- Seu irmão?- sussurro.
- Sim.- ele fita o chão.- Você conhece ele?
- Um pouco.- franzi a testa.- Cody, o que é isso no seu braço?- aponto para a marca vermelha no mesmo. Ele colocou a mão por cima.
- Eu só acertei em algum lugar.
- Isso parece a marca de um tapa.- olhei para os dois lados e comecei a falar mais baixo ainda.- Cody, eu sei que você não me conhece, mas eu quero te ajudar. Tem algo que queira me dizer sobre a sua família? Sobre essa marca?- aponto para o seu braço.
- E-eu não deveria conversar com um estranho.
Agora tudo faz sentido. Esse garoto deve apanhar do próprio irmão, por isso que sinto algo ruim quando olho para o Ashton.
- Quem foi que te machucou, Cody? Por favor, me conta.- insisto.
Ele olha em direção a casa e suspira.
- Foi a minha mãe. Eu tinha feito besteira e ela me puniu, só isso.
- Tem mais alguma coisa para me dizer?- sinto que falta algo.
Cody ficou em silêncio, encarando os seus próprios pés.
- Cody!- uma voz feminina grita de dentro da casa. Uma mulher de seus 40 e poucos anos com um cigarro na mão nos observava de cara feia.- Ei, você! O que está fazendo com o meu filho?
- Nada.- respondo rápido.
- Cody, saia de perto desse moleque!- ela deu uma tragada.
O garoto faz o que ela manda e recua alguns passos, ainda olhando para baixo.
- O que eu disse sobre conversar com estranhos? Será possível que você nuca me ouve, pirralho? Que droga!
- Desculpe, mamãe.- sussurra.
- Eu não ouvi!
- Desculpe, mamãe!- diz, um pouco mais alto.
- Olhe para mim, garoto.- ele obedece.- Entre, agora! Espero que não tenha falado nenhuma bobagem para esse sujeito.
- Não fiz nada, eu juro.- Cody sussurra e corre para dentro. Antes de bater a porta, a mulher me lançou um olhar feio. Franzi a testa. Isso lá é jeito de falar com uma criança inocente? Ainda mais quando é o seu próprio filho?
Não, eu não confio nessa mulher, tem algo errado. Além do mais, eu sentí algo ruim vindo dela. Pelo menos, ser um fantasma tem o seu lado bom. Deixei de ficar visível e entrei na casa de Cody, atravessando a cerca e a parede. Olhei em volta, parece uma cozinha e tem latas de cerveja amassadas por todas as partes, cigarros apagados jogados no chão e pisoteados. Uma pequena louça para ser lavada na pia e uma mesa de jantar com três cadeiras em volta, um sentimento ruim por todos os cantos.
- O que você estava fazendo com aquele homem?- a mesma voz de antes grita de algum cômodo da casa. Caminho em direção a voz.
- Ele... Ele só estava pedindo uma informação.- reconheço a voz de Cody.
- Ah, por favor, garoto. Não minta para mim.- ouço o som de algo estalando, como se fosse um tapa, e um grito de dor. Lá estava Cody, com a mão no rosto e a mulher na sua frente, com a cara irritada.
- Eu já disse o que vai acontecer se você ficar espalhando para todo mundo o que acontece dentro desta casa.- rosnou e o garotinho assentiu.- Que isso não se repita, pirralho. Senão, nunca mais te deixo ficar na varanda outra vez.
- Por que a senhora faz isso, mamãe?- Cody choramingou. Ela revirou os olhos e pisoteou o cigarro que acabara de jogar no chão.
- Porque você merece ser tratado assim.- riu.
- O que eu fiz?
- Nasceu.- naquele momento, eu sentí um ódio inexplicável. Eu quero fazer esta mulher ter o pior de todos os pesadelos. E o mais real também, para quando ela acordar, sentir medo de tudo a sua volta, se sentir insegura como o Cody, e sofrer como ele sofre.- Agora, pegue isso do chão.- apontou para o cigarro caído.- E lave aquela louça.
A mulher saiu andando. Cody se agachou e pegou o cigarro do chão, jogando-o numa lixeira próxima, depois, se dirgiu a cozinha e começou a lavar aquela louça. A expressão triste estampada no seu rosto. O sentimento ruim daquela casa estava começando a me irritar, eu não aguentava mais um segundo ali dentro. Saí de lá e voltei a ficar visível na calçada. Foi quando Holly e Skye saíram da casa.
