar evitam crises, mas não a ansiedade em si.

Coloco meu carro na rua antes de Carter, parando para pensar um segundo no quanto ele está sendo bondoso em acompanhar dona Haydee. Ele está indo para a casa do ex-companheiro e pai do filho de sua atual namorada, onde não conhece os familiares. Apesar que tenho quase certeza de que ele conhecia Lourdes, parece que não havia um funcionário naquele hospital que não conhecia a figura de pessoa que essa senhora era.

Estive tão nervosa nas últimas horas que nem parei para absorver de verdade a notícia de seu falecimento. Estávamos fazendo planos através do telefone e de repente ela não está mais aqui. E pensar que ela queria ver o meu casamento com Mike, coisa que nem sabemos se vai acontecer ainda. Se acontecer, vai ser um momento delicado no qual ambos iremos recordar dela com pesar. Não tive muito tempo com a senhora, mas foi o suficiente para eu já ter noção de que ela não gostaria de toda essa tristeza, ainda mais sendo a responsável. Travis e Mike devem estar arrasados. Dois dos meus amigos mais próximos perderam a avó, isso é duplamente deprimente.

Algumas lágrimas embaçam minha visão com a memória de dona Lourdes, me obrigando a diminuir a velocidade do carro para secá-las e seguir dirigindo normalmente. É incrível como perder alguém afeta todo mundo de uma forma geral, mesmo que não tenha convivido com a pessoa; acho que ver entes queridos tão tristes nos abala.

Pegamos à estrada que liga uma cidade a outra, finalmente. Gosto de dirigir em trechos assim, com poucos carros, poucas curvas e rodeada pelo verde da floresta, se estivesse em outro momento eu estaria no clima para colocar uma música adequada.

"Bem-vindo a Boltson" a placa na lateral da estrada nos recepciona, me trazendo uma sensação esquisita na boca do estômago. Foi aqui que descobri sobre Sthefanny e Johnny, onde conheci Travis e gravei um dos meus vídeos de maior sucesso - como dançarina - junto com Mike, há muitos anos atrás. Naquela época nós ainda nem namorávamos, eu não queria aceitar meus sentimentos em relação ao meu melhor amigo pela segunda vez.

O tempo é uma loucura. Aquela antiga Malu jamais imaginaria que chegaria aonde cheguei. Me pergunto se ela teria orgulho, sinto saudades de quem fui, da paz de espírito que tinha.

Meu lado curioso surge quando adentramos em um bairro nobre de Boltson, nunca passei por aqui antes. As residências são todas bonitas e luxuosas, certamente é a melhor localização da cidade. É um condomínio abarrotado de mansões, muito parecido com o que meus avós residem no Brasil.

O carro prata do Carter vai diminuindo a velocidade aos poucos, até estacionar em uma rua com outros automóveis no meio-fio. Encontro uma vaga para mim, estacionando com facilidade entre duas caminhonetes. Ao sair, consigo localizar o rover de Mike mais para a frente, quase isolado dos outros.

Me afasto ao ativar o alarme do meu carro, que apesar de estar rodeado de outros automóveis de luxo, parece se destacar pelo seu estilo esportivo.

Passo minhas mãos pelo meu sobretudo de grife, querendo que pelo menos hoje eu não fosse Malu Bullworty, estrela do futebol.

- Vamos, querida? - Haydee chama, apenas agora consigo reparar no seu rosto abatido.

- Depois de vocês. - Estendo meu braço para eles irem na frente.

Fico atrás do casal alguns passos, analisando a mansão Stewart. E pensar que Mike poderia ter crescido aqui, suspeito que a casa bonita seja apenas uma fachada para esconder toda a podridão dessa família.

O segurança parado no portão principal me avalia por cima da cabeça de Haydee, talvez me reconhecendo e se perguntando o que alguém como eu faz aqui.

- Haydee Collins e meu acompanhante, o senhor Carter - ela diz.

- E a mocinha? - Passa seus olhos pelo tablet em sua mão, marcando o nome dos dois.

- Malu Bullworty, não estou na lista, mas estou acompanhando os dois.

Ele espreme seus olhos em minha direção, desconfiado. Suspeito que quando ele pega o celular em seu bolso, seja para confirmar com algum outra funcionário que está lá dentro.

- Conhecia dona Lourdes e sou uma grande amiga de Travis Stewart.

- Pode entrar e peço desculpas pelo incoveniente. - Devolve o celular ao bolso, liberando nossa entrada.

