Código Binário | Vhope

By runbad

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Kim Taehyung é um androide norte-coreano construído para destruir inimigos capitalistas. Com uma inteligência... More

🤖Avisos + Cast🤖
Epígrafe
Prólogo
Prologo 2.0
Capítulo 1 - Hoseok
Capítulo 2 - Taehyung
Capítulo 3 - Hoseok
Capítulo 4 - Taehyung
Capítulo 5 - Hoseok
Capítulo 6 - Taehyung
Capítulo 7 - Hoseok
Capítulo 8 - Hoseok & Taehyung
Capítulo 9 - Taehyung
Capítulo 10 - Hoseok
Capítulo 11 - Taehyung
Capítulo 12 - Hoseok
Capítulo 14 - Taehyung
Capítulo 15 - Hoseok
Capítulo 16 - NTJ
Capítulo 17 - Taehyung
• Aviso •
Capítulo 18 - Hoseok
Capítulo 19 - Taehyung
Capítulo 20 - Hoseok
Capítulo 21 - Taehyung
Capítulo 22 - Namjoon
Capítulo 23 - Taehyung
Capítulo 24 - Hoseok
Capítulo 25 - Taehyung
Capítulo 26 - Hoseok
Capítulo 27 - Jungkook
Capítulo 28 - Taehyung
Capítulo 29 - Hoseok
Capítulo 30 - Taehyung & Hoseok
Capítulo 31 - Taehyung
Capítulo 32 - Hoseok
Capítulo 33 - Minhyuk
Capítulo 34 - Hoseok
Uma explicação
Capítulo 35 - Taehyung
Capítulo 36 - Taehyung e Hoseok

Capítulo 13 - Jimin

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By runbad

#CodigoBinarioVhope

Oi!

Eu realmente espero que vocês gostem desse capítulo. Foi um dos mais desafiadores que já escrevi na vida, uma vez que nunca escrevi um capítulo focado em um "vilão".

Espero que vocês aproveitem essa entrada na mente do nosso não-tão-querido Park, e que de alguma forma entendam seus demônios.

⚠️ Aviso de gatilho: uso de drogas, sexo implícito, agressão, ansiedade, pensamentos suicidas e relacionamento abusivo⚠️

Outubro de 2012 – 6 anos.

Querido diário,

Papai disse hoje que a omma não voltará para casa.

No início eu não entendi muito bem o que ele queria dizer com aquilo, mas simplesmente aceitei porquê pensei que ela logo voltaria, e então ela me encheria de beijos e abraços que só ela é capaz de dar.

Foi então que, na hora do jantar, eu pedi uma data. Eu pedi que ele falasse um prazo para que ela voltasse, foi então que ele me falou: mamãe nunca voltará, porquê ela está com Deus agora.

Appa disse que ela nunca voltará porquê Deus precisa muito, muito e muito dela no Reino dele, mas eu também não entendi.

Eu não acho que ela deveria ter ido com ele... Porque Deus pode até precisar da Omma, mas eu preciso mais.

Isso é injusto, diário...

Eu só queria ela aqui, comigo.

Preciso ir agora, diário.

A Senhora Lee está me chamando.

Com amor, Park Jimin.

Dezembro de 2022 – 16 anos

Jimin riu, sentindo seu estômago arder enquanto tinha a sensação do teto do apartamento estar se mexendo.

Seu corpo doía, principalmente entre suas coxas, devido a tudo que acontecera minutos antes. Sua cabeça ainda estava confusa, assim como seus membros que demoraram para retomar o controle, enquanto o homem ao seu lado parecia apagado, devido a grande quantidade de pílulas que ingerira. Jimin notou que seu peito, despido, ainda subia e descia, o que comprovava que o homem estava vivo, e portanto o Park não seria preso no dia seguinte, por assassinato. O que era bom, porquê não sabia se seu pai pagaria sua fiança ou um advogado, e ele sabia que estava fora de cogitação pedir um ao estado.

