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By runbad

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Kim Taehyung é um androide norte-coreano construído para destruir inimigos capitalistas. Com uma inteligência... More

🤖Avisos + Cast🤖
Epígrafe
Prólogo
Prologo 2.0
Capítulo 1 - Hoseok
Capítulo 2 - Taehyung
Capítulo 3 - Hoseok
Capítulo 4 - Taehyung
Capítulo 5 - Hoseok
Capítulo 6 - Taehyung
Capítulo 7 - Hoseok
Capítulo 8 - Hoseok & Taehyung
Capítulo 9 - Taehyung
Capítulo 10 - Hoseok
Capítulo 11 - Taehyung
Capítulo 12 - Hoseok
Capítulo 13 - Jimin
Capítulo 15 - Hoseok
Capítulo 16 - NTJ
Capítulo 17 - Taehyung
• Aviso •
Capítulo 18 - Hoseok
Capítulo 19 - Taehyung
Capítulo 20 - Hoseok
Capítulo 21 - Taehyung
Capítulo 22 - Namjoon
Capítulo 23 - Taehyung
Capítulo 24 - Hoseok
Capítulo 25 - Taehyung
Capítulo 26 - Hoseok
Capítulo 27 - Jungkook
Capítulo 28 - Taehyung
Capítulo 29 - Hoseok
Capítulo 30 - Taehyung & Hoseok
Capítulo 31 - Taehyung
Capítulo 32 - Hoseok
Capítulo 33 - Minhyuk
Capítulo 34 - Hoseok
Uma explicação
Capítulo 35 - Taehyung
Capítulo 36 - Taehyung e Hoseok

Capítulo 14 - Taehyung

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By runbad

Taehyung não saberia dizer o porquê, mas ser amigo de Hoseok tornava tudo mais leve enquanto pensava em sua missão e em como era viver na Coreia do Sul, longe do local que fora criado.

Sempre que ele chegava na escola, isso entre as sete e oito da manhã, Hoseok ainda não tinha chegado. Ele sabia que o humano costumava aparecer uns dez minutos antes da aparição do professor, então Taehyung aproveitava desses momentos para observar o céu e pensar nas palavras de Song, dias antes.

Já era inverno, e a neve cobria com mais facilidade o horizonte desde que a temperatura começara a cair completamente. Era fácil Seul ficar nos graus negativos, então começou a virar um desafio para Taehyung agir como um humano que sente frio e que tem seu corpo afetado pelo clima áspero.

Quando o relógio em cima do quadro marcou sete e cinquenta, a porta se abriu, deixando à mostra um Jung Hoseok afetado pelo clima sul-coreano: a porta de seu nariz estava vermelho, assim como as maçãs de seu rosto, seus lábios estavam levemente azulados e seus olhos completamente inchados porque ele já tinha dito que não conseguia dormir bem no inverno. Embora soubesse que o amigo (era estranho dizer essa palavra) estava mal, Taehyung não conseguia parar de pensar quão fofo ele ficava com aquela quantidade absurda de roupas quentes e o cachecol de malha azul, que cobria seu pescoço todo.

— Bom dia, Tae — ele sorriu abertamente apesar de estar visivelmente mal, jogando a mochila na cadeira antes de se aproximar e sentar em cima da sua mesa, próximo o suficiente para Taehyung notar que não, ele não estava gripado. — Dormiu bem?

— Sim — assentiu. E era verdade, porquê no dia anterior ele teve seu carregamento e estava muito melhor do que nos dias anteriores. — E você?

— Uh... mais ou menos — deu de ombros, retirando do cachecol o suficiente para deixar seu pescoço á mostra. — Você sabe como odeio o inverno. Eu sempre me sinto menos... produtivo.

— Eu sei — o sorriso de Hoseok aumentou, e embora Taehyung não conhecesse todos os sentimentos humanos ainda, ele sabia que de alguma forma fizera Hoseok feliz, só desconhecia como. — Mas você não está gripado.

— Não — ele negou, retirando a touca preta da própria cabeça e a apoiando nas coxas magras, enquanto observava os pés cobertos pelo sapato social de que nada protegia. — Minha mãe me deu um remédio, então talvez demore um pouco para eu ficar doente.

