Solace ϟ Potterverso

By EvanoraCaligari

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🐍 Vencedor do Prêmio Wattys 2020 na categoria Fanfiction 🏆 Com antigos seguidores de Voldemort ainda à solt... More

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By EvanoraCaligari

Os ânimos em Hogsmeade estavam inflamados com a notícia dos acontecimentos no castelo. Por ordem expressa da diretora, com o aval do Ministério, os dezessete alunos remanescentes foram realocados no Três Vassouras e no Cabeça de Javali, sob a supervisão dos professores e proteção dos aurores. Apesar de a situação não ser fortuita, Rosmerta ficou mais do que satisfeita em receber a filha no pensionato.

Após ser escoltada junto aos outros estudantes até o povoado, uma hora depois do incidente, Isis se refugiou no quarto reservado a ela, sem a preocupação de dividi-lo com outra pessoa. Não tivera tempo para recolher todos os pertences, com Aurora apressando-a da sala comunal, porém se preocupara em separar o filtro de sonhos, os livros de Underhill, e a tinta mágica necessária para o feitiço de invasão de sonhos.

A astrônoma já não era o alvo de treinamento há uma semana, quando decidira voltar, enfim, a atenção aos outros professores. Os de Sibila Trelawney eram, de longe, os mais surpreendentes, considerando a excentricidade da professora e a capacidade de criar cenários que beiravam o surreal. Por outro lado, não era a mente mais difícil de penetrar. Este posto pertencia a McGonagall. Espiara, após bastante esforço, as preocupações da diretora aflorarem em seus pesadelos envolvendo a batalha de Hogwarts, e a insegurança com a ausência de Dumbledore, agravada pelo novo posto na escola.

Em sua última invasão, Isis conseguira evocar a figura de Albus para que ele tranquilizasse Minerva e a incentivasse a permanecer no cargo. Acordou minutos depois com uma forte dor de cabeça, mas satisfeita em atingir aquele patamar esperançoso. Agora a confiança renovada exigia um novo desafio antes de prosseguir com Underhill, só temia não possuir o tempo necessário para a exploração desejada.

Apesar do breve desentendimento com Snape, não estava nos planos desistir de espreitar os sonhos do mestre de Poções e, quem sabe, descobrir o que ele fazia questão de esconder. Contudo, cansada do jeito que estava — e certa de que o professor não dormiria aquela noite —, lançou feitiços de proteção em cada canto possível, livrou-se das roupas e se deitou de bruços, mantendo a coberta longe da pele machucada.

E só se dera conta de que dormira ao despertar; o relógio de bolso, deixado sobre a mesa de cabeceira, indicava o nascer do Sol. Isis se sentou na cama e se espreguiçou, notando com entusiasmo que os cortes recentes não incomodavam tanto, após emplastrá-los com unguento do Olvido do Dr. Ubbly. Enquanto os verificava no espelho, teve que se apressar para concluir a transfiguração e se vestir, ao ouvir alguém bater à porta. Do outro lado, Kingsley e Aurora ficaram aliviados ao encontrá-la, sem se demorarem a entrar por medo de alguém os visse ali.

Depois de responder as perguntas sobre seu bem-estar — a maioria feita cheia de remorso pela professora —, o ministro, aparentando uma exaustão que não lhe era comum, repetira a pergunta que os outros fizeram após o ataque de Pirraça. Da mesma forma que Filch não soubera explicar o que desencadeara a hostilidade do poltergeist, Isis só pôde relatar o que contemplara e dividir a teoria.

— E nós fizemos exatamente o que ele queria — disse Sinistra, atiçando o fogo na lareira. — Mas se Underhill foi capaz de entrar em Hogwarts e enfeitiçar o Pirraça, por que não foi direto até você?

— Havia dezessete opções. Entre elas, apenas duas intercambistas continuaram na escola para o recesso, o que poderia ser só um engodo a fim de ocultar minha presença. Erastus não conhece meu disfarce, tampouco entrou em Hogwarts. — Isis encheu um copo com água, na tentativa de dissolver o bolo que se formara na garganta. — Tem alguém dele lá.

— Essa é uma acusação grave. Tem certeza disso? — Shacklebolt perguntou sem muito ânimo, fazendo-o por praxe.

