Amor Maluco

By alicejfsilva

154K 17K 18.9K

Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... More

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 110

998 112 351
By alicejfsilva


- Você já está pronta, filha? - minha mãe coloca sua cabeça para dentro do meu quarto, com uma toalha de banho em seus cabelos.

- Só isso aqui e... - passo o brinco pelo furo da minha orelha, vendo a mediana pedra de rubi balançar. - Pronta! O que acha? Estou bem?

Dou uma voltinha para ela ver melhor, fazendo charme ao jogar meu cabelo para o lado.

- Está linda- ela sorri, entrando no quarto de uma vez. - Seu vestido é muito bonito.

- É, eu comprei em uma boutique lá em Manchester e nunca o usei.

Passo as mãos pelo tecido de tafetá, olhando a peça através do espelho. Comprei esse vestido para usar em um evento festivo com alguns jogadores de futebol do mundo inteiro, mas acabei escolhendo outra opção e esse ficou guardado.

Pensei que não combinaria com a meia-calça arrastão, mas encaixou como uma luva. Acompanhado de uma coturno também preto, sem salto, por precaução. Fechei o look com um blazer capa vermelho, que eu simplesmente amo por me deixar com um ar de mulher madura, combinando perfeitamente com o meu brinco. Provavelmente eu irei tirar ele no início da festa, mas é uma ótima peça para a chegada nesse clima gelado.

Nunca imaginei que aquela garota que só vestia jeans e camisetas cumpridas, seria capaz de se vestir dessa forma algum dia.

- Você realmente se tornou uma grande mulher - mamãe coloca as mãos em meus braços.

- Acho que eu tive uma boa inspiração - digo, abrindo um grande sorriso com meus lábios coloridos pelo batom vermelho.

Minha mãe me dá um grande abraço, me fazendo fechar os olhos com seu carinho materno. Quantas vezes precisei disso e não pude ter? Queria estar perto dela para ouvir seus conselhos, receber seu abraço terno e verdadeiro. Sentia até falta de ver os olhos dela se encherem de lágrimas por qualquer coisa boba ou emocionante, como agora.

- Nos vemos lá na festa, preciso me apressar ou seu pai vai dormir de tanto esperar - dou risada, é exatamente o que ele faria.

- Isabella!

- Falando nele.

Ela saí do quarto na minha frente, eu demoro alguns segundos a mais para pegar minha pequena bolsa de mão e o presente de Carlos. Um relógio Patek Phillipe que eu encomendei há semanas.

Encontro meus pais no corredor e o Peter emburrado, assistindo nosso pai reclamar da demora. Aceno para ele vir me dar um abraço, chamando sua atenção.

- Uau, maninha - ele exclama com a boca aberta, se aproximando para me dar um abraço apertado. - Como você tá cheirosa.

- É mesmo? - dou risada.

- É, meu padrinho vai amar.

Não me dou ao trabalho de responder seu comentário, sorrindo para o meu pai que parece ter reparado na minha presença apenas agora.

- Nós fizemos filhos lindos, Pequena - sua carranca irritada de segundos atrás acaba de evaporar. - E crescem tão rápido.

- Ah, por favor - resmungo. - Não comecem com essa história de novo.

Abraço os dois de uma vez, beijando a cabeça da minha mãe e recebendo um beijo do meu pai.

- Tenho que ir, marquei com o Mike às vinte.

- Você vai com ele? - Peter estica o pescoço.

- Ele vai comigo - sorrio, recuando alguns passos.

- Por quê? - Meu pai pergunta. - Ele não tem o carro dele?

- Porque queremos ir juntos, pai. Estamos indo para o mesmo lugar, vamos na companhia um do outro então.

Ignoro o sorrisinho do meu irmão caçula, descendo as escadas o mais rápido que posso sem me prejudicar.

Recebo um ar gelado assim que piso na varanda, agradecendo por ter escolhido colocar o blazer. Abro minha bolsinha para pegar a chave do meu carro, que está encostado desde que cheguei em Hills.

Ao erguer a cabeça, me deparo com o Mike saindo da sua casa também e vindo em direção a residência Willians. Ajeitando um relógio em seu pulso, está tão distraído que nem reparou em mim. Sorrio involuntariamente.

- Bem na hora - grito para ele escutar.

Desço as escadinhas e atravesso o quintal, parando em frente a garagem. Enquanto o portão automático abre, eu me viro para ver o motivo do silêncio de Mike. Franzo a testa ao ver que está se aproximando com uma expressão que sou incapaz de ler, parando ao meu lado ainda me olhando com atenção.

- O que foi? - dou um soquinho no seu braço. - Gostou, é?

Dou as costas para ele, entrando na garagem. Arrisco um olhar por cima do meu ombro, não conseguindo manter minha expressão séria.

- Que saudade do você, meu amor - passo a mão pelo capo do meu carro, afastando a capa que colocaram nele. - Acho que nunca fiquei tanto tempo sem dirigir.

Faz quase dois meses que fiz a cirurgia, então já tenho permissão para dirigir. Segundo meu ortopedista e o Mike.

- Você tá... fantástica.

Encaro Mike, que está se aproximando apenas agora. Paro para analisar ele também, saindo um pouco de mim com toda a sua beleza. Mike está usando uma calça jeans preta, camisa social cinza e um blazer negro, com um lenço da mesma cor pendendo do pequeno bolso. Uma mistura perfeita do formal com o informal.

- Você está a própria definição de homão da porra - apoio minha mão na porta do carro, antes de abrir ela para cima.

- Huum... eu me lembro desse termo.

- Pode dizer? Amo seu sotaque - mordo meu lábio para conter um sorriso com a lembrança de quando lhe ensinei sobre isso.

- Como eu diria isso, em português, mas para uma mulher?

- Mulherão da porra.

- Mular...?

- Mu.lhe.rão.