— Espero que nunca — Hoseok o olhou, sorrindo novamente como sempre fazia. Taehyung já tinha se acostumado com aquilo, portanto não se deixava ser afetado pela forma que os lábios do outro sempre ficava em formato de coração quando o fazia, ou com seus dentes tão retos e brancos que pareciam artificiais – assim como eram os de Taehyung.

— Espero que você também não fique doente.

— Eu não... — sua fala foi cortada quando sentiu o amigo colocar a touca preta em seus cabelos escuros, de forma que pequenos cachos escapassem pelas laterais de sua cabeça, assim como alguns caíam em sua testa. —... Vou.

— Fico feliz por isso — ele sussurrou, ajeitando seu cabelo para o lado e de modo que não ficasse desconfortável na área das orelhas antes de se afastar, deixando um Taehyung sem saber o que dizer sobre aquilo enquanto ainda se olhavam. — É para você não ficar com frio.

— Obrigado — murmurou, tocando o tecido escuro com cuidado antes de desviar o olhar para a janela, notando o carro tão conhecido por si ser estacionado próximo ao prédio de entrada, antes dos três adolescentes descerem dele. — Qual a idade mínima para tirar carteira de motorista na Coreia?

— Dezoito. Por que? — Hoseok o olhou confuso, tentando entender o motivo para aquela pergunta repentina.

— Porquê Jimin tem dezesseis, e ele tem um carro — explicou, observando a lataria vermelha do veículo quando as portas foram fechadas e o Trio caminhou até o prédio, de uma maneira como se nada os afetassem.

— O carro é novo — Taehyung o olhou, confuso. — Jimin ganhou ele em outubro, parece que foi presente de aniversário. Eu ouvi dizer que seu pai passou por uma burocracia para que fosse permitido, então o Park anda com ele por aí o tempo todo... Babaca.

— Ele desafiou a lei para tirar carteira. Isso significa que seu pai tem muita influência na política, para conseguir algo do tipo...

— Acho que sim — o humano concordou. — Mas faz sentido, não é? Seu pai trabalha construindo prédios para políticos.

— Sim, eu ouvi algo do tipo — sussurrou, se lembrando das coisas que Song lhe contara. Por que dizer tudo aquilo, para depois jogar um balde de água fria na sua cabeça?

— Odeio políticos — as palavras de Hoseok quebraram seu devaneio, forçando Taehyung a olhá-lo.

— Por que?

— Porquê são todos corruptos, ou com um pé na corrupção... Park é a prova disso.

— É complicado como essas coisas funcionam, Hobi. Nem eu entendo, para ser sincero.

— Como era a política de Daegu? — o humano questionou, fazendo o corpo de Taehyung paralisar, em desconforto. Como era?

— Eu acho que política é política em qualquer lugar, não muda muita coisa.

— Você acha? — o moreno sorriu, fazendo Taehyung sorrir em conjunto.

— Tenho certeza.

— Eu acho que... — sua fala foi cortada por um chamar na porta de entrada da sala, que parecia mais cheia desde que Taehyung chegou.

— Ei, Kim! — os dois amigos seguiram o som, tendo seus olhos presos em Park Jimin, que se aproximava em passos lentos enquanto seus dois amigos iam até suas mesas.

— O quê você quer, Park? — Taehyung perguntou, enquanto Hoseok se mantinha calado, pensando se deveria sair de perto.

— Como você deve saber — Hoseok revirou os olhos, fazendo Taehyung pressionar seus lábios um no outro para não rir —, eu darei uma festa de Natal. Ela ocorrerá até o badalar dos sinos, o que significa que ela durará até depois da madrugada...

— Festa longa — disse, sem saber como reagir à aquela informação.

— Sim — ele assentiu. — Acontece que meu pai descobriu que você é irmão de Kim Won-Shik, o empresário de Daegu, e então ele pediu que eu te convidasse — Jimin retirou uma alça da mochila do ombro, abrindo um dos menores bolsos o suficiente para retirar de lá um convite de papel cor gelo, que logo lhe foi entregue. — Obviamente meu pai não estará na festa, mas... Eu queria lhe fazer esse favor.

