Solace ϟ Potterverso

By EvanoraCaligari

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🐍 Vencedor do Prêmio Wattys 2020 na categoria Fanfiction 🏆 Com antigos seguidores de Voldemort ainda à solt... More

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By EvanoraCaligari

O caminho até a Torre do Relógio fora silencioso. A ausência de alunos nos corredores nunca fora tão inconveniente quanto naquele momento de ampla angústia, onde até a presença de Slughorn seria bem-vinda. Underhill, na pele de Liam, caminhava com extrema cautela, dividindo a atenção entre Isis e os corredores labirínticos da escola. Um passo em falso e a varinha, direcionada à bruxa com discrição, seria usada. A esperança dela era de que alguém notasse o comportamento atípico dos aurores que deviam guardá-la.

— Maldição Imperius? — perguntou, olhando-o enviesado.

— O Departamento de Execução das Leis da Magia vem contratando muitos cabeças ocas nos últimos meses, para substituir os aurores mortos na guerra. — Ouvir a voz de Underhill sair da boca do pobre Liam era agoniante, como se a situação não fosse desesperadora por si só. — O afobamento leva a escolhas imprudentes, não acha?

Ele a puxou de repente, pressionando-a contra a parede, e, segundos depois, um grupo de estudantes cruzou o corredor adjacente enquanto conversavam com o fantasma de um aluno da Corvinal. O rosto de Underhill perdia aos poucos os traços juvenis; os cabelos escuros diminuindo de tamanho e ficando bons tons mais claros. Não faltava muito para os efeitos da poção Polissuco sumirem de vez.

— O que fez com Liam? — murmurou Isis, engolindo em seco ao imaginar o destino trágico do rapaz.

— Matá-lo não me traria qualquer tipo de benefício — respondeu, puxando-a em direção ao pátio banhado em prata. — Ele dera uma entrevista ao Profeta Diário sobre as semanas escondido no orfanato. Quando um dos meus antigos contatos descobriu que você estava se escondendo em Hogwarts, esperei a primeira visita a Hogsmeade e, após uma breve distração com os dementadores, assumi sua identidade. O sortudo Liam ganhou umas férias na Índia e ficará por lá até você e eu estarmos bem longe daqui.

Eles adentraram o saguão mal iluminado e seguiram em direção ao primeiro lance de escada à direita, passando pelo pêndulo.

— Os aurores estão guardando as passagens do Salgueiro Lutador e a da bruxa de um olho só — disse Underhill, enquanto uma Isis esbaforida tentava acompanhá-lo na subida dos degraus de madeira. — Tive que recorrer a um meio mais rústico de transporte até chegarmos em uma zona de aparatação.

— E então viveremos felizes para sempre, certo? — Uma série de tossidas se iniciou enquanto era arrastada ao nível superior. — Vai se foder! — esbravejou, usando o oxigênio limitado dos pulmões.

O bruxo não respondeu, mas intensificou o aperto no braço livre de ferimento dela. Estava mais preocupado com o longo corredor que dava na ala hospitalar, conectando a torre ao resto do castelo, e por onde os aurores conseguiriam avistá-los sem dificuldade caso libertos da maldição.

Uma luminosidade branda adentrava o patamar pelo mostrador transparente do relógio, projetando a sombra dos dois no chão empoeirado. Os ponteiros moviam-se ruidosos do lado de fora, servindo como uma forma de Isis se concentrar em algo além dos pensamentos negativos que a impediam de encontrar uma saída para o problema.

— Analise as probabilidades duas vezes antes de tentar alguma coisa — murmurou Erastus, como se lesse a mente de Isis. — Podemos sair daqui de um jeito agradável, em que ninguém terminará ferido ou pior. A escolha é sua, minha garota. — O resto da transformação se desfez, e ele aproveitou o momento para retirar um objeto brilhante de dentro do sobretudo.

A jovem reconheceu as algemas de suas lembranças revisitadas; o protótipo desenhado por Underhill nos pergaminhos da casa senhorial.

— Ficaria muito satisfeito em testar Delilah em um dos seus novos amigos — continuou ele, sorrindo. — Talvez Snape dê o ar da graça e se voluntarie para uma amostra gratuita.

Tudo no bruxo gritava destempero, obscurecendo os traços de elegância e moderação que eram característicos da fachada requintada que construíra. Isis respirou fundo e se afastou para retirar o sobretudo preto, jogando-o por cima do corrimão e deixando-o cair no térreo.

— Esse tipo de algema não o agrada muito. Severus é um homem sofisticado.

