POV Any
Apesar da recomendação médica, Josh não quis ficar de repouso no quarto e ficou conosco na sala de espera do hospital. Já se passaram algumas horas desde que Estela deu entrada na emergência e até o dado momento, não tínhamos notícia de seu estado.
Sabi e Noah cochilavam desconfortáveis nas cadeiras do local, insisti novamente que eles voltassem para suas casas e eles acabaram concordando.
Alguns minutos depois, Sabi reapareceu no hospital com uma muda de roupa mais confortável para mim e com uma vasilha de comida para mim e Josh. Agradeço minha amiga, me troco e como a comida com Josh.
Cansada do dia estressante de hoje, sento ao lado de Josh soltando um suspiro, e quando eu estava quase adormecendo ali, sou desperta pela voz do médico trazendo enfim informações sobre minha filha.
— Responsáveis por Estela Soares Beauchamp? – o homem pergunta com sua prancheta em mãos
— Somos nós – imediatamente nos aproximamos e Josh responde
— A filha de vocês sofreu uma PCR, uma parada cardiorrespiratória, devido ao choque elétrico que tomou, o coração dela parou de funcionar por alguns minutos e os primeiros socorros foram fundamentais para salvar a filha de vocês, mais alguns minutos e as sequelas neurológicas seriam permanentes... O senhor trabalha na área da saúde? – o doutor pergunta à Josh
— Não... Quem fez os primeiros socorros foi a minha governanta que é enfermeira há muitos anos...
— Agradeçam à ela, isso salvou a vida da pequena Estela, ela aplicou com perfeição as manobras de reanimação cardiopulmonar com a constância exata das compressões torácicas, garantindo a oxigenação dos órgãos e tecidos da paciente – o médico diz
— E como ela está? – pergunto nervosa
— Sedada, por pouco não a perdíamos, até o dado momento não notamos sequela alguma, ela está estável e aos poucos vai acordar, será necessário alguns dias de observação na UTI e o acompanhamento de um neurologista por algumas semanas
— Podemos vê-la doutor? – pergunto ansiosa
— Podem, um de cada vez de preferência, mais uma coisa, é permitido apenas um acompanhante por paciente, então um de vocês não poderá passar a noite aqui
— Tudo bem, depois decidimos isso – respondo despreocupada
— Então quem vai primeiro? – o médico pergunta e olho para Josh
— Pode ir primeiro – Josh responde
— Obrigada – digo e lhe dou um abraço
— Eu disse que ia ficar tudo bem – falo baixo para o loiro que responde com um sorriso tímido
Meu coração se parte assim que vejo minha menina desacordada e com aquela quantidade de aparelhos e fios presos nela, não consigo evitar e derramo algumas lágrimas. Acima de tudo estou grata, Deus salvou a vida de Estela, só dela estar aqui e bem, é um milagre.
Passo as mãos no rostinho e nos cachinhos da minha garotinha carinhosamente e lhe dou um beijo na testa. Seguro a mão livre de Estela e observo minha estrelinha por mais alguns minutos e lembro que Josh está esperando para vê-la então saio do quarto para que ele possa entrar.
POV Josh
Assim que o médico nos deu informações sobre Estela, avisei ao Noah da situação da minha filha e pedi que ele avisasse o resto do pessoal, visto que todos estavam muito preocupados. Ainda me sinto um pouco culpado, mas confesso que a conversa com Any me tranquilizou bastante.
Depois de um tempinho, Any voltou da UTI com os olhos avermelhados e me ofereço para passar a noite aqui para que ela possa descansar.
— Any, não se preocupe, vai pra casa, toma um banho, dorme tranquila, eu vou ficar a noite inteira aqui e prometo não desgrudar da Estela – digo assim que ela se aproxima
— Não Josh, eu tenho certeza que não terei condições de dormir tranquila sem minha filha... Deixa que eu fico aqui – a morena responde decidida
— Olha só, eu ainda me sinto responsável por isso tudo e eu sei que voltar para casa e dormir no local onde tudo aconteceu não vai me ajudar, pode ir Any, você ainda confia em mim, certo? – pergunto meio inseguro
— Confio, mas eu quero ficar aqui... – Any responde triste
— Eu vou dar um jeito, não vamos chegar à um consenso nunca – falo e vou até a médica responsável pela UTI
Explico à mulher toda a situação e depois de muito insistir ela autoriza que ambos fiquemos ali como acompanhantes. Conto à Any e juntos vamos até o quarto de Estela.
Encaro minha filha cheia daquelas patifarias de hospital e sinto que desabarei novamente, me aproximo e olho para seu rostinho e deposito um beijo na testa dela, é a única parte livre de sua face. Checo as partes visíveis de minha filha, as mãos, os bracinhos, rosto, pescoço, tudo, na tentativa de encontrar quaisquer problemas ou cicatrizes e constato que ela está perfeitamente bem. Meus olhos se enchem de água novamente e noto Any me encarando.
— Josh...
— Desta vez estou chorando de felicidade Any, ela está completamente bem, parece até...
— Um milagre – Any me interrompe
— E olha que eu nem acredito nisso – digo e esboço um sorriso singelo
Ao lado da cama de Estela havia um sofá de dois lugares, eu e Any nos sentamos ali e não trocamos mais nenhuma palavra, nossos olhares não saíram de nossa filha por um tempo até que reparo que Any está prestes a adormecer e apoio a cabeça dela em meu colo. Ela não reluta e dorme ali tranquilamente.
Passo a noite em claro, não sou capaz de baixar a guarda e relaxar depois de tudo. Estela é tão pequena, tão frágil, e vê-la com todos esses fios e máquinas está me consumindo aos poucos. Cada bip diferente do aparelho de frequência cardíaca me deixa em alerta, cada estalo dos móveis e até os mínimos ruídos externos tem a minha atenção.
Amanhece e Any logo desperta e me encara por alguns segundos até que quebra o silêncio.
— Obrigada por me emprestar seu colo ontem, espero não ter incomodado muito – Any diz com um sorriso tímido no rosto
— Não foi nada, agora você vai para casa se alimentar, trocar de roupa e descansar um pouco – falo sério
— Josh, eu não saio daqui até a Estela acordar e diga-se de passagem, você sim tá com uma cara de quem não dormiu nada e que tá precisando ir para casa
— Alguém tinha que vigiar a Estela – respondo dando de ombros, me levantando e indo até a janela do quarto
— Sim, a equipe do hospital, não você – Any fala indo atrás de mim
— Não consegui dormir, Any – respondo sincero
— Tudo bem, você ficou preocupado com a nossa filha, mas agora eu estou acordada e juro ficar vigiando ela e você pode dormir pelo menos um pouquinho, o horário de visitas é em algumas horas, então em breve nossos amigos estarão aqui – ela diz e me puxa de volta para o sofá
— Vem Josh – ela diz oferecendo seu colo para eu apoiar minha cabeça
— Não precisa – respondo
— Precisa sim, vem logo Joshua – ela fala impaciente, deito minha cabeça em seu colo e fico olhando fixamente para a cama em minha frente
— Josh, você não vai conseguir se não tentar... Tenta relaxar um pouco – Any diz calma e começa a fazer cafuné nos meus cabelos
Fico então entorpecido com o carinho e logo adormeço num sono profundo.