Ultrapasso Haydee e Carter, deixando que meu nervosismo volte à superfície. Só consigo pensar em Mike.

Poucas pessoas estão aqui no jardim e todas elas se voltam em minha direção conforme passo perto delas, mas ignoro a atenção, não estou em um evento de famosos. É um velório e quem tiver o mínimo de senso sabe que não é adequado pedir fotos ou autógrafos, é um momento de respeito e luto.

Meus pés congelam no chão no segundo em que os meus saltos tocam no piso de mármore, atravessando à porta. Passo meus olhos pelo ambiente lotado, me tornando o centro das atenções aos poucos. Fico irritada com os sussurros e olhares indiscretos, até parece que nunca viram gente. Mas qualquer resquício de irritação some assim que meus olhos focalizam no caixão aberto de Lourdes, uma tristeza profunda perfura meu coração. É mesmo real.

Ela se foi.

Mike volta para os meus pensamentos imediatamente, me fazendo caçá-lo com os olhos por toda essa multidão. Que família grande, cacete. É nítido que a maioria das pessoas presentes são Stewart.

Antes mesmo dos meus olhos focarem nele, meus pés começaram a se mover na direção de um Mike surpreso e incrédulo, não parecendo crer que realmente estou aqui. Imagino o quão ruim não foi para ele já estar no velório de uma pessoa que amava, como também rodeado dessas pessoas que devem ter torcido o nariz para ele durante a tarde toda. O que não devem ter pensado e falado sobre sua presença? Sinto ódio apenas ao imaginar.

Por isso, sinto o maior prazer ao ignorar todos eles enquanto abro espaço de cabeça erguida. Alguns devem se corroer por dentro com a ideia de alguém mais poderosa do que eles esteja por perto, é tudo o que lhes importa. E melhor ainda: nunca precisei pisar em ninguém para conquistar o que tenho.

É instantâneo, qualquer pensamento evapora da minha cabeça quando estou a pouquíssimos passos de Mike, que parece estar começando a acreditar que realmente estou diante dele.

Sem me importar com a possibilidade de alguém estar filmando, eu me acomodo em seus braços com intensidade. Rodeando seu pescoço com meus braços e escondendo meu rosto em seu ombro. Em reflexo, ele me envolve pela cintura imediatamente e se inclina até sua face se perder entre meus cabelos, inalando o cheiro dos meus fios dourados.

- Me perdoa, me perdoa, me perdoa... - murmuro repetidas vezes contra a pele do seu pescoço, suportando segurar às lágrimas ao máximo.

- Me diz que isso é mesmo real - murmura de volta, entre meus cabelos. - Você está mesmo aqui?

- Sim, sim... Eu sinto tanto, Mike, tanto.

Ele apenas me aperta mais em seus braços, parecendo pouco preocupado com a nossa cena sendo assistida pelos seus familiares pouco queridos.

- Me perdoa? - Nos afasto um pouco para poder olhar em seus olhos.

- Pelo o quê?

- Por não ter aparecido ou atendido suas ligações quando precisou.

- Não precisa se desculpar por isso, Ma, sua vida não tem que girar ao meu redor. Você está aqui agora, isso que vale.

Analiso seu rosto, como se buscasse algum ferimento, mas na verdade estou buscando resquícios do quão mal ele está. Além das olheiras, sua expressão abatida e os olhos sem vida entregam tudo. Acho que a única vez que o vi tão mal foi quando pensou que eu o havia enganado com o Travis.

- Eu sei, só que... detesto te ver assim.

Mike apenas coloca sua mão na parte de trás da minha cabeça e me puxa para perto novamente, colocando meu rosto contra seu peitoral enquanto beija meus cabelos. Aperto meus olhos com força, me dando a chance de apreciar o calor e conforto que seus braços me trazem, é tudo o que eu preciso para passar por qualquer crise.

- Tá todo mundo olhando - cochicho, esperando fazê-lo sorrir um pouco.

- Claro, não é todo dia que eles encontram alguém mais foda e rico do que eles. Uma super estrela mundialmente conhecida.

- Ah, cala a boca. Você também não é nenhum desconhecido por aqui.

- Infelizmente. Então deixe que falem, eu preciso de você agora e não estou disposto a te soltar enquanto estiver aqui.

Em resposta eu aperta mais os meus braços ao seu redor, engolindo o bolo que se forma em minha garganta. Por um mísero segundo eu havia esquecido da realidade e onde estamos.