- Mularão?

- É, quase isso. Tá certo, só que seu sotaque forte muda um pouco a pronúncia.

- Mularão da pora.

- Muito bom - jogo minha cabeça para trás ao rir, sua fala ecoando na minha cabeça. Isso deveria ser o som dos deuses.

- Você está a própria definição de Mularão da pora - ele trava um pouco para dizer as palavras finais.

- Fico lisonjeada.

Entro no carro em seguida, abrindo a porta para ele por dentro.

- Cara, seu carro é surreal - ele diz, analisando cada canto enquanto entra. - O designer dele é incrível, nunca tinha visto um carro esportivo com quatro lugares. Na verdade, nunca vi nenhum carro com quatro lugares.

- Quer dirigir algum dia? - Pergunto, saindo da garagem.

- Com toda certeza.

Aperto o botão para fechar o portão, colocando o carro na rua, finalmente.

- Quando você chegou aqui em Hills, eu tinha acabado de receber a notícia no segundo que seu irmão recebeu sua mensagem avisando-o que tinha chegado. Eu lembro que corri para a porta de casa para ver com meus próprios olhos, acho que esqueci até de respirar enquanto assistia você sair desse carro exalando confiança e poder.

- Eu estava me cagando de medo, a idéia de te reencontrar me apavorou. Tive que parar o carro durante o caminho, quase tive uma crise de ansiedade - coloco a mão para fora da janela, acenando para um par de pedestres passar.

- Não parecia, eu fiquei tão... estagnado. Depois você olhou para mim de uma forma tão fria.

- Desculpa por isso - solto uma breve risadinha. - Eu estava magoada. Te ignorei completamente e até achei que poderia sobreviver se continuasse daquela forma. Mas logo no dia seguinte você apareceu no meu quarto para me examinar e me deu uma rasteira em um piscar de olhos.

- Eu pensei que você fosse me matar apenas com o olhar.

- Eu quase entrei em pânico quando você apareceu na porta todo profissional, já disse que você de médico deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo?

- O quê?! - Ele balança a cabeça enquanto gargalha. - Eu que quase tive um infarto quando vi que você estava usando aquele pijama.

- Eu não troquei de roupa porque estava com muita dor e não queria incomodar meus pais. E eu percebi que você quase se desesperou, não foi muito discreto.

- Ah, eu sei disso. Fui pego de surpresa.

- E foi um completo profissional, mesmo assim. Sério, você é perfeito no que faz. Nasceu para ser médico. Não quis admitir, naquele dia, mas morri de orgulho ao ver que tinha conseguido. Não que eu tivesse dúvidas disso.

- Então foi um sentimento recíproco, porque todas às vezes que via você passar na televisão, jogando ou dando entrevistas, meu peito gritava de orgulho. Quando você foi escalada para a equipe oficial, quando fez seu time ganhar um título nacional e depois veio a copa do mundo. Nossa, eu fiquei completamente sem voz, gritei tanto no momento em que você chutou e marcou o gol no último segundo da prorrogação.

Aproveito que parei o carro no sinal vermelho para poder olhar para ele, vendo que está sendo completamente sincero.

- Sabe, - começo, apoiando meus braços no volante. - nós sempre torcemos muito um pelo outro, desde sempre, e agora que nós conquistamos tantas coisas... parece surreal. E o melhor disso, é que mesmo depois de tudo o que aconteceu entre a gente, todas os sentimentos negativos, nunca deixamos de torcer e apoiar o outro.

- Acho que essa é uma das coisas mais bonitas entre nós. Acreditamos um no outro.

Coloco minha mão na perna do Mike e a aperto levemente, me afastando ao escutar buzinas indicando que o farol abriu.

Um sorriso persistente se mantém em meu rosto, apesar do momento já ter passado. Ligo o rádio, deixando baixinho para não quebrar o clima de paz e tranquilidade.

Mike parece interessado em conhecer o meu carro, uma reação que eu percebi ser natural de todos os homens que já entraram no meu BMW. Ele passa a ponta dos seus dedos pelo designer no painel sofisticado, parecendo encantado.

- Tem uma coisa pra você no porta-luvas. Comprei especialmente para hoje, sabendo que iríamos juntos.

Mike se atrapalha um pouco para abrir o compartimento, parecendo paralisar ao ver os pequenos pacotes de M&M.

- Agora eu tenho meu próprio carro, minha vez de colocar mimos ai pra você.

Olho para o lado esquerdo, antes de entrar na rua reta e acelerar sem receio. O som do motor potente parece música para os meus ouvidos, após tanto tempo sem entrar no meu carrinho.

- Você é uma graça - escuto Mike dizer.

Gostaria de olhar em sua direção, mas estou concentrada demais na rua movimentada.

- Abre um pacote, eu também quero - peço.

Escuto o barulho da embalagem sendo rasgada e das balinhas de chocolate se chocando umas com as outras no processo. Me engasgo com a minha própria saliva ao lembrar de algo que fizemos com esses inofensivos M&M's.

- O que foi? - Sinto a mão dele em minhas costas.

Luto o máximo que consigo para não perder o rumo da direção, tendo dificuldade por causa das tosses.

Sei que Mike me fez alguma pergunta, mas a única coisa presente na minha cabeça são as imagens daquele dia. Aos mãos dele me tocando, sua língua na minha pele, pelo meu corpo e explorando cada parte. Tudo isso enquanto pescava pequenas balinhas de chocolate

Meu Deus, como as coisas estariam se estivéssemos juntos? Será que teríamos... casado?

- Me engasguei - pigarreio, arrumando minhas postura.

- Só isso?

- Esquece, passou - estendo minha mão para ele virar algumas balinhas, mantendo apenas uma no volante.

Jogos elas na minha boca e volto a focar apenas na estrada, evitando pensar naquilo. Mike talvez tenha esquecido, eu não, e a lembrança veio no pior momento possível.