Quando a sensação de tudo estar rodando começou a passar, Jimin virou o corpo para o lado ainda sentindo sua entrada ardendo, ficando de frente para o seu... Ele poderia considerar Im Jaebum seu amigo? Provavelmente não, era mais um fornecedor. Alguém que o ajudava a consumir um vício que nunca passaria.

— Jae... — sussurrou, balançando o ombro do homem na tentativa de despertá-lo. Ele não despertou, ainda estando preso em sonhos que provavelmente se tratavam dele cheirando carreiras de cocaína. Era patético. — Jaebum!

— Que foi? — ele respondeu minutos depois, e então Jimin notou como suas pupilas ainda estavam dilatadas. Ele negou com a cabeça, voltando a ficar de barriga para cima e de frente para o teto, que ele notou ter pequenas manchas de mofo. Como ele acabava naquele tipo de situação? — Você precisa de mais?

— Você sabe que sim — murmurou, apertando os dentes no lábio inferior com força, se lembrando do fato das suas pílulas terem acabado no dia anterior.

— Vai colocar na sua conta? — ele se levantou com cuidado, fazendo com que Jimin segurasse seu braço para ele não despencar de cara no chão.

— Não. Eu trouxe dinheiro — tinha acabado de pagar uma dívida, não criaria outra.

— Ficará o mesmo valor de sempre — o adolescente assentiu, se levantando da cama para ir até sua calça jeans jogada próxima da escrivaninha, onde levara o suficiente para pagar o que precisava. Teria que voltar andando para casa.

— Aqui — as notas foram jogadas no colchão com mínimos furos, antes de pegar as três cartelas com pílulas brancas que não demorou para guardar dentro do bolso do casaco, antes de vestir suas roupas. Seu corpo inteiro doeu ao mover a perna, fazendo com que uma careta surgisse em seu rosto. — Me foda com menos força na próxima vez, Im. Eu mal consigo levantar a coxa.

— Você que pediu para eu acelerar — o homem – que Jimin supunha ter dezenove anos porque nunca se deram ao trabalho de falarem muito sobre a vida um do outro – sorriu, colocando um cigarro entre os dentes antes de acendê-lo. O Park não disse nada, preferindo vestir suas roupas de marca como se não o conhecesse durante todo o trajeto. — Park?

— Que foi? — murmurou, confirmando que seu celular e sua carteira estavam ali antes de colocá-los no bolso da calça, junto das chaves da casa. 

— Você se arrependeu?

Jimin travou, deixando que tudo que acontecera desde que saiu de casa voltasse a sua mente. Ele se lembrou de quando Jaebum abriu a porta, não parecendo surpreso ao vê-lo, se lembrou de beberem bastante, e se lembrou de quando cada um ingeriu três pílulas de algo que o Park não fazia ideia do que era, antes de começarem a transar no sofá da sala de estar até que pararam na cama. Nada novo; já tinha acontecido tantas vezes que o adolescente não se surpreenderia caso alguém dissesse o que aconteceu.

— Não, não me arrependo — respondeu, ajeitando os cabelos negros que caiam em seu rosto esculpido. — Até que você transa gostosinho.

— Sou melhor que os playboy de Gangnam? — ele sorriu de lado, fazendo Jimin rir porquê de alguma forma ele conseguia ser sexy fazendo aquilo.

— Sim, Jaebum. Você é melhor que todos eles — riu. — Eu preciso ir agora. Te mando uma mensagem quando... isso acabar — disse, se referindo às pílulas em seu bolso.

Jaebum assentiu, porquê sabia que Park Jimin era seu melhor cliente – desde que tinha catorze anos e um desejo inexplicável de parar de sentir. Parar de sentir o quê ele não sabia, porquê não trocavam mais do que vinte palavras a cada encontro.

— Até mais, Ji.

Jimin nada disse, fechando a porta ao sair como aquele fosse um muro que separava suas vidas.

