Popstar

By wolfistar

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Aquela em que James Potter é integrante de uma boyband, todo mundo na internet jura que wolfstar é real, Pete... More

Disclaimer
Prólogo
I - Ressaca, popstars e destino cruel.
II - The Lily's Horror Show.
III - Déjà-vu.
IV - But I'm so caught up in drama!
V - Real Friends.
VI - Nothing good starts in a getaway car.
VIII - I will let you down, let me go.
IX - Baby, can we dance through an avalanche?

VII - I'll go wherever you are.

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By wolfistar

N/A: ~quarentena trabalhando milagres, né, mores~

olaaaaaaaaaaaaar

caramba, fazia muito tempo desde a última vez que apareci por aqui, mas é TÃO bom estar de volta!

primeiro de tudo, queria me desculpar pela demora. a vida está insana - acho que para todos né - e esses últimos tempos não foram muito fáceis, mas estar de volta por aqui me faz muito feliz. espero que possa alegrar o dia de vocês um pouquinho também <3

em segundo, queria agradecer por todo o suporte que recebi e recebo todos os dias de vocês, leitores. por não desistirem de mim. por acreditarem que um dia vou finalizar todas essas histórias. 

eu espero que todos vocês estejam à salvo, que estejam se cuidando e cuidando da saúde dos outros. desejo a vocês muita força nesse momento que enfrentamos. espero que essa fic possa ajudar vocês um pouquinho nesses dias sombrios que estamos vivendo.

esse capítulo foi sem dúvida um dos meus favoritos até agora. e... teve jily!

espero que gostem tanto quanto eu <3

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AVISOS DE GATILHO: este capítulo contém citações à ansiedade e ataques de pânico.

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PS: cada capítulo contém sua "playlist", cada música começa quando o "•" aparecer, ok?

Músicas do capítulo:

• Betsie Gold - Craving you

• Thin White Lies - 5 Seconds of Summer

• Evanescence - Going Under

• Zayn - Rear View

• Harry Styles - Lights Up

Ah, e para quem quiser o link da playlist completa (com as músicas sendo adicionadas no decorrer da fanfic), aqui está o link do spotify: https://goo.gl/mDSCwE

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espero que gostem, amores ♥

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[HOGSMEADE PLACE, 713 | SEGUNDA-FEIRA — 23 DE OUTUBRO, 2017]

James estava deitado em sua cama e encarava o teto. Estava escuro e ele sabia que esquecera de fechar as cortinas antes de anoitecer, mas estava ocupado fazendo nada enquanto encarava o teto de gesso branco que ele sequer conseguia ver depois de mais de uma hora a observá-lo. Sua mente estava tão cheia e ao mesmo tempo tão vazia que James não se sentia capaz de fazer qualquer outra coisa além de ficar ali, deitado, inerte.

— Hey, Jay. — A voz de Mary a arrancou de seus devaneios (ou falta deles) e logo a cabeça da garota apareceu no canto de sua visão junto com o clarão da luz que ela acabara de acender.

James precisou piscar algumas vezes para conseguir focar o olhar na face preocupada da amiga. Mary estava vestindo um pijama amarelo que contrastava lindamente com sua pele escura. Seus cabelos crespos estavam úmidos e suas bochechas rosadas. Pela primeira vez em dias, ela parecia realmente bem e saudável.

— Você parece melhor. — Ele comentou e então se forçou a levantar do meio dos travesseiros e sentar de frente para ela.

— Sim! Finalmente me sinto humana de novo! Acho que a gripe decidiu que já tinha me destruído o suficiente e foi embora. — Ela sorriu, mas seus olhos estavam toldados de preocupação enquanto o observava atentamente.

— O que foi? — A voz dele soou mais defensiva do que gostaria.

— Você parece exausto. — Ela disse e então estendeu uma xícara, que James não tinha percebido que ela estava segurando, em sua direção.

Franzindo o cenho ao notar que era chá e recebendo um olhar julgador de Mary em resposta, James bebericou o líquido sem muita vontade.

— Eu amo chá, você sabe. — Ele disse, ironia transbordando em suas palavras.

— Sim, James, todo mundo sabe que você é viciado em café, mas não vai fazer mal variar um pouco, não acha? — Mary bufou e então sentou-se em frente à James. — Seus ossos irão agradecer. E, também, chá ajuda a acalmar.

— Eu estou calmo.

— Hm. — Mary murmurou não parecendo acreditar em suas palavras enquanto seus olhos desviavam do rosto de James para observar os vários cadernos atirados a esmo pela cama. — Você estava escrevendo?

Tentando. — Ele suspirou e então passou uma mão pelo cabelo, bagunçando-os ainda mais do que já estavam. — É como se- sei lá, tem tantos versos aparecendo simultaneamente na minha mente, mas não consigo me concentrar em nenhum deles para que comecem a fazer sentido.

— Mas você estava conseguindo escrever semana passada. Começou a escrever Nervous, não foi? Você mesmo disse que estava inspirado. — Ela disse, confusa.

— Sim. A questão não é que eu esteja sem inspiração... é que eu estou com inspiração demais. — Ele balançou a cabeça e riu sem humor. — São muitas ideias ao mesmo tempo. Não consigo me decidir sobre qual delas devo escrever.

— Então escreva todas. — Mary disse e deu de ombros como se houvesse solucionado a equação mais fácil da face da terra.

— Não é assim tão fácil. — James resmungou, rabugento, em resposta.

— Será mesmo? — Mary sorriu e então sua expressão mudou, ficando maliciosa em um piscar de olhos. — Mas me conte, James, essa inspiração toda... por acaso tem a ver com uma host de rádio ruiva?

Sentindo as bochechas esquentarem de imediato, James evitou responder e focou em seu chá, tomando um longo gole do líquido amargo.

— Hum, você tem razão, isso aqui é muito bom. Amo chá. — Ele disse e acenou de forma veemente. Mary apenas meneou a cabeça, um sorriso divertido brilhando em seus lábios.

— Tudo bem, James. Não precisa falar sobre isso se não quiser. — Mas então o encarou com uma sobrancelha arqueada indicando que haveria consequências caso ele ousasse não querer.

A convivência com Sirius claramente afetara a boa natureza de Mary.

— Você é uma pessoa horrível. — Ele bufou, fazendo-a gargalhar.

— Vamos, James, abra seu coração para mim. — E puxou um travesseiro para seu colo, encarando-o cheia de expectativas.

— Tudo bem. — James assentiu. — Eu falo. — Mary sorriu. — Mas com uma condição.

— Oh, vai me chantagear? — Mary arqueou uma sobrancelha em incredulidade diante de tal audácia.

— Você precisa mandar uma mensagem para Lily. Dizer que não a odeia ou qualquer coisa assim. Sei que ela ficou preocupada porque você sumiu e não disse nada.

— Oh. — Os olhos de Mary caíram para o travesseiro em seu colo e ela começou a mexer no tecido com as mãos, nervosa. — Eu sei que deveria ter dito alguma coisa, respondido suas mensagens pelo menos. Mas já fazem tantos dias e- — Afastou uma mexa de cabelo crespo para longe do rosto. — Eu sinto que não vai ser justo se eu falar apenas por mensagens, sabe. Preciso falar com ela, ver suas expressões.

— Mary, mas você não fez nada de errado! — James disse. — É claro que você estava preocupada em contar sobre a gente para ela, afinal nós já lidamos com pessoas que mudaram depois que descobrem isso.

— Lily não é assim...

— Mas você não tinha como saber, tinha? — James estendeu uma mão e colocou sobre o ombro direito de Mary. — Ela não está brava com você, Mary. Ela só está preocupada.

— Certo. Tudo bem. — Mary fungou. — Vou fazer isso amanhã. Agora está tarde. — E então limpou a garganta antes de voltar a encará-lo. — Okay, então é agora que você vai me contar o que está acontecendo?

Bufando, James acenou.

— Não está acontecendo nada. — Disse, estrito.

— E é esse o problema, não é? — Mary sorriu de forma conhecedora para James, fazendo-o suspirar. — Você gostaria que estivesse.

— É..., mas isso não vai acontecer. Pelo menos não agora. Então eu preciso superar. — Deu de ombros tentando parecer tranquilo sobre aquilo quando a verdade era bem diferente.

— Oh. — Mary franziu o cenho. — E porque você tem tanta certeza de que não vai acontecer? Tem alguma coisa a ver com a Emmeline? Eu vi a revista que você estava lendo hoje, sabe. O Profeta Diário parece adorar inventar histórias onde elas não existem. Quero dizer, você sabe bem o suficiente sobre isso.