— Bom, caberá ao Ministério investigar, não? — O ministro coçou a testa e se ergueu da poltrona sob o olhar atento de Isis. — Kingsley?

— Sinto ser o portador da notícia, Isis. Depois do que aconteceu ontem, pensando na integridade dos alunos — ele fitou Aurora em busca de apoio, mas a bruxa mantinha a atenção nas chamas da lareira —, Hogwarts não poderá mais servir como seu abrigo. Entraremos em um novo ano em breve e, até o momento, não recebemos informações que auxiliassem na busca por Underhill.

Isis não podia alegar surpresa, porém isso não tornou o comunicado menos intragável. Queria pegar a culpa por aquilo que estava acontecendo e tacar em Shacklebolt ou McGonagall, extravasar de alguma forma, mesmo assim não o fez, pois estavam certos. Contudo, sem a proteção da escola, seria mais fácil se entregar a Erastus de uma vez.

— Me dê até o fim das férias. Há mais uma forma de eu...

— Isis, não — murmurou Aurora, sendo ignorada pela amiga.

— ...conseguir descobrir a localização de Erastus. Só preciso de uns dias, eu acho. Uma semana. — O ministro levou as mãos às costas, pensativo. — Não vou implorar.

— Não esperava que o fizesse. — Ele suspirou, assentindo para Aurora. — Conversarei com Minerva, em nome do espírito natalino, sobre a extensão no prazo. Há algo que o Ministério possa fazer para ajudá-la com o novo plano? O contingente de aurores está escasso, porém... — Isis negou com a cabeça, decidida.

"Por enquanto", pensou, despedindo-se de Kingsley com um aperto firme de mão. Ao contrário do ministro, Aurora ficou para trás, apesar do semblante mal-humorado da amiga.

— Snape estava com uma cara amarrada parecida com essa — comentou, apontando para o rosto de Isis —, ao sair do Três Vassouras uma hora atrás. — A bruxa não deu trela à professora, indo até o armário e pegando um casaco. — Ele passará o dia em Azkaban, interrogando Yaxley... Vocês discutiram?

— Vai terminar a lição de moral de ontem ou posso tomar o café da manhã ruminando sobre uma crise de cada vez?

— Sinto muito pela noite passada. Eu não tinha o direito de me intrometer assim na sua vida. Apenas fico preocupada com esse interesse em Severus. Mesmo assim — adiantou-se em dizer ao ver Isis prestes a rebater —, não a julgarei quanto a isso. Se quiser ouvir meus conselhos, terá que pedir por eles. Do contrário, manterei todos para mim, não importando quão incoerente esse relacionamento soe.

— Ah, você se saiu tão bem, mas esse final... — Aurora sorriu, dando de ombros. — Não há relacionamento algum.

— Isso não quer dizer que você não queira, correto? — Isis engoliu em seco a resposta antes de sair do quarto, acompanhada pela professora.

O café da manhã não se comparava ao de Hogwarts, contudo Rosmerta se esforçara, com a ajuda de alguns elfos do castelo. A senhoria encheu a filha com pequenos mimos, de forma discreta para não atrair a atenção dos outros sete alunos. Os demais hóspedes foram convidados a se retirarem, assim como ocorrera no Cabeça de Javali, para o controle dos aurores ser maior sobre os adolescentes.

Apesar de estarem em Hogsmeade, ninguém podia deixar os estabelecimentos onde foram designados para visitar as lojas. Os diretores de casa deixaram bem claro de que não se tratava de uma simples visita ao povoado, cortando o singelo entusiasmo dos estudantes. Enquanto isso, outros professores tentavam dar fim ao feitiço que servira de gatilho para intensificar o comportamento travesso de Pirraça. Segundo Aurora, durante uma conversa privada, o palpite de Flitwick e Savage era de que alguém despertara a lembrança do primeiro ataque do Poltergeist, fazendo-o achar que estava de novo em 1876.

Não se tratava de um feitiço de fácil execução, já que mexer com memórias podia ser um campo minado nas mãos de um bruxo inexperiente, especialmente envolvendo um ser amortal. Isso só corroborou para a teoria de Isis quanto às intenções de Underhill. Mesmo assim não conseguia pensar em ninguém que pudesse executar uma magia desse nível, ainda mais em se tratando de Pirraça como alvo. A bruxa passara parte da tarde no quarto, dividida entre descobrir o nome do comparsa do antigo tutor, e estudar invasão de sonhos, para não acabar expulsa de Hogwarts. No fim, caíra no sono sobre livros e cadernos.

