Amor Maluco

By alicejfsilva

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Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... More

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 117

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By alicejfsilva

- Não sabia que você tinha deixado ele aqui - disse Mike, olhando para o violão que me deu há muitos anos atrás.

- É, não consegui levar nada nosso.

Passo a mão pelas cordas antigas.

- Vai levá-lo agora?

- Parece uma boa. - Sorrio em sua direção, colocando o violão apoiado na parede.

Mike chegou do trabalho e veio me ajudar a fazer às malas para minha viagem de amanhã. Sei que não vou ficar tanto tempo, mas um quê de despedida está pairando sobre nós como uma nuvem negra. Precisei adiantar a viagem antes da chegada da neve, prevista para o final de semana, o que colocaria por água abaixo meus planos.

Alex, Melanie e Sierra passaram o dia comigo, jogando conversa fora. Não pude deixar de apreciar o momento com elas. Mesmo os garotos passaram aqui brevemente para se despedirem de mim, fui intimada à voltar em duas semanas se quiser continuar viva. Palavras do Carlos.

- Vou sentir sua falta - declara. Cruzando seus braços com o ombro encostado contra o batente da porta que dá para o meu velho closet.

- Eu também vou sentir a sua, essas semanas vão ser bem longas. - Me aproximo dele, envolvendo seu quadril com meus braços e repousando minha cabeça em seu peitoral.

Mike abre seus braços para mim, me abraçando de volta com o queixo apoiado no topo da minha cabeça.

Tecnicamente é a nossa despedida, já que no horário que consegui marcar para o meu vôo é justamente quando ele vai estar no hospital trabalhando. Não vai poder me acompanhar até o aeroporto.

Me pergunto se vai ser sempre assim, caso fiquemos oficialmente juntos. Despedidas frequentes e intermináveis, pouco tempo um com o outro e sempre com esse clima de tristeza. Tenho muito medo que tudo dê muito errado.

Mike me pediu para viver o agora, mas não consigo deixar de pensar no futuro. Como isso pode dar certo? Sim, está sendo muito bom ficar com ele até agora, mas e depois? O que vai ser?

Estava com medo de beijar ele e confessar meus sentimentos no outro dia por achar que dificultaria às coisas para nós. Porém não consegui me controlar com Mike me pedindo exatamente o contrário. Nós dois precisamos dessa segurança que oferecemos um para o outro. Não me arrependo de tudo o que fiz e disse naquele calor do momento, foi bom para ambos. O problema vem depois, é claro.

Fecho meus olhos com força ao focalizar na minhas malas prontas perto da cama, está tudo como cheguei há meses atrás morrendo de medo do que estava me esperando. Olha só para agora. É engraçado lembrar que eu estava decidida a ignorar completamente o Mike. Às vezes nós somos tão estúpidos quando estamos machucados.

Eu não contei para ninguém, nem mesmo para as garotas, sobre o que aconteceu entre nós. Acho que no fundo quero guardar apenas para mim, até ter algo mais concreto.

- Você me deve o prêmio de uma aposta - digo, me afastando apenas para olhar em seus olhos.

- Você também.

É verdade, havia me esquecido que perdi nossa aposta sobre o namorado de Haydee.

- Já sabe o que quer? - pergunta.

- Sim e você?

- Também. Vai em frente.

Mordo meu lábio, encostando levemente minha testa em seu queixo.

- Eu gostaria de pedir outra coisa, mas ainda não podemos. - Olho de forma sonhadora e ousada. - Seria uma despedida e tanto.

- Pelo amor de Deus, Malu. - Ele gargalha. - Droga, agora vou ficar fantasiando.

Dou risada também, balançando minha cabeça de um lado para o outro.

- Dorme comigo? - peço.

Mike franze a testa, lutando contra uma careta atrevida.

- Como você é tarado! - Dou um tapa no seu braço. - Estou falando apenas de deitar e dormir.