Deito meu queixo sobre seu ombro, conseguindo ver o caixão dela daqui. Deste ângulo eu consigo ver seu rosto sereno e pálido, não aguentando olhar por muito tempo eu fecho minhas pálpebras.

- Não esperava te ver aqui. Não estou surpreso, sei que você é capaz de tudo pelas pessoas que ama. - Me afasto de Mike para dar atenção ao Travis, reconhecendo sua voz.

- Ah, Trav, eu sinto muito. - Abraço ele também, afagando suas costas.

- Obrigado, garota.

Sorrio para Maya por cima do ombro do seu namorado, me afastando dele para abraçar ela também que parece ter chorado por horas.

Observo os dois se afastarem enquanto me abrigo debaixo do braço de Mike, o envolvendo pelas costas. Odeio essa atmosfera.

Puxo ele até a parede atrás de nós, aliviada por ter menos olhares nos observando. Apoiada contra seu peitoral, olho ao redor, finalmente prestando alguma atenção no ambiente.

O caixão de dona Lourdes está bem no centro, logo abaixo de um lustre moderno e esquisito. Seus três filhos estão em pontas opostas, o único que está sozinho é Mason. Ele está olhando fixamente para mim, mas tenho a leve impressão de que está apenas mirando um ponto aleatório perdido em seus pensamentos. Não gosto dele, mas hoje não é o melhor dia para ficar o julgando. O cara acabou de perder a mãe, simplesmente não consigo formular nada ruim contra ele agora.

Shane é claramente o mais abatido dos três, nunca tive nada contra ele desde que o conheci no galpão, mas é sempre bom ter um pé atrás quando se trata dessa gente. Meredith está falando com seu filho agora, Travis, parecendo extremamente acabada.

Haydee e Carter parecem estar se aproximando de Mason, o que me surpreende um pouco.

Não tem muita coisa para se observar nesse mar de trajes negros, o que apenas piora com todo o clima mórbido.

Finalizando minha inspeção, avisto Tommy Forbes sentado em um sofá quase escondido, está bebendo alguma coisa com os olhos desfocados. Mesmo ele parece claramente abalado, acho que é impossível não ficar assim com a perda de uma pessoa tão maravilhosa quanto Lourdes. Nem consigo lembrar que não o suporto.

- Eu não consegui me aproximar - Mike diz de repente, rompendo o silêncio.

Ergo à cabeça para encarar ele, que mantém um olhar taciturno no rosto voltado para o caixão.

- Podemos tentar, se quiser. Não tem ninguém ao redor, parece um bom momento.

Mike parece refletir um pouco, levando alguns segundos para assentir e avançar naquela direção, segurando à minha mão como se fosse sua estrutura.

Seguro seu braço com a outra mão no segundo em que paramos diante dela, tão serena. Sinto meus olhos arderem ao observar o rosto falecido diante de mim, sabendo que nunca mais irei ver seu sorriso simpático e acolhedor. Eu fui embora sem me despedir dela e fiquei lhe devendo um reencontro que nunca vai acontecer.

- Me perdoa... - Brevemente penso que Mike está falando comigo, mas ao me virar vejo que seus olhos marejados estão fixos na avó. Ele solta minha mão ao se inclinar sobre ela um pouco. - Você não se orgulharia de ter um neto covarde.

Espremo meus lábios com força, sentindo a dor em suas palavras. Me sinto absurdamente inútil, não consigo pensar em nada que possa aliviar seus pensamentos negativos. Conheço ele e sei que vai ficar se culpando pelos próximos dias.

- Foram poucos meses ao seu lado, mas foram os melhores. A senhora era tão incrível. Você tinha toda razão: é impossível não se apaixonar por ti. - Um sorriso triste salpica seus lábios, sumindo tão depressa quanto surgiu. - Ontem foi a nossa despedida e você parecia saber disso. É horrível pensar na hipótese de que nunca mais vou te ver. É tão injusto eu ter tido tão pouco tempo ao seu lado, mas... - Mike não consegue concluir sua fala, esmagando seus lábios.

Busco uma brecha com os meus dedos esguíos pela palma da sua mão fechada com certa força, como se estivesse restringindo uma parcela de dor. Mike cede, permitindo que eu consiga segurar em sua mão e envolver seu antebraço com a outra. Gostaria que assim eu pudesse sugar um pouco do seu sofrimento para mim. Se está sendo extremamente deprimente e doloroso para mim, imagine para o próprio Mike, além de ser sua avó recém descoberta, ele não conseguiu lhe revelar este fato a tempo.