Batidas urgentes à porta a despertaram do cochilo de quase cinco horas. Isis fez o melhor que pôde para se orientar e não tropeçar, de tão grogue que estava. Acreditando ser Rosmerta ou Aurora, não se deu ao trabalho de perguntar quem era.

— Perdi o jantar? — perguntou, abrindo uma fresta e encontrando Snape.

Vendo-o com as vestes de sempre, a mente sonolenta vagou para um guarda-roupa repleto de calças, sobrecasacas e capas deliberadamente iguais, com Severus estudando-as atentamente, como se dividido entre uma variedade imensa de possibilidades para preservar o luto perene. Quando já estava chegando nos pensamentos envolvendo-o sem as roupas, ele falou:

— Não tenho vocação para estátua, Blakeley. — O mau-humor não foi capaz de disfarçar o cansaço, apesar do esforço para soar detestável.

— Eu acabei de acordar e a minha paciência para antipatia está muito baixa, então terá que ser mais... — ela soltou um longo bocejo, que a deixou com os olhos marejados — gentil se quiser entrar. — Quando Snape não respondeu, Isis ensaiou fechar a porta.

— Precisamos conversar — disse com um tom menos rabugento —, por favor.

— Olhe só, você nem entrou em combustão espontânea por tentar soar agradável. — Ela virou-se e se afastou, ouvindo a porta se fechar atrás de si. — Como foi o interrogatório? Tão infrutífero quanto esperado? — A transformação em Hannah Cooper se desfez com alguns floreios, voltando à constituição física original.

Ela se sentou no colchão duro e não repetiu a pergunta quando não houve resposta. A princípio, acreditou que Snape abordaria o pequeno surto da noite anterior, ou o mistério que ainda cercava o artefato "de Delilah", encontrado na última memória explorada, porém ele demonstrou mais interesse em observar com cuidado cada canto do cômodo. Isis fingiu arrumar as cobertas para encobrir os livros de Underhill e, por mais contraditório que soasse, desejou que o professor não chegasse perto da cama.

— O que Kingsley queria? — perguntou ele, pegando o vidrinho de tinta de cima da escrivaninha.

— Um abraço apertado. — Isis se levantou, apressada, e tirou o objeto da mão de Snape, guardando-o na gaveta. — Ele veio me dar a notícia de que meus dias em Hogwarts estão contados. Quase um déjà vu, sem a transferência para Uagadou dessa vez. Acho que consegui uma extensão no prazo, mas é melhor eu começar a me acostumar com a ideia de fugir de novo.

A tentativa de passar tranquilidade com um tom ameno não comprou Severus. O fato de ele não demonstrar contentamento com a notícia, por outro lado, foi um alívio. Talvez a tivesse perdoado pela pequena discussão. Não teve tempo para questioná-lo, contudo. Isis teve que se adiantar ao vê-lo afastar-se e se colocou entre a porta e o professor, sem entender a ação repentina.

— Ei, o que foi? — Ele não recuou quando Isis pousou a mão em seu peito, impedindo-o de prosseguir, mas a bruxa sentiu os músculos se retesaram sob os dedos.

— Expulsá-la será o mesmo que entregá-la a Underhill. — Severus franzia a testa de uma maneira que a bruxa nunca vira antes, repleto de uma preocupação legítima. — Nem Minerva, nem Kingsley podem permitir isso. Um grande contrassenso.

Isis não sabia lidar com essa mudança de comportamento. Não quando vinha de Snape. A atração que havia entre ambos florescia com o correr dos dias, entretanto, ela não esperava que algo além surgisse das interações. Em se tratando do mestre de Poções, um ato de cuidado possuía uma significância mais intimidante que o jogo que vinham disputando desde que aceitara se tornar Hannah. Em vez de fazer piada disso — para disfarçar o embaraço —, acercou-se, colando o corpo ao dele e elevando o rosto para encará-lo.

— Eles não vão me expulsar. Não agora, pelo menos. Não me leve a mal, mas quem pode encontrá-lo além de mim? — Isis deslizou a mão para as costas do mestre de Poções, abraçando-o. — E se meu plano não der certo, você ainda terá acesso às minhas memórias. — Snape estreitou o olhar e a bruxa se deu conta, tarde demais, que falara além da conta.