- Mas que merda... - praguejo, diminuindo a velocidade do carro.

Ao me aproximar do salão que acontecerá a festa do Carlos, a primeira coisa que reparei foram neles. Eles, os meus piores inimigos. A imprensa. Como diabos eles descobriram sobre o lugar? Não é possível que até aqui me persigam.

- O que você vai fazer? - Mike pergunta.

- Preciso pensar - encosto minha testa no volante.

Se eu for entrar na festa, vai ser inevitável passar por eles. Tenho total consciência que não devo nada para ninguém, mas é extremamente estressante lidar com esse tipo de gente.

Vão inventar tantas notícias falsas e comentários maldosos.

Estico meu braço para pegar minha bolsa no banco de trás. Disco o número do meu pai, que eu decorei há muito tempo por sempre precisar falar com ele.

- Pai?

- Malu? Tudo bem? Por que está me ligando agora?

- Tá tudo bem, fica tranquilo. Só que estou chegando na festa do Carlos agora e acabei de notar que a imprensa está bem na entrada.

Escuto meu pai resmungar, contando a notícia para alguém no fundo, provavelmente para minha mãe.

- Você sabe que têm três opções, certo?

- Sei: ignorar eles e passar direto, dar uma entrevista ou voltar para casa.

- Você sabe a minha opinião também.

- É, eu sei. Não devo nada para eles.

- Eu e sua mãe já estamos indo, com o seu irmão, já estamos no carro. Você pode nos esperar e entramos todos juntos, o que acha?

- Certo...

Desligo a chamada, largando meus braços em meu colo.

- E então?

- Meu pai pediu para esperarmos eles. Já estão a caminho.

- Você tá nervosa - não foi uma pergunta.

- Eu tento me acostumar com isso, juro que tento.

- Tudo bem, é compreensível. Ainda mais que estão sempre no seu pé, te criticando, espalhando hater e notícias falsas.

- Se você quiser, essa é sua chance de sair do carro e entrar sem chamar atenção. Sei que você odeia isso.

Mike sempre foi reservado, principalmente por ser o melhor amigo de dois irmãos de família pública. Suas redes sociais são todas privadas e ele costumava evitar fotografias, mesmo com muita gente reunida.

Subo as janelas do carro, mesmo me sentindo um pouco sufocada e extremamente ansiosa.

- Não vou te deixar sozinha agora.

Sinto sua mão deslizar pelo meu braço, me fazendo tirar o rosto do volante para olhá-lo.

- Obrigada.

Gostaria de pensar em outra coisa que não fosse as centenas de matérias e comentários que surgirão nos próximos dias. Meus agentes no meu pé e noventa por cento dos profissionais que trabalham comigo no Manchester e das marcas que eu trabalho com a dança.

- Relaxa. O que eles podem dizer? Os Willians indo prestigiar um amigo da família em uma festa privada? Que aliás, o Carlos proibiu celulares e câmeras exatamente para você poder aproveitar.

Eu fiquei bem surpresa quando Alex me deu a notícia do que fizeram por mim. As únicas fotos que serão tiradas será pela equipe profissional que ele contratou.

De repente, uma irritação incontrolável domina meus pensamentos. Não existe mais nada além disso.

Eu batalhei para criar uma carreira e divulgar meu trabalho, para ser reconhecida. Consegui o que queria. Mas não posso permitir que controlem a minha vida, eu não sou assim. A mídia nunca será capaz de me moldar. Eu sou Malu Bullworty e ninguém vai mudar quem eu sou por dentro. Eu sei da minha verdade e as pessoas que realmente importam também sabem.

Giro a chave, ligando o carro novamente e fechando a distância entre mim e as câmeras.

- O que vai fazer?

- Viver a minha vida.

Consigo virar rapidamente em sua direção, a tempo de viver um sorriso orgulhoso em seus lábios. É o suficiente.

- Pronto para ser notícia pelos próximos dias?

Mike olha para os repórteres lá fora, um pouco pensativo.

- Você realmente não precisa fazer isso - insisto, vendo a relutância em seus olhos.

- Não vou deixar você sozinha. Prometi que não faria mais isso.

Entrelaço nossos dedos, deixando um beijo em sua mão antes de soltá-la. Checo meu visual no retrovisor e não poderia estar melhor.

- Eu levo isso pra você - Mike diz, pegando minha bolsa e o presente do Carlos.

- Obrigada.

Respiro fundo, conto até três e olho uma última vez para o Mike, ganhando a coragem que faltava.

Abro a porta, deixando ela subir por completo antes de colocar meus pés para fora. Antes mesmo que eu possa sair, uma chuva de flashes ocupa minha visão, me impedindo de ver com clareza. Algo que já estou acostumada.

- Obrigada - entrego minha chave para o manobrista, que parece fazer o possível para não perder sua postura profissional.

Ergo minha cabeça e espero pelo Mike, vendo que ele parece extremamente confuso com a chuva de fotos.

Estendo meu braço para ele e sigo em frente, é tudo o que eu preciso para passar por isso.

Obviamente fomos barrados por uma dezena de repórteres fofoqueiros, que enfiaram os microfones na minha cara. Têm câmeras por todo o lado, por isso, abro o meu melhor sorriso e me direciono para responder uma das perguntas mais promissoras.

- Você já se recuperou da sua lesão?

Afasto um pouco o microfone com a ponta do meu indicador, me preparando para responder.

- Fiz uma cirurgia há algumas semanas, como todos sabem, e estou em processo de recuperação. Minha fisioterapia está sendo um sucesso e já não dependo mais da cadeira de rodas e nem das muletas. Estou progredindo cada dia mais e não vejo a hora de poder voltar para o campo.

- Isso é ótimo. Já tem uma data prevista?