— Tenho certeza que sim — murmurou, lendo o nome "Kim Taehyung" gravado em uma letra cursiva na parte de trás do envelope. O andróide notou que a letra era cinza, o que constrastava com a cor do papel. Jimin o observou, à espera de qualquer outra frase assim como Hoseok, que temia que o amigo aceitasse aquele convite estranho para àquela festa mais estranha ainda. Então Taehyung teve uma ideia, que fez um mínimo sorriso aparecer em seus lábios. — Posso levar acompanhante?

— Como? — o mais novo franziu o cenho, sem entender o que ele queria com aquilo.

— Levar acompanhante — repetiu, olhando Jimin antes de desviar o olhar para Hoseok. — Posso?

Então Jimin entendeu, e aquilo não foi o suficiente para sumir com sua confusão.

— Sim. Você pode levar Hoseok a minha festa — seu nariz se franziu, não esperando o agradecimento do colega estranho antes de voltar ao seu lugar.

Hoseok continuava confuso.

— O quê você...

— Você me acompanhará nessa festa, Hobi — seu sorriso aumentou, e Hoseok o encarou, sem entender o porquê. — E então nós vamos descobrir o que aquele garoto está tramando.

— Tae — ele se aproximou consideravelmente, deixando seu rosto próximo o suficiente do rosto do amigo, para que apenas Taehyung conseguisse ouvir. — A família Park é perigosa, e...

— Não são imortais — concluiu. — E se você tem uma alma, Hoseok... você deve temer por ela.

— Então se lembre de uma coisa, apenas uma — instintivamente Hoseok segurou o rosto do amigo entre suas mãos, como se assim Taehyung conseguisse compreender o que ele queria dizer. — Você também tem uma alma, e você também deve temer por ela. Não esqueça disso, por favor.

— Eu não vou — sussurrou, sentindo seus lábios entreabrirem em choque devido à aproximação do humano, que parecia nervoso. — Mas agora é você que deve lembrar de algo, Hobi.

— O quê?

— A família Park não me assusta — ele sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos de corça que continham um brilho estranho, voraz. — Eu sou um risco maior para eles, do que eles são para mim.

]~[

— Você já pensou em algo? — Hoseok perguntou ao ocuparem um banco afastado do lugar onde o Trio estava, podendo sentir o vento gelado em seus rostos em contraste com o mínimo de luz solar daquela manhã.

— Sobre? — ele questionou, observando o céu com poucas nuvens, junto da neve que parava aos poucos.

— Você disse que quer descobrir coisas sobre a família Park, mas que coisas são essas? Como você se infiltrará em um lugar importante e roubar informações? Você pensou em como fará isso?

Taehyung não respondeu, preferindo utilizar daquele momento para pensar em como Hoseok começou a confiar em si tão rápido, como conseguiu enxergar humanidade nele, antes mesmo do Kim pensar na possibilidade de poder ter sentimentos, antes de Song destruir tudo que acreditara por anos. Era como se o Jung fosse um bebê que não conseguia enxergar a maldade no ser humano, preferindo acreditar que todos eram bons, e seguindo-os sem questionar.

Ele sequer sabia sobre a existência de Inteligência Artificial, ou vivia em uma bolha?

Aquilo não era seguro.

Nem para Taehyung – que temia a reação do garoto quando descobrisse tudo –, e tampouco para o adolescente.

— Não, eu não pensei — respondeu, notando que no tempo que ficara calado o humano retirou de uma embalagem de papel alumínio um sanduíche, comendo-o enquanto o silêncio prevalecia no ambiente. — Você pensou?

— Distração, talvez? Sempre funciona em livros — ele deu de ombros, dando outra mordida do lanche que notou ser de peito de peru.

— Não estamos em um livro, Hobi — o andróide sorriu. — Tem que ser algo... seguro.

— Eu só acho estranho o fato dele ter te chamado para uma festa — ele murmurou, encarando uma das árvores sem folha assim como Taehyung, que se mantinha calado. — Chamado. Você. O garoto que ele quase agrediu no meio daquele corredor por ter roubado uma entrevista importante.