— Qual plano? — Isis vacilou, prendendo a respiração. — Isso tem alguma coisa a ver com a tinta, os livros que você, lamentavelmente, tentou esconder, e os encontros noturnos com Sinistra?

— Você precisa parar de me vigiar ou verá algo que não deseja. Ah, vamos lá! Estar sonolenta não me impede de usar oclumência. — Ela desviou o olhar, incomodada com a intensidade com que era fitada. — É um plano que será lapidado, então pare de tentar entrar na minha mente... Só na minha mente. O resto é negociável, professor.

— Nunca foi do meu intento invadir nem uma parte de você sem a devida autorização. — Apesar da seriedade no semblante, o tom dúbio das palavras fê-la mordiscar o lábio. — Não foi isso o que quis dizer, Blakeley, mas interprete como bem entender.

Snape não se afastou quando, movida pelo impulso, Isis o puxou pela nuca e o beijou. Apesar da suspeita de que ele se afastaria a qualquer instante, tomado pelo seu habitual comedimento, não houve urgência. Tê-lo ao alcance das mãos foi o suficiente para alimentar a vontade que vinha consumindo-a desde a Casa dos Gritos, e um bocado antes, caso estivesse disposta a admitir. Não suportava ter os planos frustrados pelo autocontrole do mestre de Poções, e a pequena demonstração de afeição, segundos antes, dizia-lhe que não era a única.

As intenções saíram do campo nas insinuações tácitas, tornando-se cada vez mais óbvias a cada explorar cobiçoso de Isis; a língua investida em uma carícia lenta e sem pudor, fazendo os músculos contraídos do professor relaxarem pouco a pouco ao envolvê-lo em toques desprovidos de todo e qualquer melindre que os detivera antes.

Ela deslizou a mão até os quadris de Severus e, extasiada, ouviu-o gemer contra seus lábios quando chegou ao fecho da calça; os dedos provocando-o sobre o tecido com promessas nada castas. Era onde Isis o queria, sob o seu irrevogável domínio, não só em nome do próprio prazer, mas também como um presente a ele. Considerava saber ceder uma qualidade; uma a qual ambos tinham que aprender. Estar no controle a todo instante era cansativo e Snape merecia um descanso. "De preferência, sob mim", pensou, empurrando-o até a parede, invertendo o jogo da Casa dos Gritos, e retomando o contato.

Os dedos longos e ágeis subiram pelas costas de Isis, causando arrepios e a nítida sensação de que o coração da bruxa atravessaria o peito, graças ao vigor das sensações que a entorpeciam para qualquer outra coisa além daquele mundo de quatro paredes. O fervor cresceu ao sentir uma das mãos deslizarem por baixo da blusa, fazendo-a tremer; os pensamentos enublados, guiados exclusivamente pelos instintos. Esquecera por completo o que os levara até ali ou as cicatrizes que a marcavam em tantos níveis. Estar com Snape não era uma constante provação, onde devia mostrar-se digna de ser tocada.

Isis se afastou o suficiente para estudar a reação do professor, mantendo os lábios próximos aos dele. Apesar dos esforços, vislumbrou uma contenção em seus olhos escuros que teimava em não se permitir abandonar, e ela sabia que Snape o fazia de propósito, sondando seu empenho com a curiosidade analítica de alguém pouco acostumado com tais demonstrações de volúpia. E foi assim até a bruxa exceder os limites do tecido das calças e intensificar o toque. Um suspiro discreto deixou os lábios de Severus, fazendo-a sorrir diante da pequena demonstração de querer.

Estava mais do que disposta a desistir do anseio inicial, de que Snape não se aproximasse da cama, e dos livros de Erastus, quando uma onda de náusea a atingiu de repente. A bruxa cambaleou para trás, aturdida, e o professor teve que segurá-la, prevendo uma queda.

— Isis? — Ela o encarou, dividida entre a surpresa da sensação súbita de mal-estar e o fato de Snape tê-la chamado daquela forma pela primeira vez.