- Esse é o prêmio que quer? - Assinto. - Parece que quem está ganhando sou eu. Eu ia te pedir isso.

- Sério? - Junto minhas mãos atrás da sua nuca. - Estamos conectados.

- Sim. Então vou pensar em outra coisa... Hmmm, certo. Quero isso... - Beija brevemente os meus lábios. - Até quando for possível.

- Vai ser um sacrifício. - Faço charme. - Mas fazer o quê? Aposta é aposta. Só me resta pagar.

Puxo ele para mim, pressionando nossas bocas. Ainda é como a primeira vez que senti seus lábios. Sinto o mesmo frio na barriga, o mesmo coração acelerado e a mesma vontade absurda de não parar nunca. Antes dele, nunca pensei que eu guardaria um sentimento por tantos anos por uma única pessoa. Agora eu sei que vou sentir isso por ele pelo resto da minha vida e eu não reclamo. Na minha última consulta com a psicóloga, ela finalizou dizendo que eu não preciso ter medo de sentir. Que demonstrar não é uma fraqueza.

O beijo não é acelerado, mas é intenso. É proveitoso e carinhoso, é como se falássemos "eu te amo" sem palavras.

Sinto quando chegamos na minha cama, entretanto, antes que eu caia sobre ele, paro o beijo rapidamente.

Me apresso para fechar a porta e trancá-la, o corredor está vazio. Acho que mamãe deu um jeito de fazer o papai ficar longe daqui, ela sabe que é nossa despedida. Nem mesmo o Peter apareceu, como sempre faz.

Voltando minha atenção para o Mike, me aproximo com passos cautelosos. A visão dele sentado na minha antiga cama, me aguardando, com a respiração acelerada e os olhos desejosos é absurdamente sensual para mim.

Não precisamos dizer nada, eu apenas caminho diretamente para ele, me sentando sobre seu colo com uma perna de cada lado.

Mike me puxa para perto, em uma pegada firme e forte, voltando me beijar com calma. É lento, como uma tortura prazerosa.

Ele se afasta apenas o suficiente para olhar em meus olhos, consigo ver tantas coisas transmitidas pelo seu olhar de devoção. Não tenho certeza se consigo ser tão intensa e transparente quanto ele é para mim. Eu sempre tive mais dificuldade em demonstrar.

Mike coloca meu cabelo para trás do ombro, deslizando seus lábios para o meu pescoço exposto. Jogo a cabeça para trás, lhe dando mais espaço. Sua língua quente tocando minha pele parece me incendiar, acendendo uma chama perigosa.

Aperto seus braços fortes, voltando com meus dedos para os botões de sua camisa social, modelo que costuma usar para trabalhar. Um tanto atrapalhada pela situação excitante, abro um por um com pressa. Deslizo as mangas pelos seus braços, Mike não para de distribuir beijos pelo meu pescoço enquanto isso.

Seguro ele pelos ombros, o afastando um pouco para poder admirar seu corpo esculpido e esbelto. Cara, como eu senti falta disso.

- Lindo - sussurro, passando minhas mãos pelo seu peitoral malhado. Ele parece ainda maior do que antes.

Sinto as mãos dele se juntarem na barra da camiseta do meu pijama, ergo meus braços para ele conseguir tirar sem problemas, jogando ela em algum canto do quarto.

Mike suspira, olhando dos meus olhos para o meu corpo também. O sutiã de renda não deixa muito para a imaginação, mas não tenho o menor problema com meu físico. Não me importo que meus seios não sejam absurdamente grandes e eu tenha mais músculos no abdômen do que o padrão delicado exigido. Amo o meu corpo e sei que o Mike sente o mesmo. Ele parece me adorar com o olhar.

Empurro ele até se deitar na cama, me deixando por cima. Admiro um pouco mais a visão desse pecado bem abaixo de mim.