Outubro de 2012 – 6 anos.

Querido diário,

Papai convidou Jeonggukie e Yoonie hyung para virem aqui em casa hoje. Ele não me avisou, então fiquei surpreso ao vê-los.

Brincamos a tarde toda. Appa permitiu que brincássemos no quintal, então corremos por todo ele em uma corrida animada que Jeongguk ganhou. Foi injusto! Ele é o mais novo! Ele deveria ter perdido.

Mas não perdeu.

Ele ganhou de mim e do Yoonie, que não parecia se importar com o fato de ter ficado em terceiro lugar.

Após brincarmos com nossos carrinhos e comer o bolo que a Senhora Lee fez, Yoonie começou a conversa que eu não queria: ele perguntou da Omma.

Diário, eu acho que o Yoonie hyung é mágico.

Ele sempre consegue me fazer dizer coisas que eu não gosto de contar para ninguém, e foi por isso que eu comecei a chorar quando ele perguntou se eu estava bem.

Jeongguk me abraçou, e disse que, se eu quisesse, ele poderia ser meu hyung por pelo menos àquele momento.

Eu nunca contei isso para ninguém, Diário, mas... Eu acho que Jeonggukie tem os melhores abraços do mundo.

Do mundo inteirinho, sim.

Ele me deu um abraço quentinho e começou a contar piadas para me fazer rir, mas as piadas dele são tão ruins que Yoonie hyung o mandou parar, senão lhe daria um soco.

Pode não parecer, mas o hyung é bem forte, e é por isso que ele é nosso guarda-costas. Yoonie não tem medo de nos proteger, e eu sei que poderei contar com ele – eles – para sempre.

Eu quero ser amigo deles para sempre, Diário.

Com amor, Jimin.

Dezembro de 2022 – 16 anos

Seus passos eram lentos quando saiu do edifício, notando a neve que começara a cair em pequenas geadas. O vento era frio, batendo em seu rosto de forma que conseguia sentir suas narinas congelando, antes de colocar os fones de ouvido bluetooth e conectar em sua playlist, deixando-a no aleatório.

Heather do Conan Gray se iniciou, como um aviso do quão ferrado Jimin estava. Era deprimente, insalubre a maneira que seguia com a própria vida, como se de nada ela significasse. E talvez realmente não tinha valor, não é? Park Jimin era apenas um objeto que passara a vida toda sendo moldado por mãos alheias, como um boneco em produção; queriam que ele fosse um anjo? Ele seria; queriam que ele fosse a representação mais fiel do Diabo? Ele seria também. Ele seria tudo que desejavam que ele fosse, mas pelo o que?

Do que adiantava se entregar de corpo e alma à todos... se ele se perdia no processo?

Quem era Park Jimin, afinal?

Quando... Quando foi que ele esqueceu a resposta para essa pergunta? Foi quando praticamente todos começaram a respondê-la com "É o filho de Park JiKwon"?

A neve caía em seu cabelo, criando uma crosta branca no escuro enquanto seus passos eram lentos, arrastados, como se fizesse um grande esforço ao simplesmente caminhar. Seus ombros, que sempre pareciam estar no topo como seu ego, estavam caídos, e aquilo era um sinal claro de que não estava tudo bem.

Ele não estava bem.

Jimin só precisava tomar uma das suas pílulas e roubar uma das garrafas de vinho da adega de seu pai para que tudo melhorasse, era o que achava.

Um toque no seu fone fez a música se desligar; ao apertar o botão de ativar chamada, seus passos se tornaram rápidos, enquanto começava a fugir do clima frio. Seus dedos começavam a gelar, assim como seus lábios, enquanto seus pés ardiam dentro da bota de couro, devido à meia fina que calçava.

Jimin? Onde você está? — a voz rouca de Min Yoongi soou do outro lado da linha, fazendo-o suspirar, como se já soubesse o que faria a seguir. — Jimin?