Tentou responder ao ver a inquietação que ele emanava, porém não foi capaz. Quando a aflição, nascida do íntimo, foi forte demais para suportar, Isis hesitou e Snape notou no mesmo instante, recuando para lhe dar espaço. Um formigamento se espalhava pelo seu corpo; um aviso incômodo e, ao mesmo tempo, muito bem-vindo nas circunstâncias em que se encontrava. A cabeça tornou-se atulhada com lembranças geladas de Erastus e do ataque de Pirraça.

Ela olhou ao redor, em busca do vetor do gatilho, e viu-se atraída até a janela. A mão parou a centímetros da cortina, temendo o que encontraria para além do vidro embaçado. Isis respirou fundo e afastou o pano alguns centímetros, tendo uma visão privilegiada da frente do estabelecimento e do semicírculo de pessoas que se formara no meio da rua; sete no total, sob a nevasca. Severus parou ao seu lado, recompondo-se, antes que um grito se dispersasse, seguido por outro, vindos de dentro do Três Vassouras. Os dois não eram os únicos que tinham notado o agrupamento.

Sete comensais. Sete comensais em Hogsmeade. Nem um olhava para cima, porém não havia dúvida por trás da motivação que os levara até ali, assim como não havia tempo para pensar demais. Isis acenou e a varinha voou para uma das mãos, enquanto a outra abria a porta sem ao menos tocá-la. A voz do professor chegou até ela, chamando seu nome. Imersa demais no caminho que se abria até a entrada do pensionato, ignorou-o; o coração acelerado feito nos dias passados ao relento durante a guerra, tornando-a vigilante e pronta para agir.

— O que está fazendo aqui? — Sinistra e os demais professores a encararam, surpresos, reunidos em frente ao bar. — Volte para o quarto agora!

— Isso é coisa dele! — Isis apontou para a porta de entrada, só então percebendo a confusão de Slughorn, Trelawney e Sprout ao vê-la em sua verdadeira forma. — Mantenham os alunos nos quartos.

— Não está pensando em... Ele pode estar lá fora! — Aurora a segurou pelo braço, impedindo-a de girar a maçaneta. — Deixe os aurores cuidarem disso.

— Onde estão os aurores agora? — Isis se desvencilhou com força do aperto da amiga. — Erastus sabe que estou aqui. Se me quisesse morta, eu já teria visto o lampejo verde há muito tempo.

Passos apressados no andar de cima chamaram a atenção de todos, seguido por um grupo de alunos tumultuando a escada em busca de explicações. Snape só faltou empurrá-los para o lado, e Isis se adiantou e cruzou a porta. Os pés afundaram na neve e o vento frio jogou seus cabelos contra o rosto enregelado, subindo pelas bocas das calças, trespassando o tecido da blusa.

A bruxa estreitou o olhar e, apesar da dificuldade em mantê-los abertos, reconheceu cada rosto protegido sob o capuz de comensal, iluminados pelas lamparinas dos estabelecimentos das imediações. As varinhas apontavam na sua direção, mas as expressões apáticas não a enganaram. Os olhos baços não a enxergavam de verdade.

— Certo, estou aqui. Era isso o que queria?! — Ela deu dois passos à frente, olhando ao redor em busca de Underhill. Teve que gritar para sobrepor o uivo do vento. — Primeiro enfeitiça Pirraça e agora isso — disse, indicando os criminosos de guerra com um aceno displicente. — Resolveu enviar os velhos amigos para fazerem o trabalho sujo por você? Deve estar desesperado para mandar alguém como Macnair. — O comensal não esboçou qualquer reação; a mente perdida em algum lugar distante.

— Posso vê-la, Isis. — Todos falaram ao mesmo tempo. As vozes inflexivas fizeram um trabalho melhor que o próprio frio em causar arrepios. — Não sabe o quanto senti sua falta. Não sabe o quanto sonhei, e ainda sonho, com os bons e velhos tempos. Bom, talvez saiba.

— Então por que não veio aqui? — Ela se aproximou um pouco mais, esperando que Erastus saísse de uma das vielas a qualquer instante. — Pensei que não tivesse medo do Ministério.

— Sou um homem paciente. Nunca a forcei a fazer algo que não queria e não começarei agora. — Isis riu, mordiscando o lábio e provando da raiva misturada ao sangue. — Você virá até mim de livre e espontânea vontade, minha garota. Tudo será perdoado, incluindo as notáveis fantasias que permeiam seus sonhos. — Um rubor afluiu no rosto da bruxa, mas ela não se deixou abater.