Ataco sua boca mais uma vez, dessa vez dispensando a calma e o beijando com voracidade e muita sede. Mordo meu lábio para abafar um gemido quando Mike toca um dos meus seios, passando seu polegar pelo bico enrijecido por cima do tecido de renda.

Consigo sentir minha intimidade pulsando com a fricção entre ela e a de Mike, consigo senti-lo completamente duro pressionado contra mim.

Deslizo minha mão por entre nossos corpos e o toco por cima da sua calça social. Me arrepiando completamente com o ruído rouco que ele deixa escapar pelos seus lábios com a minha carícia. Não sou minimamente experiente nesse assunto, apenas sigo os meus instintos. É quase inacreditável para eu saber, do jeito que sou, que tenho quase vinte e dois anos e nunca tive uma relação sexual. Tudo por causa da minha tia. Às vezes tenho vontade de dar uns cascudos nela. Aposto que se essa promessa não existisse eu já teria tido algumas experiências.

Mike segura meu pulso, jogando sua cabeça para trás como pode.

- Caralho, você vai me enlouquecer ainda.

Relaxo meus ombros. Deitando sobre seu peitoral e fazendo com que solte outro gemido rouco com o movimento que meu quadril fez sobre sua genitália ao me inclinar.

- Desculpe - murmuro, segurando o riso enquanto Mike me tira do seu colo para não piorar sua situação.

- Puta que pariu. - Mike cobre seu rosto com o antebraço. - Preciso de alguns segundos.

Tento aproveitar esse tempo para esquecer as sensações pelo meu corpo. Acho que se não fosse o Mike, essa promessa já teria ido pro espaço. Eu não conseguiria parar nunca.

- Ainda acha uma boa ideia eu dormir aqui?

- Claro que sim. - Me apoio em meus cotovelos para olhar em seus olhos.

- Tudo bem. Eu só preciso ir em casa, tomar um banho e colocar roupas confortáveis.

- Só isso? - Mordo meu lábio para disfarçar um sorriso sacana.

- E avisar minha mãe, é claro. Não quero que fique preocupada com minha ausência.

- Ah, nada mais? - Desço meus olhos lentamente até o volume extremamente evidente em suas calças.

- Você é terrível. - Ele segura minha mão antes que eu possa tocá-lo, seus olhos brilhando de tesão. - E safada.

- Eu te espero ir dar um jeito em tudo isso. - Aponto com meu indicador.

- Cala a boca. - Ele se levanta. - Volto em alguns minutos, prometo.

- Tá legal. Beijinho à distância pro fogo não se alastrar.

Prendo meu lábio inferior com os dentes ao observar ele vestir sua camisa, apressado, cobrindo rápido demais seu corpo tentador. Não consigo controlar meus olhos, baixando eles para seu traseiro que fica ainda mais fantástico nessa calça social. É, realmente acho que sou uma mulher de sorte.

- Não dorme antes de eu voltar. - Mike olha para mim ao dizer isso, me pegando no flagra o comendo com os olhos. Desvio sem pressa alguma para seu rosto.

Sorrio com o revirar de olhos dele, brincalhão.

- Não acho que conseguiria.

- Veste logo sua camiseta de novo - diz.

Resmungando, me levanto para recolher a peça do chão.

- Espera aí. - Mike se aproxima. - Isso é uma tatuagem, Maluca?!

- Ah, isso? - Faço pouco caso da situação. - É.

- Eu não tinha reparado antes.

- Você não viu, simplesmente.

Mike se abaixa, em uma distância segura, para ver melhor a pintura na lateral da minha costela direita. O desenho não é muito grande. Se trata de uma bola de futebol, exatamente a que foi usada na copa, envolta pelas fitas de um par de sapatilhas de ponta sendo sustentado pela própria bola. Não é colorida, é bem simples, na verdade. Tem um significado óbvio. Foi feita há alguns poucos anos atrás, quando ainda estava conciliando minha carreira de jogadora profissional com meus horários de dança, afinal, não podia perder a técnica.