Underhill a segurou pela nuca, puxando-a em direção à escadaria que os levaria ao andar dos sinos. As pernas da bruxa já não suportavam mais o próprio peso, muito menos a quantidade de degraus que se elevava rumo ao topo. Então, pegando-os de surpresa, o ruído ensurdecedor dos sinos se iniciou — indicando o fim do jantar — e, por um descuido, Isis tropeçou, indo de encontro ao degrau. O gemido de dor deixou sua boca antes que pudesse impedi-lo, ao bater, com força, o antebraço ferido na superfície de madeira.

Para a sua infelicidade, e contentamento de Underhill, a queda livrou-os do raio vermelho que cortou o ambiente empoeirado e quase acertou o bruxo em cheio no rosto. Pelo vão entre os degraus, Isis avistou Severus e Aurora próximos à entrada do saguão. Contudo, não houve tempo para se sentir aliviada, pois logo fora carregada escada acima; a gola da camisola se esgarçando com a brutalidade do puxão.

Underhill revidou o ataque sofrido e não demorou para a Torre do Relógio se iluminar com os matizes dos feitiços que dispersavam o cheiro de ozônio na atmosfera caótica. Isis tentou se livrar do aperto e correr para longe, mas se afastar, apesar de o foco não recair exclusivamente sobre ela, mostrou-se uma tarefa mais difícil que o esperado. À medida que Snape subia, a situação piorava. O chão estremecia quando os feixes de luz ricocheteavam nos sinos de ouro e cobre, causando um reverberar estrondoso.

Não podia haver uma situação pior para não estar no controle dos próprios poderes. Isis assistia ao duelo de mãos atadas, tentando correr para longe de Erastus enquanto torcia para Snape acertá-lo e terminar de uma vez por todas com aquele pesadelo. Os dois se atacavam incessantemente, enquanto Aurora havia sumido de vista.

Quando uma azaração raspou no braço de Erastus, abrindo um corte fundo, este cambaleou, trincando os dentes de raiva, e abrigou-se atrás dos sinos. Apesar da parca iluminação, Isis avistou os pedaços das vassouras que o antigo tutor levara para que fugissem de Hogwarts; uma atitude desesperada, sem dúvida. Enquanto os encarava, ouviu o atrito de metal contra metal vindo da corrente que sustentava um dos sinos de ouro.

Os elos se romperam em meio ao silêncio apreensivo dos três, e a campana atravessou os assoalhos como se estes nem existissem; lascas afiadas voando para todos os lados.

Snape escapou por pouco, jogando-se para trás enquanto o sino cortava o ar e se espatifava no saguão. Isis tentou se manter estável, segurando-se no corrimão mais próximo, porém o chão parecia prestes a ceder, o que não impediu Erastus de aproveitar a distração para tentar levá-la através do corredor, rumo ao castelo.

— Isso não vai dar certo! — gritou ela, fazendo força contrária quando Underhill a agarrou pelo punho. — Achou mesmo que conseguiria entrar em Hogwarts sozinho e sair daqui com seu "espólio de guerra"? — Isis riu, irritando-o a fim de ganhar tempo para Severus. — Ah, Erastus, essa sua obsessão por mim empobrece a sua personalidade.

Enfurecido, ele a pegou pelo pescoço e a pressionou na parede.

— Você não é nada sem mim! Substituível!

— Então por que está aqui? — Ao olhar por cima do ombro de Underhill, avistou uma silhueta aproximando-se dos dois; estavam encurralados. — Por que se deu ao trabalho de me procurar se poderia ter começado de novo, hein?! Por que não me deixa em paz?

O bruxo sorriu — o semblante malicioso iluminado ao luar — e o olhar correu para a própria mão fechada na garganta de Isis. Quando ele a girou, a jovem pensou que vomitaria o almoço e os copos d'água que ingerira. Usando-a de escudo, Erastus a puxou pelos cabelos, deixando o pescoço exposto ao posicionar a ponta da varinha sob o queixo dela, encarando Snape.

— Isto não é romântico? Ah, sim — murmurou Underhill; o hálito morno empurrando as mechas suadas de Isis contra o rosto enrubescido dela. — Ora Severus, quando aprenderá que não se deve desejar o que não lhe pertence? — Um passo à frente de Snape foi o suficiente para o outro enterrar a varinha de carvalho contra a carne da bruxa. — Não, não, não. Você não quer ser o responsável pela morte de mais uma, estou errado?

— Erastus, por...

— Querida, os adultos estão falando. Calada — murmurou ele em sua orelha. — Então, Snape... — O professor manteve a varinha em riste, desviando rapidamente o olhar na direção da bruxa.

Isis negou com a cabeça, recebendo um puxão no couro cabeludo que lhe renderia uma bela dor de cabeça caso saísse viva dali. Diante da aparente rendição do professor, Underhill se afastou o suficiente da pupila para voltar a vasculhar o sobretudo, retirando as algemas de dentro do bolso e jogando-as aos pés de Severus.