— Sinceramente? Estou pouco me importando. Eu só quero concluir isso logo, e...

— Concluir o quê? — Hoseok perguntou, confuso. Taehyung o olhou de volta, pensando em uma resposta convincente enquanto sentia o olhar firme do amigo em si. — O quê você precisa concluir, Tae?

— Concluir esses pensamentos confusos — mentiu. — Eu sinto que tem algo errado com essa família e tenho algumas paranóias... Preciso concluir isso, pôr um fim à esses pensamentos.

— Se você acha que ir a essa festa te ajudará com isso, então conte comigo — ele se arrastou no banco, até estar próximo o suficiente de Taehyung para que seus olhos se encontrassem. Sua mão tocou o ombro do amigo, que reagiu instintivamente ao contato antes de relaxar. — Você sabe que... sempre poderá contar comigo, não é?

— Eu sei, Hoseok. E você também pode... comigo.

— Posso o quê? — ele sorriu. Hoseok sabia do que Taehyung estava falando, mas queria ouvir com todas as letras.

— Contar comigo. Você pode contar comigo.

— Fico feliz por isso — seus lábios se apertaram um no outro a medida que Taehyung desviava o olhar. — Eu pensei aqui, e...

— O quê?

— Podemos planejar isso melhor fora do ambiente escolar, não é? Longe de todas essas pessoas que provavelmente conhecem o Jimin ou sua vida, e que provavelmente podem contar qualquer coisa para ele.

— Faz sentido — seus dentes foram direto para o lábio inferior, apertando-os com força enquanto pensava em uma ambiente. No parque? Talvez no café onde conversaram sobre seus irmãos? Não conhecia muitos lugares de Seul, na verdade. Mal saía de casa. — Onde você quer se encontrar?

— Bom... meus pais trabalham a tarde toda, e meu irmão fica em casa nesse horário, mas costuma sair de noite... Pode ser lá?

— Você quer que eu vá na sua casa, Hoseok? — Taehyung ergueu as sobrancelhas, surpreso. Aquele era um longo passo na amizade de ambos. Ele não saiba se estava pronto para...

— Prefere que seja na sua? — rebateu, confuso. Qual era o problema com sua casa? Era bolsista, mas tinha uma casa arrumadinha. O TOC da sua mãe o impedia de manter os limites fora do seu quarto sujos.

— Pode ser na sua mesmo — decidiu, sabendo que seria uma péssima ideia receber Hoseok na casa de Won-Shik. Tinha tecnologia demais que poderia fazer a cabeça paranóica do Jung começar a criar mil suposições que poderiam estragar tudo, no fim. — Meu irmão não gosta de visita.

— Tudo bem — ele concordou, observando o sanduíche pela metade em suas mãos. Já não sentia mais fome. — Quando você quer se encontrar?

— Hoje, se for tudo bem para você — Hoseok assentiu, aceitando. — E nós temos que procurar por trajes.

— Trajes? Por que?

— Segundo o convite, é obrigatório o uso de pelo menos uma peça de roupa azul, as outras têm que ser brancas — deu de ombros. — O que não faz sentido, porquê segundo o Naver, se usa vermelho ou verde em ocasiões como essa.

— Hm... minha família não têm o costume de comemorar o Natal, mas quando minha halmeoni estava viva, usávamos a roupa que quiséssemos. Não tinha isso de cor própria — ele deu de ombros. — E acho que Seokjin nem aceitaria, ele gosta de ser a estrela nos eventos.

— Entendo — ele não entendia, mas mentiu para deixar o garoto pelo menos um pouco feliz. — Mas... está tudo bem essa questão de roupa?

— Sim, claro. São cores simples, então...

— Exato — o robô sorriu, recebendo um sorriso do outro de volta. Hoseok observou discretamente o corpo do amigo, assim como Taehyung fazia com o seu. — Sabe...

— O que? — ele moveu novamente o olhar para o rosto perfeito do garoto, que desviou o olhar, tímido. — Que foi?