- Ainda não, isso é um processo delicado e qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento na área sabe que não se trata de uma recuperação rápida.

- No entanto, você já está podendo curtir festas?

A pergunta que eu esperava e sabia que ela viria. Aperto o braço de Mike um pouco.

- Não é como se eu fosse ficar duas horas correndo com uma bola no pé em uma festa, driblando e recebendo faltas - rebato, mantendo um tom brincalhão. - Em breve voltarei para Manchester, então estou vindo prestigiar um amigo muito importante enquanto estou aqui e isso é tudo.

Decido que não preciso mais responder nenhuma pergunta, caso contrário ficarei aqui a noite toda. Além do mais, já esclareci tudo o que podia. De qualquer forma vão distorcer minhas palavras.

Avancei, sem me preocupar com as pessoas na minha frente que acompanham meus passos sem sair da frente, ainda com os microfones apontados para mim e fazendo milhares de perguntas.

- Vemos que está acompanhada. Quem é esse rapaz com a senhorita? Novo namorado? Mais um de seus encontros misteriosos?

- Não é aquele rapaz que você postou um vídeo cantando recentemente?

- Um caso de férias?

Consegui distinguir essas perguntas em meio as outras, me fazendo parar de andar e buscar de onde ela veio. Esbarrei meus olhos com os de Mike, que parece desconfortável, mas permanece impenetrável. Por alguma razão, elas foram as que mais me aborreceram.

Sem saber de onde veio a questão, apenas me direcionei para qualquer um dos microfones e tomei a palavra:

- Sim, estou acompanhada de um velho amigo. Quem me conhece há muito tempo sabe exatamente de quem se trata - olho mais uma vez para o Mike, vendo que ele parece interessado na minha resposta também. - Mike é o meu melhor amigo de infância e hoje, também me orgulho em dizer, que além disso, ele é o médico que está cuidando do meu caso de perto e graças a ele percebemos a gravidade da situação. Ele não é apenas "mais um de meus encontros misteriosos" ou um "caso de férias". É uma pessoa extremamente importante para mim, sempre foi, e gostaria que fosse tratado com respeito.

Volto a abrir caminho, sem perder a compostura. Mike tem mais facilidade de afastar as pessoas de nosso caminho, por causa do seu porte atlético. Mas eu não fico para trás também, enquanto ele tem músculos ao seu favor, eu tenho atrevimento para sair caminhando com passadas grandes para empurrar quem quer que seja.

Os seguranças precisam de muito esforço para conseguirem deixar que apenas Mike e eu passemos pelas portas fechadas do salão luxuoso, mas acabam deixando a multidão do lado de fora, finalmente, abafando toda a barulheira que estavam fazendo.

- Céus - murmuro, me encostando em uma parede ao soltar o braço de Mike.

Fiquei todos esses dias acostumada com a tranquilidade que acabei me esquecendo de como isso tudo é desgastante. Costumava acontecer todos os dias em Manchester, desde que me tornei uma super jogadora de futebol. Situações como essa eram tão comuns e sei que não vão demorar muito para retornarem. Parece que nem mesmo Hills ficou imune de todos esses profissionais invasivos e perturbadores.

Abro meus olhos, me deparando com Mike bem diante de mim. Me lembro das palavras que falei sobre ele e as centenas de perguntas indiscretas que fizeram sobre a gente. Imagino o quanto tenha ficado desconfortável com toda a situação. Eu tenho que passar por isso, é uma consequência da vida que eu decidi viver, mas ele não é obrigado e nem deve passar por momentos constrangedores como esse por minha causa.

Eu devia ter feito ele entrar sozinho, sem mim, agora vão cair matando em cima dele. Me sinto horrível por não ter insistido mais, ele apenas estava se sentindo na obrigação de estar comigo por termos vindo juntos.

- Desculpa, desculpa mesmo, Mike - aperto meus lábios. - Você não tinha que passar por isso.

- Você não tem que me pedir desculpas, Malu.

- Claro que sim! Você parece tão irritado - passo as mãos pelo meu rosto.

- Sim, eu estou - ele dá um passo adiante, ficando mais perto ao ponto de entrar no meu espaço pessoal. - Mas não com você.

- Mas você passou por isso por minha causa.

- Eu estou puto com essa gente, será que não percebem? Eles são tão incômodos e inconvenientes, chegam a ser abusivos e apenas por trabalharem na imprensa acham que tem o direito de fazer essas coisas? Pessoas famosas são seres humanos também, pelo amor de Deus! Eu fico furioso porque é nítido o quanto isso te afeta.

- Não quero que fique assim, eu já sou acostumada com isso. De verdade.

- Foi assim todos esses anos? Lidou com esse tipo de coisa sozinha?

- Mike, todas as pessoas famosas sofrem esse tipo de abordo invasivo. É normal. Você só está impressionado, mas tá tudo bem, ok?

Mike tenta controlar sua respiração acelerada, mantendo o maxilar rígido feito pedra. Observo seu perfil charmoso enquanto ele olha em volta. Estamos completamente sozinhos, quase escondidos atrás de uma parede decorada com luzes de LED, ninguém pode nos ver.

- Deve ser horrível ter que mentir para fazer essas pessoas te deixarem em paz.

- Mentir? - inclino minha cabeça, confusa. - Por que mentir?

- Vai me dizer que não mentiu hoje? - começo a ficar ofendida, arrumando minha postura pronta para uma briga.

- Não, do que você tá falando? Fui completamente sincera lá fora e sabe disso, contei a verdade sobre a lesão e a minha recuperação.

- Não disso. Sobre mim.

- Sobre você? Mike, eu falei tudo aquilo sendo o mais sincera possível. Eu não menti, por que diabos você pensou isso?

Cruzo meus braços abaixo dos meus seios, olhando fixamente para ele.

- O quê? Você acha que eu disse aquilo apenas para parecer bem diante das câmeras?