— Não! — gritou Isis, voltando a ficar sob o jugo de Erastus. — Severus, não!

— Severus, sim! Como pode ver, estou com um pouco de pressa, então faça as honras... Já! — Snape não esboçou nada além de introspecção ao se abaixar e trocar a varinha pelas algemas. — Muito sábio. Por isso Voldemort gostava tanto de você. Sempre se provando um aliado fiel. — Underhill gargalhou, olhando de esguelha para Isis. — Que nem esta aqui. Minha garota sempre foi tão ávida de se provar para mim.

Ela se debateu ao ver Snape encaixar as argolas grossas nos punhos, frouxas a princípio. Com um clique metálico, espinhos se desprenderam do interior metálico, perfurando a carne do professor. O grunhido de dor do professor foi suplantado pelo de raiva da jovem.

— E agora, seu doente?! Como pretende fugir daqui sem as malditas vassouras? — vociferou ela ao ver Severus cambalear e se agarrar a uma das colunas, temendo cair.

— O Lorde das Trevas nos ensinou alguns truques, certo, Snape? Não será uma alternativa confortável para você, mas, uma coisa é certa — ele a obrigou a se virar e encará-lo —, sairemos desta torre juntos, minha garota.

Isis suspirou, sentindo um bolo se formar na garganta, e assentiu.

— Nisso nós concordamos — murmurou, sorrindo.

Estrelas surgiram diante dos seus olhos, e uma dor intensa a tirou do prumo ao atingir Underhill com uma cabeçada bem dada, acertando-o no nariz. Aproveitando-se da confusão dele e da própria tontura, agarrou-o pelo sobretudo e deixou o corpo tombar através do vão aberto no corrimão. A queda foi rápida e o baque, doloroso, elevando uma nuvem de poeira sobre as suas cabeças, mas Isis padecera de dores piores antes. Fazendo pouco dos novos ferimentos, ela se levantou, atenta ao fato de que, apesar de apto a balbuciar seus xingamentos, Underhill perdera a varinha.

— Sua...

Não houve tempo para pensar. Finalmente fora agraciada com a oportunidade desejada e, mesmo com a ausência de poderes, viu-se forte o suficiente para dar um fim a tudo. Isis reuniu tudo o que possuía e correu na direção de Erastus, chocando-se contra ele e estilhaçando o mostrador do relógio ao atravessarem-no juntos, rumo ao vazio. Os cacos de vidro reluziam ao redor dos dois, refletindo a noite iluminada acima, que permitiu um vislumbre incontestável do assombro de Underhill.

A vida não passou diante dos seus olhos à medida que se aproximavam no chão. Sem memórias boas ou ruins, só o espanto de seu velho tutor diante da audácia inesperada da pupila. Isis queria que a sua última visão do mundo fosse da abóboda celeste, porém se contentaria em testemunhar Erastus em seu último suspiro, certa de que a sociedade bruxa estaria livre dele. Que ela estaria livre.

O corpo se espatifou no chão do pátio, escapando por pouco da fonte de pedra; olhos arregalados encarando uma Isis que flutuava poucos centímetros acima, antes de a gravidade voltar a agir. Ela logo rolou para o lado, ofegante, e avistou Minerva e Aurora com as varinhas apontadas na sua direção. No primeiro instante, mergulhada em adrenalina, acreditou que ambas estavam prestes a atacá-la, mas não demorou muito para se dar conta de que as duas a salvaram.

— Sev... — Isis murmurou, elevando o dedo indicador.

A diretora se adiantou até a torre, enquanto Aurora ajoelhava-se ao lado da amiga, que se sentou com a sua ajuda e a abraçou, sem tirar os olhos de Underhill. Um fio de sangue escorria da orelha e a barriga ainda subia e descia, em um ritmo cada vez mais lento. Isis o acompanhou em expectativa, grata pela astrônoma respeitar, no silêncio, aquele momento fatídico, onde nem nos seus sonhos fora capaz de experimentar tamanha paz.

Quando ele finalmente parou de se mover, algo entre o riso e o soluço deixou seus lábios, fazendo Aurora abraçá-la mais forte.

— Acabou, minha querida — sussurrou a professora; as palavras soando etéreas em seu ouvido.

Isis assentiu várias vezes, convencendo-se da realidade grandiosa que a envolvia, tão afável quanto o abraço de Aurora. E, apesar da exaustão, ela ergueu o rosto, admirando o céu estrelado — testemunha de sua conquista —, radiante perante a bela certeza de que as contemplaria na noite seguinte.

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