Estremecendo levemente à menção da revista, o que fez com que a lembrança da última manchete que vira voltasse à sua mente (NOVA MÚSICA DE EMMELINE VANCE SERIA PARA LILY EVANS?).

— Não, não tem nada a ver com a revista. Embora não possa saber se há algo com Emmeline. Lily nunca falou sobre ela. — Rindo, James balançou a cabeça. — Na verdade, há muito que não conversamos sobre, afinal mal nos conhecemos.

— Mas vocês têm muita química. Eu vi no vídeo, sabe. Do The Aurores Show. Vocês simplesmente "clicaram". — Ela sorriu fazendo-o sorrir de volta.

— É fácil quando estou com ela. A conversa flui, nós temos muitas coisas em comum, mas... ao mesmo tempo, sinto como se ela estivesse se segurando, como se não demonstrasse ou falasse tudo que quer. Seus olhos são muito difíceis de ler. — Passando novamente as mãos pelos cabelos, James suspirou. — E, sim, tem tudo isso sobre a Emmeline. Eu fui no Tumblr e-

— OH MEU DEUS, JAMES POTTER! Você não fez isso! — Mary praticamente gritou, olhos arregalados em incredulidade. — Você sabe que existem teorias ridículas por lá.

— E, mesmo assim, todas as "wolfstar" shippers parecem saber exatamente tudo o que acontece entre Sirius e Remus, mesmo com todo o cuidado da Riddle Management em esconder o relacionamento deles. — James adicionou, uma sobrancelha arqueada. Mary meneou a cabeça em concordância, bufando ao lembrar das coisas que vira naquela rede social sobre o que Remus e Sirius faziam quando estavam a sós. Aquelas imagens nunca pararam de assombrá-la. — Como eu estava dizendo, eu li a matéria e não acreditei. Mas quando entrei no Tumblr... há toda uma tag sobre "Emmelily". E os posts nem são todos de agora, Mary. Elas eram grandes amigas, sabe. Estavam sempre juntas no começo da carreira da Emmeline. E então a Lily simplesmente desapareceu da vida da Vance como se nunca tivesse estado lá.

— Uau, eu não sabia disso. — Incredulidade soava na voz da garota. — Acompanho a carreira da Emme por algum tempo, mas não lembro de nada disso.

— Isso é porque foi no começo da carreira da Vance. Elas eram melhores amigas. Existem até fotos com o Frank e algumas com a Marlene e Alice, as amigas da Lily. Mas são poucas, muitos posts foram excluídos também, ao que parece. — James a encarou. — Há algo mais nisso tudo, Mary. Porque parece muito com o trabalho da nossa gerencia em encobrir histórias.

— Caramba. Eu realmente não estava esperando isso. — Mary disse, chocada.

— Nem eu. — James bufou. — Mas então, com todas essas teorias, algumas letras da Vance começaram a fazer sentido, sabe. Se encaixar com as supostas histórias do Tumblr. Deus, não acredito que fui no Tumblr de novo por causa dela-

— ESSA FOI A SEGUNDA VEZ? VOCÊ JÁ TINHA IDO ANTES? — Mary começou a gargalhar. — Oh meu Deus, James Potter, você está tão na dela.

— Cala a boca. — James resmungou irritado. Mary apenas gargalhou ainda mais. — De qualquer forma, além de tudo isso, Lily me disse que tem alguns problemas pessoais para resolver antes de poder estar em um relacionamento. — James desconversou. — E eu não quero forçá-la a nada, Mary. Então decidimos que seremos apenas amigos.

— Certo. Porque você vai mesmo conseguir separar as coisas, não é? — Foi a vez de Mary suspirar antes de esticar a mão e tocar no rosto de James. — Você é intenso, Jay. Quando você gosta de alguém não tem meio termo. Quero dizer, você foi fundo no TUMBLR por causa dela. Por duas vezes! E tenho certeza de que não vai ser a última. Você acha mesmo que vai conseguir ser só amigo dela?

— Sim, Mary. Eu vou. — Ele disse com firmeza. Afinal a outra alternativa, caso ele não conseguisse, seria se afastar completamente de Lily. E ele tinha certeza de que não estava pronto para ficar longe dela, mesmo que esse fosse um comportamento estúpido afinal ele nem a conhecia há tanto tempo para estar tão dependente.

Com olhos perscrutadores que sabiam mais do que deveriam, Mary o encarou por um longo tempo antes de voltar a falar.

— Eu só espero que você fique inteiro, James. Você merece ser feliz. E Lily também. — Ela disse e então se ergueu, sorrindo carinhosamente antes de se encaminhar em direção à porta. — Não esqueça de fechar as janelas antes de dormir. Tem comida pronta, deixei separada para você na geladeira caso esteja com fome. E, ah, não se preocupe, não vou contar a ninguém sobre o Tumblr.

— Obrigado, Mary. — James sorriu para ela sentindo-se, não pela primeira vez, sortudo por tê-la em sua vida.

— Boa noite, James.

— Boa noite, Mary. — E então ela estava fora do quarto, deixando-o mais uma vez sozinho com seus pensamentos inquietos.

Soltando um longo e tortuoso suspiro, James se ergueu da cama e caminhou até a janela, observando as ruas de Londres por um bom tempo antes de finalmente fechar as cortinas e voltar para a cama, tirando os cadernos de cima e colocando-os sobre a mesinha de cabeceira.

Sabendo que não lhe faria bem algum comer quando sua mente estava tão cheia, James decidiu que seria melhor se ele tentasse dormir um pouco. Quem sabe o dia seguinte fosse melhor.

Oh, Deus, ele esperava que fosse menos confuso, pelo menos.

[HOGWARTS RADIO STUDIO | SEGUNDA-FEIRA — 23 DE OUTUBRO, 2017]

No momento em que o The Aurores Show terminou Lily sabia que estava ferrada. Moody passara a maior parte da noite a observando de forma desconfiada. Ele a conhecia bem demais para não perceber que ela não estava bem.

Ele a conhecia bem demais para perceber que ela estava perto de ter um colapso.

— Certo, Evans, qual é o seu problema? — Moody indagou sem rodeios. — Dorcas comentou sobre você sumindo hoje de manhã, saindo lívida daqui. Você também não respondeu minhas mensagens todo o dia. — Os olhos azuis do homem mais velho a perfuraram. — Suponho que isso tenha a ver com a matéria d'O Profeta Diário que, por ventura, acabei lendo essa tarde?

Por ventura. — Lily bufou, sarcástica. — Todos nós sabemos que você é um velho fofoqueiro, Moody. Você pede para o Amos comprar todas as revistas de tabloide para você todos os dias de manhã.

— Isso é apenas para pesquisa de campo, Evans. Você deveria saber que nós, pessoas renomadas desse meio, devemos estar por dentro dos acontecimentos no mundo das celebridades. — E as palavras eram tão sérias e firmes que qualquer um, exceto Lily, acreditaria em suas asneiras.

— Certo, porque saber sobre a nova cor de esmalte da Kim Kardashian é realmente uma informação valiosa nos dias de hoje. — Lily arqueou uma sobrancelha, irônica.

— Os compradores da Sephora fariam você morder sua língua por conta desse comentário, Evans. — Moody disse, cortante, mas então voltou a encará-la. — E não mude de assunto, idiota, você sabe que isso não funciona comigo.

Suspirando, Lily sentiu os ombros caírem quando a máscara que estava usando todo o tempo durante o programa finalmente desmanchou. Às vezes ela realmente odiava quão bem aquele velho irritante a conhecia.

— Eu estou cansada, Alastor. — Ela disse por fim, e seu tom de voz era tão arrastado e exausto quanto se sentia. — Parece que isso sempre volta para me atormentar.

— Bem, Evans, é óbvio que isso vai voltar para te atormentar se, toda vez que aparece, você se recusa a tentar resolver. — Moody disse rispidamente, mas seus olhos eram suaves. Lily sabia que ele não demonstrava aquele tipo de emoção para quase ninguém exceto ela. E sabia que era muito sortuda por ser permitida a ver aquele lado do rabugento Alastor Moody. — Mas você já sabe disso, cabeça de ameba.

Rindo com o comentário, Lily afastou um fio de cabelo do rosto.

— Sim, eu sei. Você tem razão, eu-

— Oh, não, Evans! Você não pode falar essas coisas! Como você ousa dizer que tenho razão? O apocalipse vai começar e eu ainda não consegui terminar de assistir a nova temporada de Peaky Blinders!