Apoio à lateral do meu rosto em seu braço, gostaria de fingir que não estou ouvindo seu desabafo tão pessoal e intimista. Não acho que deveria presenciar isso, apesar de tudo. Mas tenho consciência de que ele não ficaria confortável sem mim com toda essa gente observando cada movimento que fazemos.

- Obrigado por tudo, vovó... Foi uma honra ter te conhecido. - Ele beija a mão dela com extremo cuidado, já recuando um passo para trás.

- Foi uma honra - repito suas palavras, incapaz de tocá-la.

Espero alguns segundos, permitindo que Mike olhe para aquele rosto, agora sem vida, uma última vez. Não espero por nenhuma palavra dele, apenas o guio para fora dessa casa, em direção aos jardins. Não conheço aqui, mas suponho que ao seguir esta trilha teremos um pouco mais de privacidade, longe de pessoas curiosas.

Olho ao redor, buscando algo além de flores e estátuas de porcelana. Um banco cumprido de concreto não passa despercebido por mim, é exatamente aquilo que estava procurando.

Deixo Mike se sentar primeiro, de frente para uma parede de girassóis. Sem soltar sua mão, me aconchego ao seu lado olhando para às flores diante de nós.

Não apoio minha cabeça em seu ombro, ao invés disso, empurro seu rosto até estar apoiado no meu. Ele está precisando de um ombro amigo agora mais do que eu. Deixo meus olhos vagarem sem rumo pelo céu nublado, gostaria que estivéssemos em um bom momento.

Minhas unhas estão roxas pelo frio que está fazendo, nem mesmo a mão de Mike está conseguindo esquentá-las, não é como se as dele estivessem em um estado melhor. O clima reflete o momento, parece. Gostaria de saber o que fazer para animar meu melhor amigo, mas tenho quase certeza que apenas o tempo vai fazê-lo superar. A única coisa que posso fazer é estar ao seu lado enquanto puder. Tenho compromissos em Manchester e não posso simplesmente deixar todos na mão, é o meu trabalho, apesar de tudo, preciso ter responsabilidade. Se eu pudesse ficar aqui até ele se sentir melhor eu ficaria.

- Acho que já deu o horário do enterro – Mike comenta olhando para a movimentação acontecendo um pouco mais adiante.

- Onde vai ser?

- Aqui mesmo.

- Eles...?

- Sim, eles têm o mausoléu dos Stewart, só enterram membros da família aqui.

Olho em volta, buscando encontrar o tal mausoléu. Não consigo ver daqui, então suponho que esteja em uma parte mais afastada do terreno.

Mike e eu voltamos para a frente da mansão e ele realmente estava certo, todos estão saindo de dentro do salão principal e se posicionando ao redor do caixão agora lacrado. Acho que nós dois ficamos mais tempo aqui fora do que parecerá. Consigo ver que os três filhos dela estão bem na frente da procissão, Travis e Maya logo em seguida e Tommy é o mais afastado do grupo.

O trajeto parece interminável, apesar de só termos andado poucos metros até o mausoléu da família. Além de ser um momento maçante, é extremamente deprimente. Estive torcendo para o fim durante cada minuto até o enterro finalmente acabar, me sentia desconfortável e deslocada aqui.

Agora, Mike e eu estamos do lado de fora da mansão Stewart sozinhos. Haydee e Carter falaram bastante com ele, mas foram embora esperando que fôssemos logo atrás.

- Quer ir pra casa agora ou prefere espairecer em algum outro lugar? – pergunto, afundando meus calcanhares no chão de concreto.

Mike checa o horário no relógio em seu pulso.

- Não posso, tenho que voltar para o hospital.

- Fazer o que lá?!

- Trabalhar...? – Seu tom é óbvio, cerro meus olhos para ele.

- Mike, você não está em condições para trabalhar. Além do mais, porque não tirou seus dias de luto, caramba? Sua avó acabou de morrer.

- Sim, e ninguém sabia disso.

- E daí? É uma perda e você tem o direito de...

- Malu, eu não quero. Eu preciso ir trabalhar.

- Já não foi o suficiente você vir para esse lugar sozinho? Você chamou alguém? Pra que serve seus amigos, Mike? Tenho certeza que eles deixariam tudo para estarem aqui te apoiando.

- Ah, por favor, Malu. Eu sou um cara de vinte e seis anos, posso lidar com meus problemas sozinho.

- A questão não é essa, ou vai me dizer que não foi bem melhor eu ter conseguido estar aqui contigo?

Mike fica calado, me olhando com um misto de sentimentos.