— Eu estava no Jaebum — respondeu, ajeitando o casaco de pele artificial de cobra enquanto continuava caminhando, sentindo vontade de comer algo.

A linha se manteve em silêncio por alguns segundos, que foi o tempo para Jimin olhar ao redor à procura de algum restaurante, até se lembrar de que não tinha dinheiro.

Por que você estava no Jaebum? — diferente da frieza de sempre, a voz de Yoongi soou até calma, enquanto era possível ouvir sussurros do outro lado da linha.

Jimin não precisava ouvir a voz claramente para saber que era Jungkook.

— Porquê eu quis — foi tudo o que disse, antes de atravessar a rua movimentada.

Jimin... — sua voz falhou, e o Park notou aquilo. — Eu achei que você estava limpo.

Jimin parou de andar, se mantendo calado enquanto sentia as pílulas dentro de seu bolso, lembrando-o de sua falha.

— E eu estou — mentiu. — Eu fui no Jaebum para, você sabe...

Jimin, ele tem dezenove anos! Ele é legalmente de maior! Você recém fez dezesseis... Que merda você quer com um cara desse? Um cara que vende drogas para adolescentes? Ele não é confiável, e você sabe disso. Você sabe. Você sabe o que aconteceu da última vez que–

— Yoongi — o cortou. — Você não é meu pai, okay? Você não é meu pai, e apesar de ser meu melhor amigo... Você não tem o direito de opinar na minha vida. Nem você, e tampouco Jeongguk — tudo que ele pode ouvir do outro lado da linha era o silêncio, o silêncio de estar certo. — Eu estou limpo.

Eu acredito — Jimin assentiu, embora o outro não conseguisse ver.

— Hyung, eu preciso ir para casa agora. Nós... hm... conversamos depois.

Tudo bem. Se cuida, Ji.

— Me cuidarei. Tchau — e a chamada foi encerrada, enquanto Jimin sentia seu corpo inteiro se arrepiar. 

Ele só não sabia se era o peso da culpa, ou sua ansiedade.

Novembro de 2020 – 14 anos.

Diário,

Hoje meu dia foi uma grande e bela merda.

As pessoas nunca dizem o quanto dói ter um coração partido, mas hoje eu confirmei isso.

Nunca estamos preparados para ver quem amamos com outras pessoas, principalmente quando nos dizem a vida toda que teremos, um dia, tudo que queremos. Pois bem, eu não tenho; eu não tenho minha mãe, não tenho um pai presente (não que faça muita diferença), e eu não tenho... eles.

Vivemos em uma sociedade onde sempre tentam impor que devemos amar uma única pessoa – de preferência uma mulher –, ter vários filhos e um casamento perfeito... mas o que acontece quando seu coração pertence igualmente a duas pessoas?

E o que acontece quando essas duas pessoas são dois homens que você conhece desde... Eu sei lá desde quando! É como se eles estivessem na minha vida desde sempre. Eu não me lembro um momento que eles não estiveram por perto.

Acho que você pode estar estranhando tudo isso que está dizendo, até porquê não sou o melhor exemplo de sentimentalismo, mas Diário... Yoongi hyung e Jeonggukie vieram até mim hoje; nós nos sentamos no sofá em L da minha casa e eles me contaram, contaram tudo que tem acontecido entre eles à quase dois anos.

Eles estão namorando, Diário. Eles estão namorando à quase dois anos, e esconderam isso de mim por todo esse tempo.

Eles mentiram, são uns mentirosos!

Eu estou com tanta, mas tanta raiva, que eu não sei como tirar esse sentimento de dentro de mim.

Eu só quero explodir, e virar um grande Nada, porquê é isso o que sou para eles, para todos.

Jk disse que eles tinham medo da minha reação, e fico pensando... Será que eu sou uma pessoa tão ruim, que as pessoas precisam temer como reagirei quando querem me contar algo?

Eu virei Ele, Diário?