— Idiota. — Ela bufou, rindo levemente com a brincadeira. Mas então, suspirou ao lembrar do que a esperava no dia seguinte. — Kingsley conseguiu o número dela para mim e eu liguei. Ela vai me encontrar amanhã, Alastor.

— E como foi a ligação? — Moody indagou, preocupado.

— Normal. Quero dizer, tão normal quanto poderia ser. — Respondeu, lembrando da conversa quase robótica que tivera ao telefone enquanto tentava não deixar que seus sentimentos conflitantes transparecessem através da chamada. — Nós não falamos muito. Eu só perguntei se ela poderia me encontrar. Marcamos para amanhã em um restaurante.

— E esse restaurante é privativo? Você sabe o que pode acontecer se virem vocês duas-

— Eu sei. É sim. Privativo. — Lily disse e então estremeceu diante da ideia de ter mais algum escândalo envolvendo seu nome e alguma celebridade. Ainda mais se essa celebridade fosse Emmeline.

Parecendo notar a batalha interna de Lily, Moody finalmente se ergueu de onde estava sentado, bamboleando um pouco para se equilibrar, mas, por fim, sorrindo em satisfação. Lily sentiu um dos muitos nós em seu peito se soltar ao perceber como ele estava evoluindo rápido com a nova prótese.

— Vamos, Evans, ainda tenho ingredientes o suficiente para fazer um bom e velho chocolate quente para você. Ninguém precisa ver essa cara de cachorro chutado aqui na HRS. Eles já te aturam com essa cara feia todos os dias, vamos evitar um novo trauma.

— Foda-se, velho chato. — Lily bufou, mas o seguiu para fora da sala, sentindo-se um pouco mais leve. Moody podia xingá-la e falar coisas idiotas, mas ela sabia que ele se importava. Ele era o mais próximo de uma figura paterna que ela tinha.

E Lily o amava com todo coração.

— Olha essa boca, Evans. Ou vou te fazer lavar com sabão. — Ele resmungou, fazendo-a rir.

E, assim, Lily conseguiu esquecer por alguns minutos felizes o que a esperava no dia seguinte.

[MADAM PUDDIFOOT | TERÇA-FEIRA – 24 DE OUTUBRO, 2017]

No dia seguinte, Lily encarava a entrada do restaurante com impaciência.

Emmeline estava atrasada.

Como sempre, adicionou mentalmente e então franziu o cenho ao se dar conta de que aquele tipo de informação sobre a outra não deveria continuar a ser familiar depois de tanto tempo. Respirando fundo pelo que deveria ser a milésima vez e tentando afastar aquele fio de pensamento, checou o celular só para constatar que apenas 1 minuto tinha se passado desde a última vez que olhara para a tela.

Mas, diferente da última vez que verificara, agora uma notificação de mensagem aparecia. Sentindo-se estremecer ao imaginar o que poderia ser – se seria Emmeline dizendo que não poderia ir – desbloqueou a tela e abriu o aplicativo de mensagens.

Não era Emmeline.

(12:35) Número desconhecido: hey

(12:35) Número desconhecido: hum, eu acabei pegando seu número com a Mary

(12:35) Número desconhecido: espero que você não se importe

(12:35) Número desconhecido: oh, é o James haha acho que devia ter falado isso primeiro

(12:36): hey, Popstar! Tudo bem por mim haha

(12:36): fiquei surpresa apenas. Está tudo bem?

(12:36) Popstar: sim! Eu só pensei que AMIGOS têm o número do telefone um do outro, certo?

(12:37): AMIGOS realmente têm hahaha

(12:37) Popstar: viu só, sou um ótimo amigo

(12:37): estou percebendo haha

(12:37) Popstar: você está ocupada? Não quero incomodar.

(12:37): na verdade não. Ainda não, pelo menos. Estou esperando uma pessoa para um almoço, mas ela está atrasada

(12:38) Popstar: um encontro?

(12:38): nah, eu não tenho encontros haha é mais como um almoço de negócios ou algo parecido

(12:38) Popstar: hum

(12:39) Popstar: não parece muito bom que esteja atrasada então

(12:39): talvez ela nem queira vir

(12:39) Popstar: há algum motivo pelo qual ela não quereria?

(12:40) Popstar: e, hum, porque você não tem encontros?

(12:40): essa é uma longa história, Popstar

(12:41) Popstar: ela não querer ir? Ou você não ter encontros?

(12:41): as duas coisas

(12:42) Popstar: você é cheia de mistérios, não é?

(12:42): é mais como "ignoro as coisas na esperança de que elas sumam"

(12:43) Popstar: elas somem?

(12:43): não

(12:43): por isso a parte de "esperança"

(12:43) Popstar: hahaha

(12:43) Popstar: talvez você deva mudar de tática então. Eu, por exemplo, escrevo músicas quando estou tentando espairecer. Talvez você deva achar algo que te faça bem para descontar um pouco do estresse e dos sentimentos do dia a dia.

— Ah, Popstar, se você soubesse... — Lily murmurou consigo mesma antes de soltar o aparelho sobre a mesa, ainda sem responder. Limpou as mãos suadas contra as calças jeans, odiando o fato de se sentir tão vulnerável e exposta, mesmo que ela soubesse que não havia ninguém olhando para ela. Pelo menos ainda não.

Sentindo a garganta seca, pegou o copo d'água que o garçom havia deixado para ela mais cedo e tomou um grande gole, tentando afastar o amargor que sentia em sua boca ao pensar no que estava prestes a fazer.

O celular vibrou mais algumas vezes sobre a mesa, mas ela não teve energia para ver o que mais James poderia ter escrito. Ela sabia que ele estava sendo legal, mas o fato de que nem mesmo escrever músicas, como ele dissera, fazia com que ela se sentisse melhor sobre seu passado – embora Lily tivesse tentado tanto – deixava seu peito apertado.

E ela já estava nervosa o suficiente sem precisar pensar nas coisas que ela não conseguia fazer. Deus, ela já estava exausta e o almoço nem sequer havia começado!

Imaginando o que aquele encontro causaria com sua saúde mental e estremecendo ao lembrar do ataque de pânico que tivera no dia anterior após ligar para o número que Kingsley havia encarecidamente – vulgo "sem a menor vontade" – conseguido para ela e de ouvir a voz (maldita voz) que tentara a todo o custo evitar pelos últimos anos ser direcionada a ela, Lily sentiu sua respiração falhar.

Ela tinha certeza de que não sairia inteira dali naquele dia, mas, bem, Emmeline parecia colecionar pedaços quebrados dela, então não seria nenhuma novidade, embora ainda doesse pensar e lembrar dos motivos pelos quais ela estava tão quebrada. E, rever os olhos brilhantes e azuis que outrora foram inspiração para tantos dos mais bonitos poemas de Lily encarando-a com tanta intensidade novamente, pareceu fazer o tempo parar.

E não de uma forma boa.

Não.

Com longas pernas revestidas com jeans que provavelmente custavam mais que o salário de Lily na HRS, escarpans azul-marinho, uma camisa de cetim azul bebê com os dois primeiros botões desabotoados, cabelos loiros cortados de forma repicada na altura dos ombros, batom vermelho brilhando nos lábios carnudos e um delineado matador, Emmeline se aproximava de onde Lily estava sentada, caminhando como se estivesse em uma passarela. Várias cabeças se voltaram para vê-la passar, babando e suspirando em adoração como se ela fosse a segunda vinda de Cristo.

Lily não podia culpá-los. Ela mesma estava um pouco sem ar – embora fosse por motivos totalmente diferentes, é claro, afinal Lily não tinha a menor vontade de ser uma das discípulas de Emmeline ou de escrever um testamento sobre sua vida. Ou, bem, ela superara aquela fase. Sem falar que os fandoms já se encarregavam daquela parte bem o suficiente sem a sua ajuda.

Não, não. Se fosse bem sincera, tudo o que queria fazer era correr para o banheiro e vomitar.

— Lily. — A voz, tão conhecida voz, de Emmeline ressoou por ela fazendo-a estremecer.

— Emmeline. — Lily conseguiu responder com a voz rouca (muito provavelmente por conta do coração que parecera decidir subir e se instalar em sua garganta).

Um sorriso – que era tão malditamente familiar – se abriu no rosto da garota loira enquanto ela puxava a cadeira e sentava em frente à Lily, fazendo-a cerrar os punhos quando uma onda repentina de irritação a tomou ao ver Emmeline parecer tão despreocupada enquanto cada célula do corpo dela se revoltava por conta da ansiedade.