- Meu Deus, não! Não mesmo - ele parece até desesperado em me fazer acreditar nisso. - Mas confesso que fui pego de surpresa, quer dizer, você realmente me considera seu melhor amigo atualmente? Tão realmente importante?

Abro minha boca, incrédula.

- Chega dessa conversa - me esquivo dele, indo em frente.

Vejo quando deixa nossas coisas em uma mesa que sustenta apenas um vaso decorativo.

- Por favor, Ma. Você ficou chateada comigo? - Ele segura meu pulso, me puxando para perto até meus seios encostarem em seu peitoral.

- Não achei que ainda fosse precisar dizer o lugar que ocupa para mim, não depois dessas semanas que passamos.

- Não, desculpa. Eu só fui pego de surpresa. É que é uma coisa tão boa que chega ser surreal, entende?

- Então acredite, tá? Não precisa mais duvidar disso. Acho que realmente somos melhores amigos, tanto quanto antes. Conseguimos recuperar isso - enquanto falo, ele segura meu rosto com as duas mãos. - E você é uma das pessoas mais importantes para mim, imagino que nunca tenha deixado de ocupar esse lugar, na verdade. Te admiro até mais do que antes e nada disso é mentira.

Um sorriso tão doce e puro surge em seus lábios, como se eu tivesse acabado de lhe dar a notícia mais feliz do mundo. É o suficiente para me fazer sorrir também.

- Eu sou incapaz de descrever o quanto você importa para mim.

Também toco seu rosto, passando meu polegar pela sua barba bem feita. É a segunda vez que ficamos tão perto em um curto espaço de tempo, tenho medo do rumo que isso pode tomar. Mike é tão atencioso. É lindo por dentro e por fora, é impossível se manter inabalável perto dele. Ele é bom de verdade. E todas as pessoas que o tem por perto, inclusive eu, são extremamente sortudas.

Cedo ou tarde alguma coisa vai acabar acontecendo em um desses momentos inusitados, não tenho tanto autocontrole assim e sei que ele também não. Ou pelo menos, não mais.

Sem me afastar de Mike, viro minha cabeça ao reparar que a porta acaba de ser aberta e todo aquele barulho da multidão do lado de fora preenche o lado de dentro. A primeira pessoa que passa pela porta é o Peter e logo atrás dele estão meus pais, lutando para passar pela imprensa. Os três estão na mesma situação que Mike e eu acabamos de passar.

Entretanto, quando eles reparam na nossa presença simplesmente parecem surpreendidos, como se estivessem vendo algo absurdo. O que faz eu me ligar é a expressão surpresa de Peter se transformar em uma sorridente e animada. Mike e eu estamos praticamente colados um no outro, a poucos centímetros de distância.

- Hã... - dou dois passos para trás. - Vieram rápido.

- O que vocês tavam fazendo? - Peter pergunta, erguendo suas sobrancelhas em curiosidade.

Olho para o Mike de relance, vendo que ele está sem graça. Não consigo ter certeza por causa da pouca iluminação, mas imagino que esteja corado.

- Conversando - respondo mais rápido do que gostaria. - Lá fora está uma loucura, né?

- Acredito - Peter murmura, mas o ignoro.

- Sim, pensei que você tivesse dito que iria nos esperar. O que disse para eles? - Meu pai pergunta, assumindo sua postura profissional.

- A verdade, acho que me sai bem.

- É, esperamos que sim.

- De qualquer forma vão falar - mamãe aperta meu braço em conforto. - Tenho certeza que conseguiu calar a boca deles.

- Não sei, talvez - passo as mãos pelo meu vestido. - Vamos entrar agora.

Pego minha bolsinha e o presente do Carlos, em seguida estendo o braço para o Mike. A música está tocando ao fundo, é calma. Imagino que seja por Carlos estar fazendo a recepção dos seus convidados.

Atravessamos o extenso corredor iluminado até sairmos em uma passagem bem decorado e iluminada. Deixamos nossos presentes no espaço reservado unicamente para isso, enfim entrando na festa.

E só posso dizer que Alexsandra e Carlos Eduardo estão de parabéns. Detalhes em prata, preto e branco decoram todos os lugares possíveis. A entrada principal está coberta do chão ao teto, com um lustre incrível bem no centro e algumas fotos profissionais do aniversariante espalhadas. Uma cabine de fotos está em um dos cantos e uma parede enfeitada, sem nenhum móvel por perto, feita apenas para Carlos tirar fotos com os convidados que vão chegando.

Abro um grande sorriso ao ver meu amigo terminando de tirar fotos com um casal, feliz da vida. Carlos está usando um terno cinza com um tecido escuro e brilhoso nas lapelas, sua gravata borboleta é feita do mesmo tecido brilhante.

- Minha família favorita chegou?! - ele exclama ao nos ver.

Saindo de trás de uma cortina que dá para a parte principal da festa, vejo minha melhor amiga passando por ela exalando beleza. Usando o vestido vermelho que ajudamos ela escolher e um salto alto prateado, totalmente de acordo com a decoração da festa. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo chique e apesar de ter o cabelo liso, hoje ele está repleto de cachinhos bem modelados. Alex está um arraso.

- Olha só quem chegou! - Diz ao reparar em nossa presença.

- Feliz aniversário, seu moleque! - Papai é o primeiro a abraçar Carlos, dando tapas firmes nas costas do seu afilhado. - Vinte e dois, como o tempo passa, né?

Deixo eles parabenizando o Carlos para ir abraçar minha amiga, que parece estar uma pilha de nervos.

- Finalmente, minhas bochechas já estão doendo de tanto sorrir - ela murmura enquanto me abraça.

- Você tá uma gata, olha só pra esse mulherão - faço ela dar uma voltinha, os fotógrafos captando todos os momentos.