- É linda e um belo símbolo das suas paixões.

- Obrigada.

Mike arruma sua postura e se prepara para sair, prometendo voltar o quanto antes (pela sacada, a propósito).

Coloco minhas roupas no lugar depressa, decidindo também que a melhor opção para o meu cabelo agora é amarrá-lo.

- Mike já foi? - Mamãe surge na porta, me assustando.

- Sim, mas vai voltar. Ele vai dormir aqui, só dormir, algum problema?

- Não. Então vocês...? - Ela tenta disfarçar um sorrisinho, mas consigo ver o canto de sua boca subir levemente.

- Não. Só... bom, ainda não. Nada oficial enquanto não decidirmos como vamos fazer.

- É um pouco complicado - ela disse, desviando seus olhos para o corredor ao escutar som de passos. Pelo seu sorriso doce sei que é meu pai antes mesmo que ele apareça para mim.

- O que é complicado? - pergunta, se colocando atrás de mamãe.

- A vida - digo, erguendo os ombros. - Peter já foi dormir?

- Não, vou colocá-lo na cama agora. Acho que estava em uma ligação com uma coleguinha da escola.

- Como ele tá? - pergunto, me referindo ao fato de que ficou meio deprimido com à notícia da minha partida. Sierra e ele não disfarçaram sua decepção.

- Por que não vai lá ver? - papai questiona. - Ele vai entender, você volta em duas semanas.

- É, eu sei. Mas depois vou definitivamente. - Passo minhas mãos no rosto. - Odeio despedidas.

- Não vai ser como antes. - Mamãe e papai atravessam a porta e se sentam ao meu lado, um de cada lado.

- Você progrediu bastante nesses meses que ficou aqui, finalmente viu que o problema não estava no lugar.

- É. Assuntos inacabados nunca trazem coisas boas. - Forço um sorrisinho fraco, sendo envolvida pelo braço do meu pai em meus ombros.

- Você cresceu tanto - murmura contra meus cabelos. - Não acredito que já é tão adulta e independente.

Solto uma breve risada pelo nariz, o abraçando de volta.

- Tenho muito orgulho dos adultos que você e seu irmão se tornaram.

- Tivemos bons exemplos - digo, estendendo minha mão para mamãe. - Senti muita falta de vocês. Obrigada por terem me obrigado a vir, caso contrário ainda estaria agindo como uma idiota.

É inimaginável a saudade que senti deles e de momentos como esse. Morar sozinha sempre foi uma vontade minha, mas não imaginava que seria tão longe das pessoas que amo. Acabei ficando bem sozinha.

Meus pais não ficaram muito tempo depois no meu quarto, então aproveitei os minutos que ainda tinha para dar uma passada no quarto do Peter. Disse para a mamãe que cuidaria de colocar ele para dormir.

Ao bater na porta do seu quarto, o encontrei falando no celular ainda.

-... Eu preciso desligar agora, ela tá aqui - cochicha à última parte. - Te vejo na escola.

Entrelaço minhas mãos atrás das costas, o observando guardar o aparelho e organizar sua cama para dormir.

- Falando de mim? - questiono,

- Sim - diz, simplesmente.

Me encosto no batente da sua porta, cruzando os braços.

- Que horas vai amanhã?

- Cedo.

- Entendo... - Força um sorriso.

Descruzo meus braços e me aproximo dele, tirando o celular da sua mão e me sentando ao seu lado na cama.

- Você vai mesmo voltar?

- Sabe que sim.

- Mas depois vai precisar ir de novo.

- Sim, mas também virei sempre que possível.

- Agora que as coisas entre você e meu padrinho estão indo bem, não tem mais motivo para ficar longe, né?

- Isso mesmo. E também porque quero passar mais tempo com todos vocês, me faz muito bem.

Peter me abraça, se aconchegando em meu colo. Nunca vou estar preparada para o dia em que ele não vai mais caber em meus braços. Não acho que esteja muito longe de acontecer.