Taehyung pressionou seus lábios com força, mordendo-os antes de voltar a olhar o amigo, que parecia curioso.

— Você ficaria lindo de azul — admitiu. — Extremamente bonito.

Hoseok o olhou, sem saber o que dizer antes de desviar o olhar, sentindo suas bochechas cotarem pouco à pouco. Era estranho como ele sempre ficava rubro quando Taehyung dizia aquelas coisas – talvez porquê no mês anterior ele tenha o chamado de impertinente noventa por cento do tempo, ou talvez fosse a forma como ele não parecia se importar com nada ou ninguém (ou talvez realmente não se importasse).

— Eu não menti quando falei que você é a pessoa mais bonita que já conheci, Tae — ele sussurrou, antes de voltar a olhar o amigo. — Você ficaria lindo com qualquer cor de roupa.

Então Taehyung fez o que Hoseok mais gostava: ele sorriu, aquele sorriso quadrado que mostrava todos seus dentes perfeitos, enquanto seus lábios carnudos eram repuxados. Sus olhos se fecharam minimamente, e o Jung se perguntou se o garoto conseguia enxergar quando o fazia.

]~[

Quando o sinal tocou – indicando o final da aula naquele fim de dia, diferente dos dias anteriores, Hoseok e Taehyung não caminharam para caminhos opostos em direção à suas vidas longe do ambiente escolar. Diferente de todos os outros dias, eles tomavam o mesmo trajeto, que consistia em passos lentos pelas ruas de Seul porquê o humano empurrava sua bicicleta, uma vez que recusara que Taehyung o fizesse.

De alguma forma, o adolescente queria ser útil, então o andróide não discutiu e apenas o seguiu até a casa dos Kim-Jung, apertando as mãos dentro do bolso do casaco enquanto sentia a touca preta que não o pertencia protegendo seus cabelos, notando como Hoseok parecia bem confortável durante seu caminhar, como se o frio não o afetasse. O que era uma grande mentira, mas Taehyung preferiu ficar calado, observando a falta de vegetação devido ao clima frio e como as ruas pareciam congeladas.

Com a cabeça abaixada, Taehyung acessou o site de noticias, confirmando que sim, estava frio, e era um dos invernos mais frios da década no país. Nada de novo, pensou. De qualquer forma, o clima não o afetava, então ele não saberia dizer o quão mal o amigo estava, embora soubesse fingir muito bem pela maneira que se portava.

— Hobi — chamou, recebendo um olhar confuso quando Hoseok notou que ele tinha parado de andar, o olhava de uma maneira estranha.

— O que foi? — Taehyung não disse nada, levando o humano a largar sua bicicleta próximo a um muro pintado de verde antes de se aproximar. — Tae, você está passando mal ou algo do tipo? Me diz, e...

Sua voz travou quando sua mão foi agarrada pelo garoto mais alto, que a segurou entre as suas enquanto seus olhos eram fechados, e seus ombros caíam lentamente. Hoseok franziu o cenho, olhando a forma que Taehyung se expressava visualmente como se dessa forma conseguisse entender o que ele sentia, mas era impossível; Taehyung era um ator perfeito, você só saberia o que ele pensava se ele o dissesse, e nada mais. E era por isso que o medo de ser machucado pelo amigo continuava ali, seguindo-o como um aviso de que nem tudo estava certo. Ainda existiam barreiras entre eles, e Hoseok sabia que não conseguiria derrubá-las sozinho – mas não sabia se Taehyung queria que elas fossem derrubadas.

O garoto sequer confiava em si, da mesma forma que confiava nele?

— Você está com frio — sua voz saiu em um sussurro no momento em que seus olhos se abriram, deixando as íris castanhas à mostra quando as mãos grandes cobertas soltaram das suas, fazendo-o se sentir vazio. — Seu corpo inteiro está gelado, e você disse que não estava sendo afetado pelo clima...