- O que está olhando, Zayn?- Holly se aproxima.
- Temos que conversar quando chegarmos em casa.- respondo sério.
- Nossa, que clima é esse?- a loira me encara.- Está tudo bem?
- Comigo sim, mas com aquele garoto não.- aponto para a casa de Cody. Elas me olharam confusas.- Apenas vamos embora, Holly Walker.
[...]
Eu pensei que o mundo lá fora estivesse melhor. Pensei que as pessoas passaram a ser boas e a respeitar as outras. Mas a quantidade de sentimentos ruins que me transmitiram hoje estragaram tudo. E o que ví hoje também. Claro, como pude ser tão otário? Só estou morto por 6 anos, isso não é tempo suficiente para uma paz mundial, está tudo a mesma porcaria de quando eu era vivo. As pessoas ainda roubam, matam, sequestram, estupram... Nada mudou.
- Você parece meio tenso, Malik.
Holly trancou a porta e respirou fundo. Olha só, a quantidade de perigos que essa garota corre todos os dias. Essa garota tão boa e gentil. Não é atoa que estou aqui, desperdiçando minha vida após a morte para protegê-la deste mundo doentio.
- Eu ví uma coisa horrível hoje.- conto.
- Aonde?
- Na casa do Cody. O sobrenome dele é Irwin. Isso te lembra alguma coisa?
Ela pensa por alguns segundos e depois arqueia as sobrancelhas.
- Ele é parente do Ashton?
- É o irmão dele.- caminho até ela e a seguro pelos ombros, fazendo-a olhar para mim.- Agora. Tudo. Faz. Sentido. Holly. Walker.
- Primeiro, nunca fale pausadamente comigo. E segundo, o que faz sentido?- Holly balançou a cabeça.
- E se o Ashton maltrata ele, Holly? Já pensou nisso?- a balanço pelos ombros.- É claro! Toda aquela sensação ruim vindo dele é por causa disso, ele maltrata o pórpio irmão mais novo. Está me entendendo? Por favor, diga que está me entendendo.
- Zayn, você não tá legal.- ela põe as mãos nos meus ombros e me balança também.- O Ashton não é ruim. Não viaja.
- Eu ví a mãe do Cody bater nele. Eu entrei na casa dele.
- Você o quê?- ela me larga e eu faço o mesmo.- Por que entrou lá? Isso foi errado.
- Holly, não importa. Eu ví o jeito que ele é tratado naquela casa. Ele sofre lá dentro.
- Só porque ele apanha da mãe, não quer dizer que o Ashton faça o mesmo.
Franzi o cenho.
- Pare de defender aquele cara! Por que você não acredita em mim?- ela cerrou os olhos para mim.- Holly, Cody é maltratado dentro da própria casa. Um garotinho, que não tem culpa de nada. Isso significa algo para você?
- Não podemos fazer nada, Zayn, precisamos de alguma prova.
- Os machucados daquele garoto não provam nada?- exclamo.
- Skye disse que ele sempre inventa uma historinha quando alguém pergunta sobre os machucados.- olhou pra mim triste.- Não tem como a gente ajudar.
Suspiro derrotado. Me encosto na parede e arrasto minhas costa na mesma, até sentar no chão. Nunca fiquei tão revoltado. Fala sério, eu estou morto, por que não consigo descançar em paz logo de uma vez? Por que é tão difícil? Holly senta-se ao meu lado e me observa por alguns segundos.
- O Ashton tem algo a ver.- digo.
- Por favor, Zayn, eu não quero me irritar com você.
Silêncio.
- Ainda quero te ajudar a rever a Safaa.- ela encosta sua cabeça no meu ombro e fica brincando com os próprios dedos.
- Você ainda se preocupa com isso?- pergunto.
- Você merece ver como sua irmã está. Se eu passasse 6 anos longe da Sam, eu faria de tudo para encontrá-la.
Não respondo.
- E desculpe.- olho para ela confuso.
- Pelo quê?
- Não existe paz nesse mundo. E graças a mim, você vai continuar a viver aqui por um bom tempo, aturando toda as idiotices do ser humano. Começando pelo caso do Cody. Eu sinto muito.
Sem pensar direito, deposito um beijo demorado no topo de sua cabeça.
- Eu disse para você não se culpar, Holly Walker.
Esses dois são tão adoráveis :) Bem, o Cody é realmente maltratado, mas não se sabe ainda se o Ashton tem algo a ver com isso, hmm...
JubsXx