— Desculpe o atraso. O trânsito essa hora estava insano. — A loira disse enquanto colocava o guardanapo sobre o colo e então se voltava para sorrir novamente para Lily. — Mas é tão bom te-

— Ah, pelo amor de Deus, nós não vamos fingir estarmos felizes com isso, Emmeline. Eu não vim aqui discutir sobre o tempo ou compartilhar coisas sobre a minha vida para que você venha com essa baboseira de que é "bom me ver". Nós sabemos que isso é uma mentira. — As palavras escaparam da boca de Lily antes que pudesse pensar, mas ela não se arrependeu em nada ao ver o sorriso cair do rosto da outra.

Remexendo-se contra a cadeira e parecendo desconfortável, Emmeline franziu o cenho.

— Então para que estamos aqui, afinal? Você não quis dizer o assunto pelo telefone. — E arqueou uma sobrancelha perfeita em indagação.

Lily estava prestes a responder quando o garçom retornou, sorriso nervoso estampado nos lábios enquanto olhava para Emmeline como se não pudesse acreditar que ela estivesse mesmo ali.

— B-boa noite! — Ele disse e então limpou a garganta, o rosto de um tom escarlate enquanto tentava se recompor. — Meu nome é Mattew e sou encarregado de sua mesa esta noite. Já decidiram o que vão pedir?

— Oh, olá, Mattew. Ainda estamos decidindo. Mas nós te chamaremos assim que estivermos prontas, ok? — Emmeline disse e então sorriu, fazendo, se era possível, o garoto corar ainda mais.

— Tudo bem. Eu estarei logo ali. — E apontou para a direção próxima à mesa onde o Maître se encontrava e então se afastou meio bamboleante.

— Parece que ele é um fã. — Lily comentou e sua voz soou mais julgadora do que gostaria.

Parecendo notar, Emmeline rolou os olhos.

— Não é todo mundo que me odeia como você, Lily. — Ela disse e então puxou o menu, passeando com os olhos enquanto observava os pratos. — O que você acha de um pouco de camarão?

— Tanto faz. — Lily suspirou. — E eu não odeio você.

Erguendo os olhos do menu com incredulidade estampada em sua face, Emmeline riu sem humor.

— Não? Então porque você tem me ignorado por todos esses anos? É por conta do seu imensurável amor, então?

— Você sabe o porquê, Emmeline. — Lily retrucou, exaustão toldando seu tom de voz. Ela estava tão, tão cansada. — Não aja como se não fosse sua culpa.

— Você sabe que eu nunca quis-

— Você nunca quis? O quê? Ferrar comigo? — Lily riu sem humor. — Oh, eu sei disso, Emmeline. Eu sei que nunca foi a sua intenção me magoar e que você não pôde fazer muito quando tudo acabou. Mas eu merecia mais do que uma carta estúpida digitada em Arial 12, sem qualquer assinatura ou sinal de que foi mesmo você quem escreveu. — Lily disse e percebeu os olhos de Emmeline escurecerem, toldados por nuvens do que parecia muito com culpa.

— Eu não deveria ter deixado aquela carta. Eles pediram que eu não fizesse, mas eu precisava te dizer, Lil'. Foi o único jeito que encontrei de te dizer... que eu não queria nada daquilo. — Ela piscou algumas vezes e puxou o copo de água de Lily e bebericou. — Não era para ser daquele jeito, mas... bem, você sabe.

Fechando os olhos, sentindo como se cinquenta toneladas houvessem sido depositadas sobre seus ombros, Lily estremeceu.

— Olha, Emme- — O apelido parecia estrangeiro em sua boca, tinha um gosto agridoce. — Eu sei, tudo bem? Mas você poderia ter me contado antes. Deveria ter me contado antes. Eu merecia saber. Não havia nenhum contrato sobre você não me contar antes. — E bufando, rolou os olhos. — É claro que houveram uns cinquenta depois, mas- — Erguendo os olhos para a outra, Lily sentiu os olhos enxerem de lágrimas. — Você devia ter me dito antes de- antes de eu- — Mas as palavras não saíram, sua garganta doía, seu corpo inteiro tremia.

Cerrando os punhos, Lily desviou o olhar, odiando sua mente e o fato de ter tão pouco controle sobre ela. Odiando quão vulnerável ela se sentia naquele momento. Odiando que Emmeline estivesse ali para vê-la.

— Eu sei. — Emmeline então se esticou sobre a mesa e segurou uma das mãos de Lily. — Lily, o que aconteceu- o que eles te fizeram-

Lily a interrompeu antes que prosseguisse. Afastando sua mão do aperto de Emmeline, Lily limpou os olhos, sentindo o coração pesar com a dor da lembrança do pior dia de sua vida. Ela não queria falar sobre aquilo.

Ela não podia falar sobre aquilo.

— Não é por isso que estou aqui hoje. — Sua voz soou seca até para seus próprios ouvidos e o que parecia ser mágoa pairou pelos olhos de Emmeline por poucos instantes antes de tornarem-se ilegíveis. Oh, certo, porque ela tinha muito direito de estar magoada. — Estou aqui para discutir sobre a entrevista que você deu para a BBC.

Não parecendo muito surpresa, Emmeline assentiu.

— Certo. Mas será que podemos fazer o pedido antes? Eu não comi nada desde ontem ao meio-dia. — Ela disse e, pela primeira vez, Lily notou que, por baixo de toda a maquiagem, Emmeline parecia tão esgotada quanto ela.

— Tudo bem. — Lily concordou e então puxou um dos menus, aproveitando aquele tempo para tentar se recompor e relembrar o que queria dizer. Próximo à sua mão direita, seu celular vibrou de novo, "Popstar" aparecendo rapidamente na tela antes de se apagar.

— Popstar. — Emmeline leu, fazendo com que o sorriso que Lily nem sabia estar em seu rosto, caísse.

— Frank. — Lily disse e então rolou os olhos antes de dizer para Matthew, que parecia ter se materializado ao seu lado no momento em que pegara o menu, o que ela iria querer.

Emmeline também fez seu pedido e, assim que Matthew saiu de perto, ainda mais bamboleante do que antes, voltou-se para Lily com a expressão indagativa.

— Então...?

— Certo. A entrevista. — Lily respirou fundo. — O que diabos deu em você para falar daquele jeito sobre mim?

Emmeline baixou os olhos para as próprias unhas antes de responder.

— Olha, eu sei que não deveria ter falado daquele jeito. Mas quando ele falou sobre o que o Potter estava fazendo com você-

Não fale de James desse jeito. Você não o conhece e não sabe nada sobre essa história. — Lily a interrompeu, sentindo a irritação que sentira ao ouvir a entrevista retornar.

— Oh, entendo... — Os olhos azuis de Emmeline eram astutos, encarando-a como se a estivesse vendo sob uma nova luz. — Lily, você sabe o que dizem sobre ele, certo? Que ele é mulherengo, que ele sai com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Ele não liga para ninguém. Gwen me disse que-

— Olha, Emmeline, é realmente muito fofo que você se preocupe tanto com quem eu saio ou deixo de sair. Mas você não o conhece. Não sabe de nada sobre ele além do que esses jornais idiotas falam. Você deveria saber melhor do que isso, afinal você está nessa indústria tempo o suficiente para saber que grande parte do que dizem por aí é mentira. — Lily voltou a interromper e então respirou fundo tentando se acalmar.

— Lily, olha, ele parece ser alguém importante para você, mas... você sabe como essa indústria é! E eu já ouvi falar coisas muito ruins sobre a gerencia dele, Riddle Management é horrível. — Algo muito parecido com pena apareceu nos olhos da garota loira, o que fez com que Lily praticamente espumasse. — Lily, ele vai acabar te machucando.

— Como você fez? — Lily riu em escárnio. — Pelo amor de Deus, Emmeline, pare de agir como se se importasse com o que faço da minha vida. O tempo de demonstrar esse tipo de coisa aconteceu dois anos atrás e, sinto muito, você não passou no teste. — Emmeline parecia prestes a dizer alguma coisa, mas Lily ergueu uma mão em sinal para que ela parasse. — Eu não quero e nem tenho porquê falar com você sobre o James. O que eu quero saber é, já que você decidiu desenterrar uma história que deveria estar morta, o que diabos vou falar para a imprensa? Porque eles vão me procurar, você sabe. Mesmo que eles não o façam, os convidados na rádio, os ouvintes, eles vão. E eu tenho dez contratos que me impedem de falar qualquer coisa sobre você para qualquer um a menos que você me dê permissão por escrito. — Rolando os olhos de forma sarcástica diante daquela afirmação, Lily recostou-se contra a cadeira, arqueando uma sobrancelha indagativamente. — O que diabos eu falo, Emmeline?