- Não vou permitir que você faça isso consigo mesmo. – Bato o pé e cruzo os braços. – Nós dois vamos agora para o hospital e esclarecer sua situação.

- Não, não vamos.

- Não estou te pedindo nada. – Detesto falar assim com ele, mas preciso ter pulso firme na ocasião. Mike é teimoso demais.

- Malu, é a minha escolha, consegue respeitar?

Torço o nariz, desfazendo minha pose irredutível.

- Eu sei, desculpa, desculpa. – Empurro minhas mãos contra o meu rosto e arrasto-as para baixo. – Desculpa. Só é difícil para eu te ver assim, está se isolando e vai se afundar no trabalho para se distrair.

Me aproximo dele, passando os braços por debaixo dos seus e o abraçando.

- Viajei o país sem pensar duas vezes e faria tudo de novo por você quantas vezes fosse preciso.

Mike passa seu braço pela minha cintura.

- É difícil o momento, preciso esquecer tudo.

- Não vou te deixar sozinho.

- É tão ruim não conseguir parar de me culpar por não ter lhe dito nada, por ela ter partido sem saber a verdade. Sem realizar seu último desejo. Tive tantas oportunidades.

- Ah, cara, para com isso, está bem? Não fica pensando nisso, tinha que acontecer dessa forma. – Seguro seu rosto com as duas mãos. – Você vai passar por tudo.  Se quiser, fico aqui o quanto for preciso.

- Gostaria que fosse fácil assim. Inclusive, e todos os seus compromissos lá em Manchester?

- Cancelei tudo de hoje e de amanhã, não importa.

- Importa sim, você não tem que parar sua vida por minha causa.

- Eu quis, foi uma escolha minha, pode respeitá-la? – Jogo com suas próprias palavras, o fazendo quase sorrir.

Olho para o portão da mansão em que estávamos há poucos minutos, daqui consigo ver Tommy e Mason perto da porta discutindo. Não presto atenção, Mike é minha prioridade.

- Ela queria que eu fosse na leitura do testamento.

- E você vai?

- Acho que sim.

- Sabe o que isso significa, né?

- É, eu sei.

- Vou com você. É amanhã?

- Sim. Você não precisa voltar?

- Bom, sim, mas... eu dou meu jeito, não se preocupe comigo agora.

- Vamos falar disso mais tarde, só que agora realmente preciso sair daqui. – Mike olha por cima do seu ombro para a mansão.

- Você veio de carro e eu também, vou estar bem atrás de você.

- Vou passar em casa antes de ir pro hospital.

Assinto, soltando meus dedos do seu com certo custo.

Mike parece estar por um fio, prestes a desabar. Acho que é um dos motivos pelo qual quer tanto ir embora.

Espero Mike entrar no seu carro e pegar estrada antes de tomar a decisão de ir até o meu.


Mike e eu estamos sentados na sua cama, não sei o que dizer enquanto o observo olhar para a parede em nossa frente.

Odeio não saber o que dizer, dificilmente acontece, acho que por isso detesto tanto. Estou sempre falando demais e agora que realmente preciso falar simplesmente não consigo.

Me sinto ainda mais ansiosa ao ver às lágrimas começando a escorrer pelo olhos de Mike, sem se importar com minha presença. Ele nunca se importou em chorar quando estou por perto.

Desde que entrei em seu quarto está segurando um cachecol verde como se não pudesse soltar aquilo, não sei qual o valor sentimental que tem, Mike não falou nada ainda.

Suas costas balançam violentamente com a força de um soluço intenso, não existe nada que eu possa fazer para tirar sua dor, talvez devesse deixar ele colocar para fora o que está sentindo.

Seguro no pulso esquerdo de Mike e afasto sua mão do rosto, aquela que estava escondendo suas lágrimas. Como fiz anos atrás, afundo meus joelhos no colchão ao sentar em seu colo e abraçá-lo com força. É quando ele desaba mais ainda, me apertando com força em seus braços fortes. Enlaço meus dedos nos seus fios dourados, mantendo meu queixo em seu ombro enquanto eu mesma choro silenciosamente pela situação e por seu sofrimento.

Fecho às pálpebras com força, tentando criar uma barreira que impeça meu choro. Preciso ser forte por ele.


E aí, meus amores! Como estão? Cap bem grandão como vocês gostam. O aniversário é meu, mas o presente é de vocês, haha. Estamos nos aproximando do fim de mais uma jornada, inclusive.

Beijos

Alice.

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