— Então me diga onde está e, talvez, eu considere sua proposta. — Os sete riram e Isis conseguiu visualizar Underhill fazendo o mesmo onde quer que estivesse.

— Que tipo de tutor eu seria caso lhe entregasse a resposta de mão beijada? Aproveite a estadia em Hogwarts e lembre-se dos bons tempos. Raciocine; utilize a abundância de conhecimento que partilhei com você para encontrar a resposta.

A porta do pensionato se abriu e Snape, acompanhado de Aurora, juntaram-se à bruxa. Isis não notou o descontentamento do mestre de Poções com a ação impetuosa, concentrada demais nos antigos servos de Lorde Voldemort para perceber algo além do perigo que a rodeava; os olhares voltando-se por um instante na direção de Snape, cheios de fúria. "Onde estão os aurores?", pensou, mantendo os dedos firmes ao redor da varinha.

— E quem garante que não levarei os aurores até você? — As palavras foram carregadas pelo vento, sem uma resposta imediata para o questionamento.

— Eu garanto. Conheço-a melhor que qualquer um. Pare de tentar se esconder, pois não há maneira viável de me manter longe... e sabe disso. — Os comensais sorriram. — Não demore demais, sim? Até nos reencontrarmos, fique com esse humilde presente.

O que aconteceu em seguida se passou na velocidade de uma batida acelerada do coração de Isis. Em um instante encarava os comensais, no outro, lançava um feitiço de proteção enquanto uma luz intensa e esverdeada derramava-se sobre Hogsmeade. Cega para tudo ao redor, sustentou o feitiço mesmo sem receber o impacto de sete maldições da Morte. Com Snape e Aurora ladeando-a, atribuiu isso ao esforço conjunto.

Tão logo a escuridão se espalhou outra vez, viu-se diante de sete corpos caídos.

Os três se aproximaram com cuidado dos bruxos das trevas, mas os olhares vazios, encarando o céu sem estrelas, confirmavam o esperado.

— Vocês estão bem? — Aurora segurou a amiga pelo ombro, como se para provar que ela estava sã e salva. — O que está fazendo?

Isis não perdera tempo em se afastar para vasculhar os bolsos do comensal próximo. Crabbe. Ao verificar os antebraços, além da cicatriz da marca negra, símbolos intrincados, idênticos aos usados por ela na invasão de sonhos, desfaziam-se feito areia soprada para longe.

— Eu disse que ele não queria me matar — comentou Isis, ignorando a primeira pergunta. — Talvez Erastus tenha deixado algo com eles.

— Eles estavam sonhando, não estavam? — A astrônoma tremeu ao também reconhecer os símbolos. — Como Underhill conseguiu reunir tantos comensais de uma vez?

— Fracos, todos eles. — Snape parou entre dois corpos, ficando de costas para as duas bruxas. — Macnair, Nott, Goyle — disse, indicando outro comensal com o queixo.

— Só um mise en scéne para chamar minha atenção, mostrar que está no controle. — Isis correu os dedos pelos cabelos, respirando fundo. — E onde estão os malditos aurores?!

— Severus e eu vasculharemos os arredores. — Aurora ajeitou a gola do sobretudo quando os lábios começaram a tremer. — Volte para dentro. É uma ordem, Isis!

A bruxa cerrou os punhos, voltando a atenção ao professor na esperança de receber algum apoio, e encontrou um crispar de lábios tão irritado quanto os ânimos da amiga. O formigamento passara, porém, sabia que nem um dos dois a permitiria prosseguir baseado em uma sensação.

Ela marchou para dentro, deixando o vento frio entrar e atraindo o interesse dos docentes, que — aparentemente —conseguiram conter o grupo de alunas. Sprout futricava com o diretor da Sonserina próximo à árvore de Natal, onde Rosmerta roía as unhas sob a atenção irrestrita de Trelawney.

Quando a porta se fechou, puxada pelo vento, o silêncio caiu sobre o pub. Diante da mãe aliviada e de um Slughorn sedento por se intrometer onde não fora chamado, Isis foi até o balcão, fingindo não se importar com os olhares a seguindo, pegou uma garrafa da primeira bebida ao alcance e fez o caminho de volta ao quarto, acompanhada do uísque de fogo e da impotência crescente.

Notas

Esses dois não têm um minuto de paz mesmo!

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