Sem reação, Emmeline a encarou pelo que pareceu serem longos minutos. Naquele meio tempo Matthew apareceu, trazendo seus pedidos e perguntando pelo menos dez vezes se precisavam de mais alguma coisa.

Quando, por fim, estavam a sós novamente, Emmeline finalmente pareceu achar palavras para dizer.

— Me desculpe.

— Ok.

— Não, Lily, estou falando sério. Me desculpe.

— Tudo bem.

Incredulidade estampou a expressão da outra.

Tudo bem? — Emmeline repetiu. — Nós sabemos que não está tudo bem.

— Então pare de pedir desculpas estúpidas. — Lily retrucou, ríspida.

— Uau, quanta maturidade. — Emmeline rolou os olhos. — Percebo que isso não mudou.

— Muita coisa não mudou, Emmeline, inclusive a sua incrível capacidade de ser uma filha da puta. Agora será que pode fazer o favor de responder a droga da minha pergunta para que eu possa ir embora daqui e não precisar mais compartilhar o ar com você? — As palavras saíram de um jato, mas, mais uma vez, Lily não se arrependeu. Ela estava farta daquela reunião. Estava farta de se sentir a ponto de explodir. Estava farta de Emmeline.

Ofendida com as palavras de Lily, foi a vez de Emmeline se recostar contra a sua cadeira.

— Parece que suas trocas de humor continuam frequentes também. — Bufou. — Não fui eu quem pediu esse encontro, sabe.

— Não, é claro que não foi você. Você preferiria continuar sem me ver pelos próximos mil anos porque seria mais confortável para você. Nós duas sabemos disso. Só que agora você foi lá e fez merda, então eu preciso saber que diabos fazer, afinal de contas estamos contratualmente ligadas. — Suspirando pelo que parecia ser a milésima vez, Lily passou as mãos pelos cabelos, exausta. — Estou cansada disso, tudo bem? Só quero saber o que fazer e então eu quero ir embora e evitar você pelos próximos dois anos de novo.

Lily ficou chocada ao perceber que os olhos de Emmeline estavam cheios de lágrimas quando ela a encarou.

— Sinto muito que tenha magoado você, Lily. Eu realmente sinto. E eu sinto ainda mais por perceber que é tarde demais para tentar arrumar toda essa bagunça. — A voz de Emmeline estava rouca enquanto ela claramente tentava controlar o choro. Lily sentiu os próprios olhos embaçarem. — Eu vou falar com a minha gerência, tudo bem? E até amanhã te dou uma resposta sobre isso. O número que você ligou é o seu? — Lily acenou. — Certo, então eu te ligo, okay?

— Certo. — Lily assentiu e então limpou a garganta, tentando afastar o nó que ali se formava. — Bem, tudo bem, então. Eu acho que vou indo.

— Okay. Vou chamar o Matthew e então podemos ir embora. Posso te dar uma carona. — E, antes que Lily pudesse responder, ela acenou em direção ao garçom que parecia totalmente entristecido ao perceber que elas sequer haviam tocado na comida.

— Você não precisa me dar carona, Emmeline. Eu posso pegar um Uber. — Lily disse ao ouvir Emmeline avisar o motorista que estava de saída.

Antes que pudesse, porém, Emmeline a parou, segurando seu pulso e fazendo-a encará-la. Mais uma vez, algo parecido com culpa brilhou em seus olhos. Parecia haver desespero também.

— Lily, vai ser melhor se eu te levar. Me deixe fazer isso pelo menos. — E sua voz estava tão toldada de tristeza e culpa que Lily simplesmente assentiu.

Ao se erguerem e começarem a caminhar em direção à saída, várias pessoas as observavam. Algumas pareciam não a reconhecer, mas Lily percebeu uma menina, provavelmente da mesma faixa etária que ela, arregalar os olhos em surpresa ao olhar para ela.

Droga.

Mas o pior, é claro, ainda estava por vir.

Porque, no momento em que as duas pisaram do lado de fora do restaurante que era – supostamente – privativo, uma enxurrada de flashes brilhou diante delas, quase cegando-as. E Lily sabia que o único modo de eles saberem que elas estavam ali era porque alguém os havia avisado, afinal eles teriam de pagar uma multa por estarem fotografando em local proibido. E aquelas multas eram caras – embora não o suficiente para impedi-los de tentar fotografar o que certamente lhes renderia dinheiro o suficiente para pagar a maldita multa e ainda ter uma bela e grande festa de Natal.

Dois homens grandes, provavelmente os seguranças de Emmeline, as escoltaram até o grande conversível preto que estava estacionado em frente ao restaurante. Sem muita cerimonia, empurraram Lily para dentro, Emmeline entrando logo em seguida.

Ela só encontrou a própria voz quando estavam há uma quadra de distância do restaurante.

— Eu não acredito! Oh meu Deus, eu não acredito que por um momento pensei que você estava sendo genuína! — Lily disse e então voltou-se, furiosa, para Emmeline que parecia extremamente culpada. — Você sabia dos paparazzi, não é? — Lily riu. — Oh, não, espere, foi você quem organizou tudo isso! Meu Deus, Emmeline, eu não consigo acreditar na sua capacidade-

— Lily, me desculpe, -

— NÃO ME PEÇA DESCULPAS! — Lily gritou, tremendo de raiva. Seus olhos encheram de lágrimas, mas ela não se importou que Emmeline visse. Ela estava lívida. — Não ouse me pedir desculpas, não quando nós duas sabemos que você não está nem aí para o estrago que você acabou de causar na minha vida.

— Lily, eu não contei para eles, ok? Mas eles descobriram que eu iria te encontrar e me obrigaram a aceitar isso. Eu não pude fazer nada. Você os conhece. Eu-

— Eu não quero saber, Emmeline. Foda-se você. Foda-se a sua carreira. Foda-se essas merdas de contratos. Se alguém me perguntar alguma merda sobre você, eu vou responder que você foi o pior, o mais asqueroso e nojento lixo que cruzou na minha vida. E que eu odeio você. Porque, ah sim, você finalmente conseguiu isso — Lily riu e a fuzilou com o olhar. — Eu odeio você. Eu tenho nojo de você. Eu desprezo tudo o que você se tornou, Emmeline. Você me dá pena.

Elas se encararam pelo que pareceu serem horas, olhos verde e azul brilhando com tanta emoção, tanto emoção – e então elas estavam chorando. Cada uma em um dos cantos do grande banco traseiro do conversível. Lágrimas copiosas desciam por seus rostos e elas não conseguiam controlar.

Havia tanta história ali, tanta dor.

E Lily se sentia incapaz de respirar.

O carro era tão apertado, o cheiro do perfume caro de Emmeline pairava pelo ar e a sufocava com lembranças de tempos mais alegres e de tempos mais tristes. E de todas as coisas que Lily perdeu e de todos os pedaços de si que ela deixou pelo caminho até ali e onde agora restavam apenas buracos nos quais a dor parecera se alojar. E não queria sumir, não queria sumir, não sumia.

Ela não conseguia respirar. Oh, deus, ela estava prestes a ter um ataque de pânico.

Sem se dar conta do que estava fazendo, Lily inclinou-se para a frente em direção ao motorista.

— Me deixe descer.

— O quê, Lily! Você não pode sair, os paparazzi podem estar atrás da gente e- — Emmeline tentou a impedir, a voz embargada, mas Lily a ignorou.

— Me. Deixe. Descer. Agora. Mesmo. — Lily resmungou, a respiração entrecortada. Oh, Deus, ela precisava sair dali, precisava sair, precisava sair. — Eu juro por Deus que se você não parar esse carro agora eu vou ligar para a polícia e dizer que estou sendo sequestrada. ME DEIXE SAIR.

O carro parou. Emmeline estava dizendo coisas que Lily não conseguia escutar. Ela não queria escutar. Mas, quando esticou a mão para a maçaneta e preparou-se para sair, algo ocorreu a Lily fazendo-a voltar-se para Emmeline mais uma vez.

— Gwen. — Lily disse simplesmente. Emmeline engoliu em seco. — Isso tudo é real? Ou você está sendo uma marionete mais uma vez? — O silêncio foi a única resposta que Lily recebeu.

Balançando a cabeça, ela finalmente desceu do carro e começou a correr sem olhar para trás. As lágrimas desciam rapidamente pelo seu rosto, mas ela não conseguia se importar. Lily precisava se afastar, precisava respirar. Precisava-

Seu celular vibrou contra o bolso da calça.

Lily o puxou, percebendo que haviam 5 novas notificações de mensagens.

Todas de James.