— Eu estou... Não, você não precisa... — Taehyung retirou a touca que o humano lhe dera, ajeitando-a nos cabelos escuros e lisos da mesma forma que Hoseok a ajeitou em si: o tecido cobria suas orelhas, que tinham as pontas avermelhadas, e a testa, enquanto pequenos fios foram organizados para que não escorregarem para fora da proteção quentinha. Após ajeitar tudo, Taehyung retirou o cachecol do mais novo que sem saber o porquê estava preso na mochila escura e o pendurou no pescoço largo, cobrindo-o totalmente junto da boca com pequenas marcas de esfoliações, que ficara escondida para que assim o protegesse também.

O andróide se afastou, se perguntando se não tinha passado dos limites do skinship.

— Eu sin... — ele abaixou a cabeça, encarando os próprios dedos cobertos por pequenos anéis ganhados em sua maioria por Song, e alguns de Won-Shik, que acreditava que ele precisava ter uma marca sua ao andar por aí. Por que era tão idiota?

— Obrigado — disse, surpreendendo o mais velho, que ergueu a cabeça para encarar o humano com os olhos grandes ainda maiores ao arregalá-los. — Vamos... já vai escurecer e pode ser perigoso.

— Sim — assentiu, não demorando para voltar a segui-lo até a sua casa, enquanto aceleravam os passos porquê de fato já começava a escurecer na capital. Taehyung nunca deixaria de achar estranho como funcionava a mãe natureza em sua totalidade.

Cerca de vinte minutos depois eles estavam parados em frente à fachada de uma casa, em Dobong-dong, no sul da cidade. A primeira coisa que Taehyung notou ao pararem foi a cor da residência: tratava-se de um verde forte, lembrando-lhe a tonalidade de uma folha, além das janelas terem uma suspensão em marrom terra. O telhado, íngreme, cobria toda a região do teto junto de uma parte em frente à porta de entrada, como uma proteção para quem chegasse. Taehyung também notou uma garagem escondida por grandes portas de madeira, além de mini janelas que a única coisa que permitia ver na distância que estavam era uma prateleira, recheada com estátuas dos mais variados tipos.

Hoseok ganhara prêmios? Pensou ao segui-lo, notando a maneira que este abria a porta de entrada após largar a bicicleta próximo a um canteiro recheado com pequenas flores que o andróide notou serem Mugunghwa, a flor típica coreana que parecia desfalecer devido ao clima.

Uma pena, de fato.

Taehyung queria vê-las florescidas.

— Você mora aqui perto? — Hoseok questionou ao fechar a porta, ajudando Taehyung a retirar seu casaco junto dos sapatos antes de caminharem juntos até a área de dentro da casa, onde ficava a sala e também a porta de entrada da garagem. Taehyung notou a limpeza exuberante da residência, como se fosse nova, e não um lar vivenciado por gerações; a maneira que os móveis estavam polidos, as fotografias brilhantes, e o chão que parecia intocado de forma que Taehyung sentia pena de pisar nele... Era visível que alguém tinha um cuidado minucioso, e de alguma maneira ele gostou daquilo.

— Um pouco, sim... Sou de Myeong — explicou. — É a vinte minutos daqui, talvez mais.

— Qualquer coisa eu peço para meu... O que você está fazendo aqui? — Taehyung olhou para o amigo confuso, até notar que ele se dirigia à um homem deitado em um dos sofás, tendo sua barriga tampada por um pote de pipoca enquanto um copo de refrigerante marcava a madeira da mesa com o frio do líquido. Definitivamente não era ele o lunático por limpeza, apesar de suas roupas retas e visivelmente limpas mostrarem que sim, ele tinha um cuidado extra com o jeito que se portava ao mundo.

— Eu moro aqui, sabe? — ele sorriu, antes de desviar seu olhar para o garoto confuso com o que acontecia. — Olá! Eu me chamo SeokJin, sou o hyung do Hoseok.

— Oi — murmurou, incerto. A maneira que ele sorria demais, enquanto jogava os cabelos platinados para longe do rosto de traços perfeitos... Era estranho imaginar Hoseok dizendo que o considerava o homem mais bonito que já tinha visto em toda sua vida, enquanto tinha um cara como aquele embaixo de seu teto. — Me chamo... Taehyung. Kim Taehyung.