- Já escovou seus dentes?

- Já.

- Então está na hora de você dormir, certo? - Me levanto, afastando seu edredom para ele entrar debaixo e se acomodar.

Deixo as almofadas dentro do baú ao pé da cama. Volto para perto dele e o cubro até o pescoço, abrindo um pequeno espaço para me sentar.

- Eu te amo muito, tá? - consigo dizer com facilidade, nunca tive problemas em falar isso para Peter.

- Eu também te amo... muitão.

Sorrio docemente, afastando seus cabelos da testa e deixando um beijinho ali.

- Não fica triste, promete? - Ergo meu dedo mindinho. - Sei que é difícil lidar com despedidas.

- Prometo tentar. - Entrelaça seu dedo com o meu. - Posso fazer uma pergunta?

- Claro.

- Você e o Mike estão namorando de novo?

- Por que acha isso?

- Me responde primeiro.

Me lembro vagamente de uma época distante em que confiei ao pequeno Peter o segredo de que Mike e eu estávamos namorando.

- Vai ter que guardar segredo.

Peter repuxa seus lábios em um sorrisinho lateral, erguendo sua mão como um soldado.

- Sim, senhora.

- Bom... não estamos exatamente namorando, mas é além da amizade, com certeza.

- Por que não estão namorando ainda? - Aperta seus olhos em minha direção.

- Sabe a mesma distância que nos separa? - Peter concorda. - Então, o mesmo acontece com ele. Mike e eu ainda não podemos ficar juntos por causa disso.

- É só vocês fazerem como o John e a Mel ou o papai e a mamãe: morarem juntos!

Dou risada da sua ingenuidade infantil. Ele é tão precioso.

- Não é tão simples. Eu não posso vir para Hills por causa dos meus trabalhos e o Mike não pode largar tudo aqui por minha causa.

- Eu vou pensar em algo, você vai ver. - Estica seu braço para mim com o punho fechado.

- Está bem. - Dou um soquinho em sua mão. - Vai dormir agora, tá tarde.

Peter assente.

Dou um último beijo em sua testa antes de apagar seu abajur e sair do quarto para que possa dormir.

Entro no meu quarto cabisbaixa, suspirando. É difícil se despedir.

- Que cara é essa? - Alguém diz de dentro do meu quarto, eu nem havia notado.

- Caralho, que susto, seu cretino - digo, me aproximando dele na cama. - Não te vi.

- Desculpa. - Ri, abrindo seus braços para eu me aconchegar. - Não respondeu minha pergunta.

- Estava com o Peter, ele tá tristinho pela minha partida e isso me parte o coração.

- Infelizmente é uma coisa que vai acontecer outras vezes. Sinto muito.

Mike me aperta mais em seus braços, estou de costas para ele, sentindo seu rosto levemente apoiado na minha cabeça enquanto fala.

- Queria eternizar esse momento - cochicha, perto do meu ouvido.

Solto um dos meus braços para segurar sua mão diante dos meus olhos. Entrelaçamos nossos dedos com firmeza. Acho que nunca vou estar pronta para deixar isso novamente.

- Me acorda antes de sair?

- Claro.

Viro meu rosto um pouco para conseguir dar um beijo rápido nele, sentindo o cansaço bater. Acredito que esta seja a melhor forma de encerrar o dia. Achei que nunca mais fosse sentir essa sensação incrível de estar nos braços de Mike.

Alguma coisa macia toca levemente meu rosto, me fazendo querer sorrir instantâneamente. Não preciso de muito para reconhecer e saber que são beijos descendo do meu maxilar para o ombro.

- Hmmm... - resmungo, virando meu rosto para o travesseiro.

- Bom dia, linda.

Arrasto minha bochecha o suficiente para olhar para ele com apenas um olho amostra.

Mike não está mais na cama, na verdade, já está pronto para ir ao trabalho. Como se já tivesse levantado, ido para sua casa e voltou apenas para se despedir.