Não sei se quero pensar muito nisso. Talvez... talvez eu devesse encontrar uma forma de esquecer tudo isso, de... parar de sentir.

Eu cansei de sentir dor.

Dezembro de 2022 – 16 anos.

Quando a porta da mansão se abriu, Jimin se esgueirou para dentro com passos curtos e ritmados, em uma tentativa de não chamar atenção para si.

Seus cabelos estavam bagunçados pelo vento e seus lábios gelados, devido ao frio. Suas mãos não se abriam corretamente por conta da forma que as manteve pressionadas em punho durante todo o trajeto, em uma tentativa falha de não congelá-las. Quando Jimin atravessou o corredor, passando pela enorme sala de estar, o adolescente notou a forma que o pai dormia confortavelmente em um dos sofás, preso em um sono pesado que somente o álcool causava; enquanto isso, inúmeras garrafas de uma coloração estranha estavam sobre a mesa de centro, mostrando como Pai e Filho não possuíam limites, com o que quer que fosse.

Jimin não observou mais, correndo escadaria acima até chegar em seu quarto e trancando a porta, para que ninguém entrasse nele enquanto retirava o casaco de tom vinho, que logo foi pendurado em seu armário. Suas botas estavam na entrada da casa, então o adolescente caminhou descalço até o banheiro, onde aproveitou para aquecer suas mãos com a água aquecida, em uma tentativa falha de descongelar seus dedos.

Qual era seu problema, afinal? Por quê se submetia a certas situações?

Meia hora depois, após um banho quente que foi o suficiente para aquecê-lo por fora, Jimin estava deitado em sua cama, encarando o teto azul com desenhos de nuvens que o fazia se recordar de uma época onde tudo era fácil, e menos doloroso. Na mesa de cabeceira uma garrafa de vinho Merlot o ajudava no processo de esquecer tudo, quando seus medicamentos era incapazes.

Jimin se sentia flutuando; voando no céu azul, próximo das estrelas que preenchiam cada mínimo espaço daquele horizonte sem fim, onde nada afetava ninguém. Ele poderia ser feliz no espaço, não era? Ser... Ele mesmo, entre estrelas que não o julgaria, porquê todas se sentiam da mesma forma. Será que entre as estrelas tudo seria mais fácil? Seu coração não doeria da forma que estava doendo, seu corpo não precisaria daquelas pílulas, da forma que precisava, e... o álcool não seria necessário na hora de parar de sentir, porquê não teria o que sentir?

Não sabia, aquela era a verdade.

Jimin estava tão preso em uma bolha onde tudo que dizia era o certo, que às vezes era doloroso admitir que, na realidade, ele não sabia de nada! Ele não sabia.

Ele só queria sumir, e ir para uma realidade onde tudo era fácil, onde tinha sua mãe consigo, amando-o.

Será que ela amaria esse novo Jimin, ou o odiaria como todos? Bom... mães amavam seus filhos incondicionalmente, não é? Elas os amavam, não importava o que fizessem... não é?

Será que Yoongi e Jeongguk amavam esse novo Jimin, assim como amaram o anterior? Se não... quando deixaram de amar, tornando-o unicamente um estorvo, que precisavam carregar para todos os lados com medo de que o melhor amigo colocasse um fim à própria vida – como já tinha tentado anteriormente?

Eles se importavam consigo, ou com sua vida?

O som de uma mensagem recebida o despertou de seus devaneios, obrigando-o a girar o corpo para o lado e esticar o braço para alcançar seu celular na mesa de cabeceira, sentindo seus olhos brilharem ao ler a mensagem gravada na tela de início.

Hyung

Venha para cá. Jeonggukie pediu pizza e sabemos que você não está bem.

Não minta para nós, Ji.

Jimin suspirou, encarando a garrafa e desviando para o aparelho eletrônico antes de jogar tudo para o alto, sabendo que de qualquer forma não conseguiria lutar contra o que sentia.