(12:43) Popstar: você já tentou escrever? Quero dizer, você trabalha numa rádio, ouve música todo dia. Seu melhor amigo é o Frank Longbottom!

(12:44) Popstar: hey, você ainda está por aí?

(12:46) Popstar: ok, acho que seu "negócio" chegou. Vou parar de mandar mensagens hehe

(14:09) Popstar: hum, sei que talvez você ainda esteja lidando com negócios e que eu disse que não iria mais mandar mensagens, mas...

(14:09) Popstar: acabei de fazer. Se quiser posso levar alguns para você e suas amigas :))) [imagem de cupcakes recém assados]

Sem pensar no que estava fazendo, Lily digitou rapidamente.

(14:10): James

(14:11) Popstar: Lily! Já saiu do almoço? Ou estou te incomodando? Desculpe!

(14:11): James, você pode me encontrar?

(14:11) Popstar: agora?

(14:11): sim. Agora.

(14:11) Popstar: Lily, está tudo bem?

(14:12): não

(14:13) Popstar: onde você está? Me manda sua localização, eu to indo aí.

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Quando o grande carro preto estacionou em frente à onde ela estava, Lily não precisou esperar o vidro se abrir para que ela soubesse que era James. Era quase como se seu corpo sentisse que ele estava por perto, porque no instante em que sentou no carro do passageiro, os tremores de Lily diminuíram consideravelmente.

— Hey. — A voz de James era comedida, mas seus olhos castanhos a observavam com atenção.

Ela sabia que deveria estar com a aparência horrível. Sabia que seus olhos estavam inchados e que suas bochechas estavam manchadas de lágrimas. Mas ela não podia se importar menos enquanto ele a observava com tanto carinho.

— Hey. — Ela conseguiu responder, a voz craquelada por conta do choro. — Oi.

— Oi. — James repetiu e então sorriu levemente. — Algum lugar em mente para ir?

— Onde você quiser. — Ela respondeu.

— Hm, okay. — James franziu o cenho, pensativo. — Bem, senhorita Evans, sinta-se privilegiada então, pois vou te levar para um dos meus lugares favoritos nessa cidade.

— Oh, suas fãs morreriam por isso. — Lily conseguiu brincar, sentindo-se imensamente mais leve tão somente por tê-lo por perto.

— Pode apostar que sim. — Ele brincou de volta, olhos brilhando enquanto dava a partida no carro.

Eles não conversaram durante os trinta minutos de viagem, mas James estava cantarolando músicas que Lily não conhecia e sua voz era linda, então ela ficou contente em ouvir.

Quando James, por fim, estacionou, Lily finalmente prestou atenção em outra coisa que não fosse o garoto.

Era um morro, ela percebeu, mas ela não reconhecia o local, tampouco sabia identificar onde exatamente em Londres ficava.

— Onde estamos? — Ela perguntou, por fim, quando desceram do carro.

— Costumo chamar de Sala Precisa. — James sorriu, divertido, parecendo lembrar de algo engraçado.

— Sala? Mas não há nenhuma parede por aqui. — Lily brincou, embora estivesse curiosa sobre o nome.

— Hum, bem, digamos que Sirius estava realmente bêbado quando encontramos esse lugar pela primeira vez. Estávamos em uma festa há alguns quilômetros daqui, então acabamos passando por essa estrada na volta para casa, mas Sirius precisava ir no banheiro, sabe, então acabamos parando ali embaixo. E então ele sumiu. Remus e eu ficamos desesperados procurando ele porque era noite e ele estava bêbado. Peter estava rindo, é claro. Mas então, Sirius desceu do morro e ficou gritando que essa sala era tudo o que ele precisava. É claro que ele não tinha percebido que, na verdade, não era uma sala. E, quando subimos, percebemos que na verdade havia esse precipício. Remus quase teve uma síncope ao imaginar o desastre que teria sido se Sirius tivesse caído daqui. Nenhum deles deu atenção para a vista, mas, desde então, sempre venho aqui quando preciso espairecer, até achei uma estrada para conseguir vir até aqui em cima com o carro. — E indicou o local por onde haviam subido.

Imaginando um Sirius muito bêbado e sem qualquer medo de morrer, fazendo xixi na beira de um precipício, Lily riu.

— Sala Precisa, então. — Ela balançou a cabeça, aproveitando a sensação calorosa que o sol e os olhos de James causavam em sua pele. Buscando evitar encará-lo, Lily caminhou até a beirada, sentindo seu fôlego ser roubado ao deparar-se com a incrível vista.

Londres brilhava ao longe. O sol – uma raridade – iluminava seus prédios fazendo-a parecer muito mais alegre do que o cinza cotidiano.

— Uau. — Ela disse simplesmente.

James aproximou-se, mas não encarava a paisagem.

— Uau. — Ele assentiu e então sorriu para ela ao perceber suas bochechas corarem.

Mais uma vez eles caíram em um silêncio amigável, parados lado a lado enquanto observavam o horizonte. Lily sabia que James a estava observando, mas ele era educado o suficiente para não perguntar sobre o que acontecera.

— Obrigada. — Ela disse, por fim.

— Tudo bem, Lily. — James respondeu tranquilamente.

— Não, é sério. Você não precisava ter ido me ajudar e ainda assim você foi. — Lily sentiu seus olhos marejarem novamente, mas desviou o olhar antes que as lágrimas caíssem.

— É o que os amigos fazem, não é? — James soou sincero ao falar e então Lily sentiu sua mão sobre seu ombro, fazendo-a voltar-se para encará-lo. — Eu fiquei preocupado. — Seus olhos castanhos varreram o rosto de Lily, demorando-se em seus olhos inchados. — Você quer falar sobre isso?

Lily queria dizer não. Queria dizer para ele que ela não queria falar sobre nada do que acontecera jamais.

Mas as palavras que saíram de sua boca foram:

— Tudo bem. — Porque, aparentemente, havia uma grande barreira impedindo seu cérebro de entrar em contato com a sua língua e até mesmo James pareceu surpreso com a resposta, mas recompôs-se rapidamente, sorrindo levemente para ela.

— Certo, então, você prefere falar ou quer que eu vá te perguntando? Às vezes eu me sinto mais à vontade quando ajo como se estivesse respondendo uma entrevista.

Rindo, Lily balançou a cabeça.

— Suponho que isso seja bom, heim, levando em conta que você precisa fazer entrevistas o tempo inteiro. — James deu de ombros, despreocupado diante da afirmação. — Bem, vá em frente então, Popstar, vamos trocar de lugar hoje, me entreviste.

Passando uma mão pelo cabelo, bagunçando-os ainda mais, James encarou o horizonte por alguns instantes, pensativo, antes de voltar-se para ela.

— Okay. Hum, então — Limpou a garganta e prosseguiu em uma falsa voz de radialista. — Boa tarde, queridos ouvintes! Hoje estamos com a consagradíssima Lily Evans, um dos nomes mais proeminentes nos tabloides da atualidade — piscou para ela, fazendo-a rir. — Então, Lily, vamos ao que interessa. Descobrimos por uma fonte segura que você esteve lidando com negócios hoje. Hum, devo supor que o negócio não deu certo?

— É, Popstar, você supôs certo.

— Nossos ouvintes querem detalhes, Senhorita Evans. Pode nos informar sobre o que era exatamente esse "negócio"? — Ele fez aspas no ar para a última palavra, arqueando uma sobrancelha para Lily.

— Você é um fofoqueiro, Popstar.

— Oh, como ousa me chamar assim? Estou apenas levando aos meus ouvintes a informação que eles querem ouvir. — James disse, enfático.

Lily balançou a cabeça, mas respondeu.

— Seus ouvintes são fofoqueiros, então. — Ela sorriu levemente antes de prosseguir. — O negócio envolvia um relacionamento, na verdade.

As duas sobrancelhas de James se ergueram ao ouvir aquilo, mas ele prosseguiu, ainda em sua voz de radialista.

— Negócios envolvendo relacionamentos? Ora, Evans, eu sou bastante experiente nisso, sabia? Assinei dois contratos esses dias, na verdade. — Ele piscou para ela, fazendo-a rir mais uma vez. Era bom estar com James. Era fácil. — Mas me conte, tudo em prol dos nossos ouvintes, é claro: o relacionamento envolvia alguém famoso?

— Infelizmente.

— Oh, Deus, nossos ouvintes, você pode sentir isso também? Eles estão morrendo de curiosidade, Evans! Diga-me, por que esse relacionamento era um negócio? — James balançou as sobrancelhas, fazendo-a bufar.