- Olha só quem fala! - Ela afasta meu blazer para ver melhor minha vestimenta. - Quando você falou desse vestido imaginei que fosse incrível, só não achei que fosse tanto. Ele tem pedras preciosas, fala sério!

- E a Mel? Ela e meu irmão já chegaram?

- Sim, estão lá dentro - aponta por cima do ombro. - Depois encontro vocês lá dentro, a recepção vai acabar daqui a pouco. Carlos quer que eu fique com ele.

- Malu, vem logo parabenizar seu melhor amigo favorito - escuto Carlos dizer, é notável que se trata de uma provocação boba para o Mike.

Me viro a tempo de ver Mike dar um empurrãozinho nele, me fazendo rir.

- Parabéns, cara! Tô muito feliz por você, está tudo incrível - passo meus braços pelas suas costas. - Feliz aniversário, parceiro.

- Nem acredito que Malu Bullworty está na minha festa de aniversário - brinca, como se eu não fosse sua amiga a vida toda. - Obrigada por ter vindo. Não sei como aconteceu, mas a imprensa acabou descobrindo. Já me falaram que está uma bagunça lá fora.

- Não se preocupa com isso.

- Ah, não, não estou preocupado. Só fiquei um pouco por causa de vocês, mas já que estão aqui então tá tudo certo. Já posso ir lá dar uma entrevista?

- Imbecil - sorrio, desfazendo nosso abraço.

- Foto - aponta para a câmera.

Me preparo para agir como estou acostumada ao tirar fotos profissionais, mas meu amigo me faz gargalhar ao fazer uma careta.

- Vem, todo mundo. Depois vocês podem entrar.

Carlos faz um gesto para Alex, passando seu braço em volta da cintura dela quando se aproxima. Meus pais e Peter se posicionam do lado esquerdo, enquanto Mike e eu ficamos do direito. Meu corpo endurece por um breve segundo ao sentir o braço de Mike repousar sobre meu quadril.

- Cadê o sorriso mais bonito do mundo? - cochicha no meu ouvido.

Relaxo, passando meu braço pelas suas costas e com o outro em passo pelos ombros do Carlos. Uma enxurrada de flashes registra o momento de diversos ângulos diferentes. Alex não exagerou quando disse que contrataram fotógrafos de sobra.

Os dois prometeram falarem mais conosco depois que terminarem a recepção. Meus pais que abriram o caminho, junto com o Peter, Mike e eu alguns passos atrás.

- Está tudo tão bonito - ele comenta, olhando em volta.

- Eles se superaram. Alex estava uma pilha de nervos, é bom ver que... Nossa, isso é bizarro.

Senti que o salão inteiro parou para olhar em minha direção, alguns até tentavam disfarçar, no entanto, outros faziam questão de apontar e comentar com a pessoa mais próxima. Claro que aqui também não seria tão tranquilo, mas pelo menos ninguém pode vir pedir para tirar foto. Imagino que se tivessem permissão, estariam tirando fotos nesse exato momento.

- Aposto que é porque estou muito bonita, né? - tento fazer piada com a situação.

- Não tenho dúvidas disso - Mike aperta minha mão. - Vamos, olha lá nossos amigos.

- Mãe, posso ir com eles? - Peter pede.

Meus pais certamente vão se reunir com meus tios, não tive problemas para encontrar eles, são um grupo bem extenso, afinal.

- Sim, estaremos naquela mesa.

Peter se apressa para chegar em nossos amigos, sem perder sua postura. É surpreendente o quanto se comporta como gente grande tendo apenas oito anos de idade.

- Olha só pra vocês - Melanie exclama.

- Eu perdi alguma coisa? - escuto Liam dizer.

Franzo a testa. Só entendo o que ele quis dizer ao ver que está olhando fixamente para minha mão e a de Mike. Arregalo meus olhos, não havia reparado que estávamos de mãos dadas, deve ter sido tão natural. Será que foi eu que tomei a iniciativa? Mike parece tão surpreso quanto eu e claramente sem graça, sendo tímido como costuma ser quando recebe esse tipo de atenção. Sei que o momento vai ficar ainda mais esquisito se nós simplesmente agirmos como se fosse um acidente, tentar disfarçar não vai ajudar em nada.

Inclino minha cabeça, apertando a mão do Mike antes que ele solte.

- O quê? Até parece que vocês não sabem que Mike e eu sempre agimos assim, desde que somos melhores amigos - balanço nossas mãos.

- Só perguntei - Liam ergue as mãos de forma inocente. - Não que seja ruim, claro.

Elsa, sua namorada, bate nos dois lugares vagos ao seu lado para nos sentarmos. Agradeço com um sorriso e puxo Mike comigo.

- A imprensa tá lá fora, né? - Johnny pergunta.

- Sim. Eles não pararam vocês?

- Ainda não estavam lá quando chegamos - Melanie responde, em seguida dá um gole na sua taça de vinho.

- Eles quase me esmagaram - Peter reclama, fazendo todo mundo rir da sua expressão que deveria ser brava, mas acaba sendo fofa.

- É mesmo, pirralho? - Johnny abraça nosso irmãozinho, dando risada do empurrão que recebe.

- Não perguntaram sobre o Mike? Já que vieram juntos - Travis pergunta.

- Perguntaram, mas não quis dar muita corda. Enfim, vocês vão ver as notícias amanhã.

- É esquisito pra caralho ver que nossa mesa parece estar chamando a atenção de quase todo mundo - Liam comenta, devolvendo os olhares para as pessoas que ainda parecem chocadas.

- Apenas ignorem - me encolho um pouco na cadeira.

Sei que a culpa disso é minha, detesto trazer esse tipo de atenção para qualquer lugar que vou. Antigamente eu já tinha certa fama, mas não de nível mundial como atualmente. É como se para essas pessoas fosse extremamente chocante alguém tão conhecido estar no mesmo evento que eles. Eu nem sabia que Carlos conhecia tanta gente.