A mensagem avisando que se arrumaria foi tudo que Yoongi recebeu antes da tela se desligar, e então Jimin encontrar forças para se erguer, como se aquilo fosse a coisa mais dolorosa que já tinha feito na vida.

Janeiro de 2021 – 15 anos.

Ele me machucou.

Foi a primeira vez que ele me tocou dessa forma, e eu não fazia ideia de que ele era capaz de agredir o próprio filho.

Quando eu era criança, ele era o pai perfeito; ele me amava, cuidava de mim, e me protegia de tudo. Eu conseguia sentir que ele amava, eu conseguia ver pela forma que ele me olhava, enquanto me colocava para dormir.

Quando foi que esse amor acabou? Quando foi que amor deixou de ser suficiente em uma relação entre pai e filho, e deixei de ser o que ele esperava que eu fosse?

Eu sequer sei porquê ele fez isso; eu tinha acabado de chegar da escola, e eu notei a quantidade de garrafas de vinho maior que o normal na sala. Eu sabia o que acontecia quando se bebia tanto, e também sei como o trabalho na construtora pode ser cansativo, mas nunca imaginei que ele faria isso... comigo.

Eu sequer consigo levantar da cama, é como se ele tivesse quebrado todos os ossos do meu corpo quando me acertou com aquele cinto, gritando quão inútil eu sou.

Eu sei que sou inútil, mas ouvi-lo dizer isso com todas essas palavras... Foi como se ele quebrasse minha alma, a cada golpe.

Eu sequer consigo sentir qualquer coisa, é como se eu estivesse anestesiado.

Morrer não parece uma ideia tão ruim agora.

Dezembro de 2022 – 16 anos.

Quando a campainha da cobertura dos Min tocou, dez minutos após o porteiro avisar que Park Jimin chegara ao edifício, Yoongi não demorou para atravessar o corredor, confirmando a presença do melhor amigo pelo olho mágico antes da porta se abrir, deixando-o à mostra.

Diferente da última vez que se viram, Jimin não estava animado ou com aquele sorriso arrogante de sempre; na verdade, ele parecia extremamente humano pela maneira que se portava e as roupas que se vestiam, deixando visível que sim, Jimin também sentia.

— Vem cá — ele chamou de braços abertos, sentindo-se ser abraçado com força pelo melhor amigo, que não demorou em acariciar seus cabelos escuros com carinho, sentindo as lágrimas molharem seu casaco de couro preto. — Vai ficar tudo bem.

— Não vai — ele grunhiu, apertando o tecido da camisa branca do mais velho em uma tentativa de expurgar o que sentia. — Nunca ficará tudo bem. Eu... perdi minha chance, Yoongi.

— Não...

— Kim Taehyung roubou minha entrevista, e agora eu não vou conseguir ir para a universidade que quero, e ficarei preso em Seul, com ele.

— Você vai conseguir — Yoongi o afastou o suficiente para segurar o rosto bonito entre suas mãos, forçando Jimin a olhá-lo. — Essa reunião não significa nada, Ji... Você terá uma nova chance de mostrar que é perfeito para essa vaga — seus dedos longos empurraram fios castanhos para longe do rosto bonito, sorrindo ao notar quão perfeito Park Jimin era. — Você mostrará, porquê é o melhor. E você sabe disso, Ji.

— Eles nunca aceitarão um viciado em antidepressivo — sussurrou, cansado demais. Sequer sabia como chegou tão rápido no edifício, foi só... automático.

— Você está limpo — respondeu. — Você está em recuperação, e apesar de ter crises de abstinência às vezes... Você está limpo, e só isso que importa.

— Yoon... eu não es... — sua fala foi cortada por um aproximar apressado de Jeon Jungkook, que sorriu abertamente ao ver o melhor amigo.