— Bem, Popstar, não era um negócio no começo. — Lily disse e então o peso de suas palavras a atingiu, fazendo-a sentir o peito apertar mais uma vez. Suas próximas palavras não tinham o mesmo humor que as anteriores. — Mas depois, bem, acho que é difícil de terminar um relacionamento com uma pessoa sem um contrato quando você tem muito a esconder. Mesmo que você devesse confiar nessa pessoa. Mesmo que você devesse saber que essa pessoa jamais faria qualquer coisa para te prejudicar. — E então, como parecia tão comum nos últimos dias (semanas, meses, anos), ela estava chorando.

Mas, diferente das outras vezes, James estava ali para abraçá-la. Seus braços quentes e reconfortantes à sua volta, apertando-a contra si, fazendo-a sentir-se segura. Fazendo com que a solidão que Lily sempre sentia quando estava triste simplesmente se dissipasse.

Ela não estava sozinha. James estava ali. Ele estava ali com ela, por ela.

Passou-se muito tempo enquanto eles se abraçavam, mas, quando por fim se separaram, a respiração de Lily estava controlada e as lágrimas já estavam quase secas.

Ela não podia dizer o mesmo do casaco de James.

— Desculpe. — Ela disse, a voz rouca por conta do choro.

James esticou sua mão esquerda, limpando o canto do olho de Lily.

Eu sinto muito. — Ele disse e a encarou com intensidade. — Não sei o que aconteceu, Lily, mas sinto muito que alguém tenha sido capaz de te magoar tanto. Você não merece isso. Sinto muito.

Lily sentiu os olhos marejarem novamente ao ouvi-lo, mas desviou o olhar e respirou fundo, não querendo chorar novamente.

— Está tudo bem. — Ela disse, ouvindo a mentira praticamente gritar em seus ouvidos. — Está tudo bem.

James também não estava convencido.

— Não confio em você dizendo isso, você sabe. — O garoto disse. — Não precisa mentir, tudo bem? Eu não vou te forçar a contar o que quer que isso seja, posso ver o quanto te machuca, Lily e acho que você não deve falar sobre isso a menos que se sinta realmente pronta. — James então voltou a se aproximar, depositando suas duas mãos sobre os ombros dela e apertando-os levemente. — Você pode me chamar sempre que quiser, okay? Eu vou dar um jeito e vou ir te encontrar. E você não precisa me explicar se não quiser, você não precisa dizer nada. — E ele parecia tão sincero, seus olhos eram tão quentes, tão carinhosos e genuínos ao encararem-na. As batidas do coração de Lily aceleraram radicalmente em seu peito, suas mãos estavam suando, mas ela não conseguia desviar o olhar.

— Por quê? — Foram as únicas palavras que ela conseguiu pronunciar em meio ao turbilhão de emoções que a acometiam naquele momento.

James finalmente desviou o olhar, mas suas mãos não saíram dos ombros dela, pelo contrário, a apertaram ainda mais.

— Porque, Lily, quando eu olhei para você hoje — Ele começou a dizer, ainda sem encará-la. — Eu me vi. E quando eu me olho no espelho eu encontro alguém que está sempre com frio e gritando para o escuro, alguém que está tão preso em sua mente que não sabe o que fazer além de berrar e berrar e berrar. Alguém que quer ser ouvido. Alguém sozinho. E que odeia se sentir sozinho. — Os olhos castanhos finalmente voltaram para os verdes dela, e eles brilhavam com sentimentos ilegíveis. — Você é boa, Lily. Sei que não nos conhecemos por muito tempo, mas eu sinto isso. Sei disso. E eu não quero que você se sinta como eu, porque é uma merda. — James então respirou fundo, como se estivesse se preparando para falar algo que não sabia se devia. — E, também, porque sou egoísta. — Ele riu, mas seus olhos ainda estavam sobre os dela, engolindo-a. — Porque, Lily, quando estou com você, paro de gritar, porque sei que não preciso. Você me ouve. E não é tão escuro ou frio. Quando estou com você, eu não me sinto tão sozinho.

Todo o ar dos pulmões de Lily simplesmente sumiram. Mas ela não estava prestes a ter um ataque de pânico, disso ela tinha certeza. Não. Porque seus pulmões podiam estar sem ar, mas seu coração, oh, ele estava tão cheio de vida, com tantos sentimentos que ela não conseguia compreender. Os buracos em seu peito, que horas antes estavam cheios de dor, não estavam curados, é claro, mas não pareciam tão dolorosos. E ela sabia que não devia, sabia que estava agindo por puro impulso, mas não pode se impedir quando ficou na ponta dos pés e colocou seus lábios sobre os de James.

Não foi um beijo, não.

Eles apenas ficaram assim, lábios tocando, respirando um ao outro, toda extensão de seus corpos se encostando. Perfeitos, juntos.

E então, James se afastou levemente, olhos escuros e cabelos refletindo o sol da tarde.

Ele era uma visão de tirar o fôlego. Ou seria se Lily ainda tivesse qualquer fôlego para ser tirado.

— James, eu-

— Tudo bem. — Ele disse e então sorriu meio de lado para ela. — Eu- olha, Lily, eu gosto de você. Provavelmente muito mais do que é considerado saudável para pessoas que mal se conhecem. — E balançou a cabeça. — Mas isso também significa que seria muito fácil para você quebrar o meu coração.

— Oh, eu não-

Tudo bem. — James a interrompeu e tocou em seu rosto, fazendo-a estremecer. — Tão clichê quanto possa soar, me sentiria honrado em ter meu coração quebrado por você. Mas eu sei que você não pretende fazer isso e sei que você provavelmente gosta de mim também, mas- Lily, quando você me beijar, porque você vai — e ele parecia ter certeza daquilo ao acariciar suas bochechas. — Eu quero que seja porque você sabe o que sente por mim e esteja disposta a lidar com isso.

Limpando a garganta, Lily afastou-se do toque de James, tentando fazer com que seus pensamentos se desanuviassem antes de responder.

— Parece justo o suficiente. — Lily assentiu, rosto em chamas enquanto o observava sorrir de forma conhecedora para ela. — Embora você soe um pouco convencido, Potter. "Porque você vai". Sério? Tem tanta confiança em seu poder de sedução assim?

— Ah, Evans, não é que eu tenha confiança. — Ele disse e então começou a se encaminhar em direção ao carro. — Mas eu disse que eu vejo muito de mim quando olho para você. — E então piscou para ela. — E esse olhar, o que estava em seus olhos há alguns instantes, bem... é exatamente o mesmo que tenho quando penso em você. — E então ele abriu a porta do carona de forma pomposa, gesticulando para que ela entrasse como um cavalheiro fingido.

Ainda sem saber o que responder ao garoto, Lily simplesmente gargalhou e subiu no carro, sentindo-se muito mais leve do que antes.

— Para onde vamos agora? — Lily perguntou quando James finalmente subiu no carro, após pegar alguma coisa no banco de trás.

— A lugar nenhum, minha cara senhorita Evans. — Ele disse e então esticou um pote para Lily. Eram cupcakes. Deus, James estava fazendo com que fosse realmente difícil para ela não o beijar. — Um sol como esse é raro em Londres, portanto deve ser aproveitado. Vamos ficar aqui, ouvir música, comer e conversar até o sol se pôr. A menos, é claro, que você tenha outros planos?

Lily o encarou por alguns segundos, observando os raios de sol iluminarem sua pele, deixando seus olhos castanhos um pouco mais esverdeados e claros.

— Parece perfeito. — E ela não estava falando apenas do que ele havia proposto.

[QUIDDITCH STUDIOS | TERÇA-FEIRA — 24 DE OUTUBRO, 2017]

Eram onze horas da noite e faziam apenas vinte minutos desde que James deixara Lily em uma muito grande e muito misteriosa casa em Kensington. Ela sorrira e o abraçara ao se despedir e James já se odiava por ter inventado aquela história estúpida de somente ser beijado quando ela soubesse o que sentia porque, francamente, quem se importava com um coração partido desde que pudesse beijá-la mais algumas vezes?

Bufando para si mesmo, sabendo quão patético parecia, James saiu do carro e encaminhou-se para as portas que se tornaram familiares nos últimos meses.

Usando a chave que lhe fora dada, James adentrou o recinto e trancou-o atrás de si. Não havia ninguém por ali àquela hora, afinal era um estúdio muito pequeno. Eles normalmente não gravavam as músicas ali, mas tanto ele quanto Sirius pagavam uma mensalidade boa o suficiente para terem acesso ali quando queriam escrever e tocar suas músicas sem os ouvidos da Riddle por perto.