— Prazer em conhecê-lo — seu sorriso aumentou, e então Taehyung notou a forma que Hoseok revirava seus olhos. Ele não entendeu aquela reação, mas se manteve calado. — Hoseok não disse que traria um amigo.

— E eu não...

— Tae — o cortou, chamando a atenção dos Kim para si. — O quê você acha de levar sua mochila para meu quarto? Eu vou buscar algo para bebermos, sim? É o terceiro quarto da esquerda.

— Não estou com sede, mas tudo bem — deu de ombros, fazendo o que foi pedido.

Hoseok o olhou entrar no quarto, caminhando até a cozinha onde encheu um copo com suco e retirou alguns cookies de chocolate do armário, uma vez que conseguia sentir seu estômago doer devido à falta de alimento. Ele não se surpreendeu ao virar e dar de cara com Seokjin, que mantinha aquele sorriso presunçoso nos lábios enquanto caminhava até a geladeira, de onde retirou uma embalagem de leite de banana.

— Seu amigo é bem bonito, apesar de tímido — respondeu simpático ao furar o plástico com o canudo e dar um longo gole, olhando para o irmão que parecia estagnado no próprio lugar enquanto ainda segurava o pacote. — Vocês combinam, de alguma forma estranha e fofa.

— Você vai beijá-lo também? — ele não conseguiu lutar contra as palavras que simplesmente escaparam de seus lábios, notando a maneira que o êxtase nos olhos do irmão fora trocada pela dor – e culpa. SeokJin era tão previsível, que já não o surpreendia mais.

Hoseok não esperou uma resposta, porquê sabia que ela não viria, preferindo voltar a andar até o quarto sem ligar para a bebida que deixou para trás, entrando no cômodo a tempo suficiente para notar Taehyung observando seus filhos como um garotinho curioso, enquanto segurava um de seus Funkos que sabia que estava no chão entre seus dedos longos e limpos. Ele simplesmente não se importou, fechando a porta antes de caminhar até sua cama com lençóis bagunçados, deixando à comida ali antes de voltar a olhar o amigo, que não parecia se preocupar com sua presença.

— Você tem uns livros legais — ele sussurrou, tocando a lombada de um dos exemplares expostos. — Eu não conhecia essa editora... Darkside.

— É... ela é bem famosa no Ocidente, tanto que preferi exportar do que tentar procurar no país. Achei que compensava mais — o adolescente deu de ombros, rasgando uma das embalagens antes de retirar dela um cookie com gotas de chocolate, que engoliu em duas grandes mordidas. Taehyung o observou, achando fofa a forma que ele comia antes de encarar a coleção de Percy Jackson em box, de um autor que ele demorou para decifrar o nome devido à sua fonte espalhafatosa. Rick Riordan. — Quer?

— O que? — o encarou confuso, até notar que ele lhe oferecia o biscoito doce. — Não, obrigado. Eu estou bem.

— Me diga se sentir fome, por favor. Não quero que passe mal.

— Não vou, mas avisarei mesmo assim — o andróide sorriu, começando a ajeitar os bonequinhos cabeçudos na estante sobre o olhar atento de Hoseok, que temia qualquer acidente com seus objetos de colecionador. — Seu quarto é bem legal.

— Obrigado — ele sorriu, verdadeiro. De fato, Hoseok tinha muito orgulho de seu cantinho pessoal. Tinha demorado muito para ficar do jeito que sonhara. — Como é o seu?

— Normal, acho... Não tem nada que chame atenção — deu de ombros. — Me mudei recentemente, então não é como se fosse meu espaço de lazer ou coisa do tipo... É só um cômodo.

— Entendi... — murmurou, porquê de fato entendia. Ele demorou muito para enxergar a casa dos Kim como lar, e o fato de seu quarto não dar a sensação de quarto contribuiu muito para isso. — Você pretende mudá-lo? Colocar o que gosta?

— Eu não sei — admitiu. A ideia de ficar em Seul após os sete meses parecia improvável, na realidade. — Não sei do que gosto, então não sei como arrumar.

— Todo mundo gosta de algo, Tae — o garoto sorriu, apoiando as costas no encosto da cama enquanto observava a forma que o amigo brincava com os próprios dedos, enquanto encarava a paisagem pela janela. — Do que você gosta?