— Ji hyung! — ele empurrou Yoongi para o lado, abraçando o garoto centímetros mais baixo com força enquanto Jimin retribuía o contato carinhoso, sem saber como reagir. O olhar que trocou com o Min foi o suficiente para confirmar que sim, Yoongi sabia que ele não estava limpo. E ele não ficaria calado. — Eu senti tanta sua falta.

— Eu também, eu também... — respondeu, incerto.

— Você está bem, não está? Fiquei tão preocupado quando você parou de responder nossas mensagens...

— Eu estou bem, Jey. Não se preocupe — mentiu. Yoongi suspirou, encarando o rosto do melhor amigo se perguntando como ele tinha coragem de mentir para alguém como Jungkook. 

— A pizza nos espera... Vamos comer — Yoongi cortou o clima mentiroso, indo para a sala enquanto os dois mais novos o seguiam, sem saber como reagir.

Para Jimin ainda era estranho entrar naquele apartamento, como se tivesse algo errado.

— Pedimos pizza de brócolis, sua favorita — Jungkook sorriu, abrindo a caixa antes de pegar um pedaço e morder, ouvindo o riso do Min quando uma linha com queijo se formou em seu queixo, deixando-o grudento.

Jimin não disse nada enquanto comiam, preferindo ficar preso em seus pensamentos enquanto o casal conversava sobre qualquer coisa que viessem a sua mente, com uma facilidade que ele desconhecia. Quando era criança, Jimin era uma pessoa muito extrovertida; ele sabia o que dizer e fazer para que gostassem de si, sabia como se portar na mesa e sabia ser o filho perfeito – a criança perfeita. Agora, no auge de seus dezesseis e quase dezessete anos, era como se nada mais fizesse sentido.

Por que ele tinha que fingir ser quem não era? Por que precisava se submeter a situações improváveis apenas para possuir um resquício de amor, de paz? Quais seriam as consequências disso tudo?

Então, quando ele se recordou do que Jung Hoseok dissera na sala de aula, após caçoar de Kim Taehyung, ele não lutou contra as lágrimas que começaram a manchar suas bochechas gorduchas, como uma confirmação de que sim, ele estava certo. No final de tudo, Jimin era um babaca egoísta que queria tornar todos infelizes, como ele.

Park se perguntou se Yoongi e Jungkook seriam mais felizes se ele fosse embora, se sua existência fosse excluída e eles pudessem recomeçar, sem uma amizade tóxica digerindo-os pouco a pouco. Eles continuariam juntos? Se casariam? Teriam filhos? A lei Coreana permitiria isso? Eles trabalhariam com o que gostam, e então Yoongi não precisaria ir para a França no fim do Ensino Médio?

Ele ficaria bem?

Eles ficariam bem?

Jimin era a causa da infelicidade de todos ao seu redor?

— Ei, Ji — Yoongi se aproximou ao notar a forma que o melhor amigo chorava, se esforçando para limpar a maior quantidade de lágrimas que conseguia. O soluço que escapou dos lábios fardos foi como uma facada em seu peito, sem saber o que fazer para ajudar o melhor amigo que parecia à beira de uma crise. Jimin não poderia ter crises, nunca o fazia bem. — Respire fundo, tudo bem? Inspire e solte, inspire e solte...

Jimin fez o que ele pediu, apertando as unhas com força no pulso recheado de finas cicatrizes enquanto fazia o que o melhor amigo pedia, enquanto Jungkook corria até a cozinha para encher um copo de água com açúcar, porquê tinha lido na internet que ajudava. Yoongi segurou suas mãos, impedindo-o de se autoflagelar enquanto o Park ainda respirava fundo, em uma tentativa de acalmar o próprio coração acelerado, como se pudesse explodir.

— Está melhor? — ele perguntou minutos depois, quando o Park parecia relativamente mais calmo. O adolescente assentiu, sentindo o gosto salgado das lágrimas ainda em seus lábios quando aceitou o copo com água que Jungkook o entregou, bebendo do líquido completamente.