Ligando algumas luzes no caminho, James abriu a porta do seu lugar favorito. O estúdio era pequeno, mas confortável. Um de seus violões estava ali e parecia encará-lo com expectativa.

O sangue pulsava quase eletricamente nas veias de James. Ele não tinha um caderno, mas as palavras estavam praticamente gritando em constante repetição em sua mente.

Puxando o celular, James abriu o gravador e então encaminhou-se até onde seu violão o esperava. Sentou numa das cadeiras e apoiou o aparelho sobre a pequena bancada antes de clicar no start e se preparar para tocar a música que estava vibrando em sua mente pelas últimas horas.

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Eram três horas e quarenta e cinco da manhã quando James finalmente deixou o estúdio. Um sorriso estampava seu rosto e cansaço pairava sobre seus ombros. Mas, em sua mão, seu celular se encontrava e nele continha o que ele tinha certeza de que seria um dos novos singles da The Marauders.

Subindo no carro, James não conseguiu se conter antes de abrir o aplicativo de mensagens e digitar rapidamente.

(03:47): "as long as you look me in the eyes I'll go wherever you are, I'll follow behind" (desde que você me olhe nos olhos eu irei onde você for, eu te seguirei)

[UNIVERSIDADE DE DURMSTRANG | QUARTA-FEIRA — 25 DE OUTUBRO, 2017]

Lily sabia que deveria prestar mais atenção por onde estava andando, mas ela tinha acordado atrasada para a aula porque esquecera de colocar o celular para carregar na noite anterior – a qual ela dormira inteira sem a ajuda de qualquer medicamento – portanto precisara deixar ele carregando durante o primeiro período e só conseguira ver suas atualizações no final da aula.

Ignorando todas as notificações de e-mails, Lily clicou direto sobre o "Popstar" na sua tela, sentindo – não pela primeira vez e provavelmente não pela última – o ar fugir de seus pulmões.

— Que diabos, Potter? — Resmungou consigo mesma, sentindo seu coração acelerar ao ler e reler (e ler mais uma vez) as palavras que ele a havia enviado durante a madrugada. Era claramente um trecho de música, mas... que diabos? Quem James Potter pensava que era para mandar uma coisa como aquela para ela sem qualquer explicação? Ou, melhor, quem ele pensava que era para fazê-la se sentir tão (mais) desnorteada àquela hora da manhã?

— Terra para Lily. — Alguém acenou em frente aos seus olhos, fazendo-a finalmente desviar o olhar da tela de seu celular.

Era Mary.

— Oh meu Deus, você está viva! — Lily disse e então atirou os braços em volta do pescoço da garota, abraçando-a fortemente. — Eu estava preocupada!

— Estou viva! A gripe parece ter decidido que ainda não era hora de me levar. Yay. — Mary disse e então se afastou levemente, o cenho franzido e o olhar cheio de culpa. — Me desculpe. Eu deveria ter respondido suas mensagens. Deveria ter falado alguma coisa. Mas eu estava me sentindo tão culpada por não ter falado sobre os meninos antes e, depois, parecia tão tarde para mandar qualquer coisa. James me fez prometer que te mandaria, mas achei que seria melhor se fosse pessoalmente. — A garota praticamente vomitou as palavras, dizendo-as tão rapidamente que Lily precisou de alguns segundos para processá-las.

E então a puxou para um abraço novamente.

— Hey. Eu entendo. Está tudo bem. — Lily disse e então se afastou e sorriu. — Teria feito o mesmo se estivesse no seu lugar.

— Mas eu ainda sinto muito. — Mary falou, ombros levemente caídos, culpa ainda brilhando em seus olhos amendoados.

— Bom, já que você está tão culpada, acho que tenho uma forma de você me compensar. — Lily sorriu para a garota e então encaixou seu braço no dela, praticamente arrastando-a em direção ao jardim. — Certo, Mary, quero que você conheça duas pessoas. — Ela disse e então se encaminhou para uma das mesas à sua esquerda, onde Alice e Marlene a encaravam cheias de curiosidade. Suas expressões mudaram praticamente ao mesmo tempo para choque quando viram quem Lily estava levando consigo. — Meninas! Essa é Mary, uma das minhas colegas em Direito. Ela é incrível, vocês vão amá-la! E, Mary, essas são Marlene e Alice. Elas são super fãs dos garotos, então é por isso que elas estão te encarando como se estivessem em frente à morte. Mas logo elas se acostumam. Elas são legais também. Mais ou menos.

— Ei! — Marlene reagiu, sempre muito revoltada quando alguém ousava duvidar de sua amizade. — Eu sou muito legal, com licença. — E então voltou-se para Mary, bochechas coradas (provavelmente pensando em todas as teorias do Tumblr sobre wolfstar que ela compartilhava) e esticou a mão. — Sou Marlene. É um prazer te conhecer. Lily falou coisas incríveis sobre você.

— Ah, é um prazer te conhecer também. — Mary sorriu e a cumprimentou, simpática. — Lily não me falou muito sobre vocês, mas é bom ver que ela não está mais fugindo. Acho que vocês estão bem agora? — Indagou, preocupada.

Alice gargalhou.

— Oh, estamos sim. Lily aprendeu que não pode fugir da gente. — E então esticou-se para cumprimentar Mary também. — Hey, Mary, sou a Alice. É um prazer!

Lily estava prestes a fazer um comentário realmente irônico sobre alguma teoria de Tumblr e Mary quando seu celular vibrou. Sentindo o coração palpitar na expectativa de que fosse James – explicando a droga da música que mandara antes, talvez – ela abriu a mensagem. Não era James.

Era Frank.

(09:45) Frank: hm, bem, desde que você não ficou muito feliz da última vez que não te contei alguma coisa, achei que seria bom se te avisasse com antecedência sobre o que foi publicado hoje no profeta diário

(09:45) Frank: você está nele, de novo. E, Lily, sinto muito. [link]

(09:45) Frank: vou te esperar com bolo, ok? E chá. Te amo, Sally.

Sabendo que odiaria o que quer que visse ao abrir o link, Lily não foi desapontada ao sentir a raiva borbulhar em seu sangue ao ver a mais nova manchete do Profeta Diário, onde uma foto sua com Emmeline no dia anterior estava em destaque.

"EMMELILY É REAL? 'CASAL' É VISTO SAINDO DE RESTAURANTE PRIVADO, CONFIRMANDO, ASSIM, SUSPEITAS DE RELACIONAMENTO PASSADO (E PRESENTE?)"

— Oh meu Deus. — Marlene, que se aproximara ao ver que Lily não estava prestando atenção no que ela estava dizendo, e observava a manchete por cima de seu ombro, resmungou. — Eu vou matar essa garota.

— Só depois de mim, Marley. — Alice, que puxara o celular da mão de Lily ao ver a reação de Marlene, disse.

Mary, que estava confusa, esticou-se para ver do que tudo aquilo se tratava. Chocada, a garota voltou-se para Lily, piscando alguns instantes antes do choque se transformar em irritação.

— Bem, eu realmente não sei do que isso se trata, mas eu posso ajudar se vocês quiserem esconder o corpo. Conheço uns advogados ótimos também.

Lily – que esperava algo como aquilo do Profeta Diário, afinal de contas todos aqueles paparazzi estavam naquele restaurante por apenas um motivo – sentiu o coração aquecer ao ver suas três amigas tão prontas para defende-la. Mesmo Mary, que nem sequer o que diabos estava acontecendo.

— Ah, garotas, nas quartas não cometemos assassinatos. — Lily disse e então sorriu. — Agora, se vocês quiserem matar alguns períodos, comer sorvete e falar mal dela, bem. Estou nessa.

Sem precisar falar de novo, as três garotas correram para juntar seus materiais e, em menos de cinco minutos, todas estavam fora da universidade, rindo e aproveitando aquele dia que – Lily ainda não fazia ideia – seria o último em que ela viveria aquele tipo de normalidade por um longo, longo tempo.

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ps: a música que James mandou para Lily é Rear Review do Zayn e é simplesmente PERFEITA para Jily nesse momento dessa fic.

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N/A: yoooo, people! esse capítulo era para ser maior, porém acabei cortando algumas coisas para adicionar no próximo hehe

gosto de pensar que finalizamos a primeira parte da fanfic e que, a partir de agora, iniciaremos na fase 2 heheh (quantas fases serão? não faço ideia hehe)

espero que tenham gostado, amores! e, por favor, não esqueçam me comentar dizendo o que acharam, sim?

dúvidas, sugestões ou só para conversar comigo, estou sempre no twitter @wolfstar ♥

beijos, gente e até breve <3

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