— Moda, acho. Tecnologia... — ele se aproximou, sentando no colchão macio da cama de casal ao lado de Hoseok enquanto conseguia sentir os olhares dele em si. — Uma coisa que eu aprendi nesse pouco tempo que estou em Seul, é como a moda dita quem você é.

— Como assim?

— Bom... Todo mundo tem um estilo próprio, gostos próprios... É algo seu, entende? Ninguém pode tirar isso de você — explicou, recebendo um assentir. — Você não escolhe do que gosta, só... acontece. E com a moda é assim; o que eu considero estiloso, você pode não considerar; enquanto o que eu odeio, você pode amar. Cada um tem... um estilo.

— E... Você acha que isso é sobre tudo na vida, ou somente para estilo visual? — Hoseok perguntou, tímido. Taehyung não entendeu o porquê dele ficar tão retraído tão rápido, como se temesse uma resposta que o andróide poderia lhe dar.

— Eu não sei? Acho que para tudo — deu de ombros, sem entender o que o garoto queria dizer com aquilo.

— E... você acha que controlamos o que gostamos? Que podemos mudar?

— Eu não estou entendendo o que você quer dizer com tudo isso, Hoseok — sua postura foi ajeitada, Taehyung apoiou as mãos nas coxas enquanto encarava o rosto bonito do humano, à procura de uma resposta.

— Você acha que controlamos o que sentimos por outras pessoas? Que... podemos escolher de quem será nosso coração, ou é algo natural?

— Sentimentos são confusos para mim, Hobi. Por muito tempo eu me achei incapaz de sentir qualquer coisa, porquê passei minha vida inteira aprendendo isso — murmurou, franzindo os olhos de forma que eles ficassem levemente fechados, enquanto seus ombros caíam pouco a pouco. — Então eu não sei, mas estou aberto a aprender o que você quiser me ensinar.

— O quê você acha sobre homossexualidade? — ele perguntou de uma única vez, encolhendo seu corpo enquanto assistia as expressões do amigo ficarem ainda mais confusas.

— Homossexualidade? — repetiu, estranhando como aquela palavra soava em seus lábios.

— Você sabe, Taehyung... — ele não sabia. — Garotos gostarem de garotos... Esse tipo de coisa.

— Ah — ele murmurou, antes de abaixar a cabeça. Em uma velocidade impressionante o robô pesquisou sobre o assunto em seu banco de dados, à procura de qualquer explicação plausível sobre o assunto, enquanto sentia o olhar de Hoseok em si. Após alguns segundos de pesquisa, suas pálpebras finalmente se abriram e ele voltou a olhar para o amigo, que parecia apavorado, pensando em mil e uma possibilidades de tudo dar errado entre eles. Ele não queria que sua relação com Taehyung fosse destruída por causa de algo que simplesmente não conseguia mudar. — Segundo à internet, homossexualidade é algo comum nos dias de hoje, mesmo que fosse um tabu no século passado... Segundo o OMS, homossexualidade deixou de ser uma doença em 1973, então... Pessoas homossexuais são completamente sãs. Acho que é como moda sim, você não escolhe o que gosta.

— Então... tudo bem para você? Sabe... ter um amigo homossexual?

— É só um título, não é? Um amigo homossexual é como qualquer outro amigo... Seus gostos não definem quem você é.

Hoseok sorriu, provavelmente o sorriso mais verdadeiro que já dera em toda sua vida antes de seu corpo relaxar, e deixar que seus olhos desviassem do amigo, sabendo que não ocorreria o risco de levar um soco ou algo do tipo... Estava tudo bem agora.

— Você é impressionante. Completamente impressionante, Kim Taehyung — seu corpo se apoiou nos travesseiros espalhados pelo colchão, sentindo-se leve. Era como se a qualquer momento ele sairia flutuando.

— Isso é bom?

— É incrível — ele assentiu. — Você é incrível.

— Então obrigado — sorriu, abaixando a cabeça em seguida para encarar os pés cobertos pela meia branca. — Você também... é incrível.

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