— Eu sinto muito por...

— Você não precisa pedir desculpas por nada agora — o mais velho respondeu, jogando os cabelos escuros do melhor amigo para trás, notando o suor que escorria por sua testa. — Você só precisa... descansar.

— Eu sou mais velho que o Jey, e ele está cuidando de mim — o garoto riu sem humor, sentindo os olhares do casal em si. — Sou um péssimo hyung.

— Ji — Jungkook sentou-se ao seu lado, abraçando os ombros pequenos com carinho enquanto Yoongi pegava o copo de vidro de suas mãos e colocava na mesinha de centro, longe de seu alcance. — Você se lembra de quando éramos crianças, e eu sempre assumia o papel de hyung por um tempinho?

— Sim — sussurrou, lembrando de como tudo era mais fácil naquela época, embora sua mãe já tivesse falecido.

— Então me deixe retomar a esse papel agora, okay? Por essa noite, eu e Yoonie seremos seus hyung, e você nosso saeng —  ele sorriu, e então Yoongi e Jimin também sorriram porque ele ficava lindo daquela forma. — Deixa?

— Sim — assentiu, porquê sabia que não teria outra opção. Ele queria ser cuidado, mesmo que fosse por apenas uma noite. — Sim, eu deixo.

Fevereiro de 2021 – 15 anos.

Hoje eu fui na minha primeira festa.

Jennie, uma formanda, criou um evento no Facebook (ainda usam essa rede social?) e marcou uma quantidade grande de pessoas. Não sei porquê, mas eu só fui. Talvez eu quisesse esquecer quem eu era por um tempo (uma vez que Jungkook e Yoongi não vão a festas), então foi fácil aceitar a ideia de ficar entre sei lá quantas pessoas e beber alguma coisa ruim enquanto tocava uma música pior ainda... mas a questão é que eu fui.

Surpreendentemente, Jennie Kim é uma garota extremamente simpática; ela me cumprimentou educada quando cheguei, mostrou onde ficava as bebidas e os quartos, e me agradeceu por ter comparecido antes de ir até suas amigas do outro lado do salão.

Bom, eu não tinha muito o que fazer de diferente, então eu simplesmente comecei a beber e comer o que tinha no buffet enquanto ouvia alguma versão eletrônica de alguma música de kpop, enquanto observava todos ao meu redor.

Talvez eu estivesse muito bêbado, porquê não demorou para eu acabar no segundo andar com um cara que eu nunca tinha visto na vida que estava tão bêbado quanto eu, e não demorou também para eu ter a pior primeira vez do mundo. Acontece que eu e o cara estávamos tão mal que simplesmente não tivemos o cuidado necessário um com o outro, o que tornou a experiência dolorosa ao invés de excitante (pelo menos usamos camisinha, o que eu acho algo bom).

Acabamos dormindo juntos, e quando acordei ele ainda estava no quarto, comigo. O cara, que descobri se chamar Im Jaebum, disse que eu parecia extremamente triste, e por isso me entregou uma cartela de algo que pela descrição parecia antidepressivos. Jaebum disse que, quando eu sentir que tudo está insuportável, eu devo tomar duas, e então ele foi embora, após me dar seu número para caso eu precise de mais pílulas.

Eu não ia tomá-las, eu ia jogar no lixo junto de seu número e fingir que nada aconteceu, até que meu pai chegou do trabalho hoje de noite. Parece ter acontecido algo sério, porquê ele cheirava a bebida e não demorou para ele me agredir novamente em uma tentativa de expurgar o próprio estresse.

Foi a terceira vez nessa semana.

Eu estou com tanta raiva, estou sentindo tanta dor, que eu sinto que essas pílulas me ajudarão de alguma maneira.

Eu sei que elas vão retirar esse sentimento de dentro de mim, Diário, então eu sinto muito, mas eu vou tomá-las.

Preciso ir agora.

Escreverei novamente em breve.

Ou não...

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