- É porque somos lindos - Melanie revira os olhos, o seu tom de voz faz parecer que está falando sério. - Quem é Malu na fila do pão?

Todo mundo dá risada na mesa, eu me sinto um pouco mais tranquila por não estarem chateados comigo por acabar com a paz deles. Quando eu estava em Manchester não tinham esse problema.

Desvio meus olhos da Mel e do Johnny quando ele beija o pescoço dela, não querendo ser flagrada observando um momento que parece ser tão carinhoso entre os dois.

Agradeço quando um garçom se aproxima da nossa mesa trazendo uma bandeja com taças de champanhe e vinho. No exato momento que pego uma, dou um longo gole que parece atrair a atenção de Melanie, Johnny, Mike e Travis.

- Quê? Só estou tentando relaxar - digo, esvaziando a taça.

Pego outra antes do garçom sair da mesa, agradecendo com um sorriso.

- Me desculpa, mas eu preciso dizer que sou muito seu fã - ele diz, sem se controlar.

- É um prazer, qual seu nome?

- Henri.

- Obrigada pelo carinho, Henri.

Assim que ele vira as costas, eu bebo outro gole gigantesco.

Não quero ficar de cara fechada em um dia tão importante para Alexsandra e Carlos, a solução mais fácil é beber um pouco. Daqui a pouco eles vão passar por nós, imagino.

Em meio um gole, quase engasguei ao sentir a mão de Mike repousar em meu joelho, como se estivesse me dando algum tipo de apoio. Olho para ele imediatamente, vendo uma pitada de preocupação nos seus olhos. Discretamente, eu passo uma das minhas mãos para baixo da mesa e toco levemente os seus dedos, até ele mesmo os entrelaçar com os meus.

Relaxo contra o encosto da cadeira, levando a taça aos meus lábios para apenas bebericar um pouco.

Escuto palmas e assobios vindo de Travis e Johnny, que acaba contagiando todos os convidados. Me viro para ver Carlos entrando, trazendo Alex consigo. Parece que a recepção finalmente acabou, sei o quanto essa parte é desgastante.

- Gostosos! - grito, em português. Sei que os dois entendem a língua.

Acho que quase todos os meus amigos falam português, com exceção de Melanie, Mike, Travis e, agora também, Maya. Até mesmo o Peter sabe. Acredito que isso se deve ao fato de que nossos pais sejam brasileiros. Liam, Alex, Johnny e Carlos nasceram no Brasil também, outro grande motivo.

Enfio alguns salgados que já estavam frios na boca enquanto Carlos agradece a presença de todos, liberando o salão de cima. Parece que lá está o bar e a pista de dança. Isso é ótimo.

A maioria dos convidados se anima e levantam para ir ao andar de cima, eu permaneço sentada. Vou esperar que todos subam para evitar esbarrar em alguém e acabar prejudicando meu joelho, meus amigos esperam comigo e Peter vai em busca de nossos pais.

Mesmo sem eu precisar pedir, Mike me ajuda com o blazer, deixando-o nas costas da minha cadeira. Agora meu vestido está completamente amostra.

- Uau, olha só pra esse vestido! - Maya exclama. - Lindo.

- Também adorei o seu macacão - devolvo o elogio, enquanto caminhamos em direção as escadas.

Espero eles subirem na frente, já que estou um pouco mais lenta por conta da cirurgia. Mike percebe e me estende seu braço, como um apoio.

- Acha que eu posso dançar?

- Sim, desde que não faça rotações com seu joelho ou apoie muito o peso na perna esquerda.

- Sério? Preciso mesmo dançar um pouco com as garotas e com você também.

- Vou ficar de olho em você - brinca, me ajudando com o último degrau.

- Uau... - É a primeira coisa que sai dos meus lábios assim que coloco meus olhos no espaço pouco iluminado.

A pista de dança é enorme, com luzes coloridas piscando por toda a parte e tecidos brilhantes a cercando, com um palco mediano para o DJ e seu equipamento. O bar fica mais ao fundo e é tão grande que parece ter bebidas para milhares de pessoas, todos os barmans parecem habilidosos e entregam todos os pedidos depressa, evitando aglomerações.

- Vocês se superaram - digo, ao me encontrar com Alex e Carlos abraçados.

- Obrigado, obrigado - meu amigo se curva.

- Vamos lá, precisamos rebolar um pouco - Alex segura no meu braço e no de Melanie. - Preciso curtir essa festa também.

- Vocês vêm? - Pergunto para os garotos, puxo Maya e Elsa também.

- Daqui a pouco - Carlos gesticula. - Vamos bater um papo aqui, vou mandar levarem bebidas pra vocês na pista.

- Obrigada - Lexy deixa um selinho estalado nos lábios dele, o deixando com um sorriso contido enquanto analisa ela por completo.

- Finalmente! - jogo meus braços para o alto assim que chegamos na pista.

Sou preenchida pela batida contagiante e sensual da música, Shameless da Camila Cabello. Acho que a canção descreve bem minha atual situação com o Mike, principalmente com toda a tensão sexual que vêm nos rondando. Sem me preocupar com os espectadores. Ninguém pode registrar o momento mesmo, então estou livre de boatos no dia seguinte.

O rapaz que Carlos disse que mandaria com nossas bebidas não demora muito, trazendo uma bandeja cheia de copos coloridos. No primeiro gole reconheço que se trata de uísque e parece ter pedaços de frutas, está escuro, não consigo ver. Tenho quase certeza que é kiwi.

- Isso está ótimo - Maya aponta, jogando seus cachos ruivos e grossos para o lado.

Balanço meus braços na batida da música, com o meu copo já vazio enquanto balanço meus quadris junto com minhas amigas. Uso mais a perna direita de apoio, apenas apoiando levemente a esquerda.