- Bom dia...

Esfrego meus olhos, me sentando na cama para poder despertar logo de uma vez.

- Por que não me acordou antes?

- Acordei um pouco mais cedo, pensei que seria melhor eu ficar pronto antes e poder passar esses minutinhos contigo.

A despedida começa a pesar, mesmo eu sabendo que não é por tempo indeterminado. Não sei como vamos fazer daqui pra frente.

- Me espera aqui, vou escovar os dentes - peço, saindo da cama.

Vou para o banheiro descalça, apressada. Trato de fechar à porta atrás de mim, me encostando brevemente contra ela enquanto aperto meus olhos com força.

Imagine só quando eu precisar ir definitivamente. Não sei se vou ter peito para bater de frente com isso.

Seguro às bordas da pia, olhando meu reflexo através do espelho. Faz tempo que não vejo esse olhar angustiado, esses últimos meses aqui foram como um sonho perfeito e parece que o momento de acordar para a realidade finalmente chegou.

Enrolo meu cabelo no topo da cabeça, jogando um pouco de água no rosto logo na sequência. Com a mão molhada, esfrego minha nunca com os olhos fixos no meu próprio reflexo.

É, hora de seguir em frente.

Não demoro muito escovando os dentes, disposta a aproveitar cada minuto com Mike antes que ele tenha que ir.

A primeira coisa que vejo ao abrir à porta, é um Mike reflexivo sentado na minha antiga cama. Provavelmente confuso com a atitude esquisita que tive ao acordar.

Me aproximo sem medo, erguendo seu rosto para mim ao me posicionar de pé entre suas pernas. O abraço contra meu peito, inalando o cheiro de seus cabelos cor de mel.

- Tá tudo bem?

- Por quê? - pergunto.

- Você saiu daquele jeito apressado.

- Eu só não queria te beijar com bafo. - A piada parece uma boa para amenizar o clima, e funciona já que acabo o fazendo dar risada.

- Você é ridícula. - Se afasta para me olhar. - É sério.

- Se vamos mesmo ficar juntos, essas despedidas não vão ser nada saudáveis.

- Alguma sugestão?

Uma única hipótese brilha na minha mente, mas é tão inviável que eu sequer tenho coragem de dizer. Não posso lhe pedir isso. Não quando toda a sua vida está aqui.

- Não...

- Eu vou te amar pelo telefone, ligar sempre que possível e te encher o saco.

- Obrigada. Só que...

Mike aperta seus braços ao redor da minha cintura, inclinando sua cabeça para trás. Automaticamente eu abaixo a minha e beijo seus lábios, prendendo meus dedos entre seus cabelos macios, que apesar de estarem bem mais curtos do que antes, ainda adoro fazer isso.

- Conversamos sobre isso quando voltar, ok? - Mike separa nossos lábios, mas mantém à curta distância.

- Ok. - Fecho meus olhos ao sentir eles arderem. - Você já precisa ir.

Olho para o relógio na mesa da cabeceira, não me sentindo pronta para soltá-lo.

- Sim... Não fica assim, não sabe o quanto é difícil te ver com essa cara. Já não é um momento fácil.

- Só um segundo.

Jogo minha cabeça para trás, olhando para o teto e respirando fundo repetidas vezes.

- Daqui duas semanas? - Ergo minha mãe em sinal de promessa.

- Daqui duas semanas. - Mike também ergue sua mão, a colocando diante da minha até entrelaçar nossos dedos. Sorrio quando ele deixa um beijo no dorso dela. - E quero ver você bem com esse joelho, viu? Toma cuidado.

- Está bem. E... obrigada por tudo o que fez por mim nos últimos meses, mesmo no início quando eu fui uma babaca com você.

- Faria tudo de novo só para ter o prazer de te ver bem e ainda assim ficar perto de você.

- Aí, cara, é angustiante te amar tanto e cada dia mais.