Sinto as mãos de alguém na minha cintura, ao me virar me demoro com Melanie. Logo atrás dela, Elsa e Maya estão fazendo o mesmo. Se trata de uma fila. Puxo Alex para minha frente, mantendo minhas mãos no quadril dela enquanto vamos rebolando, acompanho elas até sentir meu traseiro encostar em meus calcanhares. Preciso de muito impulso para subir da mesma forma, usando apenas uma perna como apoio firme, mas não tenho nenhum problema com isso por ter muitos músculos torneados nas pernas.

Jogo meu cabelo para o lado, sem tirar minhas mãos do quadril de Lexy e sem perder o ritmo da música.

Eu estive em inúmeras festas, fui para diversas baladas e boates de luxo ao longo desses quatro anos. Sempre acompanhada com pessoas diferentes, na maioria das vezes nem conhecia meus acompanhantes. Passei madrugadas bebendo e dançando na maior parte dos meus dias livres, vivi momentos muito loucos e fiz muita besteira. Mas posso dizer que em nenhum momento me senti tão bem quanto me sinto agora, é muito melhor estar em uma festança com amigos queridos do que com completos estranhos.

- Acho que estamos atraindo muita atenção - Alex grita para escutarmos por cima da música alta.

Pela primeira vez eu não havia prestado atenção nisso. E ela tem razão. Mas fico contente por ver que dessa vez eu não sou o motivo, quer dizer, somos todas nós dançando. Não simbolizo mais a Malu Bullworty, craque do futebol, sou apenas uma mulher dançando com outras igualmente atraentes e sensuais. Tenho a impressão que quase toda a atenção masculina está voltada para a pista, mas não me deixo incomodar. Além do mais, não somos as únicas dançando. Outras garotas extremamente lindas também não ficam para trás. Posso dizer que todas nós, de modo geral, dominamos o espaço.

- Olha só para os garotos. Os nossos - Maya diz.

Faço o que ela diz, olhando na direção em quem apontou. Estão sentados perto do bar, todos com copos na mão. Deviam estar conversando, mas agora, cada um deles, estão prestando atenção em suas garotas com expressões impagáveis. Com exceção de mim, a única solteira. Não parecem se incomodar por terem outros caras olhando para suas namoradas, eles sabem que são os felizardos.

Meus olhos acabam focando em Mike, o problema é que eu já estava em sua mira. Seu olhar parece queimar minha pele, mesmo assim não me deixo abalar e sigo dançando sem perder a batida. Prendo meu lábio entre os dentes para evitar um sorriso, ele não é nada discreto.

Sou obrigada a tirar meus olhos dele, a contragosto, para aceitar outra rodada de bebida. Deixo meu copo vazio na bandeja e pego dois de uma vez, esvaziando um em segundos. Coloco o copo cheio dentro do vazio, liberando uma das minhas mãos.

- Eu já volto - Alex avisa, se afastando.

Assisto ela ir na direção do Carlos e puxar ele pela mão, parecem estar indo na direção dos banheiros.

- Cadu foi ganhar seu presente - Melanie diz, que também captou a cena. - Eu disse que ele teria problemas para manter as calças no lugar.

- Não fala muito deles, meu irmão não deve estar em uma situação muito diferente - faço uma careta, ao passo que Mel morde o lábio. - Que nojo.

- Gosto de deixar para mais tarde.

- Ok, eu definitivamente não preciso saber disso - balanço minhas mãos.

- E o que você tá falando aí? O Mike está te comendo com os olhos - se abaixa para dizer perto do meu ouvido. - Aposto que se vocês estivessem juntos, não seria Alex e Carlos naquele banheiro.

- Cala a boca - bebo um pouco do meu uísque para esconder meu sorriso atrás do copo.

Balanço minha cabeça para afastar a cena que se forma nela. Cruzes, preciso deixar de ser tão safada. Deve ser o álcool já dando sinais em meu organismo.

Arrisco outro olhar para Mike, vendo ele desviar depressa para esvaziar o copo em sua mão.

Me obrigo a olhar em outra direção, sabendo que isso não vai ser fácil para nós dois. Já me sinto quente só de imaginar, a forma como está me olhando é uma tortura.

Tento olhar para outro cara, passando meus olhos por diversos deles focados em mim. Finalmente paro em um, tentando descobrir se sou capaz de sentir o mesmo calor que Mike desperta em meu corpo. Nada. Absolutamente nada. E o rapaz é absurdamente lindo. Volto meus olhos para as garotas, antes que o cara entenda de outra forma e venha atrás de alguma coisa. Não estou afim de ficar com ninguém essa noite, quer dizer, ninguém que seja permitido e não venha trazer consequências no dia seguinte.

E ai, meus amores! Cap gigante pra vocês, não esqueçam da estrelinha.

Para quem não sabe como é o carro da Malu (BMW i8) aqui vão algumas fotos. Ele é exatamente dessa cor, aqui ele está sendo usado como conversível, mas a Malu normalmente usa ele totalmente fechado:


Beijos

Alice.

Continue Reading

You'll Also Like

95.6K 5.6K 98
Você sabe que está encrencada quando sente seu coração acelerar ao ouvir a voz daquele cara, quando pensar nele com outra pessoa faz seu estômago rev...
151K 9.4K 30
Isís tem 17 anos, ela está no terceiro ano do ensino médio, Isis é a típica nerd da escola apesar de sua aparência não ser de uma, ela é a melhor ami...
8.3K 701 35
Os TikTokers mais conhecidos, competindo e tendo que conviver por um mês e meio juntos, entre jogos, festas, brigas, tudo isso para descobrirmos quem...
4.8K 344 24
Depois da festa do BEU, Manuel ajudar Bia e Helena a irem embora já que Bia tinha caindo no lago. Porém, antes de se afastar da festa ele encontra um...