- Parece que nos sentimos da mesma forma.

Amar Mike dessa forma vai me salvar ou vai me destruir, só me resta descobrir como escolher a opção correta.

Ele se levanta, voltando a ficar na vantagem de altura que eu aprendi a gostar.

- Até mais, então, Maluca Sullivan.

- Até mais, Mimi Wazowski - sussurro a última parte, sentindo minha voz por um fio.

Junto minhas mãos atrás de sua nuca e o puxo para perto, nosso beijo de despedida pelos próximos dias. As mãos dele se fecham em minha cintura, apertando com firmeza. Minhas costas se curvam um pouco com a intensidade do beijo.

Ele se afasta rápido, deixando-me ansiosa por mais. Preciso me acostumar com isso, afinal de contas.

Observo Mike se afastar. Junto minhas mãos na frente do corpo, mordendo meu lábio trêmulo. Ele não se virou para me olhar uma última vez e sei que foi pela lágrima teimosa que não conseguiu segurar.

Solto a alça da minha mala, fazendo com que um barulho seco ecoe por toda a minha cobertura vazia e solitária.

Acendo as luzes, passando minha mão pelo painel digital. Está tudo limpo e organizado graças a senhora, Elizabeth, minha diarista desde que comecei morar aqui. Esperava pelo menos encontrá-la aqui ainda, mas tudo parece absurdamente vazio. Eu tinha me acostumado com isso, entretanto, ficar todos esses meses rodeada de pessoas queridas acabou me fazendo esquecer como era essa solidão. Não que seja ruim, é até bom em alguns momentos. Mas não hoje.

As paredes altas e o piso de mármore que parece tão limpo que sou capaz de ver meu reflexo nele. O lustre bem no centro da sala é uma das coisas que mais chama a atenção por ser extremamente refinado, trabalhado com pedras delicadas e preciosas.

É, realmente estou em casa.

Afundo no sofá macio e extenso, relembrando vagamente meu último dia aqui, antes de precisar voltar para Hills. Eu não queria.

Passei tanto tempo fora que pareço estar estranhando o ambiente.

Lembro que demorei vários dias até encontrar um lugar que gostasse o suficiente para chamar de meu. Recebi opinião de muitas pessoas. Acabei escolhendo aqui. Espaçoso, confortável, bonito e grande demais para uma única pessoa. Acho que no fundo eu comprei pensando em família, não para mim sozinha.

Descalça, volto a levantar e andar pelo apartamento. Gostaria de ligar para alguém, mas estão todos ocupados com estudos ou trabalho.

Paro diante da adega e puxo uma garrafa de vinho. Um Cabernet Sauvignon. Sorrio ao ver o balde de gelo em cima do freezer. Elizabeth me conhece bem demais para o meu gosto.

Encho um taça com o vinho e coloco alguns cubos de gelo, fechando os olhos ao dar um longo gole no líquido delicioso.

- Lar, doce lar - murmuro, sozinha. Estendo a taça no ar, bebendo mais. Fiz isso tantas vezes antes.

Caminho até a varanda do andar de cima, sentando na beirada da hidromassagem enquanto beberíco meu vinho. A vista daqui é linda, acho que senti saudade.

Eu amo a minha vida aqui. Mas preferia que fosse menos solitária.

Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça, demoro alguns segundos até tomar à iniciativa de pegá-lo.

Pisco para a tela, soltando um longo suspiro. Roger Wilson. Meu gestor e o cara que cuida da minha imagem, responsável por me aconselhar na maioria das vezes.

- Roger - digo ao telefone.

- Bem-vinda de volta, Malu. Pronta pra trabalhar?

É, parece que definitivamente Malu Bullworty retornou.


E aí, meus amores! Como estão? Peço desculpas pela demora, espremi o máximo que pude até conseguir escrever isso.

Não se esqueçam de votar, ajuda na divulgação do livro.

Beijos

Alice.

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